sábado, 26 de dezembro de 2009

Minha Índole Filosófica



Athena Velletri




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Quem tem interesses e conhecimentos razoáveis em áreas distintas, como eu que, sendo um educador e cientista, possuo um bom trânsito nas artes e na filosofia, sofre de um tipo curioso de solidão que nos deixa deslocados entre cientistas, por sermos filósofos e artistas, entre artistas por sermos cientistas e filósofos e entre filósofos por sermos artistas e cientistas. Entre religiosos, somos discriminados por sermos ateus e entre ateus por admirarmos alguns aspectos das religiões e algumas pessoas religiosas de valor. Em suma, por prezarmos acima de tudo a verdade e a bondade e não a vaidade e as vantagens. Daí sentirmos uma grande solidão e, muitas vezes, nos fecharmos em nós mesmos. Mas é preciso reagir e externar a riqueza que esta interação de saberes em uma única mente é capaz de produzir.

Disso tudo, o mais importante é a Filosofia, mas não apenas conhecer Filosofia, e sim, filosofar. É claro que, para tal, há que se conhecer o que outros já filosofaram, não só para encurtar o tempo e não precisar reinventar a roda, para para treinar a embocadura. E, sem dúvida, da mesma forma que é essencial ao cientista o conhecimento filosófico, também o é ao filósofo, o conhecimento científico, especialmente de Matemática (Lógica, Geometria e Análise), Física (Quântica e Relativística), Cosmologia, Biologia (Genética e Evolução) e Psicologia (Neurociências). Claro que a capacidade de expressão verbal e articulação de argumentos é requisito essencial, não descuidando de uma boa cultura geral e artística.

Filosofar é debruçar-se sobre a realidade em todos os seus aspectos (lógico, matemático, geométrico, físico, astronômico, cosmológico, geológico, químico, biológico, psíquico, social, econômico, ético, político, cultural, artístico, científico, tecnológico, metafísico, espiritual e qual outro seja); assimilar seu conteúdo, refletir sobre ele, inteirar-se de tudo o que já se disse a respeito, contestando o que se considerar incorreto; formular conceitos que descrevam de forma adequada a realidade assimilada, delimitando sua esfera de aplicabilidade; fazer levantamentos e experimentos no que for pertinente e possível para verificar as relações existentes entre aquilo que os conceitos representam nas várias categorias existentes; formular hipóteses que proponham explicações para as relações obtidas; deduzir consequências a partir dessas hipóteses; testar a veracidade das conclusões achadas, reformulando as hipóteses, caso as conclusões não se adequem à realidade e articular argumentos que defendam o resultado concluído e sejam capazes de se opor às explicações alternativas existentes e verificadas errôneas. Esta é a metodologia científica que proponho seja também aplicada à Filosofia, para que esta deixe o patamar de uma esfera de conhecimentos baseada em pontos de vista pessoais e se coloque como um corpo objetivo do saber, independente de "escolas de pensamento".

Nisso tudo é mister ter desenvolvido as habilidades e competências filosóficas que o estudo formal pode propiciar. Mas é preciso ir além do costume de se fazer apenas o estudo crítico da produção filosófica de algum autor ou escola e ter a ousadia de propor sua contribuição pessoal, ou mesmo, quem sabe, criar uma escola. Todavia meu ideal é ver a Filosofia despida de qualquer rótulo ou adjetivação, isto é, que se apresente em toda beleza de sua nudez, pois assim é que poderá ser admirada na sua verdade e explendor.

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