Postagens do pensamento, textos, poemas, fotos, musicas, atividades, comentarios e o que mais for de interesse filosófico, científico, cultural, artístico ou pessoal de Ernesto von Rückert.
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quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Qual a maior diferença entre feminismo moderno e feminismo pós-moderno?
Não vejo diferença. Para mim feminismo é sempre a mesma postura, que já falei a respeito na pergunta anterior. Aliás, para mim, não existe isso chamado de "pós-modernismo". Só modernismo, como um conjunto de atitudes de caráter libertário, humanista, cético, tolerante, cosmopolita e sem preconceito nenhum em relação a nada. Uma atitude de repúdio a dogmas religiosos, políticos, econômicos, sociais, artísticos, científicos e filosóficos. Não há outra forma decente de considerar o mundo. Trata-se da única cosmovisão coerente com a natureza do ser humano. A atitude de um livre-pensador. As outras são todas mesquinhas. O conservadorismo é mesquinho por ser intolerante. O modernismo tolera, inclusive, que se seja conservador.
O que acha do feminismo?
Feminismto e a única atitude aceitável em relação à situação da mulher na sociedade. Mas me refiro ao feminismo sério, que pugna pela igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres, sem retaliações e inimizades. Sou um feminista radical. Para mim, exceto no aspecto estritamente ginecológico, homens e mulheres são absolutamente iguais. Assim todo direito das mulheres tem que ser direito dos homens, como todo direito dos homens tem que ser direito das mulheres e todo dever dos homens tem que ser dever das mulheres como todo dever das mulheres tem que ser dever dos homens. Toda atividade humana tem que ser exercida metade por mulheres, metade por homens, em média. Em todos os lugares e em todos os estratos sociais. Há que se acabar com qualquer discriminação de sexo e gênero em relação a qualquer aspecto. Mulheres têm a obrigação de sustentar a família tanto quanto os homens. Homens têm a obrigação de cuidar da casa tanto quanto as mulheres. Não se pode dizer "vou chamar um homem para consertar a pia", ou "vou chamar uma mulher para fazer a faxina". Tem que se dizer "vou chamar uma pessoa", que pode ser homem ou mulher, para fazer qualquer coisa. Para mim uma pessoa que não seja feminista é uma pessoa de mau caráter. Acho inadmissível uma postura não feminista.
"A vida mais agradável é a que ocorre sem nenhuma espécie de sabedoria." (Sófocles) Concorda? Se sim, abriria mão da sabedoria que tens para ter uma vida mais agradável?
Não concordo. Em absoluto. A vida com sabedoria é muito mais agradável. Sem dúvida nenhuma. Ao abrir mão da sabedoria se mergulha em uma vida totalmente insípida, completamente idiota. Uma vida plena, gratificante, satisfatória, feliz só se vive ao se ter a consciência total de tudo o que se está fazendo e fazendo tudo para que prevaleça o bem se se aniquile o mal. Mas com conhecimento e plena noção de tudo o que se faz. Com sabedoria. A sabedoria é uma das condições da plena felicidade. Porque a felicidade não se tem sendo-se iludido, na ignorância, na mediocridade. Pode-se, até, não se ter atribulações, mas ausência de atribulações não significa plenitude de vida e de felicidade.
Pra querer fazer psiquiatria, tem que ser um pouco louco?
Claro que não. Mas é bom que seja. Pelo menos no sentido de não ser uma pessoa quadrada, isto é, uma pessoa que não admite nada fora dos padrões conservadores da sociedade. Para ser psiquiatra tem que entender a humanidade das pessoas e isso não é o que se prega como o padrão estereotipado. O ser humano é muito mais complexo e o que o move a pensar e agir são pulsões profundas que, muitas vezes, são rejeitadas pela sociedade como inadmissíveis. Mas estão presentes e são muito fortes. Muitas vezes uma dita "loucura", não é patologia nenhuma, mas apenas uma reação ao recalque de desejos inconfessados, que poderiam ser confessados e realizados, desde que se admitisse a sua validade. Acho muito bom que pessoas se debrucem sobre tais aspectos. Também acho que todo psicólogo tinha que ser psiquiatra e todo psiquiatra um psicólogo. Não deveria haver separação entre essas atividades. Psicologia, para mim, é parte da medicina mesmo, apesar da opinião contrária de maioria dos psicólogos. Psicanalista tinha que ser médico. E para mim, muito entendido de neurologia também. Não há como escapar de constatação de que o psiquismo advém da atividade neurológica. Acho que muita gente acaba fazendo psicologia porque não tem capacidade de passar em um vestibular de medicina. Mas acho que todo psicólogo, primeiro, tinha que ser médico e psiquiatra. Como todo licenciado tinha que ser, antes, bacharel. Licenciatura tinha que ser uma complementação ao bacharelado.
Você costuma fazer muitos favores pros outros? Espera algo em troca?
Faço, mas nunca espero nada em troca. Do mesmo modo que quando alguém me presta um favor, jamais me preocupo em pagar. Favor é totalmente de graça. Não tem pagamento. Não se deve favor a ninguém por nada que tenha feito. Fez favor, tá feito. Não tem que pagar. Assim não espero pagamento por nenhum favor que eu faça. Mas faço muitos. Doações de tempo, trabalho, esforço, pensamentos, dedicação, carinho e, até, dinheiro. Dado, sem pretender devolução nenhuma. Assim que tem que ser.
É viável o anarcocapitalismo?
Sim, mas totalmente desastroso. Pior do que o capitalismo dentro de um esquema politico arquista, mesmo democrático. Porque, sem governo para conter a sede de lucro do capitalismo, a sociedade se tornará uma arena de gladiadores, cada qual querendo se dar economicamente melhor. O anarquismo só vai funcionar em benefício da sociedade quando for associado ao comunismo. O anarco-comunismo é uma concepção político-econômica que faz sentido. Mas só pode existir em uma sociedade altamente civilizada e ordeira, que é a que eu penso que será atingida pela humanidade em poucos milênios. Daí para frente teremos uma perspectiva de milhões de anos de paz, prosperidade, harmonia, fraternidade, justiça e felicidade para a humanidade, até que se extinga. Aliás, a humanidade só conseguirá desenvolver todo o seu potencial artístico, científico, tecnológico, educacional, social e cultural quando se livrar dos governos, da propriedade e do dinheiro, bem como das religiões. Quando o mundo todo se tornar uma única nação, sem governo. Todos trabalhando com afinco, de graça, uns pelos outros. Sem guerras, sem crimes, sem pobreza, sem doença, sem ignorância. Isso é perfeitamente factível, basta nos esforçarmos que em algumas centenas de anos chegaremos lá. Mas não podemos esmorecer porque não veremos esse dia.
Casamento/adoção de bebês entre pessoas do mesmo sexo: Você é contra ou a favor? Justifique. /retrocessos
Sou totalmente a favor dessa possibilidade. Acho perfeitamente viável um casamento entre pessoas do mesmo sexo. Mas, de fato, não aconselho casamento nem entre pessoas de sexos opostos. Não compensa. É melhor viver junto sem ser casado. Recomendei até para meus filhos, que se casaram só para não magoar os sogros e sogras. Mas só no civil e sem cerimônia. Tudo isso é bobagem, para mim. Quanto à adoção de bebês por casais do mesmo sexo, também acho perfeitamente viável. Não vejo problema nenhum, nem mesmo problema psicológico nenhum para a criança. Obstacular isso é um tremendo preconceito. Vou mais longe ainda. Acho perfeitamente viável uniões estáveis não monogâmicas. Sem problema nenhum, desde que os envolvidos estejam de acordo.
Ernesto, você já refutou o Argumento Ontológico de Plantinga e o Argumento Ontológico de Gödel? Se sim, me passe os links.
Especificamente, não. Apenas o de Anselmo. Isso está nos meus blogs. Mas, assim que tiver um tempo, vou me debruçar sobre eles. A princípio posso te dizer que não é possível se garantir ontologicamente a existência de Deus porque a ontologia se ocupa da essência, isto é, do que algo venha a ser. Ou seja, que propriedades definem algo como aquilo que ele é e não outra coisa. Então se pode cogitar da essência de Deus pela ontologia. Mas a existência não é uma propriedade e sim um estado. Isto é, algo, caracterizado por sua essência, está presente na realidade ou não. isso não é um atributo. Existência e causa, por exemplo, são conceitos metafísicos mas não ontológicos. Na verdade, existir ou não é algo que precisa ser verificado fenomenologicamente, ou seja, experimentalmente. Então não se pode dizer que Deus exista porque isso faz parte de sua essência. Não é possível se estabelecer esse tipo de atribuição. Além do mais, também é preciso se fazer uma distinção entre semântica, que é uma característica linguística e ontologia, que é filosófica. A distinção é semelhante à que existe entre proposição e juízo, sendo a primeira linguística e o segundo lógico. Não faz parte do significado de Deus o fato de existir. Isso é algo a ser verificado.
Ernesto, como faço pra começar a gostar das ciências humanas? Só gosto das exatas.
Gostar é algo que se sente sem que se queira ou não. Mas é possível pegar gosto por algo, se se dedicar a ele sem gostar mesmo. Aos poucos vai se gostando. Se você quer gostar de ciências humanas, dedique-se a elas sem gostar. Estude-as. Escreva sobre elas. Discuta sobre elas com outras pessoas. Insista, mesmo que ache enjoado e cansativo. Aos poucos você passará a gostar. Mas isso demora. Tem que insistir durante alguns anos para fazer diferença. Caso não aguente, desista e fique sem gostar mesmo.
Quanta importância a sua rotina, rituais e hábitos diários têm para você?
Para mim, rotinas, rituais e hábitos são procedimentos a se evitar a todo custo. Eles embotam a inteligência. Gosto de fazer tudo de modo diferente a cada vez e sempre pensado e não por hábito. Procuro variar o que faço, a hora que faço, o jeito que faço, de modo a ter que ficar pensando no que vou fazer e não ir fazendo por rotina ou hábito. Rotina é uma escravidão. Hábitos são nocivos a uma vida totalmente livre e pensada. Claro que facilitam e são menos cansativos. Mas eu acho que facilitar é que é ruim. O bom é complicar e dificultar. Assim se estimula a inteligência. Cansar também é bom. Principalmente a mente. Desse modo ela vai se adaptando a ser exigida e se cansa menos.
As pessoas costumam errar o seu nome na hora de escrever ou pronunciar?
Muitas vezes, já que meu sobrenome é germânico. O "v" de "von", pronuncia-se como "f" e o "ü" de "Rückert", pronuncia-se como "i". Outro erro comum é escreverem "Ernesto", como "Hernesto". Nem depois de ter havido um Presidente da República meu xará, o Geisel. Escrever "von Rückert", só soletrando.
Pelo o q entende da historia biblica de Abraão.1-A ordem de Deus q manda matar seu filho é uma ordem moral ou imoral?2-Pq acha q Abraão obedeceu?E sem questionar?3-Desobedecer a ordem ñ seria loucura?4-Acha q Deus sabia q iria obedecer ou ñ tinha certeza?
Esta história mostra bem como há grandes incongruências na doutrina judaico-cristã-muçulmana. Um Deus que proponha tal coisa é um ser cruel, mesquinho, vaidoso, cioso de seu poder. Jamais um Deus de bondade, justiça e sabedoria. Para mim, se eu fosse Abrahão, não obedeceria mesmo. Sendo Deus onisciente, para que testar Abrahão, se ele já sabe da fé de Abrahão? Um disparate. Em suma, isso mostra que essa é só uma história inventada. Não é possível que, havendo mesmo um Deus, ele fizesse tal proposta besta.
Bandido bom é bandido morto, você concorda com essa frase? (baseada numa ask da /thaisconsuli)
Não precisa morrer. Basta deixar de ser bandido. Isso é possível, mesmo que difícil. Ou porque se regenera, ou porque tem a sua liberdade de bandidagem tolhida pela prisão. Não acho que se deva matar ninguém por razão nenhuma. Um bandido preso pode colaborar para a sociedade se o sistema prisional for bem estruturado. Ele pode trabalhar compulsoriamente em atividades estabelecidas pelo sistema. Claro que privado de sua liberdade, o que mereceu por suas atividades criminosas. E, novamente em um sistema prisional bem estruturado, enquanto isso, se regenerar para poder voltar ao convívio social.
O que acha de pessoas que passam anos na faculdade pra, no fim, não conseguirem um emprego no seu ramo e trabalharem em qualquer coisa? Já pensou que pode acontecer isso com você? Te dá vontade de desistir da faculdade?
Para começar não acho que fazer faculdade seja algo melhor do que não fazer. Depende da inclinação de cada um. Há muito trabalho ótimo que não requer faculdade nenhuma. Como ser empresário, por exemplo. Comerciante ou prestador de serviço. E muita ocupação muito mais rendosa do que ser empregado, trabalhando por conta própria. Faculdade é para quem, realmente, quer exercer aquela profissão para a qual fez o curso. Fazer um curso fajuto só para dizer que tem nível superior é a maior bobeira. E quem mede o valor de alguém pelo fato de ter diploma ou não é um boçal. Se a pessoa não tem condições de levar à frente um bom curso superior é melhor não fazer nenhum e trabalhar em algo que não requeira diploma. Se for esse o caso de alguém, eu recomendo: desista da faculdade. Só faça se for isso que quer mesmo. Então se dedique a fundo e faça um excelente curso. Não basta ser muito bom, senão vai ser um profissional medíocre. Mesmo que a faculdade não seja muito boa, o aluno pode ser excelente se for muito além do que ela exige. Mas tem que estar disposto e ter muita força de vontade mesmo. Meter a cara no estudo pra valer. Aí sim, compensa ser um profissional de nível superior e, assim, as oportunidades se abrirão todas. Nunca se contente apenas com ser muito bom. Persiga a excelência.
Qual é a idade do sexo?
Para mim, uma idade razoável para se começar a fazer sexo seria aos 16 ou 17 anos. Antes disso eu acho que a maturidade psicológica ainda não é suficiente, mesmo que já se tenha maturidade biológica. Que se fique nos beijos e abraços até então, num namoro mais casto, enquanto se amadurece mais um pouco. Porque o sexo compreende um envolvimento maior, um certo compromisso de dedicação, de querer bem. E é algo de muita responsabilidade, pela possibilidade de gerar uma criança. Não pode ser feito de modo pueril nem leviano. Além de trazer um impacto psicológico muito grande, especialmente se tratando da iniciação. Ela tem que ser feita com o envolvimento de muito carinho, de muita doação, para que, desde o início, se encare o sexo como algo maravilhoso, a ser cultivado com muita alegria, sem traumas e sem grilos, já que é um dos fatores mais importantes da felicidade. Uma vida sexual satisfatória é um tesouro para a vida. Não pode ser levada como uma mera satisfação biológica.
Uma piadinha não dói ou dói? Para quem defende "humor negro". https://www.facebook.com/media/set/?set=a.4344293479323.2170997.1047074599&type=1
Não acho que seja lícito fazer humor com base em nenhum preconceito. Seja contra negros, portugueses, anões, gagos, homossexuais, ateus, judeus ou qualquer grupo de pessoas que parte da sociedade repudia como "anormais". Anormais são esses repugnantes preconceituosos. É preciso ser firme no repúdio a tais atitudes, denunciando mesmo.
Se existem mais mulheres do que homens no mundo, por que o preconceito com a mulher ainda é tão grande? Por que as mulheres ainda não conquistaram todos os seus direitos?
Porque ainda não se dispuseram a fazer valer, de fato, os seus direitos. Porque ainda deixam os homens as dominarem. Porque, muitas vezes, se acomodam em serem sustentadas por homens, submetendo-se, assim, a eles. A igualdade só será total quando nenhuma mulher jamais depender economicamente de nenhum homem. Mas ainda há muitas mulheres que querem arranjar casamento com um homem rico para ter quem as sustente. Essas é que põem todo o esforço feminista a perder. É difícil afrontar os homens nos países islâmicos, por exemplo. Muitas vezes as próprias mulheres são contra aquelas que querem ser livres e independentes. Mas, como em tudo, não vai ser por condescendência dos homens que as mulheres chegarão à igualdade total de direitos. Elas é que precisam conquistá-la. E só a conquistarão quando assumirem a igualdade total de deveres também. Dever de sustentar a família, como os homens. Ser obrigada a trabalhar e não ter o trabalho como uma opção, podendo não trabalhar e viver às custas do marido ou do pai. Arcar com todas as incumbências masculinas e obrigar os homens a arcar com as incumbências femininas também. Romper com a família e com o marido se eles não aceitarem a igualdade. Só casar com homens feministas. Isso não é fácil, mas enquanto as mulheres não assumirem essa batalha, coesas, não se igualarão aos homens. E isso tem que acontecer, pois esta desigualdade que ainda existe é abominável.
Ao aprendermos a simplificar as coisas e a ver o seu verdadeiro valor, a vida se torna mais prazerosa? Quais as vantagens ao amadurecermos mais jovens?
Ver o verdadeiro valor não significa simplificar. E simplificar não é, necessariamente, um ideal. O ideal é reconhecer tudo como realmente é. E, geralmente, não é simples. Compreender a complexidade é uma qualidade intelectual que leva à sabedoria. Simplicidade é uma ilusão. Quase nada é simples. Mas o que é complexo também tem valor. E o verdadeiro valor é o que aquilo é capaz de produzir de bem. E o que é o bem? É o que traz felicidade, justiça, paz, alegria, conhecimento, satisfação. Claro que reconhecer o que é verdadeiramente valoroso e, não só isso, acatar e viver por isso, é o que pode dar a vida significado e, daí, felicidade. Ter essa noção já é um princípio de sabedoria e amadurecimento é aquisição de sabedoria. Quanto mais cedo na vida amadurecermos é melhor. Mas amadurecimento não significa perda de entusiasmo e de deslumbramento, Nem casmurrice. Nem sequer uma certa candura juvenil que é apanágio somente dos que amadurecem com jovialidade. Jamais se pode perder um certo espírito de criança à medida que se envelhece. Eu diria mesmo certa ingenuidade de ver bondade em tudo. Mas não de ver simplicidade em tudo. Há que se reconhecer o valor da complexidade. O que não exclui o valor da simplicidade. Mas os dois conceito não são excludentes.
Qual a importância da busca de um princípio para todas as coisas? Livre interpretação.
Não vejo que seja necessário se achar um princípio para tudo. Há que se aceitar que muita coisa acontece sem razão, sem plano, sem propósito. Alias, a maior parte de todas as ocorrências do Universo não são geradas por princípio nenhum. Algumas são, sem dúvida, mas a minoria. Causa e efeito não é algo necessário. Existe, mas nem sempre. A ideia de que todo evento seja efeito de uma causa é um preconceito. Não procede. Assim não é importante se buscar um princípio norteador de alguma ocorrência. O importante é entender o que houve, como aconteceu, o que acarretou e porque ocorreu, se houve uma causa. Mas pode não ter tido. Aceitar a grande aleatoriedade da maioria dos fatos, a maior relevância das coincidências na progressão dos eventos é compreender a realidade como ela é. Claro que isso não implica em conformar-se sem intervir para mudar, mas sim em ver que quase tudo acontece por acaso.
O Sr. acha que o planeta terra está sendo observado e estudado por alguma outra civilização de forma que não podemos detectá-los?
Não, absolutamente. Isso é uma ideia totalmente fantasiosa, sem a menor plausibilidade. Que possam haver civilizações extra-terrestre é uma coisa. Que elas nos visitem ou nos vigiem é outra. Mas pode ser que não haja nenhuma e que sejamos os únicos no Universo. Nada garante que haja outras. Nem proíbe.
Sartre diz que o homem está condenado à liberdade. Como o sr. a define? Ela realmente existe ou é apenas algo para aliviar a dor da existência?
Claro que existe, mas não é condenação nenhuma. Pelo contrário, é uma gloria. E já vem com a própria existência. Todo ser é livre por natureza. Especialmente o homem. Se ele é privado dessa liberdade, algo está errado. Há que se libertá-lo. Mas pode ser que ele mesmo seja quem se prenda. Ele mesmo que não queira ser livre. E ser livre é só deixar florescer o que vem de dentro. Pois o pensamento é sempre livre. Não tem barreiras. Muitas vezes a própria pessoa se barra e não exerce sua liberdade. Por medo, pois há que se ser ousado para ser livre. Há que se afrontar, que se contestar, que se arrostar tudo o que venha a tolhê-la. Mas não se tem a liberdade de prejudicar a outrem, à sociedade ou à natureza. Só que muita coisa que não prejudica nada a nada é tida por muitos como proibida. Dessas é que se tem que vencer o preconceito. Ser livre é uma questão de atitude, de afirmação. Não é uma condenação, é uma vitória sobre os grilhões impostos pelos outros e por si mesmo. Muitas vezes a necessidade de se fazer uma escolha é uma privação da liberdade de se assumir as várias possibilidades. Nem sempre se tem que escolher. Pode-se ficar com tudo. A sociedade é que costuma exigir escolhas não necessárias. Mas há casos em que se tem que fazer a escolha. Mas isso não é uma condenação. Condenação é ter que aceitar as escolhas que não se faz. Discordo totalmente do Sartre nesse aspecto.
Na tua opinião, o que nos torna mais livres?
Atitudes. Porque liberdade é algo inato no homem. O pensamento é intrinsecamente livre. Mas muitos se escravizam voluntariamente, porque não têm atitudes e se curvam aos ditames da sociedade, que são impostos pelos detentores do poder para se locupletarem. Ter atitude é se rebelar e afrontar todos os ditames imbecis que são impostos sem a menor justificativa. Assim se consegue se libertar, mesmo que, por isso, se vá para a prisão. Mas, mais vale ser preso porque se é livre do que estar solto escravizado.
Existe sucesso sem honra? Argumente.
Depende do que se entende por sucesso. Se for a conquista de posição social, fama ou riqueza, é claro que isso se pode obter com o abandono da honra. E o que é honra? Para mim é a condição de se ser verdadeiro, de se ser bom e de se ser bravo. Em suma, de se ser virtuoso. Uma pessoa honrada é aquela que preza e vive a verdade e o bem. Muitas vezes esses valores não levam ao sucesso, como foi dito que seja. Mas... e daí? O que importa o sucesso? Para a felicidade vale muito mais a honra do que o sucesso. E para a vida, o que vale é a felicidade. Só que a felicidade não se alcança quando se a busca. Ela só é ofertada, de brinde, a quem busca o bem, a quem é bom e verdadeiro. Isto é, a quem vive com honra.
"Sempre acreditei nos números. Nas equações e na lógica que levam à razão. E após uma vida toda de buscas, pergunto: o que realmente é a lógica?" É somente nas misteriosas equações do amor, que qualquer lógica ou razão pode ser encontrada?
Lógica é a arte de bem raciocinar, de tirar conclusões. A Matemática é lógica. Mas a vida não pode ser sempre levada com lógica. Há outros valores, dentre eles a intuição, que são tão importantes, ou mais, que a lógica. No amor, por exemplo, não se pode aplicar a lógica, mas a intuição. A intuição é um processamento mental inconsciente, mais calcado em sentimentos, percepções e emoções do que na razão. Isso não significa que seja inválida. Não há vulcanos na humanidade. E nem é bom que os haja. Conduzir todas as decisões vitais pela razão é um desastre. É claro que a razão tem que contribuir, e muito, nas tomadas de decisão. Mas a emoção e a intuição são tão importantes quanto. E para a felicidade, mais válidas do que a razão. Decisões tomadas intuitivamente podem ser economicamente desastrosas. Mas, em geral, são melhores no que diz respeito à felicidade. E felicidade é mais importante do que prosperidade.
Pra você qual o melhor estado do Brasil? E cidade?
Gosto mais do Estado e da Cidade do Rio de Janeiro, onde nasci e já morei depois. Apesar de ter vivido 58 anos em Minas Gerais e só quatro no Rio, sempre fui muito lá e gosto demais das praias e das serras do Estado do Rio. Além de me identificar muito com o espírito do povo fluminense e do carioca. A cidade do Rio que já passei mais tempo, sem contar o próprio Rio, onde morei, é Niterói, onde morava minha avó paterna.
Na tua opinião, porquê o coraçao se tornou o símbolo do amor?
Porque é o órgão que mais perceptivelmente responde às emoções, alterando a frequência e a profundidade dos batimentos em razão da descarga de adrenalina provocada pelas emoções. Há outras reações, como a bambeira das pernas, a sudorese e a gagueira, por exemplo, mas nenhuma parece tão significativa como a cardíaca. Então tem-se a impressão de que o sentimento tem origem no coração e não no cérebro, porque não temos sensibilidade cerebral. Dor de cabeça não é no cérebro, é nas meninges.
O amor à Tecnologia e algumas respostas daqui me fazem lembrar o grande Asimov, que é uma das minhas maiores inspirações. Quem foram (inicio de carreira) e são os cientistas motivadores e inspiradores na vida científica do senhor?
Asimov é um deles. Os outros são o Carl Sagan, o Bertrand Russell, O Einstein, O Lobatchevsky, O Darwin, O Riemann, O Feynman, o Landau, o Dawkins. São os que me lembro.
Onde começa a liberdade?
Na própria existência. A liberdade é inerente a todos os seres que existem. Quando algum não a desfruta, algo muitíssimo grave está ocorrendo. Esse ser está escravizado a outro ou a algo, que lhe tolhe a liberdade. A justiça clama para que o libertemos. Não podemos tolerar nenhuma restrição à liberdade. Mas não se tem liberdade para fazer tudo. Não se pode agir prejudicando outros, a sociedade ou a natureza. Exceto esses casos, a liberdade é total. O que precisamos é de nos educarmos para aceitar e querer isso. Ainda há pessoas que não querem a liberdade. Nem dos outros nem de si. Querem ser prisioneiras de costumes injustificados. Para sermos todos livres temos que começar pela liberdade de pensarmos qualquer coisa e admitirmos tudo que não cause prejuízo a nada. Sem preconceitos. Liberdade religiosa (incluindo a de não se ter nenhuma), liberdade política (inclusive a de ser anarquista), liberdade de opinião, liberdade de orientação sexual, liberdade racial, liberdade de gamia (de ser monogâmico ou poligâmico), liberdade de nacionalidade, liberdade de locomoção, liberdade econômica e tudo o mais.
A felicidade é conquistada pelo exercício da virtude ou da posse? Justifique. E qual seria essa virtude?
Sem dúvida, da virtude. Qual virtude? Todas, mas a principal, para a felicidade, é a bondade. É-se feliz por ser bom e fazer o bem. Por ser altruísta, generoso, cordial, cortês, solidário, compassivo, tolerante, cooperativo, colaborativo, fraternal, amável, compassivo, amoroso e tudo do gênero. Outras virtudes também são importantes. Mas você pode ser justo, honesto, leal, sincero, verdadeiro, autêntico, probo, honrado e tudo assim e ser infeliz. Como pode ser bravo, valoroso, destemido, valente, corajoso, denodado e também ser infeliz. Mas você nunca será infeliz por amar e ser bom. Ninguém sofre por amar, mas pode sofrer por não ser amado. Todavia, quem ama mesmo e não é nem um pingo egoísta, pelo contrário, ama altruisticamente, não sofre por não ser amado.
Você acha que o formspring mudou a sua vida? Se sim, como?
Sim, me fez passar a dispender muito tempo com ele em detrimento de outras coisas. Mas compensa. Gravei todas as minhas nove mil respostas nesses 32 meses de participação (média de 9,3 por dia) e já estou para publicar um livro com as 600 primeiras selecionadas (de 2010). O material restante dá para publicar mais uns 14 volumes, de 350 páginas cada um. E ainda restam 983 para responder. Atualmente tenho feito uma triagem, de modo que só respondo a uns dois quintos das que chegam. O interessante é que as perguntas me fazem pensar e estudar sobre diversos assuntos para responder. Acho ótimo.
que livro tu estás a ler?
Estou lendo três livros: "Os oito pilares da Sabedoria Grega", de Stephen Bertman (Sextante); "O Mito da Monogamia", de David Barash e Judith Evelirton (Record) e "Por que as pessoas acreditam e Coisas Estranahas", de Michael Shermer (JSN).
Como você enxerga a prostituição?
Como um mal que nem é necessário. Deveria ser totalmente abolida. Acho que sexo tem que ser de graça e feito com quem queira fazê-lo conosco. Claro que se tem que ter a liberdade de fazê-lo sem outra restrição que não a falta de desejo. Sexo é como amor e amizade. Não se compra nem se vende. Se pede e se concede. Claro que pode haver sexo sem amor, como amor sem sexo. Mas sexo sempre envolve o psiquismo da pessoa, além do corpo. Não há como evitar. Ceder o corpo e usar um corpo sem estar desejando aquilo, mesmo que se consinta por outras razões (econômicas por parte de quem vende, libidinosas por parte de quem compra), para mim, é um ultraje. Se a sociedade encarar o sexo como algo perfeitamente normal entre as pessoas que queiram fazê-lo, sem barreiras de espécie alguma, a prostituição deixará de existir por falta de demanda.
Ernesto, quais são suas ponderações a respeito do Estado de Israel?
Acho que não deveria ter sido criado, mesmo que o lugar tenha sido a origem do povo judeu. Eles poderiam continuar vivendo no diversos países. Mas, uma vez que o foi, agora é preciso que aquelas pessoas tenham onde morar. Para mim, o ideal seria que Israel e a Palestina se fundissem num único estado, compartilhado pelos dois povos, com representantes no governo de ambos e rotatividade normal no poder. Que não houvesse segregação para nenhum deles por parte do outro. Em suma, que se fundissem e terminassem com sua rivalidade para construírem uma nação híbrida. Sei que isso é difícil, mas acho melhor do que a existência de duas nações separadas e muito melhor ainda do que a aniquilação de qualquer uma das duas. Ambas, agora, têm direito de morar naquela terra. E podem fazê-lo em conjunto, sem brigas. Os judeus abdicariam de serem "judeus" e os palestinos de serem "palestinos" e seriam todos israelenses ou, melhor ainda, um novo nome para aquele lugar, que não fosse judeu e nem árabe.
Ativistas veganos deram para protestar contra o consumo de cachorros. Como se cachorros fossem animais capazes de sofrer e tivessem direito a vida. Não acha uma palhaçada protestar contra o consumo de cachorros?É certo dizer o q os outros ñ podem comer?
Já que você provoca, tenho que dizer que cachorros sofrem sim. Da mesma forma que bois, porcos, galinhas, peixes e outros animais sencientes que se usa comer. Quanto a admitir que se coma porco e não cachorro, trata-se de uma incoerência. Se se acha que não se deve comer cachorro porque eles sofrem ao serem mortos, então também não se pode admitir que se coma porco, boi ou galinha. Não vejo que seja palhaçada protestar contra o consumo de cachorros nem de bois, nem de porcos, nem de frangos, nem de peixes. Todos têm o direito de externar as suas convicções. Podem fazer proselitismo de suas religiões, do ateísmo, de sua ideologia política e de sua ideologia nutricional. Para isso é que se preza a liberdade. O que não se pode é impedir alguém de ser capitalista se se é comunista, nem vice-versa. Como de ser vegetariano ou vegano se se é carnívoro ou vice-versa. Ou de ser cristão ou judeu se se é muçulmano ou vice-versa.
Como refutarias, von Ruckert, o argumento de que a anarquia seria a lei do mais forte; logo, a tirania... ou concordas, inclusive, com a "teoria" de que o idealista anarquista de hoje é o ditador tirano fascista de amanhã?
No momento em que o mais forte dominar o mais fraco deixa de ser anarquia. A sociedade começou com o domínio dos fortes. Mas os fracos se organizaram e criaram mecanismos de contenção dos fortes. Há uma "força" da maioria dos fracos que impede os fortes de fazer o que querem. Isso é evolução social. Daí ter-se passado das tiranias para a democracia. É uma evolução da educação e da cultura em detrimento da força. Essa evolução está em curso e, cada vez mais, a força deixará de ter valor. Isso culminará na acracia, que é a exacerbação da democracia até o nível em que o governo não se faz necessário devido à alta politização do povo e sua educação e disciplina, que dispensam qualquer comando para manter a ordem. Ela se torna espontânea. Daí a anarquia não poder ser imposta, mas apenas aflorar naturalmente, ao fim de um processo educativo centenário ou milenar. O idealista anarquista que se tornar um tirano não é, de fato, um anarquista, mas um aproveitador, como existem muitos que se dizem comunistas. Os idealistas não se corrompem.
A globo deveria aproveitar sua audiência para...?
Para, especialmente em suas novelas, acabar com os preconceitos e difundir cultura, arte, ciência de uma forma agradável e assimilável pela população. Até que ela faz um pouco disso, por exemplo, mostrando como normais situações conflituosas e preconceituosas, referentes à homossexualidade e outras. Mas ainda falta acabar com vários tabus, como o preconceito contra o ateísmo, contra o comunismo, contra o anarquismo, contra a poligamia. É preciso apresentar pessoas de diferentes religiões como boas e como más, do mesmo modo que ateus. Em suma, é preciso levantar possibilidades incomuns como sendo perfeitamente aceitáveis. Discutir temas bem polêmicos, como o aborto, com defensores e atacantes de todos os pontos de vista. O mesmo com a poligamia, a prostituição, o trabalho infantil, o trabalho escravo moderno, experiências anarquistas e muito mais coisas. E também difundir conhecimentos como astronomia, cosmologia, neurologia, evolução. Por em choque as concepções criacionista e evolucionista, capitalista e comunista. Mostrar o que é teísmo, deísmo, panteísmo, panenteísmo. Difundir a música clássica. Criticar tudo. Revirar tudo. E, sempre, por pessoas boas e pessoas más defendendo todas as concepções, tanto de um lado quanto do outro. Isso abre a mente de todo mundo para o livre pensamento. Críticas ao cristianismo, ao islamismo, ao judaísmo, ao hinduísmo, bem como elogios ao que têm de bom. Para tirar essas concepções maniqueístas. Mostrar as nuances de bondade e de maldade em um mesmo personagem. As fraquezas dos heróis e alguma nobreza dos vilões.
Professor o senhor acha que existe alguma relação em ser ateu e ser Niilista? E se não for Niilista, é mais fácil ou difícil atacar e existência de Deus?
Há uma grande diferença nas concepções ateísta e niilista. O ateísmo considera que não exista Deus e o niilismo que não exista ética. Niilistas normalmente são ateus, mas nem todo ateu é niilista e pode haver niilista não ateu. Niilistas, em geral, consideram que, não existindo Deus, não há razão para se considerar nenhum padrão ético de comportamento e que tudo deve ser permitido, já que não há prêmio nem castigo além da vida por nada que se faça. Ateus não niilistas consideram que, mesmo não existindo Deus, o caráter gregário da espécie humana exige que se tenha algum padrão de comportamento de forma a preservar o bem da coletividade, que, afinal, redunda no bem de cada um. Algum niilista pode achar que haja algum deus, mas que ele não seria nem bom nem se importaria com o comportamento humano (ou de outro ser inteligente e consciente). Não faz diferença ser ou não niilista para argumentar contra a existência de Deus, mas, em minha opinião, a posição niilista confere um descrédito à pessoa, enquanto sendo-se ateu não niilista é-se mais respeitado, até por crentes. A razão é que o niilista não se importa com o bem dos outros, pautando sua vida pela satisfação de si mesmo apenas. E o caso do hedonista.
Li uma vez uma resposta sua quanto à moral objetiva, e me bateu uma dúvida, na verdade, bem amadora. Qual a diferença da moral objetiva e da ética objetiva e por que a primeira é equivocada e a segunda não?
Objetivo é tudo que não depende do sujeito, isto é, que seja aceito por todos. Contudo, pode-se ter uma objetividade interpessoal que, no entanto, seja dependente do contexto social, referente à época, ao lugar e ao estrato do grupo. Assim é a moral, pois ela reúne tudo o que seja considerado permitido e proibido ás pessoas fazerem. A objetividade da moral, pois, significa que essas permissões e proibições não variam com a pessoa. Mas podem variar com a época, o lugar e o estrato social. Já no caso da ética, que busca determinar o que seja certo e o que seja errado, busca-se uma objetividade mais abrangente, isto é, que seja independente da época, lugar ou estrato social. Suas considerações são filosóficas, enquanto a moral é sociológica. Então a ética, mesmo não sendo prescritiva, mas especulativa, é superior à moral. De fato, a moral deveria se adequar à ética, ou seja, permitir o que seja certo e proibir o que seja errado. Nem sempre isso ocorre, porque as disposições da moral atendem aos interesses dos grupos que controlam a sociedade. Por isso, nem sempre, o que é moral é ético nem o que é imoral é anti-ético. O equivoco da objetividade da moral é ser relativa ao contexto social e não, como a ética, pairar sobre ele.
O que você acha do sistema de monarquia?
Totalmente ultrapassado. Se há que haver um governo, que ele seja temporário, rotativo e escolhido pelo povo. Considerar que membros de alguma família possuam algo especial para que governem é um disparate total. Ninguém é superior a ninguém por esse tipo de razão. Pode ser por sua competência, sua inteligência, sua capacidade, sua dedicação, sua cultura, seu caráter ou outras verdadeiras qualidades. Não porque seja rico ou de tal ou qual família. Além do mais a monarquia cultiva uma série de outros valores equivocados, como honrarias e títulos de nobreza, bem como uma liturgia e um cerimonial totalmente dispensáveis. Não digo que não se possa ter alguma solenidade em eventos cívicos, mas ela precisa ser baseada em valores legítimos e não artificiais. Aprecio mesmo uma certa formalidade e não gosto de avacalhação. Mas a pompa da monarquia não tem justificativa.
Ao seu ver, tem algum problema em escolher uma profissão só pelo dinheiro? Por que?
Sim. Muito problema. Acontece que a profissão é uma parte indissolúvel da vida. Não é algo a que se dedique extemporaneamente. É um dos aspectos essenciais da vida de cada um. É algo a que se vai dedicar um grande fração do tempo da vida e muita energia. Assim é preciso que a escolha da profissão seja feita por uma que lhe propicie grande satisfação, senão você vai passar boa parte da vida chateada. Não vale a pena sacrificar a felicidade pelo rendimento. É claro que o ideal é que aquilo que se goste de fazer seja, justamente, o que lhe dê bastante dinheiro. Mas, se o que lhe der bastante dinheiro for algo que você deteste fazer, fique sem o dinheiro. E pense que trocar de profissão é mais difícil do que trocar de cônjuge. Portanto a escolha da profissão tem que ser muito judiciosa. O bom é que, quem trabalha no que gosta, tem muito mais chance de ganhar dinheiro do que quem trabalha no que não gosta. É bom que seu trabalho se integra à sua vida completamente. Que você não faça separação entre trabalho, família, lazer. Que seu trabalho seja o seu divertimento. Assim é que se pode ser feliz. E, como esta vida é uma só, e não há vida eterna coisa nenhuma, trate de ser feliz nesta.
Concorda com a teoria do Aquecimento global causado pelo homem?
Não na extensão em que é apregoada. Para mim a maior parcela do aquecimento que ocorre tem causas naturais mesmo. E é apenas a subida de um dente de uma serra descendente que nos levará a uma outra era glacial dentro de uns dois ou três mil anos. São os ciclos de Milankovitch:
http://en.wikipedia.org/wiki/Milankovitch_cycles
Você acha que a virgindade ainda é um tabu a ser enfrentado em nossa sociedade?
Pelo que posso perceber, pelo menos na sociedade ocidental, nas cidades maiores, não é mais tabu. Só pessoas muito retrógradas mesmo é que acham que moças têm que se casar virgens. Com rapazes isso já não existe há tempos. O cruel nessa assimetria é que, se rapazes podem fazer sexo antes de se casarem, decerto haverá moças que o farão com eles. Essas, então, eram tidas como "vadias", impróprias para o casamento. E porque os homens não? Para mim é muito mais decente iniciar a vida sexual dos meninos com as meninas que são suas amigas e amigas da sua família. E as meninas também precisam ter um treinamento sexual antes de se casarem. O melhor é que ninguém se casasse. Felizmente esse tabu já foi abolido. Da mesma forma o tabu dos relacionamentos homossexuais. Falta abolir o tabu dos relacionamentos plurais.
Qual é o principal conselho que o senhor daria para um adolescente?
Entusiasme-se pela vida. Seja idealista. Queira consertar o mundo. Lute pela verdade. Dê à sua vida um significado maior do que lutar pela sobrevivência e ser próspero. Com isso em mente você poderá se dedicar a qualquer atividade que ela lhe gratificará a existência. O importante não é o sucesso nem a vitória. O importante é a luta, mas a luta pelo prevalecimento do bem e a erradicação do mal.
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Anarquista é humanista?
Não necessariamente, nem vice-versa. São conceitos disjuntos, apesar de haver correlação positiva entre eles. Isto é, geralmente os anarquistas são humanistas, mas podem não ser. O anarquismo é a rejeição de governos e o humanismo é a preocupação com o bem do outro. Pode-se ser uma coisa sem ser a outra, tranquilamente. Mas eu vejo que, quem seja uma delas, tem grandes chances de também ser a outra, pois o que se quer com a falta de governo, normalmente, é, justamente, o bem de todos.
Se o amor da sua vida falasse que é homossexual, você tentaria fazer algo a respeito? Tipo tentar convencê-lo do contrário ou fazer uma cirurgia de mudança de sexo?
Claro que não. Se eu amo essa pessoa vou querer a plena realização dela, mesmo que isso signifique que não vá ficar comigo. Quero que ela seja feliz do modo que goste de ser, com quem queira ser. Se for comigo, melhor, se não for, paciência.
Acredita que as pessoas ignorantes, desprovidas de sabedoria, são mais felizes? Se sim, você abdicaria de todo seu conhecimento para ser ignorante e, consequentemente, feliz?
Não necessariamente os ignorantes são mais felizes e nem os cultos mais infelizes. A felicidade não reside nisso. Para mim, inclusive, ser culto pode ser motivo de mais felicidade do que ser inculto. Se bem que a cultura não implique em sabedoria, mas dá mais condições para ela. E a sabedoria sim, implica em felicidade. Certamente que eu não abdicaria de minha cultura em nome da felicidade, pois, nada me garantiria que seria bem sucedido. É-se feliz quando se sente satisfeito e realizado com a vida que se leva. Isso é o resultado, primeiro, de se amar e ser amado, depois, de se sentir que sua vida está sendo motivo de disseminação do bem para o mundo. Pode-se sentir isso sendo-se tanto ignorante quanto culto. Mas, no meu entendimento, sendo-se culto, isto é, tendo-se conhecimento abrangente e aprofundado, é mais fácil.
Qual é o ponto de apoio de todas as virtudes? Livre interpretação.
O altruísmo, como o egoísmo é a fonte de todos os vícios. As virtudes se enquadram em três categorias: as relativas à verdade, à bondade e à bravura. Todas derivam do altruísmo, que é a concepção de que o mundo é mais importante do que nós mesmos e que temos que sentir, pensar e agir em função do mundo e não de nós. Assim seremos verdadeiros, bondosos e bravos, porque essas atitudes saem de nós e se voltam para o outro e não para nós mesmos.
Como você vê a religião nos dias actuais?
Religiões são e sempre foram um desastre. Algo inteiramente inconveniente e totalmente desnecessário. Jamais deveriam ter sido inventadas. É preciso acabar com elas. Todas. Mesmo que elas façam algum bem, e o fazem, esse bem pode ser feito de modo até melhor sem elas. Mas o que elas fazem de mal é difícil de consertar. Não haver religião não impede que se creia em Deus ou em uma alma imortal, se bem que, para mim, essas crenças são totalmente infundadas. Mas podem ser admitidas. O que acho um grande mal é se construir toda uma instituição, com regras, cerimônias, edifícios, pessoal, finanças e tudo o que uma religião significa, em redor dessas crenças. Religiões promovem sectarismo entre elas, obscurecem a mente para analisar a realidade em busca da verdade e escravizam as pessoas a doutrinas rígidas. Há que se acabar com elas e isso é função da educação. Não acho que se deva combatê-las frontalmente, mas difundir o conhecimento científico e o estudo crítico delas todas, para que as pessoas possam refletir e concluir pelo seu despropósito.
Somos responsáveis pelas nossas emoções ou pelo que fazemos com elas? Justifique.
Por elas não. Elas acontecem à revelia de nossa vontade. Mas os atos que cometemos em razão delas são totalmente de nossa responsabilidade. Não há justificativa para se cometer um crime por causa do estado emocional. Sempre se pode manter o controle. A perda de controle é algo consentido.
Qual é a maior mentira que a humanidade conta para si mesma?
Que seja uma espécie especial para a qual o Universo todo tenha sido criado. Nada disso. Somos menos do que uma mosca em relação ao Universo. Surgimos há 200 mil anos e vamos desparecer em alguns milhões de anos. Enquanto isso, no Universo todo, várias outras espécies inteligentes podem já ter surgido e desaparecido, podem haver agora e surgir no futuro. Nenhuma mais especial do que a outra, mesmo considerando a extrema raridade de haver alguma espécie inteligente em algum planeta. Talvez possa haver menos de dez em cada galáxia, com centenas de bilhões ou trilhões de planetas. Mas existem centenas de bilhões de galáxias. Não temos nada de especial.
Obesidade, insônia, depressão, já são epidêmicos. O que isso diz sobre nosso sistema de vida? O que, na tua opinião, deve ser mudado em nível social, Ernesto?
Trata-se de uma decorrência da concepção competitiva que eu descrevi em meu blog:
http://www.ruckert.pro.br/blog/?p=4514
Numa sociedade ideal, três aspectos têm que ser considerados: não se ter pressa, não se querer vencer e não se querer lucrar. Quando as pessoas assumirem o estilo "devagar", o estilo "de graça" e o estilo "sem derrotar", todos serão tranquilos e não terão insônia e nem depressão. Quanto à obesidade, ela decorre de dois fatores: sedentarismo e uma compensação pelo estresse. Essa segunda parte se resolve com a tranquilidade e a primeira é uma questão também de esquecer a pressa e fazer as coisas manualmente, fisicamente, andando a pé, não usando o controle remoto, subindo escadas. Mas, para isso, não se pode ter pressa, pois vai demorar mais. A pressa, realmente, é algo terrível. Péssimo mesmo. Mas... sem pressa não se vence. E daí? Porque se tem que vencer? Veja a Economia. Quando uma firma ou um país não exibe crescimento é considerado algo ruim. Porque? Por que não se pode ficar estável? Tudo é uma questão de cosmovisão. Isso tem que ser mudado. Cada um fazendo a sua parte e divulgando esses fatos estará colaborando para essa mudança fundamental.
Uma pessoa que foi um fracasso acadêmico pode ser inteligente ?
Pode, pois inteligência é uma capacidade de solução de problemas de várias ordens. O desempenho acadêmico está mais ligados aos aspectos linguísticos e lógicos da inteligência, mas há outros, como o motor, o perceptivo, o empático e outros. Mesmo quem tenha inteligência lógica e linguística pode não se sair bem academicamente por outras razões, como timidez, por exemplo. Todavia, de modo geral, há uma correlação entre a inteligência e o desempenho acadêmico.
Na Filosofia/Ciência o que é "indução" e "dedução"?
Indução é o raciocínio que consiste em generalizar alguma proposição válida em casos particulares para todos os casos. Trata-se do meio comum de raciocínio das ciências, naturais e sociais, para estabelecimento das "leis" que descrevem o comportamento da natureza e da sociedade. Um resultado obtido por indução, contudo, não é garantido, pois seria derrubado por um único contra-exemplo. No entanto, há que se admiti-los, já que não há outra forma de proceder. Toda a ciência é, portanto, provisória, sempre. Todo o conhecimento científico não é garantido, estando sempre sujeito a revisão. Isso, inclusive, é um dos aspectos mais belos da ciência: a sua ausência de dogmatismo.
Dedução é o raciocínio que parte de alguma preposição genérica e a particulariza para certos casos especiais. Uma vez que a proposição genérica seja verdadeira, a que dela é deduzida necessariamente o será. A dedução é, pois, lógica, restando, assim, aferir a validade do raciocínio que foi desenvolvido. Deduzir é, assim, tirar consequências. Note que uma dedução por um raciocínio válido não garante a veracidade de sua conclusão, que depende da veracidade das proposições a partir do qual ele foi desenvolvido. E, em última análise, no princípio, tem que haver alguma proposição que não tenha sido deduzida de nenhuma prévia. Essas são obtidas por indução ou assumidas como verdadeiras aprioristicamente. São os axiomas e postulados. A diferença é que um axioma é inteiramente arbitrário enquanto um postulado é plausível face os dados observacionais.
Comente sobre os protestos e ataques relacionados ao filme (e as tirinhas) que "difama" Maomé.
Primeiro que, originalmente, não era Maomé o nome do profeta do filme e o filme é uma porcaria irrelevante. Depois os protestos não se justificam em relação ao ocidente e aos americanos em particular. O que está acontecendo é uma manipulação dos líderes islâmicos fundamentalistas para manter o povo coeso. O povo de lá não entende que no ocidente há liberdade para se debochar de quem quer que seja: Maomé, Jesus, Buda, o Papa, a Rainha da Inglaterra, o Capeta, não importa quem. E isso os governos não têm nada a ver. Queimar bandeiras americanas porque um americano debochou de Maomé é não entender a visão liberal do ocidente. Certamente que eles não entendem, então seus líderes, que sabem disso, manipulam as massas para criar essa hostilidade e, com isso, manterem-nas coesas na defesa de seus intentos. Outros filmes foram muito mais sérios em críticas religiosas, como "Je vous salue, Marie", de Godard e "The Passion" de Mel Gibson, que condena os judeus.
professor, a partir do conceito da evolução das espécies o senhor consegue esboçar num futuro muito longíquo como será a contínua mudança física e biológica dos seres humanos?
O que se pode prever para uma espécie transumana será um aumento da capacidade cerebral, da flexibilidade e agilidade muscular, especialmente dáctila, da articulação vocal, da acuidade visual, com diminuição da pilosidade, além da resistência maior a infecções, diminuição da incidência de câncer e crescimento da longevidade. Mas isso são apenas especulações. Na verdade a espécie humana, com a cultura, a civilização e a tecnologia, excluiu-se do esquema natural de seleção do mais apto que é o segundo fator motor da evolução (o primeiro são as mutações). Provavelmente o próximo passo evolutivo de nossa espécie para outra que nos sucederá será dado artificialmente
O senhor concorda que o proletariado possui a missão histórica de negar e superar a sociedade capitalista ?
Para mim, a superação do capitalismo é uma tarefa da sociedade toda e não só do proletariado. Não só do capitalismo, que é um sistema econômico, mas a extinção das classes sociais, que não são um aspecto puramente econômico. Todas as classes precisam se imbuir que elas não devem existir. Nem o proletariado, nem a burguesia, nem a aristocracia. Todavia não sou favorável ao socialismo de estado como etapa intermediária para o comunismo. Acho que se tem que unir o sistema econômico comunista com a concepção política anarquista e se chegar a uma sociedade sem estado, sem governo, sem classes, sem propriedade e sem dinheiro. Mas não com a propriedade sendo do estado, como no socialismo e nem com nenhuma ditadura, nem do proletariado nem de ninguém. Para mim o caminho para isso não é revolução cruenta nenhuma, pois elas criam resistências que têm que ser contidas. A sociedade tem que abraçar essa ideia de modo coeso e todos aderirem a ela espontaneamente. Isso vai acontecer com a pulverização do capitalismo, de modo a tornar toda pessoa patroa de si mesma, ninguém sendo empregado de ninguém, nem do governo. E ampliando as liberdades e a democracia até que não seja preciso ninguém mandar em ninguém. Isso pode acontecer e, fatalmente, acontecerá. Mas demora algumas centenas de anos.
Qual seu feriado favorito e por quê?
Não gosto de feriados. Para mim não precisava ter nenhum. Nem Natal, nem Páscoa, nem Ano Novo. Mas... desses aí, eu prefiro o Ano Novo, já que não sou cristão.
Já tentou aprender alguma coisa sozinho(a)? O que? Conseguiu?
Muita coisa. Informática e programação eu aprendi sozinho. Francês, Biologia, Geologia, Astronomia, Filosofia, Sociologia, Psicologia também. Vivo aprendendo coisas novas sozinho. O tempo todo.
Você prefere ouvir músicas antigas ou novas? Por que?
Quase que só ouço músicas antigas. De mais de cem ou duzentos anos. Acho as mais bonitas. Sem dúvida nenhuma. Dos séculos XVII, XVIII e XIX. Mas gosto das do século XX também, especialmente do primeiro quartel. Pela ordem, meus compositores preferidos são: Brahms, Beethoven, Bach, Dvorak, Schumann, Mozart, Tchaikovsky, Haydn, Wagner, Liszt, Rachmaninoff, Shostakovitch. Claro que gosto de outros também. Ouço, pelo menos, umas três horas de música clássica por dia.
professor, estou tendo dificuldades com estudos em relação a física e matemática há mais de semanas. Tenho 15 anos, sinto que sofro de TDAH e isso me faz acreditar que sou um ignorante. Alguma dica para um bom estudo?
Se você sofre mesmo de TDAH, procure ajuda médica. Isso tem como ser tratado e você conseguir superar. Não adie essa ajuda. O melhor conselho que posso dar para você melhorar nos estudos é você conseguir ter um grande interesse pelo que está estudando. Quem estuda por obrigação, sem estar gostando de estudar aquilo, nunca aprenderá. Não adianta mesmo. Leia livros de divulgação científica e veja se você adquire um deslumbramento pela ciência, uma vontade de querer saber muito, independentemente de ser preciso ou não. Assim você vai mergulhar no estudo com afinco, porque você quer e está gostando. Vai ficar muito interessado e não vai se contentar em saber só o que é preciso. Mesmo matemática pode ser uma boa temática. Mude o modo de ver o assunto. Ao invés de considerar uma coisa chata para ser estudada, procure achar o que tem de interessante, busque saber para que serve e em que é usado aquele assunto.
Através de força politica veganos estão conseguindo proibir o foie gras em muitos países.Como faze-los entender q foie gras é algo etico para a alimentação humana?Ñ acha uma crueldade impedir cidadãos do q pode comer?E se os frangos cairem na mesma linha?
Foie Gras não é ético coisa nenhuma. É extremamente cruel para com os gansos. Tem que ser banido mesmo. Não faz falta nenhuma na dieta de ninguém. Pelo contrário, é até nocivo à saúde. Isso também se aplica a peles de roedores e outros luxos totalmente dispensáveis que torturam os animais. É preciso criar uma consciência que faça as pessoas não comprarem nem usarem tais coisas. Assim essa atividade econômica será extinta. O mesmo se dá com o tabaco. Não é para existir. Quanto aos frangos, porcos, bois e outros animais que se usa comer, para mim seria bom que fossem banidos da dieta mesmo. Dá para viver só de leite e ovo como alimento de origem animal. Se se fizer questão de carne, que se coma peixe.
"O aluno que faz a faculdade, não o contrário" o senhor concorda? Acha que vale mais a pena 'perder' um ano em um cursinho pra conseguir entrar numa boa faculdade ou agarrar a oportunidade que tiver (particular com qualidade inferior) e ir adiante?
Acho que vale a pena fazer uma faculdade de boa qualidade, mesmo que dispenda um ano de cursinho para isso. Especialmente por causa do nível de exigência que elas têm. As faculdades fajutas são assim exatamente porque são pouco exigentes. Quase não reprovam aluno. São uma moleza. Isso é péssimo. Você acaba acomodando e não estuda muito. Tem que estudar feito um desgraçado mesmo, senão vai ser medíocre. É claro que um excelente aluno pode se dar bem em uma faculdade pior. Mas ele vai ter que ter uma força de vontade hercúlea para estudar muito além do que é pedido, senão vai sair um profissional só razoável. Numa faculdade dessas é costume os professores saberem menos do que seria preciso o aluno saber. Os bons professores estão nas faculdades de prestígio, que são as muito exigentes. Lembre-se disso: o que mais importa é o aperto.
17 anos, estava indeciso sobre que vestibular prestar (Eng. Civil ou História) desencorajado por professores, deixei História de lado; no entanto voltaram as dúvidas após ler sua resposta no formspring (goo.gl/g0BPG). Sua posição sobre Licenciatura hoje?
Continuo achando que as licenciaturas precisam ser complementadas pelos bacharelados e, sempre que possível, mestrado e doutorado. Mesmo que você vá ser professor da Educação Básica. Você tem que fazer o que gosta e não o que dá dinheiro. Então você conseguirá, inclusive, ganhar mais dinheiro. Mas tem que ser, realmente, excelente. Não basta ser muito bom. Tem que ser o melhor de todos. Tem que vibrar com a sua matéria. Tem que entusiasmar os alunos, tem que gastar dinheiro para ter uma vasta biblioteca sobre o assunto. Tem que ler muito sobre sua área. Pelo menos umas 2 ou 3 horas por dia. Aí você vai ser "o" professor. Vai escrever livros didáticos e ganhar muito com isso. Não se conforme com pouco. Um ótimo professor é mais valioso do que um médico, engenheiro ou advogado razoável. Faculdades particulares e Redes de colégios estáo atrás dos ótimos. Preste concurso para tudo quanto é lugar. Mas faça o que gosta. Senão você vai jogar a sua vida fora e você só tem esta.
O que pensa a respeito dos movimentos separatistas no Brasil?
Na atual conjuntura, para mim, não são válidos. Mas o serão quando a prosperidade estiver uniformemente distribuída e quando o espírito dos povos for o de ajuda mútua e não de suplantar um ao outro. Então eu acho que o mundo precisa ir se fragmentando cada vez mais, até que cada cidade seja um estado para, depois, desaparecer tudo e não haver estado nenhum, nem governo nenhum. Isso, contudo, só será válido quando cada um não quiser ficar mais rico do que o outro, mas sim, ajudarem-se uns aos outros para distribuir a prosperidade. Atualmente, se cada estado do Brasil se tornasse uma nação, nós teríamos algumas do primeiro mundo, como São Paulo e outras do quarto, como o Piauí. Por isso é preciso que o Brasil ainda seja um só, para que sejam carreados recursos dos lugares mais ricos para os mais pobres, de modo a diminuir as diferenças. Claro que se tem que acabar com toda a corrupção para que esses recursos cheguem onde são requeridos, isto é, para dar trabalho a quem não tem, para melhorar a educação, a assistência médica, a habitação, os transportes, o saneamento e, com isso, equilibrar a qualidade de vida de todos.
E na sua opinião, o que é a verdade? Um conceito absoluto, relativo ou subjectivo?
Verdade é a adequação entre a coisa em si e o que se diz a respeito dela. Assim não é uma propriedade ontológica nem lógica, mas epistemológica. Uma verdade é dita absoluta, simplesmente se é, de fato, verdadeira. A questão é que nem sempre se consegue aferir se está de posse da verdade ou não. Então temos a verdade subjetiva, que é a de cada um, isto é, aquilo que alguém, mesmo que não diga, ache que seja a verdade. Mente que falta com essa verdade, e não mente quem a confirma, mesmo que esteja equivocado. Como não se tem acesso garantido à verdade absoluta, busca-se uma verdade objetiva, isto é, independente da pessoa, pelo consenso entre muitas verdades subjetivas. É o que mais próximo pode se ter da verdade absoluta.
"O que causa a dor não é o amor, é a falta dele". O que você acha dessa frase?
Claro. Amar e ser amado sempre é motivo de felicidade. Não amar pode ser indiferente, mas não ser amado, especialmente por quem se ama, é motivo de grande dor.
Qual a importância do voto?
Trata-se do instrumento pelo qual a democracia representativa é exercida. A democracia direta se tornou inviável nos estados constituídos de mais de uma cidade e nas cidades muito populosas. Há que se ter representantes do povo que exerçam o poder em nome dele, para o bem dele. O único modo legítimo de se escolher esses representantes é pelo voto. O voto é, pois, o elo de ligação entre o povo e o governo. Pelo voto o povo apoia ou rejeita quem ele quer que exerça o governo, legislando ou executando.
Qual a diferença entre presidencialismo e parlamentarismo, e entre monarquia e república?
Presidencialismo – Sistema de governo que prevê a nítida separação entre os poderes legislativo e executivo, sendo este exercido por um presidente eleito independentemente da corrente majoritária do legislativo. O presidente é tanto o chefe do governo quanto do estado.
Parlamentarismo – Sistema de Governo pelo qual o poder político é exercido por um gabinete ministerial por delegação do parlamento, sem uma efetiva divisão dos poderes legislativo e executivo. A representação da nação é feita por um chefe de estado que pode ser um Presidente da República ou um Monarca.
Monarquia – Forma de Governo em que a chefia do estado é exercida por um mandatário com mandato vitalício. Nas monarquias absolutistas o monarca (rei ou imperador) exerce também a chefia do governo com poderes totais. Nas constitucionais ou parlamentares o governo é exercido por representantes eleitos.
República – Forma de Governo em que o governante ocupa seu cargo em forma de revezamento, por prazos estabelecidos. Nas repúblicas democráticas o mandatário é escolhido pelo povo ou por seus representantes.Os EUA são presidencialistas. Mas é o único eficiente e eficaz. Prefiro o parlamentarismo mesmo. Como ocorre na Alemanha, França, Itália, Inglaterra, Canadá, Japão e a maioria dos desenvolvidos. Os presidencialistas, em geral, são os latino-americanos.
Não sei se você já viu esse documentário, mas caso não, valerá seu tempo dar uma olhada. É sobre poliamor. Comente sobre, se quiser. http://vimeo.com/23988620
Interessante. Não concordo em que ciúme seja algo que sempre aconteça ou que a sua falta seja falta de amor. De modo nenhum. Amor não requer ciúme algum. Poliamor não é uma prescrição. É uma possibilidade. E, como foi dito, tem a ver com uma sociedade colaboracionista e não competitivista. Uma sociedade de compartilhamento de tudo e não possessiva. Tem a ver com desprendimento e altruísmo. Com doação e não com aquisição. Em todos os aspectos: econômico, relacional e todos os outros.
Poliamor absolutamente não é licenciosidade nem devassidão. Nem representa a menor diminuição do amor que se tem a cada uma das pessoas. É simplesmente a concepção do amor sem o menor sinal de possessividade. É o amor verdadeiramente doado. É querer o bem do ser amado, a sua felicidade, sem controlá-lo, sem possuí-lo. Não tenho fantasia nenhuma sobre isso. Trata-se de uma concepção de liberdade, que o monoamorismo compulsório exclui. Absolutamente não desvaloriza o amor, pelo contrário, valoriza-o mais ainda, no sentido que considera que ele pode ser ampliado e estendido. Limitar a expressão do amor é que é desvalorizá-lo, já que o sentimento é impossível de ser controlado.
Poliamor não é só um amor fraternal, de modo nenhum. Claro que estou falando de amor erótico. Esse amor não requer possessividade nenhuma. Essa ideia é puramente cultural. Não é biológica. Amor altruísta não significa fraquejamento do sentimento amoroso em nada. O que não admite é o egoísmo no amor. Mas o egoísmo é, exatamente, o oposto do amor. Amor sensual, carnal, sexual, não requer exclusividade de modo nenhum. E isso não significa devassidão nem promiscuidade. Significa, apenas, que se ama a mais de uma pessoa, mas não a qualquer uma, apenas a quem se tem esse sentimento. Não precisa ser a um só de modo nenhum. Isso é tranquilo. E não é problema de personalidade nenhuma. Pode ser que a pessoa não gosta do compartilhamento simultâneo dos corpos. Então que se relacione com uma de cada vez.
Considerar a possibilidade se se ter relacionamentos amorosos paralelos não significa que seja isso o que se queira para si. Se alguém não admite que a pessoa com quem se relaciona amorosamente tenha outra relação em paralelo, então não se relacione com ela, mas não precisa achar que quem o aceite aja erradamente. O que não posso aceitar é quem ache que pode ter mais de uma relação mas seu parceiro ou parceira não. Ou que não admita isso de modo franco e aberto mas considere a possibilidade de relações sub-reptícias. Sei de pessoas que têm amantes mas não admitem a poligamia. Ora, isso é o cúmulo da incoerência.
Claro que o poliamorismo é imoral, pois a moral é o que se estabelece socialmente como aceitável ou não. Mas, nesse caso, a moral é que tem que ser revista, pois não se trata de nenhuma atitude anti-ética, e a ética é que diz o que seja certo ou errado. Errado é o que cause qualquer dor, prejuízo, malefício, sofrimento ou qualquer tipo de dano. O poliamor não causa nada disso, desde que os envolvidos estejam de acordo. Pelo contrário, causa alegria e felicidade. Então não deve ser considerado imoral e não o é, em algumas sociedades. E não se trata de demência nenhuma, pois é uma concepção que advogo há muitos anos, desde que me me tornei anarquista, em torno de meus 19 anos. Trata-se de um dos componentes do anarquismo, além da ausência de governo, de estado, de fronteiras, de propriedade, de dinheiro. E o anarquismo é a forma mais evoluída e civilizada de convivência humana, a que só chegaremos dentro de algumas centenas de anos, quando todos se despirem do egoísmo, da ganância, da possessividade, da competitividade e da preguiça e viverem uns pelos outros. Mas muitos aspectos do anarquismo já podem ser implementados, e um deles é a abertura para a aceitação da possibilidade de amores múltiplos simultâneos, já que os sequenciais já são admitidos. Não digo que isso tenha que ser uma prescrição, mas uma possibilidade aceitável para que o deseje. Que ninguém condene ninguém por agir assim. Que a sociedade aceite isso normalmente em seu seio. Que os que assim vivam possam frequentar a sociedade de modo franco a aberto, com seus múltiplos cônjuges e os filhos de todos vivendo em perfeita harmonia, respeito, lealdade e decência.
Recentemente li um artigo sobre o desempenho de alunos "cotistas" em uma federal. Ficou claro o mau desempenho destes alunos na área de exatas e biológicas. O senhor acredita que o sistema de cotas pode atrasar o desenvolvimento científico do Brasil?
Certamente que sim. A solução para a questão da inclusão de pobres, especialmente pobres negros, na cadeia produtiva num nível mais elevado não está no estabelecimento de cotas, mas no oferecimento de condições para que todos, ricos, pobres, brancos e pretos, homens e mulheres, crentes e ateus, possam se capacitar para levar adiante um curso superior com nível elevado de exigência, como todos têm que ser. Não é admissível que um profissional de nível superior tenha uma formação sofrível e isso seja aceitável. Quem se submeteria a uma cirurgia feita por um médico que só saiba 60% do que precisaria saber e, mesmo assim, ganha o seu diploma? Todos os cursos de nível superior têm que ser muito exigentes e não dar diploma para incompetente nenhum. Com o sistema de cotas acaba-se admitindo a possibilidade disso, senão o índice de reprovação e abandono seria elevadíssimo. Há que se apertar e não afrouxar a exigência para tornar o Brasil um país evoluído. Em todos os níveis de ensino. Democratizar não significa facilitar. Sou uma pessoa completamente igualitária, mas não admito condescender com a incompetência. Nem como a preguiça. Preguiçoso e incompetente tem que pastar mesmo. Até aprender.
O que é mais importante: ciência ou arte?
Ambas são importantíssimas. Considero-me tanto um cientista quanto um artista. Mas vejo que a ciência é mais importante porque ela é que garante o progresso e o bem estar. A arte se torna importante na medida em que a ciência permita que a humanidade desfrute de prosperidade suficiente para que a sobrevivência não seja mais preocupante e se tenha tempo para fruir o supérfluo. Isso é o que a ciência pretende prover. Então a arte passa a ser algo importante para a felicidade, já que não tem compromisso com a sobrevivência. Sem a ciência a sobrevivência absorve quase todo o tempo e energia da humanidade. Com a ciência há sobra para se fazer e apreciar a arte.
Eu estou no 1º ano do ensino médio e é vísivel a falta de interesse que os outros estudantes têm pela ciência. O que o senhor acha que os professores poderiam tentar para recuperar o interesse dos jovens pela ciência?
A primeira atitude que os professores têm que ter para despertar nos alunos o interesse pela ciência é eles mesmos terem esse interesse genuíno. Serem deslumbrados pela maravilha do Universo e se empenharem a fundo em sua compreensão, sem outro interesse que o próprio conhecimento em si, independente de sua utilidade. Isso é contagiante e os alunos vão se entusiasmar também. Enquanto os professores ficarem preocupados como o que cai ou não cai nos vestibulares e no ENEM, não conseguirão fazer ninguém saber nada de ciência. E acontece que quem acerta mais as questões dos exames não é quem treinou fazer muitas questões mas quem, de fato, entende a fundo a matéria. E só consegue entender a fundo qualquer coisa quem se maravilha com aquilo. Quem estuda porque quer saber, porque gosta de saber. Se essa postura não for cultivada, isto é, o amor desinteressado pelo conhecimento, não adianta nada.
A moral é objetiva? Se é, podemos justificá-la sem a intervenção divina?
A moral é objetiva no sentido de que são prescrições que a sociedade estabelece para serem cumpridas por todos. Não é o caso de se considerar que a pessoa ache que, para ela, isso ou aquilo seja moral ou imoral. Note que a moral estabelece o que seja permitido e o que seja proibido e não o que seja certo ou o que seja errado. Isto é a ética que estabelece. Normalmente a moral deve ser ética, mas nem sempre o é. Quando a moral divergir da ética, deve-se mudar a moral. A ética busca uma universalidade. Suas considerações são filosóficas. A moral é contextual quanto à época, lugar e estrato social. Mas não quanto ao indivíduo. Ambas são totalmente independentes de qualquer intervenção divina, pois isso, simplesmente, não existe. Mesmo que existisse Deus, não se sabe qual seria a sua vontade. O que acontece com as religiões é que elas assumem as normas que as sociedades em que existem possuem, como suas. As justificativas para as normas morais seriam as prescrições éticas. Essas se concentram em três considerações. Será ética uma ação que promova a aumento da felicidade para o maior número de seres e anti-ética a que provocar dor, prejuízo, sofrimento, tristeza ou qualquer dano, exceto se isso for para a obtenção de um bem maior, como o sofrimento de se tratar o canal de um dente. Outra consideração é que uma ação será ética se puder ser erigida como norma universal, isto é, prescrita para que todos a façam. E, finalmente, será ética a ação que se desejar que seja voltada para si mesmo. A eticidade ou não de uma ação só pode ser imputada se ela for feita de modo consciente e livre. Há muitas ações ou atitudes consideradas imorais que não são anti-éticas, como a poligamia, e outras que são anti-éticas e não são consideradas imorais, como a ablação do clitóris em algumas sociedades africanas, a lapidação de adúlteras em outras islâmicas ou a morte de crianças defeituosoas em algumas tribos indígenas. O ideal é que as sociedades considerem que seja moral o que seja ético e imoral o que seja anti-ético. Em todos os casos, contudo, Deus não tem nada a ver com isso. O bem e o mal são valores humanos que as religiões atribuíram a uma vontade divina. Aliás eles transcendem à humanidade. São valores universais.
Se sempre afirmamos que a vida vale a pena, porquê sempre a questionamos?
Porque gostaríamos que não houvesse pena nenhuma. Que valesse, sem pena. Que só houvesse ventura e prazer. Nada de dor e sofrimento, mesmo que essa dor e esse sofrimento fossem válidos, em razão do resultado que advisse deles.
Quais factores impedem o ser humano de ser totalmente honesto?
A possibilidade de levar prejuízo com a honestidade e a falta de caráter em não considerar que, nesse caso, o prejuízo tem que ser assumido.
A espécie humana é proprietária ou usuária desse planeta? Justifique.
Claro que não é proprietária. Ninguém é dono da Terra. Também não podemos dizer que somos usuários, no sentido de clientes externos. Nós somos parte do planeta. Somos o seu organismo, junto com tudo o mais. Não podemos escapar disso. Não interferimos extrínsecamente na natureza. Nós estamos dentro dela. Em verdade nada é artificial. Tudo é natural. Tudo faz parte da natureza, inclusive nossa tecnologia. O que fizermos para o mundo, é o mundo que está fazendo para si, pois somos o mundo também.
sobre o que você disse sobre viagens intergalácticas, o que o senhor acha desta noticia? http://www.gizmodo.com.br/nasa-comeca-a-trabalhar-em-uma-versao-real-da-dobra-espacial-de-star-trek/ http://www.gizmodo.com.br/nasa-comeca-a-trabalhar-em-uma-ver…
Sou cético a respeito dessa possibilidade. Mas.... Só vendo acontecer experimentalmente, de fato. Trata-se de uma viagem em que, ao invés da nave se mover através do espaço, o espaço é que se moveria da frente para trás da nave. Mais ou menos como acontece com a expansão cósmica, em que as galáxias se afastam sem sairem do lugar. Os lugares é que ficam mais longe uns dos outros. A dita "Energia Escura" é que seria responsável por tal proeza. Mas isso ainda está numa fase muito incipiente de pesquisa. Não tenho ideia se é viável ou não. Não se trata das pontes de Einstein-Rosen (túneis de minhoca), que foi explorado no filme "Contato" baseado no romance de Carl Sagan. Por enquanto é só fantasia.
Professor, qual seria sua definição de Filosofia?
Filosofia é um complexo que engloba uma atitude, uma atividade, um corpo de conhecimentos e uma arte. É a atitude de ser sempre questionador, é a atividade de refletir sobre a realidade, é o conhecimento que esta atitude e esta atividade produzem e a arte de bem usar este conhecimento. O conhecimento filosófico não é nem vulgar nem científico porque vai além, uma vez que é crítico. A filosofia não prescinde da ciência mas a supera, pois, inclusive discute a própria validade dela. E traça as diretrizes de como fazê-la. Mas, principalmente, a filosofia se distingue da ciência por buscar não só o saber e a verdade, mas, principalmente, a sabedoria. E sabedoria é a arte de bem conduzir a vida, de modo a que seja razão de maximização da felicidade para o maior número de seres. Filósofo é o que filosofa e filosofar é questionar a realidade, estudá-la por todos os aspectos, refletir sobre tudo isto, tirar as próprias conclusões e proclamá-las para que sejam debatidas. Não é preciso curso para ser filósofo, mas o estudo ajuda, e muito. Todavia, filosofar não é apenas saber o que os filósofos disseram. Isto é apenas “entender de filosofia”. Filosofar é ter suas próprias idéias e expô-las à crítica. E levar a vida coerentemente com isto, buscando a sabedoria, que reside na virtude e no bem. Sem esquecer que, maior do que ser justo e ser sábio é ser bom, pois o bom é sempre justo e o sábio é o que sabe disto.
Você acredita que é necessária uma intevenção em estados islâmicos fundamentalistas?
Por enquanto acho que não, mas pode vir a ser, se o aparato estatal e governamental se mostrar opressivo em relação ao povo do país, como está acontecendo com a Síria. Mas a intervenção tem que ser patrocinada pela ONU e não por país nenhum em particular. O governo da Síria já passou muito dos limites aceitáveis e não se pode falar mais em respeito à autodeterminação, pois o governo está inimigo do povo. Se isso acontecer em qualquer país, fundamentalista islâmico ou o que for, a ONU tem a obrigação de intervir e depor o governo. Para isso é que ele existe, entre outras atribuições. Não é só para promover a concórdia entre as nações, mas, também, para promover a concórdia dentro das nações.
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
O que o senhor pensa em relação ao "anti-teísmo"?
Se por anti-teísmo se entende uma atitude de combate à crença em Deus como criador e provedor do mundo, não acho que se justifique. Todavia acho que se justifica um trabalho de esclarecimento, para que as pessoas reflitam e possam concluir sobre o procedência ou não de sua crença. Mas sempre respeitando a liberdade de crença. Quanto às religiões, enquanto forem inofensivas, que sejam toleradas. Mas há as que são, realmente, danosas ao bem global da sociedade. Essa precisam ser combatidas. Estou me referindo à religião e não à crença que a suporta. É muito diferente. Religião é uma instituição, com uma estrutura organizacional que envolve pessoal, edifícios, estatutos, finanças, eventos, práticas e muito mais, além da doutrina e da crença em que se fundamenta. Há práticas religiosas danosas à sociedade, como, no meu entendimento, a obrigatoriedade do dízimo. Ou a proibição de se receber transfusão de sangue das Testemunhas de Jeová. Além de muitas intolerâncias em relação a uma série de fatos, como a homossexualidade e, principalmente, a intolerância recíproca de muitas delas com as outras.
Falta de ética deveria ser motivo para reprovação escolar?
Claro que sim. E um motivo muito forte. É preciso que as crianças e os jovens aprendam — e a escola é o lugar disso — que o comportamento ético é uma exigência do convívio social. E o aprendizado só se dá mediante prêmio e punição. Atitudes eticamente corretas não precisam ser recompensadas, apenas as que ultrapassarem o esperado em termos de iniciativa. Mas as eticamente incorretas precisam ser punidas. E uma das punições mais severas é a reprovação. Isso seria obtido se houvesse uma pontuação consequente por atitudes e comportamento.
Professor, em sua opinião o militante do ateísmo pode se tornar fanático como muitos religiosos? O religioso prega buscando salvação de almas ou por dinheiro (em alguns casos), e o ateu? Pregamos nossas ideias visando a libertação das pessoas?
Sim, há casos de ateus fanáticos, que pregam a guerra contra as religiões e as crenças. Nem sempre o ateísmo se correlaciona com uma postura tolerante e compreensiva, como se pode pensar. Isso acontece com alguns ateus da modalidade "forte" ou dogmática, que consideram que a inexistência de Deus é fato comprovado. Os ateus "fracos" ou céticos, como eu, consideram que a inexistência de Deus é extremamente plausível, mas não garantida. Assim não se fecham à possibilidade de sua existência, mesmo não acreditando nela. Em decorrência, vêem que os crentes podem ser sinceros em sua crença e, por isso, não devem ser, a priori, estigmatizados por tal. Claro que há quem use a crença em Deus dos outros para benefício pessoal. Esses têm que ser denunciados e defenestrados mesmo, pois são uns crápulas. Como você disse, os religiosos convictos pregam a sua religião visando o bem das pessoas, porque acham que, pela religiosidade, terão suas almas salvas. Os aproveitadores usam a religião para angariar benefícios. Ateus sinceros pregam o ateísmo porque acham que religiões e crenças são ilusões, engôdos e querem libertar as pessoas disso. Mas podem haver ateus que, também, querem levar pessoas para o ateísmo como um meio de levar alguma vantagem, como, por exemplo, o financiamento de suas atividades ateístas em proveito pessoal. Bons e maus os há em todas as ideologias, crenças e descrenças. Nem todo capitalista é mau e nem todo comunista é bom nem vice versa.
Se a Humanidade durar 50 milhões de anos, como o senhor mesmo disse, no ápice, nós poderíamos chegar até qual planeta, galáxia, etc? smile
Por mais que a humanidade perdure e progrida, penso que certos fatores limitantes não conseguirão ser removidos. Um deles é a velocidade da luz. A noção de pontes de Einsten-Rosen é uma conjectura teórica que parece não se realizar fatualmente. Então, mesmo que consigamos nos converter em radiação, ficaremos limitados à velocidade da luz para trafegarmos pelo Universo. Isso impõe durações de milhões de anos para viagens intergalácticas. Sem considerar que não seria garantida a reconversão em matéria com a mesma organização, ao fim da viagem. Para planetas existentes nas estrelas de nossa vizinhança, penso que será possível viajar, mesmo sem se converter em radiação. Mas também seria longas viagens, da ordem de centenas ou milhares de anos.
Na sua opinião, o que deve ser feito para acabar com a ''irracional'' (talvez não seja o termo mais correcto) cultura árabe? Ex: Mulheres são casta inferior, poligamia, fanatismo religioso extremista, homofobia extrema, ciência em segundo plano, etc.
Pela educação e pelo esclarecimento. Se bem que poligamia não é irracionalidade nenhuma, desde que seja simétrica, isto é, que tanto um homem possa ter várias mulheres quanto uma mulher vários maridos. Mas igualdade dos sexos (ou gêneros) e tolerância em relação a outras religiões e orientações sexuais são posturas que precisam ser adquiridas pelos muçulmanos para que passem a integrar a civilização mundial. Da mesma forma a aceitação do conhecimento científico como propulsor do progresso e do esclarecimento, em substituição ao dogmatismo religioso. Interessante que, na Idade Média, o Islã era mais tolerante e mais aberto ao conhecimento do que a Cristandade. Todavia há pessoas no mundo islâmico que pensam que o fanatismo tem que ser revertido. Isso só vai acontecer pela educação e pelo entrosamento com a sociedade ocidental, que, há tempos, abandonou suas concepções centradas na religiosidade para uma abertura humanística e científica. O ideal, para mim, é que sejam abolidas todas as religiões e a crença ou não em Deus e numa alma imortal seja algo de foro íntimo de cada um.
‘’Quem vive de acordo com padrões estabelecidos pela sociedade não é livre.’’ Devemos abrir mão dessa liberdade para nos sentirmos inseridos no contexto social ou a sociedade que nos aceite como somos?
Devemos contrariar a sociedade sempre que ela tolher injustificadamente a nossa liberdade. Certamente que não se pode ter liberdade de prejudicar ninguém nem de fazer o mal. Mas, fora disso, tudo tem que ser permitido, sem problemas. E, muitas vezes, a sociedade não permite uma série de ações por puro preconceito. Nesses casos não se pode acatar tais proibições. Muitos ditos "padrões" da sociedade são estabelecidos para privilegiar os dominadores em detrimento da população em geral. Cada um tem que se afirmar como e, seja ou não aceito pela sociedade. Quanto mais pessoas tiverem a coragem de arrostar a sociedade, mais ela se convencerá que a liberdade é algo mais valioso do que um comportamento ajustado a padrões sem a menor necessidade. Mas, por outro lado, é preciso que todos se imbuam da noção de que a liberdade não consiste em afrontar, menosprezar nem desdenhar ninguém por ser do modo que for. Porque, muitas vezes, quem se bate pela liberdade de agir como quer, não consente que outros ajam de modo diferente. Como ateus que não respeitam os crentes ou vice-versa. Ou negros que repudiam o preconceito racial dos brancos e, eles mesmos, têm o seu preconceito. Ou homossexuais que querem a liberdade de se afirmarem como tal e não querem que heterossexuais façam o mesmo. Porque se pode usar uma camiseta escrita "orgulho negro" e não "orgulho branco"? Para mim ambas as atitudes são válidas, O que não se pode é, por se ter orgulho em ser negro ou ser branco, achar que o outro seja inferior.
Qual é o contrário do amor, na sua opinião?
Há três possibilidades: odiar, desprezar e ignorar. A mais oposta é odiar, que significa desejar o mal, enquanto amar é desejar o bem. Desprezar é considerar que a pessoa não tem valor nenhum e ignorar e não ter nenhuma espécie de sentimento em relação a ela e não se importar com ela, em absoluto.
Qual é a função da educação em uma sociedade democrática?
A função da educação é transmitir o legado da humanidade e preparar a juventude para assumir as rédeas do mundo. Numa democracia, como na anarquia, esse legado inclui uma série de valores essenciais para uma sociedade livre, justa, harmônica, fraterna, próspera, aprazível. Valores como a liberdade, a honestidade, o ceticismo, a bondade, a bravura, a solidariedade, a cooperação, a diligência, a justiça, a cultura etc.
Onde é que você realmente gostaria de trabalhar?
Gostaria de ser um filósofo, um conferencista e um escritor. Que não precisasse trabalhar com hora marcada e nem em serviço burocrático nenhum. Também gostaria de ser pintor, cantor e compositor. De música clássica.
Se você ganhasse na loteria, você ainda trabalharia?
Sim, mas de graça. Então eu trabalharia naquilo que eu gostaria de fazer para melhorar o mundo: faria palestras, daria cursos, escreveria livros. Sem ganhar nada com isso.
"Os ciúmes de um namorado são uma homenagem; os de um marido são um insulto." o que você acha dessa frase?
Ciúme nunca é homenagem. Sempre é um insulto. Ciúme significa que não se ama a pessoa como um ser livre e independente, que não se quer o bem dela, mas sim o próprio. Ciúme é o cúmulo do egoísmo. É um completo maucaratismo. Totalmente inadmissível.
Você mataria alguém se o ESTADO te AUTORIZASSE? Quem você mataria? Por qual motivo?
Claro que não. O fato do estado autorizar não legitima nenhum assassinato. Isso não é válido por um princípio ético, que está acima de qualquer lei de qualquer estado. Se a lei for anti-ética, tem que ser descumprida.
1-Se uma pessoa proxima a vc tivesse um habito de jogar papel/latinha na rua, vc seria uma pessoa chata em falar q ela faz algo errado?Acharia certo pertubar o sossego dela? 2-Como tratar militantes veganos q dizem q comer carne prejudica o meio ambiente?
Sou chato mesmo e admoesto todo mundo que vejo jogando papel do chão. Essa pessoa tem que passar vergonha em público mesmo, para ver se aprende a ser civilizada. Seja quem for. Tem que se perturbar o sossego dela sim, pois ela está perturbando muito mais a limpeza do mundo. Quanto aos veganos, acho que têm o direito de propagar suas convicções, do mesmo modo que militantes das diversas religiões têm o direito de fazer o seu proselitismo, inclusive os ateus.
Olá professor. Na relatividade, quando a nave viaja exatamente a velocidade da luz, o tempo no referencial parado é igual a zero. O que isso significa? Se a velocidade da nave fosse maior que c, o que isso poderia causar para o observador em repouso?
Para começar, nada se move com a velocidade da luz, exceto a radiação eletromagnética e os bósons de massa nula. Isso não acontece com a matéria. Mas é possível se mover próximo da velocidade da luz, como os prótons do LHC. O que a a relatividade diz é que no próprio referencial deles, um intervalo de tempo que, para nós que os contemplamos mover com tal velocidade, teria uma certa duração, seria extremamente diminuto, quase nulo. Como tudo o que acontece com algo, acontece no seu referencial próprio o que temos que entender é do ponto de vista inverso. Imaginemos uma ocorrência qualquer, por exemplo, um piscar de olho, que, para nós levaria um décimo de segundo. Se nos movêssemos com velocidade próxima da da luz, os que nos observassem, veriam esse piscar de olho durar muitos anos, isto é, nos veriam atuar muito lentamente. quase parados. Nenhuma velocidade pode ser maior do que a da luz. Se levarmos esse valor nas equações da relatividade restrita, obteríamos um intervalo de tempo imaginário, que não corresponde a nenhum valor real de tempo. Nenhuma radiação se propaga com outra velocidade senão a da luz (nem mais nem menos) e qualquer corpo material requereria uma energia infinita para atingir a velocidade da luz., o que é impossível. A velocidade de trânsito da luz em um meio material transparente só é menor do que "c" como um valor líquido, considerando as absorções e reemissões da luz pelos átomos do meio. Entre os átomos, a luz se move no vácuo, com velocidade "c".
Qual a sua opinião sobre mulheres que apoiam o machismo?
Que se enganam completamente e se voltam contra si mesmas. O machismo é o cúmulo da ignorância e do desrespeito para com a mulher. Para o machismo a mulher não é uma pessoa em igualdade de condições com o homem. É um ser inferior. Mulheres machistas são, pois, auto-depreciativas, sem auto-estima. Para mim, totalmente ignorantes e vis.
A dúvida é o principio da sabedoria?
Não o princípio, mas um importante componente. Quem não questiona tudo o que sabe não se pode dizer sábio. De tudo o que se sabe há que se duvidar, justamente para procurar se aproximar cada vez mais da verdade. E o conhecimento da verdade é um dos componentes da sabedoria. O outro é a prática do bem. Sabedoria é fazer uso da inteligência para promover o bem e só se promove o bem por meio da verdade. Logo o ceticismo é um dos ingredientes da sabedoria. Não o pirrônico, que considera que a verdade seja inacessível, mas o metodológico que a considera acessível, mas nunca garantida.
Comente sobre.
Sábias palavras. Que vêm ao encontro de minha concepção anti-marxista de que não é a economia o aspecto mais importante da vida e nem da sociedade. Ou, pelo menos, a concepção que se tem de economia. Que é a vida o mais importante. E a vida não é feita só de fatos econômicos e nem do trabalho. Há muitos outros aspectos, até mais importantes, sem desconsiderar o trabalho. O trabalho provê a sobrevivência, mas viver não é só sobreviver. Viver é muito mais. Viver é amar. Viver é gozar as belezas e os prazeres do mundo. Viver e encontrar significado no que se faz de forma altruísta. Viver é fruir o supérfluo. E viver, principalmente, é entrar em harmonia com a natureza, da qual somos integrantes. O marxismo e o capitalismo se encontram no fato de que ambos colocam as atividades econômicas como o centro da vida social do homem. Sou um comunista convicto, mas não marxista. Sou um anarco-comunista, na linha de Bakunin e Kropotkin, especialmente de Tolstoi, pois acho que o anarquismo não pode ser estabelecido por revolução nenhuma, já que qualquer revolução contraria o seu caráter, uma vez que os vencedores precisam dominar os vencidos.
Comente sobre a relação de religião e dinheiro.
Para mim não poderia haver nenhuma, pois religião teria que cuidar dos aspectos relacionados à salvação da alma e isso não tem nada a ver com dinheiro. Para mim tudo o que fosse disponibilizado por uma religião a seus fiéis teria que ser totalmente de graça. As religiões não poderiam mexer com dinheiro. Todo o serviço religioso teria que ser feito por voluntariado. Os sacerdotes não receberia nada pelo que fazem. Teria seus trabalhos para se sustentarem e fariam seus serviços religiosos por fora, com doação de tempo, energia, capacidade e todo o mais. Templos e outras coisas religiosas teriam que ser totalmente construídos por doações, especialmente em espécie, tanto de material quanto de serviços prestados. Qualquer religião que se envolva com algum aspecto financeiro, para mim, está se prostituindo. Isso vale para todas.
O excesso de liberdade leva ao caos? Argumente.
Liberdade nunca é excessiva, desde que se considere que não há liberdade de se fazer o mal. Então, a liberdade não levará ao caos, porque a liberdade genuína é consciente, isto é, tudo o que se faz com o uso da liberdade se faz sabendo as consequências. Então não se faz, mesmo que se possa fazer, nada que prejudique a harmonia e a ordem. Essa ordem assumida espontaneamente é o fundamento da anarquia, que é um modo de ser estabelecido na sociedade muito mais ordeiro do que qualquer outro baseado em mando e obediência. A anarquia não é o caos. Muito pelo contrário, a anarquia é extremamente funcional, já que promove uma articulação consentida que direciona as atividades de modo a que tudo seja feito ordenadamente e proveitosamente. Para tal é mister que todos sejam imbuídos do espírito de colaboração e de renúncia ao proveito pessoal e prol do coletivo.
O que é "alienação" para o senhor?
Há duas formas de alienação. A ativa e a passiva. A ativa é a atitude de se desconsiderar todas as consequências de uma ação, ou mesmo de uma consideração teórica. É não se importar com nada além do que se está fazendo. É dizer: "não importa", "que se dane", "azar", "não é problema meu". É uma atitude egoísta, mas também uma ignorância. Muitas vezes se origina da falta de percepção, de análise, de reflexão. Mas pode ser proposital, isto é, a pessoa sabe bem todas as consequências mas opta por aquilo porque não se importa com elas, desde que leve vantagem. A passiva é quando a pessoa não percebe que está sendo usada por alguém para benefício dele em detrimento do dela. É fruto da ignorância, pois, então ela está obrando em prol de interesses contrários ao seu, sem o saber. Há que se esclarecer a população para as manobras escusas e desonestas dos detentores do poder que querem levar vantagem com a ingenuidade do povo e lhe impingir valores e comportamentos que favorecem esses detentores do poder em detrimento dos interesses do povo. Alienado é que se comporta como cordeiro frente ao comportamento lupino dos poderosos.
Vc é a favor q um homossexual faça tratamento psicologico para ser heterosexual e se sentir melhor no meio onde vive?Vc é a favor que uma pessoa heterossexual faça tratamento psicologico para se tornar homossexual para se sentir melhor no meio onde vive?
Não, pelo contrário. Sou a favor de que se faça um tratamento psicológico para conseguir se assumir como é, a despeito da intolerância do meio em que vive. O que é preciso é que a pessoa se aceite como é e viva sua vida em plenitude assim. E que se imponha assertivamente, afrontado tudo e todos. Só assim é que se sentirá realizada e feliz. Quem se acovarda nunca consegue ser feliz.
os jovens perderam o interesse pela política? por quê?
Porque se tornaram pragmáticos e preguiçosos. Perderam o idealismo. Só querem saber de se dar bem na vida, o resto que se dane. Lamentável. Quando jovem, no tempo da ditadura, a juventude se batia pelas liberdades, pelo bem da sociedade. Se engajava na política, ia para a cadeia, era torturada, morria por seus ideais. Hoje são tíbios e mornos. Uns frouxos. E a política está precisando de gente idealista. Gente que entra rica e sai pobre na política. Para moralizar essa atividade tão relevante para a sociedade. Por incrível que pareça, os idealistas na política são uns poucos que já estão na casa dos 70 anos de idade. E quando eles morrerem?
Não acho que o mal deva ser interpretado de forma inferior. Não acha que, por defender com tanto fervor o altruísmo, o mal lhe serviu justamente como um "bode expiatório"? O que automaticamente exclui a ideia de um caráter espontaneamente inócuo...
Deve sim. O mal é inadmissível. Não se trata de "bode expiatório" nenhum. Bode expiatório é algo que leva uma culpa sem a ter. O mal tem todas as culpas. O egoísmo é execrável. Ele atrapalha o pleno desabrochar das potencialidades humanas em uma sociedade justa, harmônica, fraterna, aprazível, pacífica, feliz. Com ele isso não consegue acontecer. Há que se lutar incansavelmente pela extirpação do mal e pelo prevalecimento do bem. Com toda a bravura. Um caráter inócuo, nem bom nem mal, pode ser admitido. Mas, então, trata-se de uma pessoa completamente inexpressiva, um zero, alguém que não fede nem cheira, em suma, totalmente irrelevante e desprezível. Um morno que se quer vomitar. Um malvado é mais valoroso, pois é alguém a que se vai travar o bom combate e pode ser bravo também. Mas tem que ser derrotado. Os bons não podem temer o mal nem se acovardar.
Há limitações e controle em tudo, então, existe a liberdade? Ou a felicidade total? Rousseau disse: "O homem nasceu livre, e em todos os lugares ele está acorrentado." Até onde isso é verdade?
Não há limitações e controle em tudo. Há em alguma coisa e em outras não. Depende de onde se vive. Claro que tem que haver limitações no sentido de não se permitir que se cause prejuízo e mal nenhum aos outros. Mas isso não é uma limitação à liberdade, pois não se pode ter a liberdade de fazer o mal mesmo. Se, em um lugar, é permitido se fazer tudo o que não seja prejudicial aos outros, pode-se dizer que há liberdade total. Há lugares assim e é preciso que o mundo se esforce para que todos os lugares sejam assim. Que em nenhum lugar não se possa fazer algo que não cause prejuízo a ninguém. Restrições à liberdade existem, principalmente, em lugares em que a sociedade toma por lei os preceitos religiosos. As religiões, em geral, apesar de terem algo de bom, no global, são muito maléficas, pois estabelecem muitas restrições completamente descabidas. A sociedade precisa se libertar delas. O que não impede que se creia em Deus ou na imortalidade da alma. Mas isso pode se dar sem que se seja filiado a religião nenhuma. É preciso um esforço mundial para mudar essas concepções em muitos países que ainda as têm, como os islâmicos.
Quanto à felicidade, acho que se uma pessoa se sente completamente realizada, se considera que sua vida está sendo significativa e valiosa, então pode ser completamente feliz. Para tal tem que ser uma pessoa totalmente liberta dos grilhões impostos pelas convenções descabidas. Uma libertária. Senão não poderá ser feliz. Mas, se for assim, poderá ser feliz, mesmo vivendo em um lugar preconceituoso. Basta que afronte a tudo. Esta questão do acorrentamento é muito subjetiva. A sociedade pode impedir muitas ações, mas não pode impedir o pensamento. E todo mundo pode libertar o seu pensamento de qualquer amarra dogmática. Então, interiormente, será sempre livre, mesmo que acorrentado e impedido de agir em função dessa liberdade. Mas pode agir, se estiver disposto a sofrer as consequências, até mesmo, morrendo. Muitos o fizeram e, com seus atos, contribuíram para a libertação de outros.
Sr:Von Ruckert,Deus está sempre com aqueles que n'Ele crêem? Por que o interpretam assim? ☠
Crer ou não em Deus não faz nenhuma diferença em sua existência ou não. Se ele existe, existe mesmo que não se creia nisso e se não existe, não é porque se ache que exista que existirá. O que significa dizer se Deus está ou não está com alguém? Se Deus existe e é algo que pervade tudo, então ele está com todo mundo, creia-se ou não nisso. Dizer que Deus ajudaria quem nele crê e não ajudaria quem nele não crê, é uma concepção mesquinha de Deus. Se Deus é o que se diz que é, isto é, todo poderoso, onisciente e infinitamente bom, não pode ser o ser ciumento e melindroso que alguns consideram que seja. Mas é preciso ver que a realização de um ente com as características que se atribuem a Deus é algo praticamente impossível de ocorrer.
Você acredita que os relacionamentos do passado devem ser deixados no passado e não mencioná-dos em seu relacionamento atual?
Todos os relacionamentos vividos fazem parte da história da pessoa. E se eles a fizeram feliz quando ocorreram, não há motivo para esquecê-los e os atuais parceiros deve ficar felizes com você os recordar. É bom falar sobre eles e usá-los como referência para melhorar os atuais, ou o atual, se você tiver um só.
Para alguém te amar tem que amar também seus animais de estimação?
Claro que sim. Aqui em casa temos dez cachorros e três gatos, além de dezenas de passarinhos soltos que alimentamos e um tanque no jardim com centenas de peixinhos. Quem não gostar de bicho não serve para ser meu amigo nem para me amar. Ainda bem que minha mulher gosta.
É importante para você que os seus filhos sejam educados em sua religião?
Para mim foi importante que eles tivessem sido, como foram, educados para considerar que qualquer religião seja válida, inclusive nenhuma. Acho que os pais, mesmo que tenham alguma religião, não podem considerar que a sua seja melhor do que alguma outra e têm que passar aos filhos uma noção sobre todas elas, para que eles escolham conscientemente. Isso deveria ser feito pelas escolas, que não o fazem. É importantíssimo que se veja que a falta de uma religião não significa niilismo, isto é, ausência de balizamento moral. E que o bem tem que ser feito por si mesmo e não para merecer nenhuma recompensa. Sou ateu, mas meus filhos acreditam em Deus. Mas não têm religião nenhuma. Foram batizados na religião católica para não magoar os avós. Mas não se casaram na Igreja. Só no civil.
Há responsabilidades domésticas que você acredita ser domínio exclusivo de um homem ou uma mulher? Por que você acredita nisso?
Claro que não. As responsabilidades domésticas são para serem compartilhadas por todos que moram na casa, homens, mulheres e crianças. Não estou dizendo que as pessoas devem "ajudar" a dona de casa em suas tarefas. Não existe "dona de casa". A casa é de todos os que moram nela e ninguém é o responsável pela sua conservação. A responsabilidade é distribuída e os trabalhos compartilhados. Por todos. Da mesma forma a manutenção da casa não é responsabilidade do marido ou do "chefe da família". Isso não existe. Todos têm que participar da manutenção da casa, todos ganhando dinheiro para isso, exceto as crianças. Mas os jovens, depois de certa idade, também têm que trabalhar e ganhar dinheiro para ratear os custos da casa. Eu comecei com 18 anos, logo que terminei o científico (atual ensino médio). Minha faculdade eu mesmo que paguei e desde essa idade, eu me vestia, comprava meus livros, fazia todas as minhas despesas e ainda participava do rateio dos custos da casa. Assim que tem que ser. Lavar roupa, varrer a casa, lavar louça, fazer comida e tudo o mais são trabalhos a serem distribuídos por todos os moradores.
Diferencie egoísmo de individualismo.
Enquanto o egoísmo é um desejo de vantagens pessoais, mesmo às custas de prejuízo a outrem, o individualismo é a independência em relação aos outros, sem prejudicá-los. O individualista basta-se a si mesmo. O egoísta não. Ele precisa dos outros para servi-lo. O egoísta se coloca no centro do mundo. O individualista é o seu próprio mundo. O egoísta quer tudo para si. O individualista não precisa de nada além de si. Ele faz uso do resto do mundo de modo parcimonioso, não se abalando com a falta de nada. O egoísta se desespera se não é atendido ou se algo que queira não lhe é dado. O individualista pode ser altruísta, pode ser desprendido, generoso, solidário, colaborador. O egoísta não.
Qual a diferença que mais destrói um relacionamento? Social, económica ou de educação? Argumente.
Para mim é a cultural, isto é, a de educação. Uma diferença de nível educacional ou de concepções culturais é mais difícil de ser contornada do que uma social ou econômica. Se bem que estas costumam ser acompanhadas da primeira. Mas se houver afinidade cultural, as diferenças sociais e econômicas podem ser superadas, o que não acontece no caso recíproco, isto é, mesmo que haja afinidade social e econômica, a divergência cultural pode por o sentimento e a relação a perder. E por cultural eu incluo vários aspectos, como o nível de educação (não tão importante), os gostos, as preferências, as concepções, a visão de mundo, o modo de ser, o estilo e correlatos. Se eles forem muito divergentes é difícil, até, que surja a admiração que vai levar à amizade e ao amor, mesmo que a atração física seja forte.
Para que serve um amor não vivido?
Amor não é algo sobre o que se tem que preocupar para que serve. Ter um amor que não seja vivido em um relacionamento é tão válido quanto se fosse vivido. Amar, mesmo sem ser amado em retribuição é bom. Com retribuição é ótimo. Numa relação efetiva é excelente. Não se deve preocupar com alguma vantagem em se ter um amor. O que é uma vantagem? O que é o sucesso amoroso? Para mim a vantagem e o sucesso estão simplesmente no próprio amor. Ele é um fim em si mesmo. Não se ama objetivando algo além do amor. E o amor pode ou não ser acompanhado da relação, que continua sendo válido. Do mesmo modo que é válido se ter uma relação sem amor, fundamentada em outras razões, como a companhia, o apoio, o companheirismo, algum projeto de vida ou só o sexo. Inclusive sem que sejam exclusivas.
Que tipo de prova seria suficientemente boa para te convencer que Jesus Cristo teve uma mulher?
Não vejo porque se preocupar com isso. Que ele tenha tido uma esposa ou não, que diferença faz? Sua mensagem ficaria comprometida? Em quê? Ou se teve filhos... Para quem acha que ele seja Deus, pode ser que isso importe, mas, sabendo que não foi, isso não importa. Sou um grande admirador de Jesus em muitos aspectos (e outros não), e até procuro imitá-lo em vários. Mas não acho que ele seja Deus coisa nenhuma. Isso inventaram a respeito dele. Pode ser que ele dissesse e, até, achasse que fosse Deus mesmo. Mas, como ele era louco mesmo, temos que dar um desconto. Ao dizer que ele era louco não o estou depreciando. Pelo contrário, estou é admirando. O mundo precisa é de loucos mesmo. Normais não fazem diferença. Só mudam o mundo os contestadores, os que afrontam o que está estabelecido. Esses é que são os indispensáveis.
Como podemos vencer um inimigo sem combatê-lo?
Ignorando-o. até que desista. É o que estou fazendo com meu fiel inimigo Hans.
Onde reside realmente o carácter de uma pessoa? Na inteligência ou no coração? Argumente.
O que você chama de coração? O processamento mental ocorre nos aspectos instintivo, perceptivo, motor, intuitivo, emocional e racional. O caráter é a característica da personalidade que determina o tipo de resposta que a pessoa dá em termos das ações que faz. Assim, ele envolve todos esses aspectos. O que chamamos de inteligência é a capacidade de se valer de todos os recursos mentais para solucionar problemas de qualquer ordem e o que chamamos de coração e á capacidade de termos sensibilidade para percebermos o que ocorre com o outro e agirmos no sentido de seu bem. Assim o caráter está mais ligado ao coração, mas não prescinde da inteligência. Ou seja, o caráter não reside no coração, mas na mente como um todo, sendo mais influenciado pelos sentimentos.
Quem lhe dá as melhores respostas? A Filosofia, a religião ou a ciência?
Em primeiro lugar a Ciência, depois a Filosofia. A Religião não dá resposta válida nenhuma, a não ser que coincida com a da Ciência ou da Filosofia. Porque a Ciência está na frente da Filosofia? Porque a Filosofia busca respostas pelo método reflexivo e a Ciência pelo experimental. Se houver discrepância entre eles, vale o experimental, pois é o que mostra o que de fato ocorre e não o que se pensa que deva ocorrer.
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