segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Energia e Psiquismo


Há uma proposta de fazer a conexão entre cérebro e mente por meio do que se chama de "variante energética". E que tal conexão operaria dialeticamente, como aliás se considera que seja o modo operante da natureza, e não apenas da sociedade. Mas, pode-se considerar que a dialética seja apenas um modo humano de conceber o funcionamento da natureza e não algo inerente a ela mesma.
Antes de tudo é preciso entender que não há divergência entre ciência e filosofia. Ambas buscam explicar o mundo, cada qual com o seu objeto e método, mas complementando-se. No entanto, uma explicação científica assentada como uma teoria comprovada tem mais peso veritativo que uma explicação filosófica, pois esta, provinda que é da reflexão e não da experimentação, tem um grau maior de subjetividade, consistindo mais numa "doxa" (algumas vezes elevada a "eudoxa") do que numa "episteme".
A questão do "status" ontológico da dialética, em verdade, é a mesma de toda explicação científica e filosófica. Tais disciplinas são construtos humanos. A natureza não se importa com elas e funciona por conta própria, independente de que explicação se dâ a seu funcionamento. Todas as grandezas e leis físicas são modelos descritivos da realidade, que poderiam ser completamente diferentes e tão bem a descreverem (como decerto deve ser a ciência de extra-terrestres, se houver algum).
Assim, se a natureza opera dialeticamente ou não, é algo que tem que ser respondido dentro de um modelo explicativo da realidade física e, por extensão, do resto da realidade, inclusive psíquica e social.
Pelo que posso depreender do modelamento descritivo da natureza nas diversas ciências, de fato, o modo de operação da natureza é dialético. Mas é precioso considerarmos as não linearidades e as multidimensionalidades.
Há também grandes equívocos no entendimento do conceito de energia, especialmente em temas ligados ao esoterismo. Energia é um atributo físico de sistemas (subconjuntos do Universo) que lhes confere a capacidade de agir, provocando alteração em seu próprio estado ou no de outros sistemas, com os quais interaja. O conceito é, muitas vezes, confundido com o de "disposição" ou "ânimo", que são estados mentais, certamente relacionados com a disponibilidade orgânica de energia, mas coisas distintas. O que confere energia ao organismo é apenas "alimento", nada mais. Ânimo pode ser conferido por uma conversa, uma visão, uma lembrança etc.
Além disto, energia é, às vezes, considerada uma entidade e não o é. Energia é uma propriedade de entidades, expressa, inclusive, por uma grandeza mensurável, mas não existe, substancialmente falando. Nada "é" energia, mas pode (ou não) "possuir" energia. Além do mais, a energia é uma grandeza relativística de calibre, isto é, seu valor depende do referencial em relação ao qual é medida e da escolha arbitrária de seu nível zero. Ou seja, pode ser negativa.
Certamente que os fenômenos psíquicos, originários que são do funcionamento neuronal e do meio circundante, envolvem consumo de energia (Apesar de representar apenas 2% da massa corporal, o cérebro consome 15% do sangue, 20% do oxigênio e 25% da glicose). No entanto não vejo que haja diferença no tipo de energia consumida para cada função psíquica (percepção, memória, emoção, raciocínio, controle motor, linguagem etc), seja de modo consciente ou inconsciente. É sempre energia química, proveniente dos alimentos.
Como já mencionei na postagem sobre fisicalismo, a explicação para a mente está no fato de ser uma "ocorrência" advinda da composição, estrutura e dinâmica do cérebro, cerebelo, bulbo, medula, nervos, glândulas endócrinas e todo o organismo.
A mente é uma ocorrência bio-eletro-química.
Note que não estou me referindo a um “epifenômeno” do cérebro, mas a uma outra categoria que depende do cérebro mas possui uma natureza não substancial (como seria a alma, cuja substancia não é física). Sua natureza é de ordem estrutural e dinâmica, isto é, trata-se de uma “ocorrência” advinda da complexa estrutura cerebral e de seu funcionamento. Fazendo uma comparação pobre é como uma “música”. A música não é a partitura, nem os instrumentos, mas o “acontecimento” dos instrumentos estarem executando a partitura. Só que este acontecimento só pode se dar se existirem os instrumentos e a partitura (mesmo que memorizada pelos músicos). Só que a mente é algo extremamente mais complexo.
Desta forma, não há como a mente subsistir sem o substrato físico-biológico que a suporta, a não ser que, antes que ele se perca, seu conteúdo seja transferido para outro substrato, de mesma natureza (um transplante de consciência entre cérebros) ou de outra natureza (um artefato robótico) que fosse capaz de assimilar tal conteúdo. Isto, em tese, é possível, mas ainda não há competência tecnológica para tal. De modo que, fora isto, a morte do organismo biológico significa também a cessação completa da consciência, de todas as memórias e do “eu”. Tal constatação leva atribuir à vida biológica e psíquica uma importância muito maior do que lhe atribuem as concepções espiritualistas que admitem a sobrevivência do “eu” ao organismo, seja na forma de um “espírito” ou outra qualquer, seja ou não transferido para novo organismo. A unicidade e finitude do “eu” lhe dá uma significância ímpar, pois cada um de nós só tem mesmo esta vida e acabou.
As pesquisas neurológicas sobre a consciência estão avançando. O fato de ainda não se ter a explicação cabal de como o organismo gera a consciência não significa que ela não exista.
Quanto ao epifenomenalismo, ele entende que os processos mentais “emergem” do funcionamento do cérebro mas não podem ser a eles reduzidos, pairando “acima” do comportamento físico, constituindo, pois, um “dualismo de propriedades”. Minha concepção do psiquismo como “ocorrência” é inteiramente redutível aos fenômenos físicos, constituindo-se, pois, em um “monismo fisicalista”, desde que entendamos o mundo físico (natural) como constituido não apenas de matéria, mas também de campos, estruturas, interações e comportamentos dinâmicos e que o reducionismo não seja concebido na forma de uma função linear mas que admita não linearidades e retro-alimentações (isto é, o todo é uma função das partes, mas não a “soma” das partes).
A consciência psíquica não depende da linguagem e a precede bastante no tempo tanto na evolução da espécie humana, quanto no crescimento do bebê e, mesmo, na evolução das espécies como um todo. Outras espécies também possuem consciência, além da humana. Humanos desprovidos de linguagem formal (surdo-mudos de nascença, criados sem terem sido alfabetizados de nenhuma forma) possuem consciência e inteligência tão normais como os outros. Certamente que a linguagem propicia uma ferramenta poderosíssima de raciocínio, mas não imprescindível. Sem linguagem é possível fazer escolhas e tomar-se decisões pensando-se apenas por meio de imagens sensoriais visuais, olfativas, táteis, motoras etc. As próprias imagens retidas na memória funcionam como os símbolos linguísticos representativos do que eles significam e é possível, inclusive, construir raciocínios condicionais, isto é, pensar hipoteticamente e planejar ações futuras. Isto é, raciocínio proativo e não apenas reativo. Isto ocorre também com alguns animais.
O pensamento trata-se de uma ocorrência que se dá na mente, como um sentimento, uma emoção, uma percepção, uma volição, uma evocação, uma memorização, um raciocínio etc. E mente nada mais é do que a entidade que consiste em um cérebro em funcionamento atual ou potencial. A mente não é o cérebro, mas não existe sem ele. É um acontecimento que se estabelece devido a seu funcionamento, que depende de sua constituição, estrutura e dinâmica. O pensamento é como uma música. Ela não existe sem que um instrumento (ou a voz) a produza, mas ela não é apenas o som, mas tudo o que a maneira com que esse som é gerado sequencialmente no tempo seja capaz de produzir, devido á variação da altura, da intensidade, do timbre, do ritmo, da melodia, da harmonia e de todas as demais características. Assim o pensamento é uma sequência de evocações de percepções, de associações, de sentimentos, e de tudo o que o funcionamento do cérebro pode produzir. Note-se que o pensamento pode mesmo ser inconsciente (consciência já pode ser o tema de outro tópico). Certamente para pensar a mente requer que o cérebro funcione e, portanto, consuma energia. Mas o pensamento não é energia, nem tampouco reações químicas. Não é matéria e nem espírito (que, aliás, não existe). Se o pensamento fosse substancial ele poderia ser extraído com uma seringa de um cérebro e injetado em outro, que passaria a pensar a mesma coisa. Pensamento pertence à categoria de realidades que denominam-se “ocorrências”. Isto é: pensamento é um processo que se dá na mente, um acontecimento, um evento. Para que tal evento ocorra é requerido o fornecimento de energia como, de resto, em todo processo orgânico. Mas esta energia é a fornecida pela metabolização do alimento que se ingere. Ela não provem de fonte externa ao organismo.
Tal ocorrência consiste em transmissões de sinais entre neurônios. Estes sinais caminham pelos dendritos e axônios como uma onda de inversão de polarização de suas membranas, em função da variação da concentração de íons de sódio, potássio e cálcio. A comunicação entre os dendritos e os axônios é feita pelos neurotransmissores, que estão disponíveis no meio glial, tratando-se, pois, de um transporte químico de moléculas. Tais assuntos podem ser vistos em qualquer tratado de anatomia e fisiologia neural. Não há nenhuma evidência experimentalmente testificada de que o pensamento possa, naturalmente, emanar da mente que o experimenta, propagar-se pelo espaço e ser captado por outra mente, lembrando que a mente é uma ocorrência do cérebro. A interpretação dos fatos havidos com os macacos lavadores de batatas como transmissão de pensamento é gratuíta.
Uma questão, contudo, é inteiramente pertinente: de onde vém o pensamento? Isto é, o que desencadeia a ocorrência de um pensamento na mente? Várias coisas. Em sua orígem, todo processamento mental provém das sensações que os órgãos dos sentidos levam ao cérebro. São os estímulos visuais, sonoros, térmicos, táteis, olfativos, gustativos bem como dos sentidos que percebem o equilíbrio, o posicionamento do corpo e o funcionamento dos órgãos internos que provocam as primeiras cadeias de transmissões de sinais neurais que se transformam em percepções, assim que interpretados. Em segundo lugar, o próprio cérebro, em seu funcionamento, evoca, por associação ou mesmo aleatoriamente, a percepção de imagens já registradas na memória. E as processa, produzindo novos resultados que passam a ser registrados. Esse fluxo de processamento neural é que é o pensamento. Ele pode se dar de modo consciente ou inconsciente, voluntário ou involuntário. Quando consciente, o “eu” (self) toma ciência da ocorrência. Nos sonhos e alucinações há uma emulação inconsciente da consciência, que, inclusive, pode acarretar respostas motoras (sudorese, micção e mesmo, locomoção, além do movimento dos olhos, característico do estágio REM do sono). Dependendo de seu modo de ser, o pensamento pode ser um raciocínio, uma emoção, um sentimento, uma decisão.
Em todos estes casos, o processamento mental desencadeia alterações somáticas (hormonais, vago-simpáticas ou outras), como excitação, taquicardia, sudorese, rubor, palidez, secura na boca, vaso constrição ou dilatação. Todas essas alteração são percebidas pela varredura dos sentidos e registradas na memória com parte da ocorrência, de modo que o processamento mental não é apenas cerebral, mas envolve todo o organismo.
De um modo geral o que se pode depreender é que os fatos da vida psíquica são decorrentes do funcionamento do organismo (especialmente o cerebro, mas não só) e se dão com o consumo de energia. Mas as peculiaridades de cada tipo de ocorrência não advém da modalidade de energia, mas da estrutura e dinâmica do processamento que se dá. E a complexidade é imensa. O cérebro funciona com processamento paralelo colossal, imensamente maior do que a mais vasta rede neural de computadores já montada. E o número de conexões entre os neurônios é da ordem de centenas de trilhões, mil vezes maior que o número de estrelas em uma galáxia ou de que o número de galáxias do Universo. De modo que o número de combinações possíveis de se montar uma estrutura de sinapses que signifique um dado pensamento é estupidamente maior (isto é, o somatório das possíveis combinações de todas essas conexões, desde apenas uma até todas elas - isto é maior que a fortuna do Tio Patinhas). Tal coisa é capaz de armazenar a memória de tudo o que se percebeu na vida, bem como elaborar todos os raciocínios, todos os sentimentos, todas as emoções, todos os desejos, todas as decisões, enfim, tudo o que puder ocorrer em uma mente ao longo da vida. Certamente que muito do que é formado é destruído, mas muito ainda permanece. Isto é o psiquismo!
Certamente que o psiquismo requer suprimento de energia, mas não apenas. Ele também responde a estímulos externos advindos do relacionamento da pessoa com o mundo, tanto natural, quanto social. Todos esses estímulos são mediados pelos órgãos sensoriais, único canal de contato do "eu" com o mundo (mas note-se que os sentidos não são apenas os cinco tradicionais, mas cerca de vinte). Não há nada de transmissão de pensamento ou coisa que o valha. E a recíproca, isto é, a estimulação de outros pela pessoa, se dá por seus orgãos da fala, sua musculatura esquelética, ou até pela exudação de odores. Todas essas trocas de mensagens intersubjetivas se fazem com o aporte de energia, mas não é a modalidade (sonora, térmica, mecânica (tátil), luminosa ou química), ou quantidade de energia que conterá a informação transmitida a ser assimilada pela mente de forma a produzir respostas imediatas ou mediatas em termos de conformação da personalidade e do carater, formação de lembranças, aquisição de habilidades etc.
O conteúdo da mensagem interpessoal ou transmitida pela coletividade ou o mundo natural está no seu "formato", que, considerando linguagem de um ponto de vista bem amplo, envolve denotação e conotação. Não apenas o significado estrito dos significantes trocados, mas também os aspectos afetivos envolvidos (novamente entendido de um modo amplo) formarão o conteúdo da mensagem absorvida. O que se transmite não está na "energia", mas no "aspecto" em que a mensagem, certamente portando energia, senão não passa, apresenta à mente. Em alguns casos é possível que a maior parte da mensagem esteja na energia, como ao se bronzear ao Sol, ou ao se levar um murro, mas são casos bem particulares.
Instintos, emoções, sentimentos, criatividade artística, volições e outros fatos da vida psíquica, do mesmo modo que memorização e lembrança, pensamento, raciocínio, inteligência, consciência, auto-consciência e também, fala, locomoção, digestão, respiração, circulação sanguínea, funcionamento endócrino, enfim, todas as ocorrência do organismo (dentre elas as mentais) se dão em decorrência do funcionamento do sistema nervoso controlador. Por mais sutil que possa parecer um sentimento de ternura que leve às lágrimas, ele é decorrente da físico-química do cérebro. Quanta complexidade é preciso considerar para que uma explicação possa ser dada de forma estritamente reducionista é muito mais do que qualquer rede neural hoje passível de concepção seja capaz de fazer. Imensamente maior. Mas não infinita e nem impossível de ser produzida artificialmente. Acontece que a humanidade é extremamente jovem neste planeta (menos de um milhão de anos) e a ciência existe apenas a um átimo no tempo geológico (o que não dizer do cosmológico). Pensemos no que poderá ter desenvolvido dentro de apenas algumas dezenas de milhares de anos, quanto mais quando a humanidade já tiver alguns milhões de anos. Tudo o que de mais avançado a ciência já produziu é uma infantilidade perante o que ainda virá. Não condenemos a ciência por ainda não ter explicações para a maior parte de tudo, porque ela está sempre a buscar, sem nunca supor que já encontrou. É assim mesmo e não esperemos demais em nossa curtíssima vida. Mas isto não justifica considerar que o reducionismo está equivocado, desde que visto da forma não linear que já mencionei. Assim ele abranje o holismo, que, na verdade, como é normalmente colocado, é uma capitulação perante a barreira de complexidade exigida para as explicações reducionistas. Mas eu confio que a "ciência dura" logrará escalar esta íngreme montanha, que é desbravar o conhecimento de modo estritamente científico. Inclusive, para mim, a própria Filosofia acabará por tornar-se científica.
A Ciência não tem (e nem tem a pretensão de ter) as explicações definitivas sobre todas as coisas. A cada passo em que algo consegue ser explicado, mais questões ainda surgem por esclarecer. Dizer que esse processo é infinito é temerário mas, certamente, sua extensão é imensa. Fico imaginando o futuro, não no próximo milênio, mas dentro de inúmeros milhões de anos, quando nossa espécie já poderá ter evoluído para várias outras que lhe seguirão, ou outras que surgirão de linhas evolutivas distintas e que poderão ser muito mais inteligentes. Esses seres ainda estarão buscando explicação para muita coisa. Um dos problemas que vejo com as explicações mitológicas e dogmáticas (religião e pseudo-ciências) é que elas têm a pretensão de serem definitivas. Isto é perigoso. É preciso ter a mente aberta para abandonar tudo o que se acredita face a evidências iquestionáveis. Assim é a ciência, que vejo como o único caminho para o conhecimento. A filosofia extrai suas proposições da reflexão sobre o mundo (exterior e interior) tal como é apreendido por nossa consciência a partir de nossas percepções sensoriais. É preciso entender que a compreensão que temos da realidade se constrói em cima dos conceitos que já assimilamos. Quando Ptolomeu concebeu o sistema geocêntrico ele absolutamente não era nenhum burro ignorante. Pelo contrário, poucos escolares que aceitam o sistema heliocentrico hoje seriam tão inteligentes. Mas ele não concebia o mundo de outra forma. O próprio Einstein ao dizer “Deus não joga com dados” revela seus preconceitos arraigados. É o sucesso da ciência em explicar (parcialmente) o mundo que nos permite aceitar que é preciso suplantar o “bom senso” e aceitar que tudo é possível. Até a reencarnação, se for o caso. Mas tem que ser provado por evidências ou, pelo menos, grande plausibilidade. Opinião e crença, só como hipótese provisória.
E o valor do conhecimento não está na sua utilidade prática, de modo nenhum.
Saber como se formou o Universo (minha área de estudos) não tem utilidade prática nenhuma.

Dialética e energia

Sobre o comportamento dialético da natureza, considero que seja preciso extender a dialética além da tríade "tese-antítese-síntese". Explico. Podemos entender o Universo como um único e vasto "campo", primordialmente indiferenciado e extremamente denso, no caroço a partir do qual se iniciou a expansão no momento zero da sequência atual dos tempos, denominado, impropriamente, "Big Bang". Daí para cá, todas as ocorrências, desde a formação das partículas elementares até os problemas políticos atuais da humanidade, passando pela formação de átomos, moléculas, radiação, galáxias, estrelas, planetas, vida, inteligência, consciência, sociedade e tudo o mais, se deu pelo surgimento de assimetrias, flutuações de densidade, numa sequência de reptos e réplicas, que, dialéticamente, conduziram a novas assimetrias, que desencadearam novas réplicas e sínteses, e assim por diante, num emaranhado complexíssimo, como deve-se perceber que seja, por exemplo, um relacionamento amoroso descrito em termos de interções de partículas elementares (especialmente elétrons da camada de valência, isto é: química!). O holismo, então, entendido como o comportamento do todo que não se reduz à soma de suas partes, precisa ser compreendido de outra forma. Na verdade todo sistema é um subconjunto do Universo e nunca dele se desliga. Então cada parte de um todo é apenas um subconjunto menor. O comportamento do sistema maior depende das interações internas de suas partes e, também, das interações com o que está fora. No mecanismo dialético antes descrito, existem retro-alimentações e efeitos sobrepostos, que, matematicamente, incluem termos com quadrados, cubos e outras potências, além de termos produto de várias ordens, desconfigurando a noção de soma vetorial da geometria euclideana e da física newtoniana. A isto eu chamo um "reducionismo não linear". Em que isto muda a dialética?
O que se pode perceber é que, se bem que, elementarmente, toda ocorrência advenha de uma oposição (tese-antítese) que consiste na flutuação da densidade do campo cósmico, criando um local concentrado e um rarefeito (o que se dá, por exemplo, com o movimento, pois sair de um lugar para outro é deixar uma ausência na saída e criar uma presença na chegada), no caso de conglomerados de partículas, a não linearidade descrita, faz com que a ocorrência não seja necessariamente descrita como uma oposição mas como uma "variação", que pode ter nuances de diferença. Isto é o que eu considero um tipo de "dialética não dicotômica", similar à "lógica difusa, ou à lógica policotômica". E, mesmo, pode-se conceber esta variação de uma forma multidimensional, e não apenas ao longo de um eixo de opostos. Por exemplo, em política, as posições não se distribuem apenas ao longo do eixo esquerda-direita, mas também em direções perpendiculares a essa, como cima-baixo e frente-atrás (a serem devidamente interpretadas). Então existe um verdadeiro "cubo" de possibilidades. A evolução dos eventos se dará, pois, pela interação entre essas possibilidades, que conduzirá a uma nova "síntese", que poderá, inclusive, envolver não apenas dois fatos iniciais, mas vários, que provocarão resultados de uma forma não vetorial (linear ou soma), mas envolvendo os termos potência e produtos de potências já mencionados. Isto é o que eu chamo de "dialética não linear", que, no meu entendimento, é a forma com que a natureza funciona e, por extensão toda a realidade, mesmo a psíquica, social, política, cultural, econômica ou qualquer que seja, pois, pelo "reducionismo não linear", tudo se reduz à natureza. Só fica de fora a realidade sobrenatural, por não existir.
As explicações teleológicas para os fenômenos da natureza têm origem mitológica. Uma vez que temos inteligência, agimos proativamente, pois nossa mente concebe hipotéticas situações futuras, o que permite que planejemos nossas ações para a obtenção do cenário futuro concebido. Não é o que ocorre com os seres vivos meramente reativos e nem com os seres inanimados. Tal comportamento é decorrente da complexidade do cérebro humano (e alguns outros), bem como de todo o organismo a que pertence. Assim, por analogia, o homem primitivo considerava que toda ocorrência se dava com um propósito e, portanto, teria sido planejada por algum ser inteligente misterioso, que ele concebia análogo a um homem, só que invisível e todo-poderoso, isto é, Deus. Então, numa evolução contínua, tal concepção do modo como opera a natureza, inclusive, passou a ser aceita até por considerável porção da comunidade científica. Somente o advento da teoria da evolução e da mecânica quântica sepultaram de vez qualquer consideração teleológica nas explicações científicas dos fenômenos naturais. Mesmo a evolução, nos primórdios do lamarckismo, admitia que a finalidade dirigia o sentido da evolução. A aceitação da seleção natural como o mecanismo evolutivo, associado às mutações fortuitas, mostrou que a natureza não trabalha visando fim nenhum. O vulgo, contudo, ainda está preso a este tipo de concepção, cuja derrubada é feita em paralelo à perda da noção da existência de Deus. A mecânica quântica, ao derrubar tanto a causalidade quanto o determinismo, pôs a pá de cal sobre o teleologismo, com a concepção probabilística da relação entre o antecedente e o consequente.
Nas ciências humanas, como a sociologia, a economia, a política, a história, a coisa não é tão simples, pois ações são planejadas e executadas pelo homem com objetivos. Todavia, estudos de comportamentos de massas, mostram padrões mais próximos das ciências naturais do que se poderia supor. Tais estudos são aplicados, inclusive, em mercadologia e publicidade.
Finalmente comentar sobre a terminologia "Energicismo" para substituir o "Materialismo". Para mim, ainda não fica bem. Prefiro o termo "Fisicalismo". "Naturalismo" também poderia ser, mas já é um termo associado a outro conceito.
O que se pretende considerar é que o mundo, fundamentalmente, é inteiramente natural, não existindo nenhum tipo de realidade sobrenatural, como espíritos, almas, anjos, gênios, demônios ou deuses. Nem tampouco algum "mundo das idéias" platônico, ou o conceito hinduista de "Maya". Mas o mundo natural não é constituído apenas de matéria, daí a improcedência do termo "Materialismo".
Mas também não é constituído de "Energia". Energia não é uma entidade substancial de que algo seja feito. Energia é uma propriedade de sistemas físicos, como também massa, carga elétrica, spin (momento angular), momento linear, helicidade, e, macroscopicamente falando, volume, densidade, temperatura etc. A essas propriedades são atribuídas grandezas mensuráveis, geralmente com o mesmo nome da propriedade.
Mas nada é feito de energia. Algo "possui", ou não, energia.
Substancialmente o universo é composto de três tipos de entidades: matéria, radiação e campos. Além do espaço-tempo. Fundamentalmente a matéria e a radiação são conglomerados de quantizações de dois tipos de campos, o fermiônico e o bosônico, respectivamente, de modo que tudo se reduz a "campo", que, por sua vez, não é feito de coisa alguma. Ele é a coisa de tudo é feito, qualquer que seja a interpretação da estrutura do conteúdo do Universo, inclusive nas teorias de supercordas, branas e na Teoria "M".
Assim, considero mais apropriado se usar o termo "fisicalismo" para se referir a esta concepção da realidade que exclui tudo que não seja natural.
Certamente que existem realidades de outras categorias, como a das idéias, dos valores, das normas. Mas são abstrações sem conteúdo substancial, isto é, só existem se houver mentes que as concebam.

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