quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Cultura e Ciência


Costuma-se entender por cultura (não na acepção antropológica) um cabedal de erudição linguística, literária, poética, histórica, filosófica, psicológica, sociológica, econômica, política, administrativa, empresarial, jurídica, religiosa, musical, teatral, cinematográfica, artística ou de outras áreas das ditas "humanidades". A pessoa culta, ou "intelectual" é considerada ser alguém versado, fluente, articulado e capaz de bem argumentar sobre esses temas em qualquer discussão. Todavia não lhe é exigido e nem lhe é imputado como demérito, na qualidade de intelectual, não entender de ciências como matemática, estatística, física, química, cosmologia, astronomia, geologia, meteorologia, geografia, biologia, genética, evolução, medicina, neurociências, agronomia, zootecnia, mecânica, eletrônica, engenharias e tecnologias em geral.

Para mim esta é uma terrível inversão de valores, que leva a sociedade a ter uma visão incompleta e, até mesmo, distorcida, da realidade do mundo em que se encontra inserida. Pelo menos no nível do Ensino Médio, é preciso que advogados, negociantes e todos que lidam com as humanidades tenham sólidos conhecimentos de ciências exatas e biológicas, que médicos, dentistas e quem mexa com ciências biológicas o tenham em exatas e humanidades da mesma forma que engenheiros, físicos e técnicos da área de ciências exatas transitem facilmente nas humanas e biológica (repetindo, no nível do Ensino Médio, que é simplesmente o básico para todo mundo). Sem mencionar que a fluência retórica, dialética e textual precisa ser um domínio comum a todo cidadão.

Não sendo assim, como poderá alguém emitir uma opinião embasada sobre qualquer tema candente que envolva conhecimento fora de sua área específica? Como saber se o desvio do Rio São Francisco é bom ou mal? E o uso de células tronco embrionárias? E a responsabilidade humana pelo aquecimento global? Quem não entenda o básico desses assuntos ficará à mercê das opiniões de especialistas ou oportunistas, que defendem, muitas vezes eristicamente, sua posições numa babel desconcertante de possibilidades.

O fato de não ser da sua área não é desculpa para não entender análise sintática, logarítimos, progressões geométricas, termodinâmica, eletrônica, bioquímica, genética, oriente médio, "El niño", mais valia, silogismo ou o que for. E quanto ao Inglês, não se pode admitir que alguém que possua nível superior, pelo menos, não seja capaz de ler sem problemas um texto em inglês, senão não vai conseguir fazer nenhuma busca relevante de conteúdo pela internet.

Para isto é que o ingresso nas Universidade pede uma exame geral do todos os conteúdos. Alíás, é o que bastaria, sendo inteiramente dispensável uma avaliação por área de estudo. O ingresso ao Nível Superior precisa apenas avaliar a saída do Nível Básico. Mas não pode se ater à exigência mínima de apenas 30%. Este mínimo teria que chegar, pelo menos, a 60%, sendo ideal uns 80% para capacitar alguém a fazer curso superior.

A Educação Básica, por sua vez, tanto no Nível Fundamental quanto no Médio, nas escolas públicas e privadas, precisa cumprir a sua parte e colocar na praça uma meninada com aproveitamento mínimo de 80% em todos os conteúdos, aferido de forma inteligente e honesta. Como fazer isto? Esquecendo o que cai nos vestibulares e praticando um processo de ensino-aprendizagem voltado para o que verdadeiramente seja necessário para a vida. Fazer o menino e a menina pegarem gosto pelo conhecimento de forma que eles queiram, de fato, aprender conteúdos e habilidades, para formar competências fortemente vinculadas às necessidades da vida, expurgando os conteúdos inúteis e fazendo da atividade discente uma coisa lúdica, excitante, tão prazerosa como um videogame ou tão gostosa quanto namorar.

Isto poderá ser conseguido quando a remuneração docente for, não apenas digna, mas ATRAENTE, de forma que as melhores cabeças PREFIRAM ser professores do que médicos, engenheiros ou advogados, porque GANHARÃO MAIS. Quanto? Pelo menos CINCO MIL REAIS para início de carreira, com dedicação exclusiva, chegando ao fim de carreira com uns VINTE MIL REAIS, na Educação Básica. E isto precisa começar já, neste ano de 2010, para que consigamos um progresso em TRINTA ANOS, quando todo o corpo docente hoje existente já estiver aposentado. De onde virá este dinheiro? De tudo o que não será usado para pagar suborno, propinas, superfaturamentos, desvios escusos e tudo quanto é tipo de condutas imorais. Como conseguir isto? Candidatando-se VOCÊ, a vereador e deputado e trabalhando sem esmorecer para a moralização da coisa pública, estando disposto a dar milhares de murros em ponta de faca, a sofrer perseguições e represálias e, quem sabe mesmo, ser assassinado por combater a corrupção.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

A importância do Amor




Texto extraído do Perfil do Orkut de minha amiga Mari Gomes

"Descobri muito cedo que a coisa mais importante da vida é o amor...e que tudo o que as pessoas desejam é alguém que as ame de uma maneira forte e constante. Com aquele tipo de carinho que dispensa palavras. Que não fica criticando o tempo todo, mas que é um braço estendido na hora em que a gente mais precisa. Encontrar alguém que ama assim, é uma alegria e põe a gente feliz, sorrindo pra vida. Há pessoas que têm o dom de levar a beleza por onde elas passam...parece que carregam na boca um pedaço do céu e os seus rostos têm a clareza e o frescor de uma manhã de sol. São frascos de perfume que mesmo quebrados exalam a mais encantadora fragrância: o amor.
Acho bonito quando os sábios dizem que é pela inteligência e caráter que a pessoa resplandece as qualidades que têm. Só não consigo concordar inteiramente. Não por oposição, mas por insuficiência. Porque o caráter e a inteligência podem impressionar, mas é o amor que damos a alguém que nos faz brilhantes e inesquecíveis em sua vida. Não basta ser inteligente...ter caráter não chega; é preciso amar. Porque o amor torna as pessoas indispensáveis. Se eu amo, eu preciso de você...e isso me faz melhor. Se eu amo, passo a gostar mais da sua voz do que da minha...então, calo para você falar, e ao escutar estarei amando. Por isso, se você quiser acender um sorriso, iluminar um coração ou acordar a esperança em alguém, precisa lembrar de uma coisa: as pessoas se alegram com sua inteligência, apreciam o seu caráter, mas precisam de seu amor. O amor tem o poder de transformar todas as coisas e destrancar todas as portas. Só ele faz luzir nossos talentos e resplandecer quem a gente é. Então, se você calar, cale com amor; se gritar, grite com amor; se corrigir alguém, corrija com amor; se perdoar, perdoe com amor. Se você tiver o amor enraizado em você, diz um antigo profeta, nenhuma coisa senão o amor serão os seus frutos...e todos se aproximarão. E, aos que perguntaram porque nessa ou naquela circunstância agimos assim, como será gostoso responder: É QUE O AMOR LUZIA EM MIM!"

sábado, 26 de dezembro de 2009

Minha Índole Filosófica



Athena Velletri




Bach - Oferenda Musical


Quem tem interesses e conhecimentos razoáveis em áreas distintas, como eu que, sendo um educador e cientista, possuo um bom trânsito nas artes e na filosofia, sofre de um tipo curioso de solidão que nos deixa deslocados entre cientistas, por sermos filósofos e artistas, entre artistas por sermos cientistas e filósofos e entre filósofos por sermos artistas e cientistas. Entre religiosos, somos discriminados por sermos ateus e entre ateus por admirarmos alguns aspectos das religiões e algumas pessoas religiosas de valor. Em suma, por prezarmos acima de tudo a verdade e a bondade e não a vaidade e as vantagens. Daí sentirmos uma grande solidão e, muitas vezes, nos fecharmos em nós mesmos. Mas é preciso reagir e externar a riqueza que esta interação de saberes em uma única mente é capaz de produzir.

Disso tudo, o mais importante é a Filosofia, mas não apenas conhecer Filosofia, e sim, filosofar. É claro que, para tal, há que se conhecer o que outros já filosofaram, não só para encurtar o tempo e não precisar reinventar a roda, para para treinar a embocadura. E, sem dúvida, da mesma forma que é essencial ao cientista o conhecimento filosófico, também o é ao filósofo, o conhecimento científico, especialmente de Matemática (Lógica, Geometria e Análise), Física (Quântica e Relativística), Cosmologia, Biologia (Genética e Evolução) e Psicologia (Neurociências). Claro que a capacidade de expressão verbal e articulação de argumentos é requisito essencial, não descuidando de uma boa cultura geral e artística.

Filosofar é debruçar-se sobre a realidade em todos os seus aspectos (lógico, matemático, geométrico, físico, astronômico, cosmológico, geológico, químico, biológico, psíquico, social, econômico, ético, político, cultural, artístico, científico, tecnológico, metafísico, espiritual e qual outro seja); assimilar seu conteúdo, refletir sobre ele, inteirar-se de tudo o que já se disse a respeito, contestando o que se considerar incorreto; formular conceitos que descrevam de forma adequada a realidade assimilada, delimitando sua esfera de aplicabilidade; fazer levantamentos e experimentos no que for pertinente e possível para verificar as relações existentes entre aquilo que os conceitos representam nas várias categorias existentes; formular hipóteses que proponham explicações para as relações obtidas; deduzir consequências a partir dessas hipóteses; testar a veracidade das conclusões achadas, reformulando as hipóteses, caso as conclusões não se adequem à realidade e articular argumentos que defendam o resultado concluído e sejam capazes de se opor às explicações alternativas existentes e verificadas errôneas. Esta é a metodologia científica que proponho seja também aplicada à Filosofia, para que esta deixe o patamar de uma esfera de conhecimentos baseada em pontos de vista pessoais e se coloque como um corpo objetivo do saber, independente de "escolas de pensamento".

Nisso tudo é mister ter desenvolvido as habilidades e competências filosóficas que o estudo formal pode propiciar. Mas é preciso ir além do costume de se fazer apenas o estudo crítico da produção filosófica de algum autor ou escola e ter a ousadia de propor sua contribuição pessoal, ou mesmo, quem sabe, criar uma escola. Todavia meu ideal é ver a Filosofia despida de qualquer rótulo ou adjetivação, isto é, que se apresente em toda beleza de sua nudez, pois assim é que poderá ser admirada na sua verdade e explendor.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Natal Anarquista


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Apesar de não crer que Jesus Cristo seja Deus, considero que foi um homem formidável e um exemplo de conduta que admiro e sigo, no sentido de promoção de um mundo harmônico e fraterno, como o concebo em minha visão anarquista e atéia, na qual a humanidade seja única, não hajam fronteiras nacionais nem econômicas, raciais, religiosas, sexuais ou de qualquer natureza. Tal situação não é utópica e poderá ser alcançada como fruto de um trabalho educativo contínuo ao longo de várias dezenas de décadas. Que os educadores possam inculcar na mente das crianças e dos jovens o espirito altruista de solidariedade, generosidade, operosidade, despreendimento e bondade, esmagando todo o egoísmo, cobiça, preguiça, ganância e maldade. Que se cultive o hábito do trabalho comunitário gratuito e o de compartilhamento de tudo o que se possua. Então, quando esses jovens forem os adultos que estarão gerindo a sociedade, talvez se possa ver que a propriedade e o dinheiro não sejam mais necessários, que não haja mais crime, que muitas profissões não mais existam por absoluta falta de razão, como as de militares, policiais, advogados, promotores, juízes, contadores, bancários, banqueiros, políticos, funcionários públicos, corretores, vendedores, despachantes, empresários, comerciantes, fazendeiros, industriais, capitalistas, carcereiros, lixeiros, faxineiros e muitas outras, pois tudo será comunitário e não haverá governos, nem prisões, nem residências particulares (aliás, nada será particular, nem os cônjujes, nem os filhos). Todo homem será marido de toda mulher, toda mulher será mulher de todo homem, todo adulto será pai e mãe de toda criança e toda criança será filha de todo adulto. É este o mundo que a canção "Imagine", de John Lennon mostra e que o movimento "Zeitgeist" procura alcançar e que eu coloco como motivo de reflexão para este Natal, pois é como viviam as primitivas comunidades cristãs, de completos despossuídos de todo e qualquer bem, mas ricos de amor e firmes em seus laços de cooperação, de trabalho, de abnegação, de altruísmo, de renúncia à toda vaidade. Que o Natal possa nos converter em santos ateus, pois são as diferentes concepções de Deus que mais cruelmente dividem o mundo.

A Árvore de Natal


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A época do Natal enseja uma série de reflexões sobre o significado da existência do homem. O cristianismo coloca em Deus essa razão, sendo nossa vida justificada pela glória e louvor que propiciarmos àquele que nos criou tão somente para este fim. Com o pecado original a humanidade desconciliou-se com Deus, que, em represália, expulsou-a do paraíso, condenando-a a envergonhar-se do próprio corpo, a ganhar o pão com o suor do rosto, a padecer as dores do parto e a envelhecer e morrer, ocasião em que a alma, separando-se do corpo, passaria a vagar em um limbo, apartada da beatitude da contemplação de Deus. A misericórdia de Deus, contudo, sendo maior que sua ira incapaz de ser aplacada pelos sacrifícios propiciatórios dos cordeiros imolados, concedeu à humanidade a chance de redimir-se do pecado original e, com isto, poder contemplar a face de Deus na glória celeste e, posteriormente, na consumação dos séculos, tendo sua alma novamente unida ao corpo, poder ascender ao paraíso para gozar em plenitude a vida eterna. Tal oportunidade se daria com um sacrifício infinito, que seria a imolação do próprio Deus a si mesmo.
Cristo foi a pessoa de Deus que fundiu-se indissoluvelmente a um homem, tornando-se o único ser híbrido a possuir corpo, alma e divindade, de tal modo que sua imolação, como um cordeiro sacrificatório, fosse capaz de aplacar a ira de Deus pelo pecado original e possibilitar a redenção do gênero humano, concedendo a todo aquele que aceitar Cristo como salvador, a possibilidade de alcançar a glória celeste. A ressurreição do homem Jesus (a parte divina, certamente, não morreu) é a prova da vitória sobre o pecado, do qual a morte é uma das conseqüências. A condição para a salvação é colocada, pois, na fé, e, para algumas confissões, como o catolicismo romano, também na vida piedosa e nas boas obras.
O Natal cristão é, pois, a celebração do nascimento daquele que trouxe à humanidade a possibilidade de redimir-se do pecado. Sem Cristo a humanidade perderia eternamente a capacidade de retornar ao paraíso para o qual fora criada. Esta é a exegese que faço do que conheço da doutrina cristã.
Para quem não seja cristão o Natal não teria significado algum, especialmente para os ateus, como eu. Não é assim , contudo, que vejo as coisas. Num contexto puramente humanista, Jesus foi simplesmente um homem que pregou uma nova visão religiosa, em que Deus não é mais uma entidade vingativa a se temer e nem tampouco o cioso guardião de um particular povo escolhido, mas o pai amoroso de todo o Universo e, em decorrência, de todos os povos. É possível que Jesus estivesse imbuído de sua divindade, porém, creio eu, este atributo foi-lhe aplicado pelos seguidores. Assim, o cristianismo, em seus primórdios, firmou-se como uma religião do perdão, da paz, da concórdia, da fraternidade, da tolerância. Nisto reside a grandeza do Cristo, que se eleva ao lado de outros líderes congêneres, como Buda ou Ghandi. Os desdobramentos históricos leva-ram o cristianismo a atitudes intolerantes e belicosas, como ocorreu por ocasião das cruzadas e da inquisição. Mas isto não faz parte da mensagem primordial de seu fundador.
Nos dias atuais presenciamos dolorosos conflitos travados a pretextos religiosos, envolvendo judeus, muçulmanos, cristãos, hinduístas e outros, em várias partes do mundo. Se a mensagem humanista fundamental do cristianismo pudesse ser seguida em todo o mundo, independente de que religião se professe (ou que não se professe) teríamos como alcançar a paz e a harmonia que nos propiciariam um mundo melhor em que as crianças poderiam crescer e tornarem-se adultos felizes e realizados plenamente em sua humanidade. Por isso acho válida a comemoração do Natal de Cristo em toda a Terra.
Que essas disposições sejam levadas por todos em todas as suas atividades. Nas relações internacionais, na política, nos negócios, nas profissões, no trato social, no ambiente familiar, entre pais e filhos e no íntimo dos casais. Que o egoísmo seja banido e que nossas ações se pautem pela maximização da felicidade para o maior número de seres e não pelo lucro ou pelas vantagens pessoais. Lembro-me de meu falecido pai, rotariano atuante, que me passou a filosofia da “Prova Quádrupla” como guia para tomada de decisões em qualquer circunstância. No que for que se faça, pergunte-se: É a verdade? É justo para todos? Criará boa vontade e melhores amizades? Será benéfico para todos? Se usarmos algo como isto na conduta pessoal, certamente estaremos contribuindo para um mundo melhor. E, se pensarmos que, numa visão de mundo que exclua a existência de Deus, não há razão nem finalidade para nada, inclusive para nossa vida, mas que sentimos uma necessidade interior de que tudo tenha um propósito (o que não garante que tenha), então, se colocarmos para nós mesmos que nossa vida terá sentido se, por causa dela, o mundo venha a se tornar melhor e mais pessoas fiquem felizes, podemos aceitar a mensagem humana de Cristo como um farol guia a nortear nossa vida.
Chego, finalmente, ao título deste artigo: “A Árvore de Natal”. Que símbolo melhor representaria tudo isso que não ela. Como um abrigo da inclemência do Sol, uma proteção para a fúria da atmosfera e um refúgio contra a gana dos predadores, a árvore também simboliza a generosidade da natureza ao nos propiciar o fruto, a madeira e, até, a medicina contra todos os males. E a árvore quer dizer o abraço fraternal entre todos, de todas as origens, credos, raças, gêneros, condições sociais. Especialmente a Árvore de Natal, com sua forma ponteaguda, apontando para cima, como a nos dizer que não é para a esquerda e nem para a direita que devemos seguir, mas para cima, para o que é mais elevado, para o progresso, com a colaboração e o trabalho conjunto, não com disputas e guerras. Nesse símbolo eu posso congregar toda a humanidade, transcendendo o espírito do Natal ao próprio cristianismo, ao conscientizarmos de que somos membros de uma mesma espécie, habitando um mesmo planeta e que temos que nos unir para que possamos ser partícipes dessa maravilhosa e incrível realidade que é a existência e a evolução da vida, fato possivelmente singular, cuja preciosidade não podemos deitar a perder por questiúnculas religiosas ou econômicas.
Que esta ocasião, portanto, possa ser para você, leitor, um momento de reflexão sobre a razão e o propósito que você deve encontrar dentro de si mesmo para estar aqui. Imaginando-se em seu momento final você poderá sopesar o que de fato é importante na vida e verá que, não será o dinheiro, o poder ou a fama adquiridas que lhe serão valiosos. Você certamente só se arrependerá do perdão não concedido e do amor não espalhado, do abraço reprimido, da gentileza esquecida, da palavra não dita. Mas é tempo ainda de mudar tudo isso e levar a vida de alma lavada e leve, na certeza de que se está vivendo de modo a dar sentido à própria vida.

Disposições Natalinas


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Natal não significa apenas a comemoração do nascimento do fundador de uma religião, mas uma data que transcendeu a qualquer religião e se revestiu de um valor humano muito mais amplo e profundo. É a data em que se renovam os propósitos de tornar o mundo um lugar pacífico, harmônico, fraterno, justo, aprazível e acolhedor para todos viverem. É preciso, contudo, que essa resolução não fique só na intenção e logo se esvaia na rotina do cotidiano do ano que se inicia. Se realmente se deseja tal coisa, urge que uma revolução no íntimo de cada um tenha lugar e que, de fato, mudando a si mesmas, as pessoas sejam capazes de mudar o mundo. Que se troque a disputa, a ganância, a perfídia, a ambição e o egoísmo pela colaboração, a solidariedade, a benevolência, o desprendimento e o altruísmo. Que a gentileza, o perdão e o amor substituam a agressividade, o ódio e a vingança em todos os corações. Que a preguiça e a omissão dêem lugar à operosidade e ao compromisso de agir positivamente para tais objetivos. Que a compreensão e a tolerância passem a vigorar onde antes havia incompreensão e intolerância. Que se renuncie ao lucro e à vantagem em prol da generosidade e da equidade. Só assim serão dados os primeiros passos da longa caminhada em direção a uma sociedade verdadeiramente livre, justa, próspera e feliz para todos e não só para alguns. Um mundo em que não haja pobreza, ignorância, fome, doença, opressão e injustiça. Em que não se tenha discriminação por motivo de raça, credo, gênero, riqueza, idade, pensamento ou o que quer que seja. Tal lugar não é uma utopia e pode ser alcançado, basta que queiramos. Mas que, de fato, nos dispamos do egoísmo, do rancor, da vaidade, da inveja, da avareza e de toda espécie de maldade e pautemos nossa vida pela honestidade, pela justiça, pela bondade e pela sabedoria. Estas são as resoluções que quero ver assumidas e levadas a cabo por todos, pois assim cada qual poderá dizer que sua vida não foi em vão e que o mundo se tornou melhor por que passamos por ele.

Mas não é só isto. É preciso também que se tome uma atitude positiva, que resulte em ações enérgicas e eficazes no sentido da erradicação de todo o mal, de denúncia de toda vilania, de punição de qualquer desonestidade, de impedimento de todo tipo de opressão, discriminação e injustiça, mesmo que tais atitudes redundem em prejuízo pessoal ou represálias. Não é omitindo-se perante a ignomínia que se pode andar de cabeça erguida. Temos sempre a ver com tudo de que tomamos conhecimento e não nos resta alternativa ética senão tomar providências a respeito. Mas não apenas as que não nos privem de nosso conforto e regalias ou em nada nos afete e prejudique. Para sermos merecedores do singular privilégio de existir, há que empenhemos nosso tempo, nosso esforço, nossa dedicação, nossa inteligência, nossa vontade, nossos bens e nosso dinheiro para trazer o triunfo do bem sobre a Terra e a derrota final do mal nesse mundo.

Outra coisa que está em nossas mãos fazer para tornar o mundo melhor é dedicar, para começar, um décimo do nosso tempo semanal para projetos sociais na forma de voluntariado, plantando hortas comunitárias em algum terreno vazio do quarteirão, para todos tirarem proveito, dando aulas de reforço de graça para alunos carentes (ou não), participando de mutirões para consertos na rua ou em casas de vizinhos, fazendo a limpeza das vias e praças públicas. É preciso entender que a solução dos problemas da comunidade não precisa ser colocada sob a responsabilidade do poder público e que cada um pode e deve arregaçar as mangas e fazer muita coisa por sua própria conta. É o começo de um mundo em que governo e dinheiro não se façam mais necessários.

E que essas disposições levem a todos aquela sensação de enlevo, sobranceria e nobreza que é característica de todo aquele que tem a consciência tranqüila e, com isto, vive em paz e alegria, cercado da admiração e do afeto de todos que merecem o seu respeito e sua consideração.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Eventos sem causa


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Eventos sem causa são possibilidades e, mais que isto, realidades. O princípio, segundo o qual todo evento seja efeito de uma causa, é uma indução, baseada na observação de fenômenos acessíveis à observação direta, isto é, na escala de tempos e dimensões compatíveis com os sentidos humanos. Como toda consequência induzida, ele não tem garantia de validade e nem de veritabilidade, como nos casos de dedução, em que, sendo as premissas verdadeiras e o raciocínio válido (não falacioso), a conclusão é verdadeira também. O que se pode dizer é que a ocorrência de muitos casos, em que eventos sejam efeitos, leva a induzir que assim o seja em todos os casos, sem contudo se poder garantir tal assertiva, que é derrubada com a constatação de uma simples exceção.
Para prosseguir, preciso dizer que "causa" é um evento determinante da ocorrência de outro, dito seu efeito, enquanto “condição” é um fato que possibilita, mas não determina a ocorrência de um evento. Uma relação causal se dá entre eventos (fenômenos, acontecimentos, ocorrências) e não entre seres (entidades realmente existentes e não apenas conceituais). Não se pode falar sobre a causa do Universo e sim sobre a causa do surgimento do Universo (evento que consiste na passagem de inexistência para a existência). Além disto é preciso distinguir os eventos elementares ou simplesmente “eventos”, que envolvem apenas entidades elementares (uma partícula, por exemplo) dos fenômenos ocorridos com sistemas complexos, constituídos de inúmeras partículas reais, quer da matéria (férmnions), da radiação (bósons) ou de partículas virtuais (campos).
Dentre os eventos elementares e mesmo os que envolvem sistemas de poucas partículas, como átomos, vários ocorrerem de modo fortuito, isto é, incausado. Dentre eles destacam-se o decaimento radioativo e a emissão de fótons por átomos ou moléculas excitados. A excitação não é causa e sim condição para o decaimento. Nada há que determine o decaimento. Cada átomo decai após um tempo aleatório, sem que nada determine que o faça, da mesma forma que a radioatividade. A única informação que se tem é sobre o tempo médio de decaimento ou o tempo para que metade de uma amostra grande tenha decaído, a meia vida (mas uma é função da outra, de modo que se trata da mesma informação).
Alguém pode dizer que há uma causa, só que não se conhece. Pode até ser, mas não necessariamente. Como não se identifica causa alguma e nada há que exija que se tenha uma causa, é perfeitamente razoável considerar que não haja causa.
No caso de fenômenos ocorridos com sistemas de muitas partículas, o grande número leva a probabilidades bem direcionadas a certas possibidades, configurando um aspecto causal e determinístico que não existe nos eventos elementares de modo geral. Mesmo neste caso, contudo, há a ocorrência de comportamentos caóticos, de modo que o determinismo e a causalidade não são a regra da natureza.
Sobre o surgimento do Universo, a passagem da inexistência para a existência não requer causa alguma, nem conteúdo algum do qual tudo o que existe tenha que ser proveniente. Exigir tais coisas é um preconceito não justificado. Isto não significa “provir do nada”, pois nada não é algo do qual outra coisa pode provir. Nada é a ausência total de tudo, não só de conteúdo mas de espaço vazio, de tempo e de leis naturais. O que significa é não ser proveniente de coisa nenhuma. Antes do conteúdo do Universo ter surgido (campo, matéria, radiação, espaço, tempo, interações e leis que descrevem o comportamento disso tudo e de seus atributos, como, extensão, localização, duração, movimento, energia, intensidade das interações, spin, carga elétrica, massa e muitos outros, expressos pelas grandezas mensuráveis que aparecem nas leis) não havia leis naturais a serem obedecidas (aliás não havia nem “antes”, pois não havia tempo), de modo que o surgimento de qualquer coisa não desobedeceu lei alguma. Mesmo que houvesse tais leis de conservação, possivelmente o conteúdo total de carga, massa-energia, momento angular e outras grandezas que se conservam, no Universo atual, seja nulo, exatamente como se não houvesse nada.

sábado, 28 de novembro de 2009

Problemas da crença cristã

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Queria saber porque fora necessário um sacrifício expiatório para Deus perdoar o homem pelo pecado original, isto é, porque ele não poderia simplesmente ter perdoado, como pregou Jesus? Não respondam com citações de versículos bíblicos, mas com argumentos.
Se a união da divindade com a humanidade de Jesus fosse indissolúvel, ele, como Deus, não morreria. Se morreu é porque sua parte humana dissociou-se da divina. Outra coisa: tendo ressussitado e ascendido aos céus de corpo e alma, como seu corpo sobreviveria sem alimentos? E onde fica o céu? Se for no espaço sideral, sem apoio, então Jesus está em órbita? Mas o céu é só dos terráqueos? E os outros possíveis seres conscientes de outros planetas, que podem haver? Também foram redimidos por Jesus? Ou não cometeram pecado original? Ou houve outro Jesus lá? Ou o cristianismo não admite sua existência? Não estou fazendo brincadeira. Estou falando sério. Como se pode extender o cristianismo aos extra-terrestres (que suponho que possam haver, mas não que possam comunicar-se conosco e nem nos visitarem)?
Toda pessoa inteligente, pode, deve e tem que questionar as informações constantes da Bíblia, senão estará abdicando de sua humanidade e se transformando em zumbi. É muito esquisito isso de Deus ter querido sacrificar-se a si mesmo para expiar nossos pecados. Acho uma parvoiçe de Deus, caso exista.
Não contesto a possibilidade de poder haver um Deus incriado. O que contesto é que exista de fato. Como saber que existe? Porque, se não houver prova de que exista, há que se considerar que não exista. Isto não requer prova.
Não creio que a natureza tenha o poder de criar-se a si mesma. O que considero (mas isto não é crença) é que nada foi criado e sim surgiu expontaneamente, sem causa e nem propósito. Não do nada, mas sem ter algo de que proviesse.
A ciência tem um crédito superior às crenças, exatamente porque não pretende ser detentora da verdade, mas sim estar empenhada em buscá-la, a despeito de se derrubar todas as convicções. Porque a ciência é honesta e verdadeira, enquanto as crenças insistem na validade de suas proposições sem comprovação. E como existem multiplas crenças, com proposições contraditórias a respeito de vários fatos, não há como saber qual delas é verdadeira. A suposição mais sensata é de que nenhuma o seja. A fé, realmente, não tem credencial alguma para servir de critério de verdade.
“Sentir” a existência de Deus é uma experiência subjetiva que não garante, em absoluto, sua veracidade. Podemos “sentir” inúmeras coisas, inteiramente falsas.
De certa forma, mesmo que existam pessoas altamente inteligentes, informadas e cultas, que crêem em várias modalidades de Deuses, nas diferentes religiões, considero que sua crença é um tipo de ignorância, a respeito dos fatos concernentes à existência de Deuses. Na verdade sua consideração de que Deus exista não procede de uma verificação racional e fatual mas de uma adesão a uma crença infundada, justificada por razões afetivas e emocionais, e não empíricas ou racionais. Não digo que os aspectos afetivos e emocionais sejam menos importantes do que os racionais na condução da vida, pelo contrário, tanto é que respeito a crença em Deus das pessoas. Só considero que, quanto a esse respeito, os afetos não garantem a veracidade e, então, lamento o fato de viverem uma ilusão, mesmo que ela possa ser consoladora e gratificante.
Não tenho medo de morrer e de castigo eterno nenhum, pois sei que isto não existe.
Pergunta-se “quem?” apertou o botão para dar origem ao Universo ou criou as forças que o produziram. Esta noção de que seja necessário “alguém” (isto é, uma pessoa dotada de inteligência, vontade e poder) para produzir os eventos da natureza é inteiramente falsa. Trata-se de uma concepção humana, advinda da observação, desde tempos pré-históricos (ou mesmo de nossos predecessores pré-humanos) de que as ocorrências se davam por ação de alguém. Então, por extensão, os primitivos humanóides, consideravam que tudo requereria a interveniência de “alguém”, que, quando não identificado, foi inventado, na figura de um “gênio”, “espírito” ou “deus”, como causador do fenômeno (chuvas, trovões, raios, enchentes, vulcões, eclipses, nascer e por do Sol, fases da Lua e todas os fenômenos naturais). Com a evolução da humanidade e o surgimento das civilizações, tais coisas se transformaram em mitos, que, numa etapa posterior, passaram a doutrinas religiosas, consignadas nas diverentes “escrituras sagradas”, muitas vezes, umas espelhadas em outras, como as judaicas se basearam nas babilônicas, que o foram nas hinduístas e assim por diante. Tal encadeamento de considerações chegou até a algo tão sofisticado como o “Direito Canônico” da Igreja Católica, por exemplo. A ciência, contudo, pouco a pouco foi achando explicações naturais para tudo, de forma que o que provém dos conhecimentos mitológicos nada mais é do que “ficção lendária”, como a Bíblia, sem valor epistemológico algum.
Em resumo, não é preciso haver “ninguém” para apertar botão nenhum e fazer surgir o Universo. Ele pode surgir por acaso, de forma expontânea, sem criador.
Ao discutir religião e fé, peço argumentos racionais e fatuais pois não vejo porque a Bíblia seria depositária da verdade e não as outras escrituras, como os Vedas, o Corão, ou mesmo os escritos de Allan Kardec. Todos esses textos foram redigidos por pessoas que estavam convencidas de serem portavozes de Deus e, no entanto, escreveram coisas que se contradizem umas às outras. Há crentes sinceros, fiés, pios e santos em todas as religiões, como há os aproveitadores desonestos da fé do povo. Então o critério para decidir em qual delas se encontra a verdade tem que ser extrínseco a elas. Até hoje não ví, em nenhuma, provas de serem as donas da verdade. O único e legítimo critério de verdade é a prova por evidências ou raciocínios válidos, em última análise, calcados em evidências. A existência do Deus abrahaãmico, bem como do pecado original, da redenção de Jesus, do juízo final e dos demais pontos fundamentais da doutrina cristã, são tão desprovidos de fundamento como a existência de Rá, Amon, Hórus, ìsis, Brahman, Brahma, Shiva, Vixnu, Krishna, Maya, Yin, Yang, Aúra-Masda, Arimã, Allah (não tripessoal), Zeus, Apolo, Athena, reencarnação, metempsicose e outras divindades e conceitos das demais religiões. Todos eles, contudo, são objeto de citações nas escrituras sagradas de suas religiões.
A exigência de justiça por parte de Deus, em relação ao pecado de Adão e Eva, não tem nada a ver com sacrifícios expiatórios. Justiça se traduz em prêmio ou punição ao autor da ação objeto de apreciação. Sacrifícios ou oferendas são caprichos exigidos pelo Juiz em completo desacordo com o próprio espírito imparcial e desinteressado da justiça. A satisfação propiciatória de Deus apenas com o sacrifício de seu próprio filho Jesus revela um caráter mesquinho e egoísta de Deus, muito longe do padrão de bondade e santidade que se atribui a Ele.
Além do mais tudo isto só tem significado se se admitir a criação do homem diretamente por Deus nas pessoas de Adão e Eva, o que é inteiramente desprovido de confirmação, além de ser extremamente ingênuo.
A questão fundamental do ateísmo não se prende a possíveis deslises morais dos personagens bíblicos e nem, realmente, ao que a Bíblia ou qualquer outra escritura sagrada diga ou não. Todas elas são códices redigidos por pessoas, mesmo que convictas de sua inspiração divina, mas que, na verdade, expressam o modo de pensar de sua época, sua localização, sua etnia, seu extrato social e demais circunstâncias, além da opinião pessoal do próprio autor do texto. O fundamento do ateísmo, ao afirmar que não existem divindades de espécie alguma, nem tampouco semideuses, almas, anjos, demônios, gênios, djins, duendes, elfos, gnomos ou qualquer tipo de espíritos ou elementais de qualquer natureza, é que não há comprovação nem evidência da existência de tais entidades e, portanto, tudo o que existe é natural, as únicas substâncias de que qualquer coisa seja feita são os constituintes naturais do Universo, isto é, matéria, radiação e campos (mas não energia, pois não é uma entidade e sim um atributo de entidades).
É claro que o ateísmo considera a existência de abstrações, mas elas são apenas concepções mentais, não tendo existência sem mentes que as concebam. E as mentes são apenas ocorrências advindas da composição, estrutura e funcionamento do organismo, especialmente do cérebro.
Deuses são, pois, conceitos, ideías concebidas por mentes, sem existência no mundo real. Nada há que comprove sua existência e, como não são evidentes, a hipótese zero, isto é, “por default” é de que não existam, sendo requerida comprovação para considerar que existam. E isto ainda não se deu, pois as pretensas “revelações” não comprovam coisa alguma, nem tampouco as falaciosas "provas" da existência de Deus.
A existência de personagens históricas, incluindo Jesus, Maria, Moisés, Abraão e outros da Bíblia, é aceita face os testemunhos orais e escritos dos contemporâneos, transmitidos até os dias atuais. A existência de Deus não pode se basear no mesmo critério, senão seria preciso admitir a existência de todos os deuses da mitologia pagã, hinduísta e assim por diante. Se nós concordamos que os deuses mitológicos da Grécia e de Roma são invenções consignadas em textos, como a Ilíada e a Odisséia, porque não colocamos o Deus judaico-cristão-muçulmano na mesma categoria, mesmo que constem da Biblia e do Corão? Porque seria a Bíblia uma revelação e o Corão não? Porque os cristão têm fé? Mas os muçulmanos também têm! E, para eles, Jesus foi só um grande profeta, logo abaixo de Maomé, mas não o Deus encarnado. E nem existe nada de Santíssima Trindade. E quanto ao zoroastrismo, que considera o demônio uma divindade? E o panteão hinduísta? E o espiritismo, que nega divindade a Jesus?
Deuses não são evidências sensorias diretas, como pessoas. Eu acredito que Jesus existiu, e, inclusive, o admiro e procuro imitar, mas não acho que seja Deus.
É claro que os argumentos racionais não abalam a fé, pois a fé é irracional. O que proclamo é que se precisa abandonar a fé, pois ela não tem cabimento. Pode-se crer sem prova, provisoriamente, em algo não comprovado, desde que hajam fortes indícios, mas com a disposição de abandonar a crença quando evidências a derrubarem. Tal não se dá com a fé, que é proposta ser aceita sem discussão. Isto é inteiramente inadmissível. Concito a todos que possuem fé, que a deixem em suspenso e façam uma análise crítica de seus fundamentos, como eu, que fui católico, o fiz e a abandonei.
É claro que existem cientistas que crêem em Deus. Isto não prova que Deus existe, como o fato de haver outros que não acreditam não prova que não exista. Ou, ainda, alguns que, mesmo não sendo crentes, não aceitam a “Teoria da Evolução”. A questão é que a Teoria da Evolução (como atualmente entendida e não como originalmente formulada) é consensual na comunidade biológica, sendo seus detratores uma corrente marginal. E, note-se que, a Teoria da Evolução não faz nenhuma afirmação sobre a inexistência de Deus, apenas que as espécies evoluiram umas a partir das outras e não que foram criadas individualmente. Nem cogita do surgimento da vida, que é objeto de outras teorias, de biogênese, mas que mostram ser perfeitamente possível o surgimento da vida a partir da matéria inanimada, sem criação. Mas não diz que foi assim que ocorreu. No entanto, a inserção de um ente extranatural interveniente é perfeitamente dispensável, por não ser necessária.
Quanto ao Universo ser finito ou infinito, ter surgido ou sempre existido, são possibilidades inteiramente admissíveis na cosmologia, a serem decididas, não por informações mitologicas, mas pela análise de dados observacionais, que, no momento, ainda não são conclusivos a respeito. O que não significa que não venham a ser. Há que se aguardar. O fato de não se ter ainda uma certeza não significa que não se possa alcançá-la. Acontece que a humanidade é jovem no planeta (menos de meio milhão de anos) e a ciência menos ainda (só uns 500 anos). Dá para esperar algumas dezenas de milhares de anos, ou mesmo milhões.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Minhas profissões


A profissão de uma pessoa pode revelar muito de sua personalidade, cosmovisão, temperamento, inclinações e, até mesmo, caráter. Eu me sentiria realizado em exercer qualquer uma das seguines profissões:
Engenheiro, Físico, Matemático, Astrônomo, Cosmólogo, Professor, Filósofo, Arquiteto, Desenhista, Pintor, Escultor, Escritor, Poeta, Conferencista, Compositor Clássico, Regente, Cantor lírico, Biólogo, Programador, Analista, Piloto de avião ou navio, Marceneiro, ou outras de caráter criativo, teórico e intelectual.
Todavia não tenho vontade nenhuma de atuar como:
Comerciante, Industrial, Banqueiro, Capitalista, Fazendeiro, Médico, Empresário, Dentista, Administrador, Economista, Advogado, Psicólogo, Sacerdote, Contador, Político, Sociólogo, Bancário, Publicitário, Veterinário, Agrônomo, Militar, Policial, Motorista, Desportista, Funcionário burocrático, Agricultor, Comerciário, Industriário, Minerador ou outras que tenham caráter prático e utilitário.
Não que eu tenha objeções a estas últimas, apenas que não se adequam a meu perfil de interesses, habilidades e conhecimentos, além de não se coadunarem com minha visão de mundo.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Respostas fundamentais


Como todo filósofo sempre acha que sua filosofia veio para ser a definitiva, eu também penso que achei algumas respostas a essas perguntas primordiais, sem ter certeza, mas bem convicto, apesar de disposto a rever, se convencido:
Porque existe algo e não nada?
Não há motivo algum. Por mero acaso. Poderia não haver nada.
Qual a razão e o propósito da vida?
Nenhum também. Temos que achá-los por nós mesmos, para dar sentido a ela e termos paz.
Existe um mundo exterior fora de minha mente?
Não há como saber, mas temos que viver supondo que sim.
Supondo que exista o mundo exterior, qual a sua origem?
Nenhuma. Surgiu de modo fortuito sem ser proveniente de coisa alguma.
Porque o bem é preferível ao mal?
Porque propicia mais felicidade, no fim das contas.
É possível conhecer-se a verdade?
Não, mas pode-se perseguir uma aproximação cada vez maior dela, nunca com certeza e sempre disposto a revisão.
Existe algum Deus?
Impossível saber, mas, muito provavelmente, não. E, se existir, certamente não é a figura que as religiões abrahâmicas concebem.
Há vida após a morte?
Não. A morte biológica leva à extinção total da mente e da consciência.

A propósito, vejam isto:
http://wolfedler.blogspot.com/2008/11/meu-credo.html

domingo, 22 de novembro de 2009

Falácia do Princípio Antrópico


O Princípio Antrópico é a assertiva cosmológica de que nosso Universo é tal qual é, com as leis da natureza que existem e os valores das constantes físicas (velocidade da luz, constante de Planck, constante da gravitação universal, carga elementar, permissividade do vácuo) estabelecidos como são, para que a vida humana surgisse. Se as leis fossem outras ou as constantes tivessem valores diferentes, poderiam não terem surgidos partículas elementares ou átomos, ou galáxias, ou estrelas, ou planetas, ou a vida, ou a inteligência. Tais coisas surgiram porque as leis da física e os valores das constantes o permitem.
Que os valores que as constantes físicas atômicas e cosmológicas apresentam são exatamente aqueles que permitiram o surgimento de átomos estáveis, de reações nucleares, de galáxias, estrelas e planetas, da vida e, principalmente, da espécie humana com sua inteligência e consciência é mais que óbvio. Inferir disto que esses valores foram propositalmente estabelecidos para que tal fato se desse é outra história. Nada há que permita tirar esta conclusão, que é inteiramente gratuita. Os valores poderiam ser quaisquer outros e, assim, nada disso teria acontecido. Aliás a probabilidade de serem outros é muito maior do que serem o que são. Mais uma vez afirmo: é como ganhar na loteria. Se estamos aqui é porque, por acaso, calhou dos valores coincidirem com os necessários para tal. Isto é muito simples de se ver. Não consigo atinar com a razão pela qual se diz, no Princípio Antrópico, que isto tenha sido por obra de um planejamento inteligente. Isto sim, é que é completamente surreal e uma crença inteiramente infundada, assentada em uma opinião de que coincidências não existem e o acaso não pode ser responsável por tal complexidade. Aceitar o acaso não é uma crença e sim a constatação do óbvio. Se não há razão verificada, é por acaso!
Mesmo que descartemos a associação entre o princípio antrópico e o projeto inteligente, pode-se ver que as condições que nosso Universo preenche e que possibilitam (e não determinam) a existência de vida inteligente são fortuitas. Uma coisa que não existe em ciência são explicações teleológicas. Nada se dá “para que” tal ou qual consequência ocorra. Tudo na natureza se dá sem propósito. As consequências são o que, por acaso, venha a surgir. O que pode ocorrer, como se dá na evolução, é que uma imbricação sequencial de eventos faça restrições a uma ou outra possibilidade (como é o caso da seleção natural). É totalmente impossível, a não ser que haja uma entidade extrínseca ao Universo que o tenha criado e dirigido sua evolução (algo extremamente improvável), que a natureza, por sí, aja de forma a objetivar algo, especialmente tão longíquo quanto é o surgimento do homem em relação ao Big Bang. O Universo é tal qual é porque assim, por acaso, foi formado. Poderia não ter sido assim e poderia não se ter formado nenhum, em absoluto, isto é, não existiria coisa alguma. A existência de algo ao invés de nada não tem razão de ser nenhuma, da mesma forma que o fato do que existe ser como é e não de outro modo. Uma coisa, contudo, é certa. O acaso é capaz de qualquer coisa, mas tudo é como é porque a sequência de acasos calhou de dar nisto e não em outra coisa. É como ganhar na loteria: antes do resultado, todos os concorrentes têm a mesma probabilidade, muito pequena, de ganhar. Mas algum ganha e, para este, depois do resultado, a probabilidade se torna 1. É o colapso da função de densidade de probabilidade em uma delta de Dirac, para quem entende de matemática.

MANUAL DE CIVILIDADE



Na página 109 da edição 2137, de 4/11/09,
http://veja.abril.com.br/acervodigital/?cod=JMORLMDPE0 ,
a revista VEJA publicou um "MANUAL DE CIVILIDADE", muito apropriado para os dias atuais. Com comentários dos cientistas políticos Bolivar Lamounier, Rubens Figueiredo e Gaudêncio Torquato, dos filósofos Roberto Romano e Renato Janine Ribeiro, da psicóloga Lídia Arantagy e dos sociólogos Piero Forni e Demétrio Magnoli, o artigo elenca as atitudes básicas que precisam ser cultivadas para que a sociedade possa existir em um clima de paz e harmonia que promovam, afinal das contas, o bem estar e a felicidade de cada um, que são as razões para que vivamos em sociedade.

Tais atitudes são HONRADEZ, INTEGRIDADE, BOAS MANEIRAS, TOLERÂNCIA, AUTO-CONTROLE, CIVILIDADE, HONESTIDADE, CONTENÇÃO VERBAL, PEDIR DESCULPAS E DECORO. Não há dúvida de que, sem estas atitudes disseminadas por todo o corpo social, a vida seria uma guerra permanente de egos, cada qual querendo fazer prevalecer seus desejos egoístas sobre o bem estar comum. Tal comportamento não pode ser tolerado, simplesmente por inviabilizar qualquer projeto de construção de um mundo afável e prazeroso para todos.

Atualmente vemos que essas atitudes são, muitas vezes, tidas como anacronismos bisonhos, inapropriados para pessoas pragmáticas, objetivas e vencedoras, como se propala que seja o ideal a perseguir-se. Tratam-se de "fraquezas" ou, pelo menos, "frescuras" de gente servil e perdedora, que nunca obterá sucesso em nada que fizer. A juventude, especialmente, assimila esta concepção e considera que o importante é levar vantagem a qualquer custo, enriquecer, ficar "bem de vida", isto significando não que alcance paz e harmonia, mas que tenha sucesso e seja rico, mesmo que, para tal, passe por cima de todas as normas de ética, de todos os compromissos e de todas as pessoas que lhe opuserem algum obstáculo. Esquecem-se, contudo, que são apenas parte do organismo social e que só terão benefícios garantidos e perenes, se eles o foram para todos e não só para uns em detrimento de outros.

Eu, no entanto, vou além. Mais ainda do que tudo isto, que representa apenas a "conditio sine qua non", da civilidade, apregoo a prática de virtudes mais positivamente direcionadas para a construção de uma sociedade não só harmônica, mas excelente e plena de júbilo para as pessoas. Além da cortesia, a GENTILEZA, além da honestidade, a GENEROSIDADE, além da justiça, a BONDADE, além da tolerância, a DISPOSIÇÃO de lutar para que qualquer preconceito ou intolerância sejam abolidos. Além da honra, a BRAVURA em promover a aniquilação do mal e o prevalecimento do bem e além da própria bondade, o ALTRUÍSMO de levar prejuízo e até danos para garantir tais valores para todos. Exatamente a não omissão, a posição de sempre ter a ver com tudo de que se toma conhecimento e não "lavar as mãos", dizendo não ser da própria conta tomar qualquer atitude. Estar disposto a ter aborrecimento e levar prejuízo para combater toda injustiça, mesmo com quem não se conhece. Este é o galardão da pessoa verdadeiramente de bem. Este é o heroísmo que faz a vida valer a pena ser vivida. Não basta apenas ser bonzinho para não ir para o inferno. Fazer o bem é muito mais do que ser bom (mas não dispensa o ser). É claro que ser bom é mais valioso do que ser apenas justo e honesto, pois todo bom o é. Ser bom é ser solidário e compassivo. Mas fazer o bem é muito mais. É ser combativo pelo prevalecimento do bem e aniquilação de toda maldade, toda injustiça, toda desonestidade, toda mentira, toda safadeza, toda ganância, toda malqueirança, todo desamor.

A propósito quero recomendar a leitura do livro "Pequeno Tratado das Grandes Virtudes" do filósofo francês André Comte-Sponville (Martins Fontes) que se encontra integralmente disponível na internet no site:
http://www.pfilosofia.xpg.com.br/03_filosofia/03_03_ptgv/ptgv.htm .

Só que o mocinho não pode se valer dos métodos do bandido. O crime não pode ser combatido com os meios de que ele se vale. Todos os escrúpulos têm que ser tomados. Não é válido matar o assassino, pois isto também é um assassinato. Aí está a grande dificuldade do combate ao mal. E, principalmente, não se pode pensar em vantagens pessoais, mas sim no bem coletivo, a ser preservado mesmo ao custo de desvantagem pessoal.

São tais considerações que reputo essenciais a se transmitir à juventude pela escola, já que esses valores não são mais cultivados em muitas famílias e, mesmo quando o são, muitas não conseguem passá-los às novas gerações. É claro que isto não pode ser confundido com formalidades apenas exteriores e sem significado profundo, como chamar os mais velhos de "senhor" ou "pedir a bênção". Isto pode até ser cultivado, mas não é essencial e a sua falta não significa, absolutamente, falta de respeito e consideração, mesmo que possa o ser, em alguns casos. A escola tem que assumir esta missão em seu comportamento cotidiano, como um cosmovisão pedagógica, que perpasse toda a vida escolar, nas aulas de todas as matérias, por parte de todos os professores, bem como no dia a dia administrativo e em todas as atividades. Mas, sem dúvida, faz falta uma disciplina do tipo (mas não exatamente como) da antiga "Educação Moral e Cívica", que, ao invés de inculcar valores da antiga ditadura, transmita, sim, valores éticos, cívicos, humanos, culturais, estéticos, filosóficos e mesmo atitudes científicas (não confundir com conhecimentos e habilidades científicas) de deslumbramento pelo saber e pela natureza e de espírito inquiridor, crítico e reflexivo. Talvez a Filosofia e a Sociologia, agora obrigatórias, possam fazer este papel, mas ele tem que ser assumido como tema transversal de todas as matérias.

Transformar todo jovem não apenas em profissionais competentes e de sucesso, como muitos pensam resumir-se a função da escola, mas também em cidadãos e pessoas humanas integrais, isto é, em damas e cavalheiros cônscios de seu papel na humanidade e no contexto global da natureza, que sejam exemplos de civilidade e locomotivas da transformação deste mundo no lugar aprazível que cada um sonha que seja é, pois, uma responsabilidade irremovível da escola, do educador, da família e de toda pessoa cuja ação no mundo deva ser imitada pelas novas gerações. Abdicar disto é decretar a derrota da civilização frente à barbárie.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Razão e intuição


No meu entendimento, a noção filosófica de razão se prende à capacidade de raciocinar, isto é, de desenvolver um pensamento articulado, calcado em argumentos e comprovações lógicas e não apenas em apreensões sensoriais e afloramentos intuitivos do inconsciente à consciência. Dizer que alguma assertiva seja racional é dizer que pode ser defendida com uma argumentação lógica. Isto não garante necessariamente a sua veracidade, que precisa ser testada por critérios de conformidade à experiência, por evidências sensoriais diretas ou indiretas. Também não coloca tal tipo de modo de pensar num estado de superioridade em relação ao pensamento intuitivo, com maior envolvimento emocional. A mente opera de forma consciente no raciocínio, mas a maior parte de seu trabalho é inconsciente e, nem por isto, menos válida. Pelo contrário, muitas vezes são os “insights” do inconsciente que solucionam vários problemas. Mas, uma vez que se intui a solução, buscam-se processos racionais que a possam comprovar, com base no que já se conhece.
Uma primeira noção de razão se refere ao raciocínio consciente, outra a um tipo de raciocínio que opera inconscientemente, fazendo subir à consciência apenas seu resultado. Esta última é o que se chama de intuição, muitas vezes depreciada, mas, na verdade, a mais forte forma da ação do cérebro, especialmente para a solução dos problemas práticos da vida, que, em última instância, é o motivo pelo qual a evolução nos dotou das capacidades mentais que temos: para sobreviver e procriar. Filosofar, fazer arte ou ciência, por mais interessante que sejam, no contexto da natureza, é secundário.
O núcleo desta discussão é se a razão (logos) teria primazia sobre a intuição (nous), como locus do raciocínio. Experimentos podem comprovar que, de fato, é das profundezas do insconsciente que brotam os argumentos que permitem à razão sustentar logicamente suas argumentações. Isto pode ser verificado no trabalho do neurologista português, António Damásio. Como físico e matemático sei, por experiência própria, que a demonstração de um teorema não se dá, na mente, da mesma forma como é apresentada no papel. A mente, depois de examinar sob todos os aspectos as hipóteses apresentadas, faz uma varredura de instâncias particulares em que tais condições se apresentam e começa a procurar o que possuem em comum. Nesse momento, que é o crucial do raciocínio, a contribuição da intuição e até dos instintos, é fundamental. Tudo o que a pessoa já viveu e está registrado em suas memórias, mesmo que não conscientemente evocadas, alimenta o trabalho inconsciente, também feito em função das estruturas mentais estabelecidas geneticamente. Muitas vezes é preciso que se deixe passar uma ou mais noites de sono para que aflore o gancho que levará a uma forma explicitável de raciocínio, capaz de demonstrar o teorema. Esta forma explicitável é o raciocínio lógico. Mas, na verdade, ele é elaborado a partir de intuições. Em uma tese de doutorado, o autor não menciona as tentativas frustradas que teve e nem a lista de instâncias particulares que examinou até chegar ao que possa ser colocado no papel. E, infelizmente, os cursos universitários e de pós-graduação, em suas “metodologias da pesquisa”, não treinam o aluno a exercitar sua intuição para a solução de problemas. Como professor eu sempre resolvo um exercício para a classe de duas formas. Primeiro a intuitiva, depois a lógica. Isto dá ao aluno um poder de raciocínio e argumentação tremendos. É preciso cultivar a intuição como um componente importantíssimo da inteligência.
É na arte que mais se manifesta o caráter essecial da intuição no pensamento e nas ações não só humanas mas, mesmo, de outros seres conscientes e talvez, até, nos apenas sensientes (mas não sei).
O artista é aquele que coaduna uma refinada técnica, ligada a seu metier, a uma inspiração que, se ele for genial, ou, pelo menos, talentoso, tem que ser superlativa.
De um modo mais amplo o que se entende por “emoção” engloba uma série de manifestações somáticas, entre elas o rubor ou palidez facial, o tremor ou enrijecimento muscular, a sudorese, a dilatação ou contração das pupilas, a expressão dos lábios e dos olhos, as lágrimas e muito mais. Num nível mais elaborado de controle consciente, a emoção se expressa pelas palavras, pelos gestos, pelo que se escreve ou se cria, em termos de arte. Se bem que os primeiros sinais dificilmente podem ser objeto de controle racional, os últimos certamente o são. Você pode medir o que diz, mesmo em situações de extremo calor emocional. Ou os gestos que faz (controlar-se e não dar um murro, por exemplo). Assim o artista, ao criar, usa sua inspiração e sobre ela aplica seu conhecimento técnico do domínio da arte que está a produzir. Isto é especialmente verdadeiro na música, ainda mais a erudita (é possível produzir-se uma obra de arte plástica sem um domínio de técnicas refinadas, mas, na música erudita não). Nessa fase ele pode deixar fluir a emoção e produzir sua obra apenas dando formato técnico àquilo que brota de seu peito. Ou aplicar sua inteligência e sua racionalidade em dar a essa inspiração uma forma estudada e polida, dentro de uma estrutura estabelecida. Na música isto sempre é feito em grau maior ou menor. Alguns elaboram menos a inspiração, outros mais. Este é o caso de Brahms. É um compositor que expressa intensa emoção de um modo disciplinado por sua férrea vontade e sua prodigiosa inteligência. Acho isso notável. Em geral vejo que (nem sempre) as grandes inteligências são acompanhadas de refinada sensibilidade e elevado padrão de moralidade. É o “fator global” da inteligência.
Apesar de não se ter, ainda, comprovações (por ressonância magnética, por exemplo), do raciocínio inconsciente, vários indícios apontam nesse sentido.
Os “insights” tão comuns a cientistas que estiveram debruçados por longos tempos na solução de um problema, que depois lhes aflora inteiramente resolvido, às vezes em sonhos, mostra que a porção inconsciente do cérebro permaneceu raciocinando sobre a questão, à margem da consciência. Isto é coisa que ocorre corriqueiramente a todos nós no dia a dia, mesmo que não nos tivéssemos debruçados longamente para a solução de algo.
Em sonhos, quando damos a sorte de despertarmos no decorrer de sua ocorrência, podemos perceber que, dormindo, inconscientemente, muitas vezes nos entretemos com conversas de cunho altamente especulativo e racional (bom, pelo menos comigo isto se dá muito). Logo nosso inconsciente está raciocinando.
A questão principal, no meu ver, é entender o que seja a “consciência”. Trata-se, simplesmente, de uma função mental que coloca, internamente, parte das operações que estão ocorrendo, disponíveis à apreciação do “eu”. Isto se dá pela comunicação interna com as porções do cérebro responsáveis pela percepção sensorial. O pensamento consciente se dá por meio de uma espécie de “conversa” interna, ou da visão de imagens e percepção de outros sentidos. Isto só pode ocorrer se houver um processamento mental a ser levado à percepção. Mas este pensamento pode se dar sem que seja percebido, isto é, inconscientemente.
Novas técnicas de escaneamento cerebral, em breve, possibilitarão o acompanhamento do pensamento e do raciocínio em pessoas sob sono profundo.
Se se analizar o que já disse neste tópico, pode-se inferir que, no meu entendimento, a razão é uma propriedade do espírito, entendendo-se, é claro, o espírito como uma ocorrência natural, isto é, um aspecto da mente, que nada mais é do que um cérebro “em funcionamento”. O espírito é, pois, a capacidade da mente de ocupar-se com fatos abstratos e não apenas com a sobrevivência e a procriação. Dentre esses, a razão é a faculdade do espírito (e, pois, da mente) de raciocinar logicamente, de encadear juizos e tirar conclusões, de argumentar, quando o faz de forma consciente e, normalmente, com o concurso da linguagem (sem excluir a possibilidade de se “pensar sem palavras”).
Quanto ao fato de sermos seres bio-psico-sociais e de estarmos imersos em uma realidade sócio-político-cultural, em paralelo à realidade física e biológica, isto não faz com que os fatos psíquicos vivenciados pela mente não sejam estritamente fatos fisiológicos. É preciso entender que a visão reducionista da realidade é incontestável. O dito “holismo”, nada mais é do que o aspecto não linear do reducionismo, pelo qual um todo não é simplesmente a “soma” de suas partes, mas o resultado de contribuições de tudo que aja sobre ele, com todas as retro-alimentações e contribuições de graus superiores ao da soma linear. Mas, de fato, ele só ocorre porque os fatores contribuintes existem e tudo que ele possui é contribuição desses fatores. Assim entendido, a política se reduz à sociologia, a sociologia à psicologia, a psicologia às neurociências, as neurociências à biologia, a biologia à química e a química à física, que é a ciência básica.
Todo o psiquismo, pois, no fundo, são interações entre partículas subatômicas dentro do cérebro. As interações sociais se dão por meio dos órgãos dos sentidos, da fala, do esqueleto, dos músculos. Isto impressiona o cérebro e provoca as ocorrências psíquicas de origem social. Isto é, no fundo, tudo é Física.
A noção de espirito, aqui discutida, precisa ser bem delineada. Para o dualismo, tal conceito se reporta a uma entidade anatural (prefiro este termo a sobrenatural), etérea e sutil (isto é, não é feito de matéria, não tem massa, volume e nenhuma propriedade física, como índice de refração ou condutividade elétrica) que, todavia, possui faculdades psíquicas, como percepção, inteligência, volição e capacidade de interagir com o corpo biológico de quem o porta, enquanto vivo, e, até mesmo, interagir com outros seres do mundo natural. Inclusive o fato de se estar vivo estaria vinculado a que o espírito estivesse ligado ao corpo. A morte biológica se daria pela sua desvinculação. Mas ele permaneceria existindo, sem contudo, por não ser físico, possuir localização espacial nem temporal, já que tempo e espaço são entidades físicas, como matéria, radiação, campos e interações.
No meu entendimento existem fortes indícios de que tal tipo de coisa, simplesmente, não existe, extendendo-se esta inexistência a outras modalidades de espíritos, como anjos, demônios, gênios e deuses. Tal opinião seria objeto de outro tópico, mas eu pergunto, como seria possível a um espírito ver?
Na concepção monista-fisicalista-reducionista, que advogo, é possível, contudo admitir-se a noção de espírito de forma inteiramente diferente. Para começar, não existindo espírito, não há tembém alma, sendo todo o psiquismo uma função da mente e esta uma ocorrência advinda da composição, estrutura e funcionamento do organismo, especialmente do cérebro (mas não só). Asim o espírito, para mim, seria a propriedade da mente de ocupar-se com abstrações e valores (é preciso entender, contudo, que o maior volume de ocupação da mente é com a manutenção do indivíduo e com o instinto procriador). Algo é dito “espiritual”, exatamente quando não concerne ao comesinho e sim a elevações mentais, tipo contemplação estética, julgamento ético, raciocínio lógico, apreciação de valores, expressão de sentimentos nobres e coisas do tipo. É uma espiritualidade ateísta.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

DESCUBRA-ME

A partir de agora estou elencado, com este blog, entre os correspondentes do site "DESCUBRA-ME" (www.descubrame.com.br) de nosso grande amigo Quirino Jung. Este site é o maior portal comercial e jornalístico de Viçosa, que divulga reportagens fotográficas de todos os eventos de relevo da região, tendo um dos mais altos índices de acesso do interior. Fazer parte de seu elenco de correspondentes é uma grande honra e responsabilidade, que pretendo atender com a publicação sempre atualizada de postagens de cunho filosófico, científico, artístico e cultural de interesse dos leitores. Além deste blog, também possuo outro, www.ruckert.pro.br/blog, em que deixo registradas minhas postagens em todos os fóruns de debates que participo na internet, assim como nas comunidades do orkut. Espero contar com a participação ativa dos leitores em comentários e discussões, pois muitas postagens são de cunho polêmico, como podem verificar.
Boa viagem a todos. Até o próximo porto.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Diógenes

Diógenes, exemplar , é bom companheiro.
Caboclo pioneiro, há sempre alcançar,
Estando a versejar, um poema maneiro,
Garboso e fagueiro, a frase exemplar.

Cuidando a escandir o verso lapidar,
Jamais pode deixar a frase escapulir,
E a rima esculpir, com zelo salutar.
Um som belo escutar, sem o ouvido ferir.

Ficando assim a ouvir a música inteira,
Que caminha altaneira mostrando um devir
De um bom mundo a porvir, muita gente faceira.

Será bom esperar, ó dia alvissareiro.
Em que todo estrangeiro será um meu par,
E a ninguém vai faltar um amor verdadeiro.

Nebulosa Ampulheta




Esta é uma das telas que estou pintando e vendendo por R$450,00
Interessados contatem-me no e-mail ernestovon@yahoo.com.br

Acrílico sobre tela - pincel chato duro no fundo - bucha vejetal na imagem
70cm x 50cm - concluída em novembro de 2009.

Dados astronômicos

MyCn18 - Nebulosa Planetária
Constelação de Musca
Descoberta por Annie Jump Cannon and Margaret W. Mayall, em 1996
Distância: 8.000 anos luz (2.500 parsecs)
Ascenção reta: 13h 39m 35.116s
Declinação: -67° 22′ 51.45″
Magnitude aparente: 13,0
Tamanho aparente: 25"
Estrela Central
Wolf-Rayet (WR9)
Temperatura superficial: 110.000 K.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Sou um bobo

Sempre tive em alta conta o fato de ser bobo. Sim, sou um bobo, um ingênuo, nada esperto, fácil de tapear, alguém que acredita na palavra dada, que não fala mentira, mesmo que leve prejuízo, que não passa a perna, não engana ninguém, que é despojado, franco, despreendido, cortez, modesto, amigo, solidário. Enfim, que não leva vantagens indevidas, que não usufrui de privilégios. Mas que vive sem dinheiro, porque dá para os outros e trabalha de graça. E que não tem o mínimo desejo de ser esperto, sagaz, vitorioso, bem sucedido, mesmo tendo inteligência bastante para tal.
Muitas vezes é interessante se fazer de bobo ou ingênuo, mas, de fato, não o ser. Eu, todavia, sou ingênuo de verdade, pois só a posteriori percebo alguma maldade nas atitudes das pessoas. Talvez porque eu nunca tenha intenção de fazer nenhuma maldade ou prejudicar ninguém, eu suponha que todos sejam assim. Isto é perigoso, pois eu confio nos outros sem ressalvas e acredito que todos digam a verdade, até que algo prove o contrário. Nunca preciso pensar o que vou dizer: digo simplesmente a verdade e tudo que me vem à cabeça, sem censura. Nunca precisei esconder nada de ninguém e nem ligo para que invadam minha privacidade. Por isto é que digo que, de fato, sou bobo, mesmo sendo bastante inteligente.

sábado, 14 de novembro de 2009

Palavras na Formatura do Anglo

Parabéns caros formandos e prezadíssimos pais! Congratulo-me com vocês todos pelo privilégio de estarem aqui neste dia. A vocês, alunos, pelo empenho e dedicação que lhes trouxeram aqui hoje e a seus pais pela oportunidade que lhes propiciaram de estudar em uma boa escola particular. Este privilégio implica em uma correspondente responsabilidade de manterem a dedicação e o empenho e, com isto, obterem o êxito que tenho certeza que terão, não só no vestibular, mas em toda a Universidade e na vida profissional. Mas não é só o sucesso profissional e a felicidade pessoal que importam na vida. A grande responsabilidade a que me refiro, pelo privilégio que vocês gozam, é a de tornar o mundo melhor e, com isto, darem significado a suas vidas, de tal forma que, a seu fim, vocês possam estar contentes com a vida que tiveram pois, por causa dela, deixaram o mundo melhor do que era antes. Felicidades!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Astronomia

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Visitem este site de Astronomia:

http://www.1minutoastronomia.org/

São vídeos curtos que explanam de forma didática mas rigorosa os principais temas da Astronomia, em português de Portugal. Muito bom!

Tradições perversas

É um absurdo que se tolere a manutenção de costumes ultrajantes, como a ablação do clítoris, só por serem tradições. Tradições podem e até devem ser cultivadas por serem úteis, benéficas ou, simplesmente, bonitas. Mas jamais se forem perversas, discriminatórias, humilhantes ou promovam qualquer tipo de dor, prejuízo, sofrimento ou maldade. Nesses casos têm que ser extintas, porque, mesmo que a parcela dominante da comunidade em que são cultivadas as considere consoantes a moral, certamente são anti-éticas. É preciso que a humanidade se convença de que só se pode permitir qualquer procedimento ou ação se esta promover a maximização da felicidade do maior número de seres (mesmo não humanos), se puder ser erigida como preceito universal e ser for do tipo que cada um deseje ser dela objeto. Caso contrário é um malefício e, como tal, inadmissível. O problema é fazer isto ser aceito pela parcela dominante da sociedade, que leva alguma vantagem com a manutenção desses costumes e não está disposta a ceder em benefício da maioria ou mesmo, de alguma minoria que esteja sendo prejudicada. E nem sempre os prejudicados conseguem força suficiente para fazer valer o que querem. É o caso das mulheres nos países em que a ablação do clítoris é praticada. Todavia a comunidade internacional pode, deve, e eu diria, tem, que pressionar esses países para a abolição desses costumes, mesmo que isto contrarie sua cultura e tradições, neste caso, indefensáveis. Como? Promovendo embargos comerciais ou alguma forma de represália, que, contudo, não provoque sofrimento nas próprias pessoas que se pretende defender. Mas, para tal, precisam se despir de seu pragmatismo imoral e exercer sua diplomacia em bases éticas e não econômicas. E isto depende de cada um de nós, nas democracias, ao definir em quem damos o nosso voto.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Nebulosa Olho de Gato





Esta é uma das telas que estou pintando e vendendo por R$450,00
Interessados contatem-me no e-mail ernestovon@yahoo.com.br

Acrílico sobre tela - 70cm x 50cm
Concluída em agosto de 2009.

Dados astronômicos
NGC 6543
Nebulosa Planetária remanescente de Supernova
Explosão: aproximadamente a mil anos.
Constelação do Dragão.
Descoberta em 1786 por William Herschel.
Primeira nebulosa analisada espectralmente em 1864 por William Huggins.
Ascenção reta: 17h 58m 33,423s
Declinação: +66° 37′ 59.52″
Distância: 3.300 anos-luz (1.000 parsecs)
Diâmetro: 0,4 anos-luz
Dimensão aparente: 20” x 20”
Magnitude aparente: +9,88
Magnitude absoluta: -0,2
Massa: 4,0 sóis
Composição: hidrogênio e hélio
Temperatura média: 8.500 K
Densidade média: 5.000 átomos/cm³
Velocidade de expansão: 1.900 km/s

Estrela Central (anã branca)
Massa: 1,0 sóis
Diâmetro: 904.800 km (65% do Sol).
Potência radiante: 3,8 setilhões de GW (10.000 sóis)
Temperatura superficial: 80.000 K

Galáxia de Andrômeda


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Esta é uma das telas que estou pintando e vendendo por R$450,00
Interssados contatem-me no e-mail ernestovon@yahoo.com.br

Acrílico sobre Tela - 70cm × 50cm
Concluída em julho de 2009.

Dados astronômicos
Messier 31 – NGC 221
Galáxia espiral, Constelação de Andrômeda.
Mais próxima espiral e maior galáxia do grupo local.
Um trilhão de estrelas, 14 galáxias anãs e 460 aglomerados globulares satélites, além das galáxias M32 e M110.
Descoberta em 964 por Abd al-Rahman al-Sufi (Pérsia).
Ascenção reta: 00h 42m 44,3s .
Declinação: + 41° 16' 09" .
Distância: 2.540.000 anos-luz (778.000 parsecs).
Diâmetro: 190.000 anos-luz.
Dimensão aparente: 190' × 60' .
Magnitude aparente: +4,4 .
Magnitude absoluta: −24,5 .
Velocidade de aproximação: ao Sol: 300 km/s;
ao centro da Via Láctea: 140 km/s (colisão em 2,5 bilhões de anos).
Massa: 710.000.000.000 sóis = 1,42 × 10^42 kg
Composição: hidrogênio atômico e molecular.

Galáxia Redemoinho


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Esta é uma das telas que estou pintando e vendendo por R$450,00
Interssados contatem-me no e-mail ernestovon@yahoo.com.br

Óleo sobre Tela - 60cm x 50cm
Concluída em maio de 2008.

Dados astronômicos
Galáxia espiral (maior de um par com a M51b)
Constelação de Canis Venatici
Descoberta em 1773 por William Herschel
Reconhecida como espiral em 1845 pelo Conde Rosse
Tipo: SA(s)bc pec
Ascenção reta: 13h 29m 52,7s
Declinação: + 47° 11' 43"
Distância: 37.000.000 anos-luz (10.600.000 parsecs)
Diâmetro: 50.000 anos-luz
Dimensão aparente: 11′,2 × 6′,9
Magnitude aparente: +8,6
Magnitude absoluta: −21,5
Velocidade recessional: 600 km/s (redshift = 0,002)
Massa: 160.000.000.000 sóis = 3,08 × 10^41 kg
Composição: hidrogênio atômico e molecular.

Nebulosa do Caranguejo

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Esta é uma das telas que estou pintando e vendendo por R$450,00
Interessados contatem-me no e-mail ernestovon@yahoo.com.br

Óleo sobre tela - 60cm x 50 cm
Concluída em março de 2008.

Dados astronômicos
Messier 1 – NGC 1952
Nebulosa Planetária remanescente de Supernova
Constelação de Touro
Descoberto em 1731 por John Bevis
Redescoberto em 1758 por Charles Messier
Denominado em 1840 pelo Conde de Rosse
Ascenção reta: 5h 34 min 31,97s
Declinação: + 22° 00' 52,1”
Distância: 6.500 anos-luz
Diâmetro: 13 anos-luz
Dimensão aparente: 420” x 290”
Magnitude aparente: +8,4
Magnitude absoluta: -3,1
Massa: 4,6 sóis
Composição: hidrogênio e hélio (95% do toro circundante)
Temperatura média: 14.500 K
Densidade média: 1.300 átomos/cm³
Velocidade de expansão: 1.500 km/s.

Pulsar Central (estrela de nêutrons)
Descoberto em 1942 por Rudolf Minkowski
Explosão detectada em 1054 por árabes e chineses
Massa: 1,7 sóis
Diâmetro: 30 km
Período: 33 milisegundos
Potência radiante: 75.000 sóis
Espectro: radiofreqüência até Raios X

O Sol



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Esta é uma das telas que estou pintando e vendi por R$450,00
Interessados contatem-me no e-mail ernestovon@yahoo.com.br

Acrílico sobre Tela - 70cm × 50cm
Concluída em setembro de 2009.

Dados astronômicos
Distância: 149.600.000 km (8,317 minutos-luz).
Diâmetro: 1.392.000 km (109 terras).
Massa: 1,99 oitilhões de toneladas (332.900 terras)
Densidade: 1,41 kg/L (Terra = 5,52 kg/L)
Gravidade superficial: 27,94 N/kg
Velocidade de escape: 617,7 km/s (Terra = 11,2 km/s)
Temperatura superficial: 5.778 K
Temperatura do núcleo: 15.700.000 K
Potência: 384,6 quintilhões de GW.
Magnitude aparente: -26,74.
Magnitude absoluta: 4,85.
Classificação espectral: G2V.
Diâmetro angular: 32,1′.
Distância ao centro da Via Láctea: 26.000 anos-luz.
Período orbital: 227 milhões de anos.
Velocidade: 220 km/s.
Idade: 4 bilhões 570 milhões de anos.
Evolução: Gigante vermelha em 5,5 bilhões da anos; nova (explosão) em 6,5 bilhões de anos, após o que, anã branca rodeada por nebulosa planetária.
Composição: Hidrogênio: 73,42%; Hélio: 24,85%.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Ainda psiquismo e energia


O mais interessante a respeito de toda a complexidade da relação entre a mente e o aparato orgânico responsável por sua ocorrência, com todas as suas propriedades, é que não há, de fato, uma “localização” definida para cada coisa, apesar de serem detectadas regiões de maior atividade metabólica para cada evento psíquico. Todavia, mesmo em traumas que deixam fora de ação certa região associada a dada ocorrência, com o passar do tempo e estimulação, outras assumem aquela função. Nem mesmo se pode atribuir localizações precisas para registros particulares da memória. Cada lembrança é evocada com a participação de diversos locais do cérebro, onde aspectos diferentes da lembrança estão armazenados, como imagens, odores, emoções, movimentos etc. Há, inclusive, uma proposta de estrutura holográfica para o armazenamento de dados no cérebro, mas não se tem uma base sólida para defendê-la (Em um holograma, o que se armazena são informações sobre a fase da luz e não seu espectro de intensidade localizada, como numa fotografia. Para se reconstruí-lo é preciso iluminá-lo de modo que a figura de interferência resultante recupere a imagem original. Para tal, um pedaço do holograma é capaz de reconstruir a imagem inteira, só que com menos intensidade). De fato, cada pensamento, sentimento, emoção, lembrança ou decisão, é desencadeado por fluxos de inversão de polaridade elétrica nos dendritos e axônios e por jorro de neurotransmissores nas sinapses. Tais fluxos consomem energia maior que o funcionamento muscular (exceto nos picos de esforço rápido e localizado). O que poderia diferenciar essas ocorrências, não só para caracterizar o seu tipo, mas definir o seu conteúdo? Isto ainda não é conhecido, mas, muito provavelmente, a resposta está no desenho estrutural espaço-temporal da ocorrência, como uma partitura orquestral, em que a execução da música, em todos os seus aspectos (melodia, harmonia, altura, intensidade, ritmo, timbre, modulação, expressão…), está registrada na pauta pelas notas, figuras e acidentes.
A evocação de uma lembrança ou a ativação de um pensamento, sentimento ou emoção, como toda ocorrência psíquica se dá por uma varredura dos neurônios e células gliais (que acarretarão estímulos para secreções endócrinas) por um tipo de “onda” de inversão de polarização e de jorros de neurotransmissores. A complexidade (e, talvez, o aspecto holográfico) reside em que o cérebro é lugar de inúmeras dessas ondas simultâneas, que se interferem, além de desencadearem elos de processamento tanto sequencial como paralelo. Tudo isso representa o que está ocorrendo no momento na mente. Por exemplo, enquanto eu digito (e o cérebro tem que comandar a ação de cada músculo acionador de minhas falanges em intensidade e orientação precisas, evocando a memorização da localização das teclas), também leio a tela, escuto os ruídos do ambiente (e atendo a algum chamado, ou mesmo presto atenção em alguma conversa), continuo respirando e tendo o coração pulsando, minha digestão está em processo, meus rins funcionam, minha cabeça está ereta sobre meu pescoço etc, etc, além de estar pensando o que vou escrever. Tudo isto requer extrema coordenação do cérebro e do cerebelo ao mesmo tempo. E tudo isto envolve trocas de energia.
O ponto que discordo é que exista alguma qualidade na energia que seja identificadora do tipo e conteúdo do processo em que está envolvida. Tal informação, como já disse, não está registrada na energia, mas no “aspecto” espaço-temporal da ocorrência.
Acho que a confusão se dá por uma diferença semântica em nosso entendimento do conceito de “energia”, que exporei mais adiante.
Antes porém quero tecer uma digressão sobre a consciência. Como uma ocorrência mental ela também se dá em decorrência da anatomia e fisiologia do organismo, em especial do cérebro, mas não só. A consciência psíquica (consciousness - não estou falando da moral: conscience), é a capacidade de estar ciente do mundo, isto é, saber o que está percebendo, sentindo, pensando ou fazendo. Dentre os aspectos da consciência o mais importante é a “auto-conciência” (note-se que se pode ter consciência sem se ter “auto-consciencia”, patologia que transforma as pessoas em zumbis). Trata-se da consciência de si mesmo como algo distinto do resto do mundo, possuidor das próprias percepções, sentimentos, pensamentos, desejos e decisões. Trata-se do “eu”, ou, como se gosta de se dizer atualmente: “experiência de primeira pessoa (EPP)”. Para muitos filósofos, psicólogos e outros cientistas, tais experiências são irredutiveis a explicações “de terceira pessoa”, isto é, acessíveis a qualquer um e não apenas à própria pessoa que as experimenta. em outras palavras, que não seria possível reduzir a psicologia à neurologia, que é fisiologia, que é biologia, que é química, que é física.
Tal não é o meu entendimento. Considero que, de fato, psicologia é física e a auto-consciência é resultante do funcionamento bio-físico e bio-químico do cérebro, demais órgãos do sistema nervoso, órgãos dos sentidos, glândulas endócrinas, musculatura e esqueleto e demais visceras, enfim… do organismo inteiro. Como? Ainda não se sabe!
Contudo os experimentos neurológicos apontam para o caminho de que a auto-consciência advém de uma varredura constante que o cérebro faz do organismo e do mundo, por meio dos 16 sentidos (9 externos e 7 internos), incluindo informações sobre o próprio funcionamento cerebral e coloca isto como uma percepção. A persistência e continuidade, dentro da variação, dessa percepção seria a noção do “eu”. Há, contudo, controvérsias.
Abordo agora a questão da Energia. Tal palavra pode ser referir a dois conceitos principais: o físico e o comportamental. O primeiro sentido refere-se à capacidade de um sistema físico realizar trabalho ou transferir calor, o segundo, ao modo de ser vigoroso, à disposição, ao entusiasmo. Diz-se, nesta acepção, que alguém possui ‘energia’ (entre aspas simples), se está disposto a trabalhar. Este conceito não é uma propriedade a que se possa atribuir uma grandeza mensurável, não obedece a uma lei de conservação, como o físico e não tem correlação com o primeiro, pois pode-se estar entusiasmado sem possuir energia para realizar o trabalho, na acepção fisica, que é definida pela disponibilidade de nutrientes no organismo. Da mesma forma pode-se dispor de muita energia e não se ter ‘energia’. Quando se diz que meditação, ioga, contemplação, oração ou outras atividades similares passam ‘energia’ é da segunda modalidade que se fala, pois a primeira só é fornecida a um organismo vivo pelo alimento. No entanto, muitos fazem confusão entre os conceitos, especialmente as pessoas envolvidas com atividades esotéricas (o que não é o caso dos debatedores deste tópico), inclusive cientistas, como Amit Goswami, Fritjof Capra, Deepak Chopra e mesmo Roger Penrose. Diz-se também da transmissão de ‘energia’ entre mentes. Certamente que se pode passar disposições positivas a uma pessoa por meio de um contato pessoal. Mas não é a energia (física) que é trocada no contato (luz, som, trabalho mecânico (um abraço)) a responsável pela transmissão do entusiasmo e sim o conteúdo conotativo e denotativo da mensagem, que, interpretada pela mente receptora, em função de suas vivências, lhe passa a ‘energia’ psicológica. Essa ‘energia’ nada tem a ver com a energia absorvida pela retina e pelo ouvido interno, carreada aos neurônios pelos impulsos nervosos.
A “qualia” das experiências mentais não é função da energia física dos impulsos nervosos.
Estou elucubrando umas considerações que exporei em breve, assim que assentadas em minha cabeça. Trata-se de uma extensão da dialética para uma variação contínua de possibilidades desde a tese até a antítese, inclusive ao longo de um número maior de dimensões, isto é, uma forma difusa e policotômica de “lética” que eu chamaria de “polialética”. Outra característica é a não linearidade. A extensão nesses três aspectos possibilita considerar o comportamento da natureza (física, química, biologia, geologia, psicologia) e da sociedade (sociologia, cultura, economia, política) de uma forma integrada que funde o holismo com o reducionismo, desde que, como já mencionei, considerado de forma não linear (isto é, o todo provém das partes, mas não da sua “soma”). Além disso é preciso entender que não existem “partes” autônomas no contexto do Universo como um todo. Cada ser é um subconjunto do Universo, sempre ligado ao todo. O psiquismo é um produto da composição, estrutura e funcionamento do organismo em interação com o meio em que se insere como parte integrante.
Digo que a mente é determinada não apenas pelo cérebro (mas principalmente) como também por todo o organismo (sistema nervoso, órgãos dos sentidos, glândulas endócrinas, visceras, músculos…) e pela interação com o resto do mundo (natureza, pessoas…). Isto não derruba a concepção monista-fisicalista-reducionista, que advogo, desde que tudo seja interpretado dentro dessa polialética, continuamente policotômica, multidimensional e não linear. Posso até considerar que fenômenos creditados aos ditos “espíritos” podem ser completamente naturais nesta visão extendida da realidade natural. Tais possibilidades, contudo, precisam passar pelo crivo rigorosa da checagem experimental, dentro de minha visão “cienticifista” da Filosofia.
Ainda farei comentários sobre a concepção de David Chalmers e a falácia das “qualia” e dos “Zumbis”, que seriam os seres com cérebro e sem uma mente dualista, bem como da experiência da “Supercientista Maria”, de Franck Jackson.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Energia e Psiquismo


Há uma proposta de fazer a conexão entre cérebro e mente por meio do que se chama de "variante energética". E que tal conexão operaria dialeticamente, como aliás se considera que seja o modo operante da natureza, e não apenas da sociedade. Mas, pode-se considerar que a dialética seja apenas um modo humano de conceber o funcionamento da natureza e não algo inerente a ela mesma.
Antes de tudo é preciso entender que não há divergência entre ciência e filosofia. Ambas buscam explicar o mundo, cada qual com o seu objeto e método, mas complementando-se. No entanto, uma explicação científica assentada como uma teoria comprovada tem mais peso veritativo que uma explicação filosófica, pois esta, provinda que é da reflexão e não da experimentação, tem um grau maior de subjetividade, consistindo mais numa "doxa" (algumas vezes elevada a "eudoxa") do que numa "episteme".
A questão do "status" ontológico da dialética, em verdade, é a mesma de toda explicação científica e filosófica. Tais disciplinas são construtos humanos. A natureza não se importa com elas e funciona por conta própria, independente de que explicação se dâ a seu funcionamento. Todas as grandezas e leis físicas são modelos descritivos da realidade, que poderiam ser completamente diferentes e tão bem a descreverem (como decerto deve ser a ciência de extra-terrestres, se houver algum).
Assim, se a natureza opera dialeticamente ou não, é algo que tem que ser respondido dentro de um modelo explicativo da realidade física e, por extensão, do resto da realidade, inclusive psíquica e social.
Pelo que posso depreender do modelamento descritivo da natureza nas diversas ciências, de fato, o modo de operação da natureza é dialético. Mas é precioso considerarmos as não linearidades e as multidimensionalidades.
Há também grandes equívocos no entendimento do conceito de energia, especialmente em temas ligados ao esoterismo. Energia é um atributo físico de sistemas (subconjuntos do Universo) que lhes confere a capacidade de agir, provocando alteração em seu próprio estado ou no de outros sistemas, com os quais interaja. O conceito é, muitas vezes, confundido com o de "disposição" ou "ânimo", que são estados mentais, certamente relacionados com a disponibilidade orgânica de energia, mas coisas distintas. O que confere energia ao organismo é apenas "alimento", nada mais. Ânimo pode ser conferido por uma conversa, uma visão, uma lembrança etc.
Além disto, energia é, às vezes, considerada uma entidade e não o é. Energia é uma propriedade de entidades, expressa, inclusive, por uma grandeza mensurável, mas não existe, substancialmente falando. Nada "é" energia, mas pode (ou não) "possuir" energia. Além do mais, a energia é uma grandeza relativística de calibre, isto é, seu valor depende do referencial em relação ao qual é medida e da escolha arbitrária de seu nível zero. Ou seja, pode ser negativa.
Certamente que os fenômenos psíquicos, originários que são do funcionamento neuronal e do meio circundante, envolvem consumo de energia (Apesar de representar apenas 2% da massa corporal, o cérebro consome 15% do sangue, 20% do oxigênio e 25% da glicose). No entanto não vejo que haja diferença no tipo de energia consumida para cada função psíquica (percepção, memória, emoção, raciocínio, controle motor, linguagem etc), seja de modo consciente ou inconsciente. É sempre energia química, proveniente dos alimentos.
Como já mencionei na postagem sobre fisicalismo, a explicação para a mente está no fato de ser uma "ocorrência" advinda da composição, estrutura e dinâmica do cérebro, cerebelo, bulbo, medula, nervos, glândulas endócrinas e todo o organismo.
A mente é uma ocorrência bio-eletro-química.
Note que não estou me referindo a um “epifenômeno” do cérebro, mas a uma outra categoria que depende do cérebro mas possui uma natureza não substancial (como seria a alma, cuja substancia não é física). Sua natureza é de ordem estrutural e dinâmica, isto é, trata-se de uma “ocorrência” advinda da complexa estrutura cerebral e de seu funcionamento. Fazendo uma comparação pobre é como uma “música”. A música não é a partitura, nem os instrumentos, mas o “acontecimento” dos instrumentos estarem executando a partitura. Só que este acontecimento só pode se dar se existirem os instrumentos e a partitura (mesmo que memorizada pelos músicos). Só que a mente é algo extremamente mais complexo.
Desta forma, não há como a mente subsistir sem o substrato físico-biológico que a suporta, a não ser que, antes que ele se perca, seu conteúdo seja transferido para outro substrato, de mesma natureza (um transplante de consciência entre cérebros) ou de outra natureza (um artefato robótico) que fosse capaz de assimilar tal conteúdo. Isto, em tese, é possível, mas ainda não há competência tecnológica para tal. De modo que, fora isto, a morte do organismo biológico significa também a cessação completa da consciência, de todas as memórias e do “eu”. Tal constatação leva atribuir à vida biológica e psíquica uma importância muito maior do que lhe atribuem as concepções espiritualistas que admitem a sobrevivência do “eu” ao organismo, seja na forma de um “espírito” ou outra qualquer, seja ou não transferido para novo organismo. A unicidade e finitude do “eu” lhe dá uma significância ímpar, pois cada um de nós só tem mesmo esta vida e acabou.
As pesquisas neurológicas sobre a consciência estão avançando. O fato de ainda não se ter a explicação cabal de como o organismo gera a consciência não significa que ela não exista.
Quanto ao epifenomenalismo, ele entende que os processos mentais “emergem” do funcionamento do cérebro mas não podem ser a eles reduzidos, pairando “acima” do comportamento físico, constituindo, pois, um “dualismo de propriedades”. Minha concepção do psiquismo como “ocorrência” é inteiramente redutível aos fenômenos físicos, constituindo-se, pois, em um “monismo fisicalista”, desde que entendamos o mundo físico (natural) como constituido não apenas de matéria, mas também de campos, estruturas, interações e comportamentos dinâmicos e que o reducionismo não seja concebido na forma de uma função linear mas que admita não linearidades e retro-alimentações (isto é, o todo é uma função das partes, mas não a “soma” das partes).
A consciência psíquica não depende da linguagem e a precede bastante no tempo tanto na evolução da espécie humana, quanto no crescimento do bebê e, mesmo, na evolução das espécies como um todo. Outras espécies também possuem consciência, além da humana. Humanos desprovidos de linguagem formal (surdo-mudos de nascença, criados sem terem sido alfabetizados de nenhuma forma) possuem consciência e inteligência tão normais como os outros. Certamente que a linguagem propicia uma ferramenta poderosíssima de raciocínio, mas não imprescindível. Sem linguagem é possível fazer escolhas e tomar-se decisões pensando-se apenas por meio de imagens sensoriais visuais, olfativas, táteis, motoras etc. As próprias imagens retidas na memória funcionam como os símbolos linguísticos representativos do que eles significam e é possível, inclusive, construir raciocínios condicionais, isto é, pensar hipoteticamente e planejar ações futuras. Isto é, raciocínio proativo e não apenas reativo. Isto ocorre também com alguns animais.
O pensamento trata-se de uma ocorrência que se dá na mente, como um sentimento, uma emoção, uma percepção, uma volição, uma evocação, uma memorização, um raciocínio etc. E mente nada mais é do que a entidade que consiste em um cérebro em funcionamento atual ou potencial. A mente não é o cérebro, mas não existe sem ele. É um acontecimento que se estabelece devido a seu funcionamento, que depende de sua constituição, estrutura e dinâmica. O pensamento é como uma música. Ela não existe sem que um instrumento (ou a voz) a produza, mas ela não é apenas o som, mas tudo o que a maneira com que esse som é gerado sequencialmente no tempo seja capaz de produzir, devido á variação da altura, da intensidade, do timbre, do ritmo, da melodia, da harmonia e de todas as demais características. Assim o pensamento é uma sequência de evocações de percepções, de associações, de sentimentos, e de tudo o que o funcionamento do cérebro pode produzir. Note-se que o pensamento pode mesmo ser inconsciente (consciência já pode ser o tema de outro tópico). Certamente para pensar a mente requer que o cérebro funcione e, portanto, consuma energia. Mas o pensamento não é energia, nem tampouco reações químicas. Não é matéria e nem espírito (que, aliás, não existe). Se o pensamento fosse substancial ele poderia ser extraído com uma seringa de um cérebro e injetado em outro, que passaria a pensar a mesma coisa. Pensamento pertence à categoria de realidades que denominam-se “ocorrências”. Isto é: pensamento é um processo que se dá na mente, um acontecimento, um evento. Para que tal evento ocorra é requerido o fornecimento de energia como, de resto, em todo processo orgânico. Mas esta energia é a fornecida pela metabolização do alimento que se ingere. Ela não provem de fonte externa ao organismo.
Tal ocorrência consiste em transmissões de sinais entre neurônios. Estes sinais caminham pelos dendritos e axônios como uma onda de inversão de polarização de suas membranas, em função da variação da concentração de íons de sódio, potássio e cálcio. A comunicação entre os dendritos e os axônios é feita pelos neurotransmissores, que estão disponíveis no meio glial, tratando-se, pois, de um transporte químico de moléculas. Tais assuntos podem ser vistos em qualquer tratado de anatomia e fisiologia neural. Não há nenhuma evidência experimentalmente testificada de que o pensamento possa, naturalmente, emanar da mente que o experimenta, propagar-se pelo espaço e ser captado por outra mente, lembrando que a mente é uma ocorrência do cérebro. A interpretação dos fatos havidos com os macacos lavadores de batatas como transmissão de pensamento é gratuíta.
Uma questão, contudo, é inteiramente pertinente: de onde vém o pensamento? Isto é, o que desencadeia a ocorrência de um pensamento na mente? Várias coisas. Em sua orígem, todo processamento mental provém das sensações que os órgãos dos sentidos levam ao cérebro. São os estímulos visuais, sonoros, térmicos, táteis, olfativos, gustativos bem como dos sentidos que percebem o equilíbrio, o posicionamento do corpo e o funcionamento dos órgãos internos que provocam as primeiras cadeias de transmissões de sinais neurais que se transformam em percepções, assim que interpretados. Em segundo lugar, o próprio cérebro, em seu funcionamento, evoca, por associação ou mesmo aleatoriamente, a percepção de imagens já registradas na memória. E as processa, produzindo novos resultados que passam a ser registrados. Esse fluxo de processamento neural é que é o pensamento. Ele pode se dar de modo consciente ou inconsciente, voluntário ou involuntário. Quando consciente, o “eu” (self) toma ciência da ocorrência. Nos sonhos e alucinações há uma emulação inconsciente da consciência, que, inclusive, pode acarretar respostas motoras (sudorese, micção e mesmo, locomoção, além do movimento dos olhos, característico do estágio REM do sono). Dependendo de seu modo de ser, o pensamento pode ser um raciocínio, uma emoção, um sentimento, uma decisão.
Em todos estes casos, o processamento mental desencadeia alterações somáticas (hormonais, vago-simpáticas ou outras), como excitação, taquicardia, sudorese, rubor, palidez, secura na boca, vaso constrição ou dilatação. Todas essas alteração são percebidas pela varredura dos sentidos e registradas na memória com parte da ocorrência, de modo que o processamento mental não é apenas cerebral, mas envolve todo o organismo.
De um modo geral o que se pode depreender é que os fatos da vida psíquica são decorrentes do funcionamento do organismo (especialmente o cerebro, mas não só) e se dão com o consumo de energia. Mas as peculiaridades de cada tipo de ocorrência não advém da modalidade de energia, mas da estrutura e dinâmica do processamento que se dá. E a complexidade é imensa. O cérebro funciona com processamento paralelo colossal, imensamente maior do que a mais vasta rede neural de computadores já montada. E o número de conexões entre os neurônios é da ordem de centenas de trilhões, mil vezes maior que o número de estrelas em uma galáxia ou de que o número de galáxias do Universo. De modo que o número de combinações possíveis de se montar uma estrutura de sinapses que signifique um dado pensamento é estupidamente maior (isto é, o somatório das possíveis combinações de todas essas conexões, desde apenas uma até todas elas - isto é maior que a fortuna do Tio Patinhas). Tal coisa é capaz de armazenar a memória de tudo o que se percebeu na vida, bem como elaborar todos os raciocínios, todos os sentimentos, todas as emoções, todos os desejos, todas as decisões, enfim, tudo o que puder ocorrer em uma mente ao longo da vida. Certamente que muito do que é formado é destruído, mas muito ainda permanece. Isto é o psiquismo!
Certamente que o psiquismo requer suprimento de energia, mas não apenas. Ele também responde a estímulos externos advindos do relacionamento da pessoa com o mundo, tanto natural, quanto social. Todos esses estímulos são mediados pelos órgãos sensoriais, único canal de contato do "eu" com o mundo (mas note-se que os sentidos não são apenas os cinco tradicionais, mas cerca de vinte). Não há nada de transmissão de pensamento ou coisa que o valha. E a recíproca, isto é, a estimulação de outros pela pessoa, se dá por seus orgãos da fala, sua musculatura esquelética, ou até pela exudação de odores. Todas essas trocas de mensagens intersubjetivas se fazem com o aporte de energia, mas não é a modalidade (sonora, térmica, mecânica (tátil), luminosa ou química), ou quantidade de energia que conterá a informação transmitida a ser assimilada pela mente de forma a produzir respostas imediatas ou mediatas em termos de conformação da personalidade e do carater, formação de lembranças, aquisição de habilidades etc.
O conteúdo da mensagem interpessoal ou transmitida pela coletividade ou o mundo natural está no seu "formato", que, considerando linguagem de um ponto de vista bem amplo, envolve denotação e conotação. Não apenas o significado estrito dos significantes trocados, mas também os aspectos afetivos envolvidos (novamente entendido de um modo amplo) formarão o conteúdo da mensagem absorvida. O que se transmite não está na "energia", mas no "aspecto" em que a mensagem, certamente portando energia, senão não passa, apresenta à mente. Em alguns casos é possível que a maior parte da mensagem esteja na energia, como ao se bronzear ao Sol, ou ao se levar um murro, mas são casos bem particulares.
Instintos, emoções, sentimentos, criatividade artística, volições e outros fatos da vida psíquica, do mesmo modo que memorização e lembrança, pensamento, raciocínio, inteligência, consciência, auto-consciência e também, fala, locomoção, digestão, respiração, circulação sanguínea, funcionamento endócrino, enfim, todas as ocorrência do organismo (dentre elas as mentais) se dão em decorrência do funcionamento do sistema nervoso controlador. Por mais sutil que possa parecer um sentimento de ternura que leve às lágrimas, ele é decorrente da físico-química do cérebro. Quanta complexidade é preciso considerar para que uma explicação possa ser dada de forma estritamente reducionista é muito mais do que qualquer rede neural hoje passível de concepção seja capaz de fazer. Imensamente maior. Mas não infinita e nem impossível de ser produzida artificialmente. Acontece que a humanidade é extremamente jovem neste planeta (menos de um milhão de anos) e a ciência existe apenas a um átimo no tempo geológico (o que não dizer do cosmológico). Pensemos no que poderá ter desenvolvido dentro de apenas algumas dezenas de milhares de anos, quanto mais quando a humanidade já tiver alguns milhões de anos. Tudo o que de mais avançado a ciência já produziu é uma infantilidade perante o que ainda virá. Não condenemos a ciência por ainda não ter explicações para a maior parte de tudo, porque ela está sempre a buscar, sem nunca supor que já encontrou. É assim mesmo e não esperemos demais em nossa curtíssima vida. Mas isto não justifica considerar que o reducionismo está equivocado, desde que visto da forma não linear que já mencionei. Assim ele abranje o holismo, que, na verdade, como é normalmente colocado, é uma capitulação perante a barreira de complexidade exigida para as explicações reducionistas. Mas eu confio que a "ciência dura" logrará escalar esta íngreme montanha, que é desbravar o conhecimento de modo estritamente científico. Inclusive, para mim, a própria Filosofia acabará por tornar-se científica.
A Ciência não tem (e nem tem a pretensão de ter) as explicações definitivas sobre todas as coisas. A cada passo em que algo consegue ser explicado, mais questões ainda surgem por esclarecer. Dizer que esse processo é infinito é temerário mas, certamente, sua extensão é imensa. Fico imaginando o futuro, não no próximo milênio, mas dentro de inúmeros milhões de anos, quando nossa espécie já poderá ter evoluído para várias outras que lhe seguirão, ou outras que surgirão de linhas evolutivas distintas e que poderão ser muito mais inteligentes. Esses seres ainda estarão buscando explicação para muita coisa. Um dos problemas que vejo com as explicações mitológicas e dogmáticas (religião e pseudo-ciências) é que elas têm a pretensão de serem definitivas. Isto é perigoso. É preciso ter a mente aberta para abandonar tudo o que se acredita face a evidências iquestionáveis. Assim é a ciência, que vejo como o único caminho para o conhecimento. A filosofia extrai suas proposições da reflexão sobre o mundo (exterior e interior) tal como é apreendido por nossa consciência a partir de nossas percepções sensoriais. É preciso entender que a compreensão que temos da realidade se constrói em cima dos conceitos que já assimilamos. Quando Ptolomeu concebeu o sistema geocêntrico ele absolutamente não era nenhum burro ignorante. Pelo contrário, poucos escolares que aceitam o sistema heliocentrico hoje seriam tão inteligentes. Mas ele não concebia o mundo de outra forma. O próprio Einstein ao dizer “Deus não joga com dados” revela seus preconceitos arraigados. É o sucesso da ciência em explicar (parcialmente) o mundo que nos permite aceitar que é preciso suplantar o “bom senso” e aceitar que tudo é possível. Até a reencarnação, se for o caso. Mas tem que ser provado por evidências ou, pelo menos, grande plausibilidade. Opinião e crença, só como hipótese provisória.
E o valor do conhecimento não está na sua utilidade prática, de modo nenhum.
Saber como se formou o Universo (minha área de estudos) não tem utilidade prática nenhuma.

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