segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O que é o amor? Vale tudo para viver um grande amor?

Nada é mais importante do que o amor. Trata-se de algo engendrado pela natureza ao longo da evolução para garantir a sobrevivência da espécie. Enquanto o egoísmo pode ser eficaz para a sobrevivência do indivíduo, é o amor que garante a perenidade da espécie. O sexo foi uma estratégia da natureza para garantir a variabilidade genética e possibilitar múltiplas escolhas na seleção natural. Seria possível, por partenogênese, a existência de espécies apenas com o sexo feminino, que é o essencial, sendo o masculino meramente acessório. O surgimento do sexo, desde os mais primitivos seres vivos, contudo, revelou-se a opção mais eficaz. Eros é, pois, a pulsão mais poderosa, pela qual os indivíduos até mesmo dão a vida.

A sobrevivência da espécie também exige o cuidado com a prole e a proteção da fêmea, atitudes que se sublimaram na componente platônica do amor. Assim o amor evoluiu para um comportamento não só sexual mas também de carinho. A necessidade de proteger o grupo privilegiou aqueles que possuíssem fortes laços de cooperação interpessoal, que é sublimada na amizade.
Duas forças coexistem nas espécies animais: a de competição, egoísta e belicosa, que deseja o poder sobre o outro a ser subjugado e a de cooperação, que se expressa no amor, na compaixão, no altruísmo. A primeira tem suas raízes profundas na necessidade de aplacar a fome fisiológica de alimento e a segunda no impulso de preservação da espécie. Sendo o homem uma espécie altamente evoluída, que atingiu um estágio de consciência psíquica plena e desenvolveu a cultura, essas forças primitivas da natureza foram canalizadas para as expressões refinadas da arte, do engenho e da ciência. São elas que movem o poeta, o guerreiro, o cientista, o sacerdote, o empresário, enfim, todo homem e toda mulher a fazer o que quer que seja na vida.
Em seu livro “O Gene Egoísta”, Richard Dawkins diz que nossos organismos nada mais são do que instrumentos criados pelas moléculas replicantes para perpetuarem-se. Assim os dois instintos primários, da existência e da procriação, forjaram-se na natureza para atender a este imperativo básico do gene: replicar-se. Esta pulsão pode estar contida na própria estrutura subatômica da matéria, de um ponto de vista reducionista. Deste modo, talvez a própria estrutura íntima do Universo seja naturalmente estabelecida para culminar na vida, lembrando as idéias de Teillard de Chardin. Isto não significa que haja um projeto inteligente. Trata-se apenas de como as coisas são por si mesmas, sem razão nem propósito. Mas… não sei. Há que se investigar e discutir.

Pelo que se pode concluir, o sexo é, pois, um componente essencial da vida e um dos mais relevantes fatores de felicidade. Uma vez preenchidas as condições mínimas de sobrevivência: ar, água, alimento, abrigo (incluindo vestuário) e segurança, a pessoa busca sua felicidade. Dentre os muitos fatores que levam à felicidade, não resta dúvida que o mais relevante é a sensação de ser amado. Mas, para quem já seja sexualmente maduro, não é apenas o amor maternal, paternal e fraternal que contam. Há uma carência do amor erótico. Este é o objetivo buscado. Como nisto há uma reciprocidade, há que se amar para ser amado. Tal fato é tão válido que, mesmo sem correspondência, o ato de amar é fonte de felicidade, mesclada com uma doce tristeza.
Quando o amor é correspondido e se realiza eroticamente, atinge-se um êxtase talvez só comparável aos arroubos místicos. Por maior que seja a pulsão fisiológica para o sexo, da qual, por sublimação surgiu o amor, sua realização dissociada do amor não proporciona nem uma mísera fração da beatitude que o sexo com amor é capaz de conceder. Porque, aí, o sexo não é só fruição, mas, principalmente, doação. Excluído o egoísmo do sexo, incrivelmente, ele propicia um prazer maior ainda. É procurando dar o máximo prazer que se desfruta dele em plenitude. E, para isto, há que se buscar conhecer o parceiro completamente, em corpo e em espírito. Tudo está envolvido. Pudores têm que ser esquecidos. Uma pitada de molecagem sempre é bem-vinda. Mas, no meu entendimento, sem afligir dor e nem constrangimento algum. Só o prazer dos murmúrios, dos perfumes e dos odores, dos toques suaves e dos vigorosos, de todos os recursos disponíveis, sem reservas e sem remorsos. Sem pressa. Esquecido do mundo. Isto é o amor e os orientais são sábios em cultuá-lo, de modo até sagrado. Como diz Chico Buarque na “Valsinha”, como não seria melhor o mundo se o amor fosse o prato do dia de todos.
Amor é um sentir, um pensar, um desejar, um querer e um agir, isto é, uma emoção, um sentimento, um apetite, uma volição e uma ação. Esse complexo de fatos psíquicos caracteriza o amor em todos os planos, piedade, compaixão, solidariedade, afeição, amizade, amor platônico, erotismo. Amor filial, maternal, paternal, fraternal, conjugal, idealista. A intensidade e a seqüência em que eles aparecem podem variar. O amor sempre emociona, enternece, enleva e envolve um desejo de zelo, cuidado e proteção da coisa amada, bem como um anseio de reciprocidade. Mas o amor só se realiza quando é expresso em vontade e esta vontade em ação. Não basta sentir e desejar para amar, é preciso querer, demostrar e provar. O amor envolve dedicação e renúncia, paciência e perseverança, trabalho e recompensa, alegria e tristeza, euforia e depressão. É algo envolvente e inebriante. O amor não é possessivo, ciumento, exclusivista, castrador, sufocante. Pelo contrário, o amor é libertário e altruísta. Não me refiro apenas ao amor erótico, mas a todas as modalidades, inclusive as formas idealistas de amor à verdade, justiça, sabedoria, humanidade e natureza. O amor não pode ser cerceado em sua intensidade e abrangência. Ele não possui limites. Quanto mais intensamente se ama e a mais coisas e pessoas, mais capacidade se tem de amar. E quanto mais se ama, mais se realiza e maior é a felicidade, mesmo que nem sempre ele seja correspondido.

Estou com aqueles que consideram o ciúme uma manifestação de puro e simples egoísmo. Sentir ciúme é pretender que o ser amado seja propriedade sua. Isso não é amor. Sou ateu, mas nunca vi melhor descrição do que é o amor do que o que disse o apóstolo Paulo no capítulo 13 de sua primeira carta aos coríntios:
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tivesse amor, seria como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.
Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse amor, não seria nada.
Ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse amor, de nada valeria.
O amor é paciente, o amor é bondoso. Não tem inveja. O amor não é orgulhoso. Não é arrogante.
Nem escandaloso. Não busca seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor.
Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade.
Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”
O amor é completamente gratuito. Não exige nada em troca, nem reciprocidade nem exclusividade. E se compraz com a felicidade do amado em qualquer circunstância. Ciúme é egoísmo, não amor. Não há posse no amor. E a felicidade é maior pelo amor que se dá e não pelo que se recebe. Mas é ótimo ser amado, sem dúvida. O que não se pode é exigir amor de ninguém e nem que o amado não possa também amar a outrem. Aquele que ama, inclusive, dispõe-se a compartilhar o ser amado. É preciso reverter inteiramente esta noção de propriedade no amor. Isso é sinal de imaturidade. Ama-se e confia-se no amado. O ciumento preocupa-se mais é com a perda de sua imagem, caso venha a ser traído. Mas não há traição se o compartilhamento é consentido. Nada disso haveria se a sociedade admitisse, tranquilamente, a pluralidade simultânea do amor.

Assim compreendido, pode-se concluir que, realmente, viver um grande amor vale o sacrifício de outros projetos, como carreira e enriquecimento. Estas coisas têm menos valor. Mas é importante que a pessoa esteja consciente que o investimento em um grande amor não tem retorno garantido. Que se saiba que tudo pode der errado e nem por isso se arrependa do que se fez. E não se pode amar pensando no que se vai ganhar com isto. Ama-se e pronto! Gratuitamente e sem remorsos. Quem assim pauta sua vida, não só pelo amor a pessoas, mas pelo amor à humanidade e a causas nobres e idealistas, nunca se verá acabrunhado com os dissabores, pois sua mente paira sobranceira sobre as picuinhas da vida, até mesmo sobre as necessidades básicas e se porta como o bemaventurado que esquece de si mesmo e vive para a vida e para o bem de todos e de tudo.

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