quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Ensinar criacionismo é uma forma de abuso infantil, se tem algo que me perturba além das outras formas de abuso infantil ( sexual e etc ) é saber que nesse momento existe uma criança que esta tendo sua curiosidade morta.

Concordo. Acho que o criacionismo deva ser mencionado como uma crença de várias pessoas, mas não como uma possibilidade real de explicação para o surgimento do Universo, da vida e da inteligência. As explicações cosmológicas e biológicas, fundamentadas em evidências, mesmo que indiretas, precisam ser colocadas como as que são válidas e não, como querem os criacionistas, uma opção a se crer, como a da criação direta por Deus. Quem quiser considerar que o surgimento do Universo e da vida, bem como sua evolução até as espécies atuais tenha sido provocada por uma interveniência divina, que creia nisso, já que não altera o resultado (e nem é necessária). Acho que as crenças religiosas devem ser ensinadas às crianças, mas todas elas, sob uma visão antropológica, sem preferência por nenhuma. Para que todos saibam que existem outras concepções e que não há garantia que a concepção que sua família adota seja preferível em relação a nenhuma outra, inclusive a ateísta. O criacionismo mesmo tem que ser apresentado em suas versões cristã, muçulmana, hinduísta, budista e assim por diante.

Querer refutar o argumento cosmológico, com afirmação que nem todo efeito tem uma causa, não está errado? Pois, podem alegar, que as causas dos eventos microscópicos ditos sem causa, existem, mas são desconhecidas, ou podem dizer que a causa deles é Deus.

Nada disso. Se não se acha uma causa para algum evento, o que autoriza a considerar que haja alguma causa desconhecida? Só se se considerar que causa seja uma necessidade. Mas o que exige que causa seja uma necessidade? Se a verificação dos eventos mostra muitos que não se identificam causa, o mais sensato é considerar que causa não seja uma necessidade. Se se vier a descobrir a causa de algum, aquele não é um incausado. Mas isso não autoriza a afirmar que todos sejam causados. Essa afirmativa é fruto de um raciocínio indutivo, calcado na observação de causa para todos os eventos que se conheciam antes do acesso ao mundo sub-atômico. Como toda conclusão induzida, não se tem garantia de sua veracidade e um único contra-exemplo a derruba. Hoje se conhecem miríades de contra-exemplos. Quanto a supor que a causa seja uma interveniência divina, isso só pode ser aceito se for verificado. Nunca soube de nenhuma verificação capaz de provar a interveniência divina em nada nesse mundo. São meras suposições não comprovadas, aceitas por quem acredita, gratuitamente.

"seria possível que o Universo tenha sempre existido." É mesmo, como assim?‎

Há duas concepções para isso. A primeira considera a existência do Big Bang, mas que o conteúdo cujo espaço continente passou a se expandir teria sido resultante de uma compactação de uma fase anterior do Universo, que evoluiria em ciclos de expansão e contração, como Big Bangs em cada mudança de ciclo. A segunda é a do estado estacionário (atualmente descartada), segundo a qual a expansão seria eterna para o futuro e, inversamente (uma contração) para o passado. Mas sem a acumulação em uma singularidade, pois o conteúdo que se expande iria surgindo no espaço (ou sumindo, se visto em sentido pregresso do tempo). Sendo o Universo infinito, essa evolução seria eterna. Não há argumento que proíba que possa ser assim, como o pretendem os defensores do "argumento Kalam", avocado por Tomás de Aquino e pelo William Craig. O que acontece é que os dados observacionais indicam que o Universo teve um início e não seja cíclico. Então, mesmo que seja possível que o Universo fosse eterno para o passado (e para o futuro), o caso é que, como tudo indica, não é (para o passado).

Estava imaginar e... Pensei: "Se o universo foi criado, o criador deve ter, obrigatoriamente dois atributos, o primeiro, ser imaterial posto que a matéria foi criada na Natália do universo, o segundo, ser eterno, já que o tempo, tal como o espaço, também foi criado no inicio", O tu pensas?‎

Esse criador teria que ser extrínseco ao Universo, pois se fizesse parte dele, não o teria criado. E como o espaço e o tempo são constituintes do Universo, sua existência não seria imersa nessas entidades. Então não teria extensão e nem duração. Logo não seria eterno, pois eternidade é uma duração infinita, isto é, presume a existência de tempo. Deus, caso existisse, estaria fora do tempo e do espaço. Não seria um ente físico. Não teria nenhum atributo físico, como massa, energia, dimensão, velocidade, carga, duração. Nada disso. O problema é como tal tipo de ser poderia interagir com o Universo físico para produzi-lo. Esta e outras dificuldades, para mim, inviabilizam a concepção de uma interveniência extrínseca ao Universo para provocar o seu surgimento. Prefiro considerar que esse surgimento tenha se dado sem nenhum agente provocador, isto é, sem causa, bem como sem procedência, do mesmo modo que sem propósito. Como? Não se sabe, do mesmo modo que não se sabe como o pretenso Deus teria feito para criar o Universo, caso assim tenha sido.

O senhor acha que existe alguma maneira de ser feliz sem precisar de alguém/algo?‎

Sim. Mas é muito difícil. Somos animais gregários e, normalmente, não nos sentimos realizados na solidão. Contudo, alguém pode se realizar assim. Não há regra fixa. A pessoa tem que ser extremamente auto-suficiente e não depender de ninguém para nada, especialmente para o equilíbrio psicológico. Há quem seja assim. Eu não. Preciso de ser estimado, considerado e amado para ser feliz, como a maioria das pessoas. Também preciso de coisas que me tragam aconchego. Em meu caso são os meus livros, discos, vídeos e tudo de minha biblioteca. É o meu mundo. Não ligo para carro, roupas, boa casa, viagens e muito do que muitos consideram desejável. Mas ligo para poder mergulhar em minha biblioteca horas a fio.

Considera ter autonomia intelectual?

Sim. Eu me inteiro das mais variadas concepções a respeito de cada assunto e, a partir delas, construo minha própria visão, que inclui minhas experiências pessoais. Até que me convençam em contrário é a que assumo, que pode coincidir com alguma que eu tenha me inteirado ou não. Mas o fato de haver coincidência com a opinião de outrem, como de algum pensador importante, não significa que eu também concorde com o seu pensamento em outros assuntos. Não admito ser rotulado de nada. Cada questão merece a minha apreciação e posicionamento independente de qualquer escola de pensamento. Nesse sentido me considero eclético, o que, para uns, é algo inteiramente inadmissível. Se o for, então sou inadmissível.

Ernesto, qual deve ser o conhecimento mínimo em matemática que um calouro de física deve ter antes de começarem as aulas para não sofrer muito nos primeiros períodos da faculdade? Seria ótimo se pudesse enumerar tópicos para eu organizar meus estudos.‎

Além de ser craque no cálculo de operações com potências e radicais, para começar, tem que estar bem afiado em trigonometria. Isso é essencial. Outra habilidade indispensável é algebrismo, isto é, operar com expressões algébricas e extrair a incógnita seja onde ela estiver colocada. Também tem que saber resolver sistemas de equações, usar números complexos, e ser capaz de determinar os valores de lados e ângulos em construções geométricas. Isso é o principal. Sem falar que tem que ter grande facilidade para as sete operações com números fracionários, tanto frações ordinárias quanto decimais. Os valores numéricos que aparecem nos problemas reais de Física nunca são arredondados e nem são os que dão "conta certa".

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