sábado, 8 de janeiro de 2011

O senhor já foi chamado de burro?

Sim, em relação a aspectos que, realmente, não tenho grande desempenho. Isto se refere, quase sempre, a coisas práticas da vida. Ou à minha ingenuidade em não perceber maldade em nada do que me dizem. Realmente sou crédulo e confio nas pessoas sem reservas. Isto já me prejudicou, mas eu não acho que deva ficar desconfiando das intenções dos outros só para não ser prejudicado. Na maioria das vezes as pessoas têm boas intenções e é muito estressante preocupar-se em ficar verificando isto. Prefiro levar prejuízo de vez em quando. Só me preocupo em não dar prejuízo para ninguém. Assim, neste aspecto, às vezes me chamam de burro ou bobo. De fato o sou. Outra coisa é que sempre digo o que me vem à cabeça sem nenhuma censura. Assim, sou uma pessoa muito franca, se bem que com cortesia. Mas não invento desculpas para nada. Digo sempre a verdade, sem hesitar, e pronto. Neste aspecto também sou burro. Mas prefiro ser assim. Se me convidam para ir onde não quero ir, digo que não vou porque não quero, não estou com vontade, não gosto. Tranquilamente. Quem me conhece já sabe que sou assim: um excêntrico. Isto não é normal, mas eu nunca pretendi ser normal. Desde criança. Todavia minha excentricidade, em muitos outros aspectos também, nunca foi motivo para que eu não fosse uma pessoa sociável e muito bemquista. Sempre fui o que chamam hoje de "nerd", antigamente chamado de "CDF" ou "Caxias". Isto não impediu que meus colegas, em minha formatura do ginasial, me brindassem como o único deles a ser aplaudido prolongadamente de pé.
Quanto a ser chamado de burro porque não raciocino bem ou não conheço algum assunto, isto nunca aconteceu.

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Professor, o que o senhor pensa a respeito dos testes de Q.I, você já fez? Aprova o método? Qual a sua opinião?

Já fiz vários. O resultado variou de 133 a 148, conforme o teste. Daí se vê sua imprecisão. Além disso, o QI mede apenas a habilidade em ser fazer teste de QI. Inteligência é algo muito mais amplo. De qualquer modo, se uma pessoa fizer vários testes de QI e eles derem uma média mais de dez pontos acima da média dos testes de outra pessoa, pode-se dizer que a primeira é mais inteligente. Há fatores que podem favorecer ou prejudicar o desempenho nesses testes, como, por exemplo, o grau de instrução e a idade, que promove um acúmulo de conhecimentos até que a senilidade passe a prejudicar o desempenho cognitivo. Outra coisa são os hábitos de vida (muita ou pouca leitura) e o ambiente cultural familiar. Mas é um indicativo, se não for considerado de forma exclusiva. Outro problema é que o teste de QI é um resultado estatístico. QI 100 é para quem está na média, sendo 15 o intervalo correspondente a um desvio padrão. A Mensa só aceita sócios com QI acima de 131 (2% da população). Assim é preciso sempre se estar fazendo uma amostragem bem significativa para que se possa proceder à correspondência entre o número de acertos e o valor do QI, além de se ter um grande cuidado na montagem do teste de forma que a distribuição de questões seja sempre com os mesmos espectros de dificuldades e de aspectos analisados. Tudo isto requer um imenso trabalho de aferição de muitos milhares de testes aplicados. Estudos estatísticos da correlação dos resultados em diferentes testes mostram que há um "fator g" ou "inteligência global" que faz com que pessoas mais inteligentes em um aspecto também o sejam em outros. Trata-se de um tipo de potência do desempenho mental, uma capacidade de raciocínio abstrato generalizada, ou uma medida de velocidade de processamento neural, como um benchmark de computador. Mas só se refere a aspectos passíveis de medição por testes de QI, como percepção visual, fluência verbal, raciocínio lógico, matemático, abstração, conhecimentos, memória, orientação espacial e temas capazes de serem avaliados em um teste no papel. Há aspectos outros da inteligência, como a cinestésica, interpessoal, emocional e outras não mensuráveis em testes no papel.
Veja esses artigos da Wikipedia:
http://en.wikipedia.org/wiki/IQ ,
http://en.wikipedia.org/wiki/Intelligence ,
bem como os links neles mencionados (dá para montar uma apostila de centenas de paginas).

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A dor é psicológica?

Sim, pois é uma percepção e esta se dá no cérebro, Mas é produzida pelos sentidos e há um especial para a sensação de dor. Não temos só cinco sentidos, como se diz, mas vários: luminosidade, cor, audição, olfato, doce, salgado, amargo, azedo, umami, tato(pressão), dor, equilíbrio, cócegas, calor, frio (são sensores distintos), movimento, posição, fome, sede, vômito, funcionamento intestinal, micção e outros. Inclusive é possivel se sentir dor sem que haja uma razão para tal, por um tipo de alucinação. Normalmente a dor tem uma causa real. A sensação é localizada, mas a percepção se dá no cérebro. Como se trata de um evento mental (mente é um cérebro em funcionamento), é psicológica.

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O alerta é para ter cuidado. Estamos esses dias recebendo perguntas de trolls.

Obrigado, caro amigo.

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Professor, quais filósofos o sr. recomenda para leitura?

Antes dos filósofos convém ler um compêndio de Filosofia, para se inteirar panorâmicamente do assunto. Depois recomendo Bertrand Russell, Hume, Nietzsche, Schoppenhauer, Spinoza, Numa etapa posterior, Kant, Heidegger, Wittgenstein. Leia também Platão e Aristóteles. Mas tenha cuidado. Ler Filosofia é perigoso se a pessoa tende a aceitar como verdade tudo o que está escrito. Há muitas concepções contraditórias. É preciso ler com espírito crítico e ler concepções diferentes para depois fazer o próprio julgamento. O estudo da Filosofia não é nada esclarecedor. Pelo contrário, só aumenta a dúvida e a incerteza. Mas é assim mesmo. O importante é questionar, e não achar a resposta. Esta, geralmente, não se tem. Se buscas respostas, não filosofe.

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O que o senhor acha sobre o download de músicas?

Se for de forma pirata, trata-se de uma ação criminosa. Mas há muita música que pode ser baixada de graça, legalmente. Outras se pode baixar pagando bem pouco. Acho que esta forma de comércio de música é a que vai prevalecer doravante. Compro muitos CD's completos, com capa, selo e encarte, no site da NAXOS, de Hong Kong. Tem um acervo de milhares de CD's de Música Clássica. Outro é o Classical Archives. Pago uma anuidade de 20 dólares para poder baixar 3000 músicas por mês. Uma pechincha.

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Olá. Cheguei até você por meio do Jean Victor. Tenho gostado de ler seus comentários. Como sua posição política se assemelha a minha, gostaria que tecesse considerações sobre http://www.formspring.me/priscillabagli/q/2013469020. Grata.

Já visitei seu Formspring, que apreciei muito, bem como seu orkut e facebook, nos quais pedi adesão a seu grupo de amigos. Apreciei muito seu orkut, seu facebook, seu formspring e seu blog Pálido Ponto Azul. Aliás um excelente livro do Sagan que já li. De fato, temos uma grande convergência de idéias e posicões. Penso que nosso contato será muito proveitoso. Realmente, fiquei surpreso em encontrar uma pessoa com tanta ressonância comigo. Além de grande poetisa e uma pessoa super simpática e muito bonita. Um grande abraço.

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Troll, cuidado. http://www.formspring.me/wolfedler/q/2074638171

Não entendi porque você acha que eu seja um troll nem porque eu deveria ter cuidado. Por favor, explicite.

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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Vocês evolucionistas sao hipocritas http://www.formspring.me/Evolucionismo/q/2047359267 http://www.formspring.me/Evolucionismo/q/2046477637 http://www.formspring.me/clinguagem/q/2046601512 http://www.formspring.me/clinguagem/q/2042787779

O que poderia ser dito já o está nesses links.

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(tendo em vista a maneira que a Psicologia Evolucionista explica o comportamento altruísta... lembrando-se de autores como Dawkins e Pinker)... Pensar em anarco-comunismo, não seria apenas um resquício de nosso comportamento altruísta?

Mas é claro que é. E isto é que é bom. O altruísmo precisa ser incentivado enquanto o egoísmo coibido. É assim que se poderá construir uma sociedade justa, harmônica e fraterna. E próspera também. O espírito de colaboração, ao invés do de competição é que possibilitou a construção da civilização. Não foram os generais que fizeram a história. Foram as mães. Foram os homens solidários que, das ruinas de uma conquista militar, reergueram as cidades e os campos por seu trabalho cooperativo. É preciso garra e grande disposição para vencer os embates cotidianos e garantir não só o pão, mas o vinho também. Ou seja, produzir excedentes para se fruir o conforto. A construção de um civilização culturalmente requintada não se faz com competição e sim com colaboração. Esta é a mudança de paradigma que precisa ocorrer para se chegar ao anarquismo. Não é verdade que o homem seja naturalmente egoísta e belicoso. Ele é tanto isto quanto altruista e pacificador. É preciso fazer prevalecer estas últimas características. E isto é o que tem acontecido. Como a espécie humana é muito jovem, ainda não se pode falar de uma "evolução" nesse sentido, biologicamente. Somos o mesmo homem de Cro-Magnon". Mas, se outrora o caráter guerreiro pode ter sido o fator determinante do sucesso para a sobrevivência, hoje, nas nações civilizadas, não mais o é. Mas não precisarremos esperar algumas dezenas de milhões de anos para que surja uma nova espécie trans-humana que seja anarquista. Podemos fazer isto com a espécie humana mesmo. E uma questão de educação. Utopia? Só 90%. Os 10% de possibilidades reais poderão levar a se chegar lá em algumas centenas ou poucos milhares de anos.

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O que o senhor pensa a respeito de James Joyce e sua obra?

Tem alguns livros que eu começo a ler e desisto. Um deles foi o "Ulisses". Outro o "Arquipélago Gulak". Achei bem intragável, os dois. Assim, não posso fazer uma apreciação pessoal de James Joyce, pois também não li nenhuma outra obra dele.

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Dedica-se a pintura abstracionista também?

Não. Faço pintura figurativa num estilo impressionista. Veja minhas telas em: http://picasaweb.google.com/wolfedler/TelasQuePinteiCanvasThatIPainted#

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Professor, por que as palavras beleza, fraqueza, maleza por exemplo, escrevem-se com Z e no caso de francesa, princesa, portuguesa entre outras, escreve-se com S?

Escreve-se com s as terminações ês e esa que indicam nacionalidade (português, portuguesa), título (duquesa), origem (francês, francesa). Escreve-se com z as terminações ez e eza que indicam qualidades (beleza, pobreza, tristeza).
Veja isto:
http://www.juliobattisti.com.br/tutoriais/josebferraz/ortografia002.asp ,
http://www.brasilescola.com/gramatica/ortografia.htm .

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O que pensa a respeito da punição "Imposição a trabalhos forçados" a criminosos?

Excelente, desde que não seja algo traumatizante. Mas os criminosos precisam pagar por seus crimes com algum sofrimento e não apenas com a privação da liberdade. E também precisam prover o sustento de si mesmos e de suas famílias. Esse trabalho seria remunerado para o preso, mas obrigatório. Muito melhor do que o simples armazenamento deles em celas abarrotadas, em que ficam mancomunando vilanias ou tornando criminosos os que estão lá por razões menos graves. Tem que ser algo muito bem pensado, para garantir a segurança. E não pode ser com despesas contadas. Além disso, a lei brasileira é muito branda em suas punições. É preciso fazer a pessoa pensar duas vezes antes de cometer algum crime pelo fato da punição, realmente, atrapalhar muito a vida dela. Homicídio tem que ser prisão perpétua, se doloso. Crimes de colarinho branco têm que ser muito mais duramente punidos. Perda de direitos políticos tem que ser para o resto da vida. Um político que desvia verbas de frentes de trabalho do nordeste e, por isto, criancinhas morrem de diarréia e desnutrição é um "serial killer". Manda ele para os cafundós do sertão nordestino para viver comendo rato e calango e bebendo água de palma para o resto da vida. E trabalhando na enxada para ganhar o pão duro. No entanto sou inteiramente contrário à pena de morte. Primeiro porque nunca se está livre de erros judiciários e a morte não tem remédio. Segundo porque, se matar é crime, a morte por ordem do estado é crime também. A vida é um bem preciosíssimo e mesmo um condenado à prisão perpétua pode vivê-la significativamente e contribuir para o bem da sociedade, até escrevendo livros, por exemplo.

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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Professor, o senhor não pode ler Nietzsche de modo literal, ele é irônico. Assim como Maquiavel, que expunha como a política era feita na época, e não como ele achava que deveria ser feita.

Sim, eu sei. E isto é algo que imputo como grande falha filosófica dele, como já o dissera Bertrand Russell. Aprecio muito a grande virada de concepções que Nietzsche promoveu, mas deploro sua falta de precisão filosófica e científica. Mas o que eu respondi foi justamente tirando a sua teatralidade irônica e trazendo a discussão para a arena asséptica da Filosofia. Não deploro a literatura, mas Filosofia e Ciência não são disciplinas artísticas. Claro que se pode escrever com estilo e elegância, mas sem fazer uso de ironia ou sarcarmo em Filosofia. Dizer que a verdade e a vontade do mais forte, traduzindo em linguagem não metafórica, que é como deve se fazer Filosofia e Ciência, é dizer que a força do mais forte faz que se seja levado a aceitar como verdade mentiras que ele quer que se passem por verdades. Isto não é a verdade e não pode ser admitido pela sociedade. O que é preciso é fazer com que a coletividade tenha mais força do que qualquer forte individualmente. No caso de nações, por exemplo, na história, viu-se quantas potências militares impuseram sua vontade como verdade, à força, a outros povos e fizeram os impérios egípcio, persa, macedônico, chinês, romano, mongol, árabe, turco, espanhol, inglês, francês, russo, japonês, alemão e, agora, americano. Todos ruiram ao fim de certo tempo, pois não se consegue submeter todo mundo o tempo todo. Mais dia, menos dia, os subjugados encontram um meio de se livrar do jugo. A humanidade podia, desde o princípio, não ter se enveredado por esse caminho e se tornado uma única nação planetária, sem fronteiras e sem guerras. Espero que ainda chegue lá.

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Professor, qual a sua opinião a respeito de Bento 16 , quando diz: "O Universo não é fruto do acaso, como alguns querem que nós acreditemos". Obrigada.

Uma pessoa equivocada, pelo menos ao afirmar categoricamente. Além disso, não é uma questão de acreditar. Acreditar é considerar que tenha sido fruto de um ato voluntário de Deus. Supor seu surgimento fortuito é a opção nula, isto é, se não houver nenhuma comprovação de que tenha sido criado, então surgiu sem ter sido criado, pois está aí. Acontece que não há comprovação de que tenha sido criado. E não há impedimento lógico, ontológico nem fenomenológico para que tenha surgido espontaneamente. Ou então que sempre tenha existido. A suposição da existência de Deus não é necessária para explicar nada, exceto a manutenção das religiões.

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Grito de um Professor



(Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes)
« Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice". (Émile Zola)
"Meu dever é falar, não quero ser cúmplice". (Émile Zola)

Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos,
desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um
estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas,
alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para
a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante
foi ter que... estudar!).

A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes.
Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O
ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.

O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu
futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas
de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos
ambientes escolares.

Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção
do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à
autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de  convivência
supostamente democrática.

No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era
proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A
coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis,
pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova
não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos
avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o
professor”. Afinal de contas, ele está pagando...

E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral
epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo
vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos
que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter
conhecimento é ser ‘crítico’.”

Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e
burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização
desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado
pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno – cliente...

Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos
cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os
problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com
conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo
lhes deve algo”.

Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com
dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor.
Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir,
amar.

Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos
que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla
defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista
em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal,
que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério
Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do
promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de
Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:

EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e
todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;

EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta
dos oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles que se
sentem vítimas;

EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente
correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico
escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar
e cometer crimes em outras escolas;

EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado,
muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem
tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil
dos alunos”;

EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de
estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a
proliferação de cursos superiores completamente sem condições,
freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;

EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e
títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo
e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;

EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos
exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não
sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito
mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;

EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as
quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do
IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo
cresceu “tantos por cento”;

EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela
massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali
chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e
moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito”
de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o
desespero de seus futuros clientes-cobaia;

EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “
nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA
cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e
do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do
conhecimento;

EU ACUSO os  “cabeça – boa” que acham e ensinam que disciplina é
“careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito;

EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram
templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em
troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;

EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos,
mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que,
vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida
punição;

EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os
professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os
professores sejam “promoters” de seus cursos;

EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas
desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua
omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela
ocorrência dos incidentes maiores;

Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes, serão
despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e
totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da
profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções
do dia a dia.

Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes
jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que
é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de
“o outro”.

A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na
cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa,
a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se
me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do
sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é
você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas
coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era
criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci.
Portanto, você pode ser o próximo.”

Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em
qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no
professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja
em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos
modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos
adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e
velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo
de verdade.

Igor Pantuzza Wildmann
Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário.


"A verdade é a vontade do mais forte." (Nietzsche)... Qual seria seu posicionamento acerca dessa frase? Oq pode dizer que vá além disso?

De jeito nenhum. A verdade é a adequação entre a realidade e o que se diz a respeito dela. O que pode acontecer é que o mais forte afirme algo que não seja verdade e, por sua força, obrigue que se aceite sua vontade como verdade, mesmo não o sendo. Para impedir tal coisa, isto é, para impedir a tirania da força sobre a verdade, é que a sociedade tem que se organizar de forma a, pela força do grupo, fazer prevalecer a verdade sobre a força individual. Isto não é fácil, pois, muitas vezes, o forte se vale da cooperação de fracos venais que, pensando em tirar proveito, ficam do seu lado contra a verdade. É certo, contudo, que nem sempre a verdade está do lado do mais fraco. Pode estar do lado do mais forte. Daí a importância da sabedoria e dos sábios, que são os que identificam com quem está a verdade e explicitam a todos. Por isso, muitos sábios foram e são perseguidos por quem não quer ver a verdade esclarecida. É muito complexa esta questão da ética social, isto é, da sociedade articular meios de fazer prevalecer o bem sobre o mal. Muitas pessoas que protestam contra o mal que outros fazem não se dispõe a fazer prevalecer o bem se ele lhes causa prejuízo e, se tiverem força e poder, também vão querer que sua vontade prevaleça sobre a verdade. Só uma coisa pode resolver a questão e fazer a verdade sempre sair vitoriosa. Eduação...Educação...Educação...

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O que você acha da estrutura da sociedade humana?

A espécie humana fez certas escolhas que não necessariamente precisavam ter sido feitas e se outras fossem as escolhidas é possível que o mundo hoje fosse muito melhor. As escolhas erradas que eu considero são o dinheiro, a família, a propriedade, as classes, as nações, as religiões, a belicosidade. Nada disso é necessário para haver uma sociedade bem estruturada e muito mais harmônica, justa, próspera e feliz. Mas isto pode mudar e confio que mude em poucos milênios.

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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O que é ectoplasma?

Seria a substância constitutiva dos espíritos, da mesma forma que os corpos naturais são feitos de matéria e campos. Antigamente se chamava "matéria sutil". Segundo o espiritismo esse ectoplasma é natural, mas não perceptível por detectores físicos comuns. E, certamente, goza de propriedades inteiramente distintas da matéria. Mas pode agir sobre ela. Só que esta ação não seria uma interação, isto é, acompanhada de uma reação, como ocorre no mundo exclusivamente natural. Tudo o que se diz a respeito do comportamento de espíritos e de ectoplasma não possui fundamento em nenhum tipo de experimento controlado e não é descrito por leis quantitativas estabelecidas a partir de fatos observados e medidos. São conjecturas, isto é, opiniões. No meu entendimento não existem espíritos e, portanto, não existe ectoplasma.

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Porque Dilma Rousseff é melhor que José Serra para o país? E porque Marina Silva é melhor que os dois?

A Dilma é melhor que o Serra porque é mais comprometida com a distribuição de renda e a erradicação da miséria, enquanto o Serra é mais comprometido com o crescimento econômico, o que também é compromisso da Dilma, mas o Serra vê mais o lado do capital e a Dilma o lado do trabalhador. A Marina é como a Dilma, mas não compactuou com os escândalos do PT, que a Dilma, por omissão, assim como o Lula, foi cúmplice. A ética tem que estar acima de qualquer outra consideração, tanto política quanto econômica. Se o lucro depender de qualquer desonestidade, que se leve prejuízo. Se a derrota política advir do comportamento honesto, que se sofra a derrota.

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NOTA DE ESCLARECIMENTO

Só estou tendo tempo para responder poucas perguntas por dia, já que estou concluindo a revisão e outras providências para publicação de meu livro sobre este Formspring.

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O que é niilismo e o que acha dele?

Niilismo é a concepção de que, uma vez que não existe nenhum deus, também não existe nenhum princípio ético que norteie nenhuma exigência moral para o comportamento, tudo sendo permitido. Isto não é verdade. Os princípios éticos não decorrem da vontade de nenhum deus, mas do fato de que a espécie humana é gregária e o bem da coletividade não pode ser garantido se todos não pautarem seus atos por princípios que impeçam prejuízos à sociedade e a seus membros. Assim é preciso que se estabeleçam normas morais de comportamento, em atendimento a esses princípios éticos, mesmo que não se acredite em deus nenhum. E não é para deixar de ir para o inferno que se deve cumpri-las, mas sim para que o bem comum seja alcançado. É a própria sociedade que precisa criar mecanismo de incentivo ao cumprimento dessas normas e de punição para o seu descumprimento. Matar é crime em qualquer nação, mesmo nas oficialmente ateístas ou naquelas em que a religião predominante não seja abrahãmica.

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"A diferença entre um Estado laico e um Estado ateu é que o primeiro aceita todas as religiões, enquanto o segundo rejeita todas". Essa frase está correta?

Sim, é isso mesmo, com um adendo. O estado laico permite a crença e o culto de qualquer religião mas não é oficialmente vinculado a nenhuma. Pode haver liberdade religiosa em um estado oficialmente vinculado a alguma religião, como acontece no Reino Unido, Argentina, Dinamarca, Noruega, Grécia, Butão, Nepal e outros. Em alguns não há liberdade religiosa para os naturais, como na Arábia Saudita, Irã, Paquistão e China.

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http://elielvieira.org/2009/03/03/sobre-o-paradoxo-de-epicuro/ Que achas? Pra mim, não chegou a lugar nenhum e sequer entendeu o paradoxo.

Considero que este paradoxo somente o é na concepção de que a bondade e a justiça sejam atributos intrínsecos de Deus, isto é, que façam parte de sua essência. O conceito de Deus, contudo, não inclui esses atributos, mas apenas o de um ser todo poderoso e capaz de intervir no Universo por sua vontade, à revelia das leis naturais que descrevem seu comportamento, incluindo aí a capacidade de criá-lo sem que seu surgimento se dê a partir de algo previamente existente e de fazer milagres. Assim o paradoxo de Epicuro apenas mostra a impossibilidade de existir um Deus justo e bom, mas não um Deus eticamente indiferente, ou mesmo, malévolo, o que não impediria de considerá-lo Deus.
O argumento de que Deus permite o mal porque concede ao homem liberdade de ação não é procedente por duas razões. A primeira é que muito mal não é feito pelo homem, mas pela própria natureza, como as catástrofes, as doenças, as predações animais, além de outras ocorrências que não são produto de uma vontade consciente, a não ser que o sejam da vontade do próprio Deus, que, assim, se configuraria como malévolo mesmo. A segunda é que, sendo onisciente e atemporal (e isto é parte da essência de Deus) o fato de conceder liberdade de ação ao homem não lhe tira o conhecimento das decisões que cada pessoa irá tomar e se, de posse desse conhecimento, não fizer nada para impedir uma ação malévola, então, certamente, não quer fazê-lo, já que o fato de não poder fazê-lo o desconfigura como Deus. Isto faz com que ele não seja bom.
Em resumo, o paradoxo de Epicuro não prova que Deus não exista, mas prova que não pode existir um Deus bom.
Um raciocínio que pode levar à conclusão da inexistência de um Deus, bom ou mau, pode ser tirado do indeterminismo quântico, uma vez que dele decorre o livre arbítrio e é um fato assentado observacionalmente na natureza. O determinismo laplaceano tira do homem, como de resto de toda a natureza, toda e qualquer liberdade, sendo a expressão acabada da palavra "maktub", que é o destino. Como isto não existe, o desenrolar do conjunto de todos os eventos, experimentados por todos os componentes do Universo, segue uma sucessão completamente imprevisível, exemplificado pelo "Efeito Borboleta". Se houvesse um Deus que, em sua mente, pudesse conhecer tudo o que ocorre com cada componente do Universo em cada lugar e cada momento, então não haveria indeterminismo nem incerteza. Religiosamente esta é a concepção Calvinista de predestinação, algo inteiramente sem cabimento.

Ok, então som no espaço é possível. Mas em relação aos vídeos em si, ditos serem da NASA, com o som dos planetas, o sr. os acha verídicos? Aqueles vídeos parecem mais uma marcha sombria de filmes Sci-Fi do que som de tempestades planetárias, não acha?

Você não entendeu. NÃO é possível haver propagação de som no espaço, só em atmosferas, oceanos, continentes, em suma, em meios materiais. O que pode se propagar no espaço são ondas eletromagnéticas, como a luz e as de rádio. Assim uma nave não ouviria som nenhum, mas poderia captar sinais de rádio que, ao serem levados a um altofalante, poderiam emular algum som, mesmo que ele não fosse proveniente de fonte sonora, como os chiados de uma televisão que não está sintonizando canal nenhum. Aquele chiado, em parte, é do ruído térmico do circuito da TV e, em parte, é a radiação de fundo do Universo. Realmente parece que aquele som tenha sido produzido por algum sintetizador, para imitar um imaginado som planetário

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O 'nada' não seria apenas um conceito mental? Veja minha argumentação: http://noticiasdobill.blogspot.com/2010/12/contra-o-nada.html



De fato, "nada" não pertence à categoria ontológica dos seres (entes reais), nem das entidades (seres hipotéticos), mas sim dos conceitos, isto é, abstrações mentais sem existência real fora de alguma mente que as conceba. E como a gramática tem que acompanhar a ontologia, não se pode atribuir artigo ao substantivo "nada". Assim só se pode dizer "surgir de nada" e nunca "surgir do nada". A questão que você propõe é que não pode haver nenhuma situação em que nada exista. Consideremos o conceito de "existir". Ele significa estar presente no mundo. Não existir nada significaria que não haveria coisa alguma no mundo. Mas como o mundo é o conjunto do que existe, nem haveria mundo. Note que mundo é um conceito mais amplo do que Universo, pois este é o conjunto de tudo natural que existe, enquanto mundo inclui também o que não seja natural, como o sobrenatural, caso exista. "Não existir nada" não é a mesma coisa que "existir o nada". Isto não é possível, ontologicamente falando. Mas a primeira hipótese o é. Resta saber se é fenomenologicamente possível. Eu digo que sim, porque não há obrigação nenhuma para que exista algo, ao invés de nada. O fato de haver algo, isto é, de haver mundo, é um capricho desnecessário. É perfeitamente possível se conceber que nada exista. É claro que, assim sendo, não se estaria concebendo isto. Resta saber se, uma vez que existe mundo (estou excluindo o solipsismo), sua existência necessariamente se estende por um tempo infinito, tanto para o passado quanto para o futuro, ou poderia ser limitada em um ou nos dois extremos, isto é, poderia haver um começo ou um fim para o mundo? Primeiro vamos considerar apenas o Universo. De acordo com a mitologia de quase todas as religiões, o Universo começou em um momento, que é o início dos tempos, por um ato voluntário criativo de uma entidade extrínseca a ele, Deus. Em relação ao próprio Universo, antes da criação, não havia nada, nem "o nada". E Deus teria criado tudo sem que tivesse nada do que fosse proveniente, nem de si mesmo, pois Deus não seria uma entidade natural e o Universo é natural. Se não se considerar a existência de Deus, há duas hipóteses. Ou o Universo sempre existiu, mesmo que tenha começado a expandir no Big Bang, mas o conteúdo que começou a expandir já existia desde sempre, ou esse conteúdo surgiu espontaneamente, começando logo a se expandir. Note que, em ambos os casos, o tempo não existia antes do começo da expansão, pois ele é decorrente da mudança no estado do Universo e, se o conteúdo existia, estava imperturbável. O início da expansão foi a primeira mudança e, logo, o zero do tempo. Note que não há proibição ontológica para que o tempo se estenda infinitamente para o passado, como o quer o argumento Kalam. Dizer que houve um início dos tempos é uma conclusão fenomenológica, que não implica em dizer que houve um início do Universo. Mas não proíbe que isto tenha acontecido. Por que se pode admitir que tudo tenha surgido de nada (e não "do nada") naquele instante zero? O que obrigaria haver algo de que o conteúdo proviesse seriam as leis de conservação. Mas as leis físicas não prescrevem o comportamento da natureza, senão que o "descreve". E elas só descrevem o comportamento de algo que exista. Além disto elas se referem a valores de grandezas, que medem atributos do que existe, em momentos diferentes do tempo. Se antes do surgimento do Universo não havia nada, nem tempo, não haviam leis de conservação também. Então não há proibição para o surgimento de tudo sem provir de nada. Além disso não há também necessidade de causa e nem de propósito para esse surgimento, mas isto é questão para outras considerações. Todavia, esta possibilidade não implica em que, realmente, não havia nada antes do Big Bang. Mas é claro que o que não existia era o "antes", ou seja, momentos anteriores àquele. Nem as teorias hoje existentes, nem as observações, permitem concluir se havia ou não havia algo antes do Big Bang. E as considerações filosóficas não obrigam a que houvesse. Minha opinião é a de que não havia nada, já que, para mim, conceber a existência de algo imperturbável é mais estranho. As equações de Einstein para a dinâmica da Geometria não admitem soluções estáticas, mas elas só se aplicam a um conteúdo que existe no tempo. Existir fora do tempo não é impossível, mas é muito mais estranho do que não existir nada.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Professor, não seria errado esse: "Deus seja louvado" nas notas, sendo que nosso Estado é laico??

Claro que sim. Completamente inconstitucional. Já falei sobre isto em outra pergunta aqui.

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Qual é o problema da Aposta de Pascal?

Medrosa, só isto. É para se garantir de não ir para o inferno, se Deus existir. Mas esse Deus, que ao mesmo tempo manda alguém para o inferno e provê a humanidade com bondade, não pode existir, pois é incoerente. Pascal foi um homem inteligente, mas não conseguir se libertar desse medo. Quem consegue sente um alívio imenso e uma paz inigualável. A morte não lhe abala, pois é o fim de tudo. Mas não se pode cair no niilismo. A inexistência de Deus não dispensa a ética, pois não somos indivíduos independentes. Somos uma espécie gregária e o bem maior é o bem de todos e não o de cada um. Daí a fundamentação puramente humana da ética e da virtude.

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O que acha de afirmações como "Os pobres são preguiçosos, eles é que não trabalham. Dependem do bolsa família pra viver.", "Quem trabalha mesmo são os ricos.", "O pobre que quiser ficar rico, fica, mas não querem. Tá muito bom viver a custa do g

Uma idiotice de marca maior. Pobres e ricos os há trabalhadores ou não. Muitos herdeiros dilapidam o patrimônio herdado e acabam na miséria. Muitos pobre se enriquecem, veja o Sílvio Santos e tantos outros. Todavia, as chances de um pobre enriquecer são muito menores do que a de um rico continuar cada vez mais rico. Isto porque o ambiente do pobre tem muito menos oportunidades e ele tem muito menores condições de aproveitar oportunidades do que no caso de um rico. As excessões ocorrem porque nossa vida é muito mais delineada pelo acaso e pelas coincidências do que se pode pensar. Não conheço caso de pobre que não desejaria ficar rico e que não tente, mesmo que seja por meio do crime. É claro que alguns são preguiçosos, mas não acho que a proporção seja maior do que a dos preguiçosos ricos. É que um preguiçoso rico tem como sobreviver à custa da família e um pobre não. O bolsa família é um remédio para não morrer de fome, mas precisava ser mais exigente em termos de reciprocidade e mais bem controlado. Muitos ricos o condenam por despeito, mas se fossem os pobres que o ganham não recusariam.

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Boa noite, Ernesto! Por favor, pode dizer pra gente como chegou à conclusão de que a humanidade terá uma história de dezenas de milhões de anos? Obrigada. (:

Existe um estudo biológico da permanência das espécies na Terra que dá um valor médio de 20 a 30 milhões da anos. Como a espécie humana tem um controle muito maior sobre si mesma, considero que possa ser um caso bem acima da média. Dizer que o homem pode dizimar-se por provocar catástrofes ecológicas ou devido a guerras, mesmo nucleares, não é verdade, pois, em todos os casos, haverá sobreviventes que iniciarão tudo de novo, até inúmeras vezes. Ainda não temos mais de 200 mil anos de existência, logo estamos na primeira infância da existência como espécie.
Veja o livro: Evolution and Ecology: the pace of life, de K.D. Bennett, da Cambridge University Press.

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Professor, o que o sr. acha dos ditos "sons dos planetas" que tem no Youtube? São farsas ou eles existem mesmo? Exemplo: http://www.youtube.com/watch?v=e3fqE01YYWs&feature=player_embedded

É possível que os ventos na atmosfera de Júpiter produzam sons, já que é muito turbulenta (os nossos também soam). Mas a Voyager passou fora da atmosfera e, como o som é uma onda mecânica, não se propaga no vácuo. Logo não há microfone que possa captar algum som de qualquer planeta estando fora de sua atmosfera. O que pode ser é uma captação de ondas de rádio produzidas por oscilações dos campos magnéticos ou por correntes turbulentas de gases ionizados, capazes de irradiar a diferentes frequências, conforme o período das oscilações.

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Você acha que socialismo ou uma variação de socialismo com um incentivo extra seria uma ideia idiota?

Considero que o comunismo e o socialismo têm grandes defeitos que são o planejamento centralizado e o controle estatal da economia. Para mim, que sou anarquista, mas sei que isto é algo a ser atingido num prazo bem longo, o melhor caminho para se conseguir chegar lá é pelo capitalismo pulverizado em que todos sejam capitalistas e ninguém seja empregado. Mas, enquanto não se atinge uma situação de autogestão que prescinda do governo, este precisa atuar como balizador, incentivador e podador de excessos. Atualmente, algo como a social-democracia liberal seria preferível, em termos de benefícios ao povo em geral e crescimento econômico. É preciso entender que economia é a ciência e a arte da produção e da distribuição de bens e não de dinheiro. Dinheiro é só um meio de troca, que, no futuro, poderá ser abolido. Mas isto ainda demora centenas ou milhares de anos. Como antevejo para a humanidade uma sobrevivência de algumas dezenas de milhões de anos, isto é pouco.

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