Toda criança tem que poder dar palpite. Mas de forma educada e não pirracenta. Pirraça é inadmissível. Meu pai e minha mãe nunca mandaram em mim nem em minhas irmãs. E nós fazíamos tudo o que eles pediam porque eram razoáveis, explicavam o motivo e ouviam nossas ponderações. E sempre fomos crianças super bem educadas. Uma típica família aristocrática européia. Mas financeiramente decaída e politicamente anarquista. Todo mundo arrumadinho e comportado. Sem que fosse preciso mandar nem bater. Mas meus pais davam o exemplo de solicitude, de nenhuma preguiça, de ordem, de disciplina, de educação, de cortesia, de civilidade. Aprendemos assim e achei isso ótimo. Até hoje considero meu pai e minha mãe meus heróis e o exemplo que sigo de pessoas dignas, bondosas, honestas, altruístas, dedicadas ao bem comum. Todo mundo pode ser assim. O pior defeito é a preguiça e a indisposição para agir e trabalhar com afinco. Em minha casa amávamos a nossos pais e os respeitávamos. Mas os chamávamos de "tu" e não de "senhor". E não tinha isso de pedir a bênção. Era beijinho e boa noite. Mas meus pais eram intelectuais de esquerda, super liberais, super tolerantes. Uma raridade naquele tempo em que éramos crianças, isto é, na década de 50 do século XX. Eles sempre admitiam que podiam estar errados. E eu criei meus filhos assim também. Hoje eles são pessoas cultas, bem colocadas, bem resolvidas, super educadas e muito felizes. Mas não têm nada de brasileiros, como eu.
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