sábado, 25 de setembro de 2010

olá...Te convidei para meu orkut ..e você aceitou..Obrigada! Agora me dê sua opinião: Existe lógica no mundo?

Se você se refere à natureza, veja esta resposta que já dei:
http://www.formspring.me/wolfedler/q/1187304018 .

Se você se refere ao mundo social e da cultura, este também não tem lógica. As ocorrências sociais são impulsionadas pelos desejos e pelas vontades das pessoas, que se focam na satisfação de suas pulsões mais primitivas de aplacar a fome fisiológica, de perpetuar a espécie e de se sentir objeto de admiração, estima, afeto e amor. Nisso se enquadra a vaidade e o desejo de poder, até mesmo de dominação. Assim, na busca da realização dos desejos, a pessoa articula influências e realiza feitos inconfessáveis. Nada disso é lógico, mas pode ser eficaz. Estendendo as ações individuais à sociedade como um todo, pode-se ver que o que move as massas não são considerações racionais e lógicas, mas os apetites coletivos, muitas vezes fomentados artificialmente por pessoas com uma capacidade excepcional de liderança, objetivando a consecução de suas metas pessoais de poder. Somente se liberta dessa cadeia quem persegue uma iluminação superior, que consiste na superação da vaidade e dos desejos de reconhecimento, admiração, afeto, poder e outros do tipo. Trata-se do filósofo, que busca a sabedoria. Para isto não é preciso se ter erudição e nenhuma formação acadêmica especial. Basta que a pessoa tenha uma inclinação para refletir e ponderar sobre tudo o que faz na vida. Cultivar tais atitudes deve ser o maior objetivo da educação, que, infelizmente, só se preocupa com a transmissão de informações e conhecimentos que caem no vestibular.

Professor, quais universidades oferecem a Astronomia como pós-graduação?

Como o Mal deveria ser punido então?

Pela privação da liberdade acompanhada de um serviço comunitário compulsório e um tanto quanto cansativo. A prisão não pode ser degradante, em termos de vivência humana, mas não pode ser confortável. Tem que ser incômoda e indesejável, para se caracterizar como uma punição, mas não humilhante, para não se caracterizar como vingança. O aspecto pedagógico estará no próprio serviço comunitário, em que o presidiário poderá concluir pela necessidade de que a sociedade seja solidária, cooperativa e compassiva para com todos, especialmente os menos afortunados, pois isto é que poderá levar a um mundo justo, harmônico e fraterno, em que as pessoas possam ser verdadeiramente felizes. É preciso fazer ver que o crime não compensa. As punições não podem ser muito leves e precisam ser aplicadas mesmo para adolescentes, de forma gradativa, em função da idade, da gravidade do ato, da reincidência e outros fatores a se estudar. A impunidade é uma porta aberta para a criminalidade, mas as penalidades desumanas, com se vê nos presídios brasileiros, incita mais ainda à criminalidade. O problema de se atacar de frente esta questão é que nossos legisladores e magistrados, muitos deles, deveriam estar cumprindo pena por sua atuação corrupta e criminosa.

porque o senhor está decepcionado com o PT?

Porque nos vendeu, nos tempos em que era oposição, a ilusão de ser um partido ético e comprometido com o bem do povo. Votei muitas vezes em seus candidatos por crer que assim o era. Ao assumir o poder, suas lideranças mostraram que são tão corruptas quanto as dos demais partidos. Não é possível que o presidente Lula não soubesse de tantas falcatruas. Deveria ter dado um basta logo no início e demitido a corja toda, sem possibilidade de retorno á vida pública, não pela lei, mas pela decência. Ele não fez nada disso. Pelo contrário, como o Ratzinger em relação aos padres pedófilos, ficou minorizando a situação. Muitos conhecidos meus, petistas ardorosos, ficam desculpando Lula ou dizendo que o mensalão foi uma calúnia. Mesmo levando em conta que a mídia é contra o PT, não é possível que tudo tenha sido inventado pela oposição sem que o PT não tenha feito uma ofensiva arrasadora para desmentir tudo. Quem cala consente. Tenho ideais esquerdistas, mas prefiro um direitista honesto do que um esquerdista corrupto. Nenhuma ideologia está acima da ética e os fins, de forma alguma, justificam os meios. Há coisas que o bandido faz que o mocinho não pode fazer.

"Leite é um alimento inadequado para mamíferos adultos". Boa parte dos nutricionistas defendem a abolição do consumo do leite. Mas se formos analisar todos os benefícios, o mesmo torna-se indispensável.Oq te leva a acreditar nesse argumento? Obrigada.

O leite não é indispensável de forma alguma. Todos os nutrientes que ele é capaz de fornecer podem ser encontrados em outros alimentos. Por outro lado a lecitina é muitas vezes um fator alergênico e as caseínas do leite são de difícil digestão. As proteínas séricas provocam microsangramentos intestinais e alergias. O leite de vaca, para bebês, pode provocar anemia, por seu baixo teor de ferro. Os aminoácidos sulfurados do leite acidificam o organismo que, para alcalinizar-se tira cálcio dos ossos em volume maior do que é reposto. Os hormônios de crescimento, do leite de vaca, destinados ao bezerro, provocam obesidade em adultos e propensão a vários tipos de câncer. A presença de hormônios sexuais antecipa a menarca em meninas. Também pode ser fator de desencadeamento de diabetes infantil e enfraquecimento imunológico. Em suma, os benefícios que o leite pode dar, em muito são suplantados por seus malefícios. Para um apanhado melhor do assunto e referências bibliográficas recomendo a leitura do artigo "Leite: alimento necessário ou mau hábito?" no numero 14 da revista "Vegetarianos", de novembro de 2007.
Outros alimentos cujo consumo deve ser evitado, bem reduzido, senão abolido são o açúcar, o sal, a farinha de trigo, o café e o ovo.

Einstein virou mesmo ateu?

Em relação ao tipo de divindade pessoal que as religiões abrahãmicas concebem, sim. Einstein reconhecia uma transcendência na própria ordem do Universo e, nesse sentido, seu Deus era como o de Espinosa. O fato de possuir um padrão de moralidade científica e social elevado (mas não pessoal, como sua vida familiar atesta) não se vincula a nenhuma prescrição religiosa, mas humanista.

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Quando um ser humano deixa de se ver como tal, assumindo uma anomia que o desconecta relativamente de sua identidade e de seu ego, o que o senhor acredita que possa ser feito como prevenção e solução desse problema, além da procura de ajuda médica?

Tais tipos de problema, isto é, de inadequação à vida, precisam ser atacados de três frentes: médica, psicológica e filosófica. A abordagem médica permite identificar distúrbios orgânicos, de ordem psíquica, que têm que ser tratados por medicamentos. Mas não só. Uma abordagem psicológica é importante para identificar a origem da anomia ou outra afecção psíquica. A conscientização do problema é um grande passo para sua solução. A abordagem filosófica faz ver à pessoa o modo correto de se encarar a vida, seu significado e a visão do mundo mais plena de sabedoria que se deve ter. Há uma quarta abordagem, que prefiro evitar, que é a religiosa. Nesta se faz ver à pessoa que ela deve conformar-se com sua vida por ser um desígnio de Deus e que, assim o fazendo, tem garantida sua salvação eterna. Isto é uma enganação, mesmo que possa surtir efeito. Não se pode mentir para a pessoa. Não há nada disso. A filosofia fornece consolação muito mais eficaz, sem mentira nenhuma. Suportar as vicissitudes da vida é algo que se precisa fazer porque o significado da vida é muito mais elevado do que a maior parte dos dissabores. A vida é um bem preciosíssimo e deve ser preservada e cultivada de forma a que tenhamos a consciência de que estamos dela fazendo uso em proveito do bem geral. Todavia, nos casos extremos, o recurso ao suicídio não deve ser descartado. Mas, veja bem: é um recurso extremo, que só deve ser tomado após se ter esgotado todas as demais possibilidades, como também no caso da eutanásia.

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O que tem a dizer da Lei do Talião?

Completamente desprovida de razão. Uma total incitação à desarmonia e à aniquilação da paz e da concórdia. Uma atitude egoísta e mesquinha, reveladora de um caráter malsão e uma índole vingativa e perversa. A promoção da boa convivência social, de forma justa, harmônica e fraterna, requer que o mal seja punido, mas não com a própria maldade. Punições e castigos têm que ser uma atitude educativa e não vingativa. Quem retalia o mal com o mal é tão malvado quanto quem o pratica. É preciso mostrar que o mal é prejudicial ao malvado de forma pedagógica, para que se emende e não para que volte a se vingar em uma sequência de retaliações interminável.

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O que acha da filosofia de Berkeley?

Um completo dispautério. Seu imaterialismo e a noção de que ser é ser percebido, para mim, não coadunam com a realidade. Apesar de, realmente, só termos conhecimento daquilo que percebemos, o consenso entre as percepções de várias pessoas nos permite inferir sobre a realidade do mundo objetivo, fora das mentes, que é a origem das percepções. O remendo que Berkeley fez ao considerar que a existência do mundo se deve à percepção de Deus não resolve. Considero que tudo o que a mente pode conceber tem origem na realidade exterior, que lhe precede, não havendo nenhuma espécie de "mundo das idéias", platônico.

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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Problema da quadratura do círculo: é impossível porque (pi) não é raiz de nenhum poilinômio (é o mesmo que saber a raiz quadrada de [pi]?). Eu estou entendendo?

Não ser raiz de nenhum polinômio de coeficientes racionais, que é o que caracteriza um número complexo como transcendente, como é o caso do número pi, não tem nada a ver com não se saber a sua raiz quadrada. A palavra "raiz" está sendo usada com dois significados distintos. Raiz de uma função é o valor de seu argumento que possui imagem igual a zero. Raiz quadrada, cúbica ou de qualquer índice é o número que elevado à potência do índice da raiz, fornece seu radicando. São conceitos distintos para a mesma palavra, em matemática (além dos significados botânico,odontológico e outros). O que se entende por quadrar uma figura é achar, por construção geométrica, usando só régua e compasso em um número finito de passos, um quadrado que possua a mesma área que ela, isto é, determinar o seu lado. Como a área de um quadrado vale o seu lado elevado a dois e como a área de um círculo vale pi vezes o seu raio elevado a dois, então o lado do quadrado de igual área do que um círculo vale o seu raio multiplicado pela raiz quadrada de pi. Este valor não é algébrico porque pí é transcendente. Não sendo raiz de nenhum polinômio, que é uma função com um número finito de termos e potências inteiras do argumento, multiplicadas por coeficientes racionais, não se pode obter este resultado em um número finito de construções com régua e compasso, sendo o problema, pois, insolúvel. Mas isto se deve a que raiz de pí seja transcendente e ela o é porque pi é transcendente. Raiz da raiz de dois, por exemplo, mesmo sendo irracional, não é transcendente.

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Digo, a natureza respeita a lógica?

Não. Lógica é um construto intelectual humano. Mesmo que tal construção seja feita de forma a apresentar aderência aos fenômenos naturais, isto não é sempre atendido, pois a realidade é muito mais complexa do que os modelamentos teóricos que dela são feitos. Assim, por exemplo, a lógica dicotômica clássica não é verificada por uma extensa gama de fenômenos. Mesmo lógicas policotômicas e difusas, bem como multidimendsionais e probabilísticas não conseguem atender a todas as possibilidades apresentadas pela realidade em seus inúmeros aspectos. A mecânica quântica e a teoria da relatividade, por exemplo, apresentam problemas na descrição do mundo do muito pequeno e do muito grande, bem com das altas velocidades e altas energias, cujas ocorrências parecem desafiar os mais bem elaborados modelos teóricos. Assim é o caso do fenômeno do emaranhamento quântico. Fenômenos sociais e econômicos complexos, que, do ponto de vista reducionista, são naturais, também resistem a enquadramentos teóricos, exatamente porque estes são lógicos. A psicologia, com todos os esforços para reduzí-la à neurologia, que considero que seja o caminho correto, ainda apresenta sérios problemas, tanto que é uma disciplina dominada por escolas conflitantes de pensamento.
De fato, não há imposição nenhuma para que a natureza deva obedecer à lógica. Pelo contrário, a lógica é que precisa ser estabelecida de forma a contemplar o comportamento da natureza, pois esta atua por sua conta, sem dar importância alguma para os esforços humanos em compreendê-la.

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A favor do aborto?

Acho que fazer um aborto deve ser a coisa mais triste que pode acontecer a uma mulher. É preciso que a sociedade acolha crianças indesejadas de modo a permitir que toda gravidez seja completada. Numa sociedade anarquista isto não seria problema nenhum, pois toda criança é filha de todo adulto, não existindo famílias. E o amor seria livre e compartilhado entre todas as pessoas.
Na estrutura atual da sociedade há situações em que levar avante uma gravidez pode ser pior. Então admito o aborto, desde que feito bem no início da gestação. Há que se estudar até quando e isto depende de se entender quando é que o feto se torna uma pessoa em virtude de seu desenvolvimento neurológico. É preferível aceitar-se legalmente esta possibilidade do que existir uma indústria clandestina de abortos extremamente perigosos para a vida das mulheres que o fazem.
Imputo esta problemática, isto é, haver casos em que alguma mulher seja colocada na situação de preferir o aborto, ao comportamento irresponsável de homens que satisfazem seu desejo sexual sem pensar nas consequências de seu ato. Para mim, gerar uma pessoa é algo de extrema responsabilidade, que não pode ser tratado levianamente como se fosse beber uma cerveja. Todo homem que se relacione sexualmente com uma mulher, em que circunstância for, tem que estar ciente de que daquela relação pode nascer uma criança e que esta criança é uma responsabilidade dele para o resto da vida. A lei precisa ser muito rigorosa nesse sentido, especialmente hoje, em que o exame de paternidade é praticamente determinante, sem erro. Isto fará com que os cuidados para que se evite uma gravidez indesejada sejam redobrados, o que também contribuirá para a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, especialmente a SIDA. Por outro lado, o estado teria que ter uma política de apoio a gestantes com gravidez indesejada, para permitir que ela seja levada a termo e a criança já adotada, ao nascer, por alguma família.
Em último caso, o aborto, desde que nos primórdios da gestação. Note que minha opinião não tem nenhuma relação com qualquer preceito religioso, mas apenas com o respeito pela vida, que é um privilégio preciosíssimo por sua extrema raridade no Universo.

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Professor, obrigado mesmo pelas respostas cristalinas. Queria tirar mais uma dúvida: é verdade que, se algo concreto como um foguete por exemplo, percorresse a velocidade da luz, ele todo se transformaria em energia pura?

Energia pura não é nada em que se possa transformar algo. Não existe "energia pura". Energia é um atributo de sistemas físicos, compostos por matéria, radiação ou campos. O sistema pode possuir ou não energia, mas nunca "é" energia. O que acontece é que seria requerida uma quantidade infinita de energia para acelerar qualquer sistema material até a velocidade da luz, logo isto nunca vai acontecer. A unica coisa que tem a velocidade da luz é a luz e as demais ondas eletromagnéticas, constituídas de fótons, que não têm massa. Aliás, eles só existem à velocidade da luz. Algo material que se aproximasse da velocidade da luz continuaria a ser exatamente como é, em relação a si mesmo. Em relação a um observador externo parado, ele se comprimiria cada vez mas na direção do movimento e o tempo observado a passar para ele seria cada vez menor, isto é, enquanto o observador vivesse, digamos um ano, seriam decorridos apenas horas ou minutos no objeto em movimento.

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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O que o senhor pensa sobre a obra de Johann Sebastian Bach?

Admirável! O supra-sumo da ordem e da lógica dentro da música, sem prejuízo de uma fantástica inspiração, de uma prodigiosa melodia e da mais rica harmonia. Dentro do estilo barroco, Bach é o cume, mas é um epígono. Em relação a toda a música clássica ocidental está no panteão dos gênios, ao lado de Beethoven, Mozart, Wagner e Brahms. Meu preferido, contudo é Brahms.

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Se pudesse mudar algo no mundo, o que mudaria?

Erradicaria o egoísmo, para mim, a fonte de todos os males.

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Qual é a maior diferença entre amor e paixão?

A paixão é avassaladora e envolve todo o ser, enquanto o amor é firme, mas sereno. A paixão é irracional e o amor, mesmo sendo um sentimento intenso, é lúcido. A paixão é egoísta e o amor é altruísta. A paixão quer possuir o ser amado e o amor o liberta. A paixão é uma doença, mesmo sendo algo extasiante. O amor é o maior bem que se pode possuir na vida: é fonte de felicidade, bem estar e saúde. É o que dá significado à vida. Quando a paixão nos acomete, temos que nos abandonar a ela, senão a vida perde o sentido. Para continuar a ter sentido é preciso que a paixão se transforme em amor, até que nova paixão sobrevenha. Mas novas paixões não sufocam antigos amores. A paixão é sempre unívoca, isto é, voltada para uma só pessoa, mas o amor pode ser plurívoco, isto é, pode-se amar a várias pessoas com a mesma intensidade, desejo e dedicação.

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Um trecho de música que descreva sua vida:

"Os prelúdios" de Franz Liszt

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Eu não gostaria de ser professora. Quero ser uma jornalista, sabe como é, escrever pra um jornal, formar opiniões, falar em público, gosto dessas coisas! mas dizem que nao é preciso diploma pra exercer o cargo de jornalismo. Isso é verdade?

Realmente, apesar do desejo em contrário dos jornalistas diplomados, a lei não exige diploma de jornalista para exercer a profissão. No meu entendimento, isto é correto e deveria ser aplicado a todas as profissões. Na verdade, o exercício de qualquer profissão de nível superior não deve ser restringido a quem possua o diploma, mas sim a quem prove sua capacidade, em um exame aplicado pelo organismo controlador do exercício da profissão. Para mim isto deveria valer até para médicos, engenheiros e advogados. Se você aprender tudo sozinho e passar no exame, que tem que ser extremamente rigoroso, então você tem que ter o direito de exercer tal profissão. É claro que o fato de ter feito o curso e obtido o diploma é algo que, sobremaneira, propicia o conhecimento e as habilidades necessárias. Mas é preciso ver que pessoas se formam nas mais diversas profissões tendo que comprovar o conhecimento de apenas 60% dos conteúdos considerados indispensáveis ao exercício profissional, que é a nota mínima de aprovação da maioria das universidades e faculdades. Já pensou que absurdo! Para mim a faculdade deve dar o conhecimento e o órgão controlador o direito do exercício, que poderá ser concedido sem o diploma a quem provar que sabe o conteúdo e domina as habilidades necessárias para tal exercício.

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O que o senhor pensa sobre os punks, que saem por aí vandalizando e agindo de forma libertina, se dizendo anarquistas?

O conceito de anarquismo que eles consideram é completamente equivocado. Anarquismo significa inexistência de governo e não desorganização nem desordem, muito menos libertinagem e davassidão, como muitos entendem. Pelo contrário, significa uma sociedade tão elevadamente civilizada que a ordem, a produtividade, a responsabilidade, a dedicação, a conduta exemplar, o entrosamento, tudo isso é algo a que todos aderem e seguem por iniciativa própria, sem necessidade de nenhuma forma de coação. Esta confusão é muito desfavorável ao movimento anarquista, por isso considero importante um esclarecimento popular sobre a temática, o que tenho procurado fazer. É o que também acontece com o conceito de epicurismo, que muitos entendem como a opção pelo gozo desenfreado dos prazeres e não é nada disso. A proposta de Epícuro é justamente de que a felicidade seja encontrada na moderação e na fruição da prática da virtude.
Tenho grande desprezo por pessoas cuja conduta seja, de qualquer forma, egoísta e prejudicial ao bem comum. Em tudo o que se faça há que se buscar a maximização da felicidade para o maior número de seres. Isto é o objetivo do anarquismo e do epicurismo. Uma sintese dialética do epicurismo com o estoicismo, no meu entender é a postura pessoal ideal.

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Por que decidiu ser anarquista? Como se deu o processo de mudança de pensamento?

Isto vem desde a infância. Meu pai e o pai dele tinham idéias anarquistas. Meu pai era professor de História e Geografia e me fez gostar muito dessas matérias, que sempre foram as que eu tirava as melhores notas, em geral, 100%. Também comecei a gostar de Filosofia desde garoto, com uns 11 anos. Daí fui concluindo, pelo que estudava, como seria bom um mundo anarquista e, desde então, adotei essa postura. Não me lembro de ter pensado de modo diferente. Meus pais eram extremamente libertários, assim como toda a família deles, em nada tradicionalistas, mesmo que tivessem um estilo até aristocrático, mas as idéias eram muito avançadas. Meu avô veio da Áustria para o Brasil para não ser condenado, talvez até à morte, por defender a libertação da Hungria e da Tchecoslováquia do Império Austríaco.

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Ei professor, tenho uma dúvida sobre qual curso prestar. Gosto de geopolítica filosofia e história, quero prestar vestibular em viçosa pra não ficar longe dos pais! pensei em comunicação social, mas não sei ao certo o que eu quero! pode me ajudar?

Em Viçosa não tem filosofia. Mas tem história, geografia e comunicação social. Se você tem pendores mais acadêmicos e quer ser professor e pesquisador, faça história ou geografia, pegando algumas disciplinas extras de economia. Já comunicação social é para quem quer uma profissão mais voltada para o mercado jornalístico comercial. As primeiras são mais teóricas e a última mais prática. Depende do seu gosto. Eu sou um teórico.

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Porque você resolveu ser físico?

Sou licenciado (UNIPAC) e especialista (UFV) em Matemática e mestre em Física (CBPF - Cosmologia). Na verdade, como não tenho doutorado, não posso dizer que sou físico, mas, apenas professor de Física. Lecionei por vinte anos no Ensino Médio e vinte anos no Ensino Superior, tendo dado quase vinte mil horas de aula (doze mil no médio e oito mil no superior). No Ensino Médio, fui professor da Escola Preparatória de Cadetes do Ar, da Escola Agrotécnica Federal e do Colégio de Aplicação da UNIPAC, em Barbacena, além do Colégio Anglo, em Viçosa, onde ainda trabalho como Vice-Diretor. No Ensino Superior fui professor da UNIPAC, onde estudei, em Barbacena, da Universidade Federal de São João del Rei, da Universidade Federal de Juiz de Fora e da Universidade Federal de Viçosa. Nesses estabelecimentos lecionei Matemática e Física para o Ensino Médio e Física Geral I, II, III e IV, Mecânica Clássica, Eletromagnetismo, Ótica, Termodinâmica, Física Quântica, Física Estatística, Relatividade Geral e Métodos Matemáticos da Física para os cursos de Física e engenharias, no Ensino Superior. Na Pós-Graduação lecionei Métodos Matemáticos da Física. Muitos me perguntam porque não fui ser engenheiro.

Na juventude considerei a possibilidade de ser engenheiro mecânico ou arquiteto, resolvendo, afinal, fazer Matemática, pois em Barbacena não tinha Física e meu pai não podia me sustentar em Belo Horizonte. A razão principal de minha escolha foi o caráter mais filosófico da Física, já que, desde cedo, eu passei a me interessar por Filosofia e por querer entender em profundidade como é o Universo.

Durante o tempo em que fui professor do Curso de Física da UFV (cuja comissão de implantação do bacharelado eu presidi), por oito vezes (jul/83, jul/84, dez/84, jan/86, dez/87, jan/88, jan/89 e out/89) fui o professor homenageado dos formandos e por cinco vezes (mas/90, abr/92, jan/94, fev/95 e dez/97) proferi a "Aula da Saudade" da turma de formandos. Em todas essas aulas eu discorri sobre o que é ser um físico e porque eu escolhi minha profissão. Quero agora apresentar tais considerações.

Como físico, a pessoa pode ser um bom ou até ótimo matemático, químico ou engenheiro, um bom filósofo ou biólogo, um bom escritor, músico, pintor e muitas outras coisas. Porém, dificilmente um filósofo, um biólogo, um escritor, um músico, um pintor ou o que seja será um bom físico. Talvez um matemático, um químico ou um engenheiro o possa ser, mas, de modo geral, o físico é que tem as condições mais abrangentes de conhecimento e habilidades para atuar em varios campos do saber. É o que consigo perceber e, por isso, tornei-me físico, pois nunca me contentei em dominar apenas algum aspecto restrito do saber. Esta polimatia e esta curiosidade avassaladora sempre foram minha marca registrada. Além do mais a Física é a mais fundamental de todas as ciências, a que trata dos aspectos mais profundos da natureza.

De acordo com a concepção reducionista da realidade, tudo é físico. Neste sentido a Química é a Física da camada de valência dos átomos, a Biologia é a Química dos organismos vivos, a Psicologia é a Biologia do sistema nervoso, a Sociologia é a Psicologia dos agrupamentos humanos e assim por diante. Isto é, tudo se reduz, no fim das contas a fenômenos físicos. É preciso, contudo, não se ter a visão simplificada de um reducionismo "linear" que diz que o todo é a "soma" das partes. O reducionismo, numa concepção mais abrangente, considera que o todo advém de suas partes não como uma simples soma, mas como uma função não linear que, além da soma, admite termos cruzados (produtos de contribuições), termos de ordem superior (potências de contribuições), além de retroalimentações (contribuições de resultados). Assim ele pode abarcar, inclusive, as concepções holistas, que consideram que os estratos mais elevados da realidade (psíquico e social, por exemplo) possuem características próprias não advindas dos estratos mais profundos (biológico e físico). A não linearidade permite reduzir todo estrato superior aos inferiores.

No aspecto filosófico, realmente, não é possível a alguém entender bem de Filosofia sem entender de Física, especialmente Física Quântica e Relatividade. Isto porque a realidade, em sua mais profunda concepção, é física e a Física é sempre quântica e relativista. Esta é a concepção naturalista ou fisicalista, que exclui da realidade qualquer entidade dita sobrenatural. Em resumo: só existe a natureza. Entender tal coisa requer um grande conhecimento dos mecanismos de funcionamento do mundo, que só a Física é capaz de fornecer. Bertrand Russell, grande fílósofo, estudou formalmente Matemática e Física, e não Filosofia, pois dizia que, como matemático, poderia ser um excelente filósofo, mas, como filósofo, jamais seria sequer um bom matemático. E ele ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Como se vê, era um polímata. Por isso é que estou escrevendo um livro que intitulei "Física para Filósofos" para que os filósofos sem formação em ciências exatas (o que considero lastimável, como também a falta de formação biológica) possam familiarizar-se com os conceitos e fatos da Física. O filósofo, por definição, tem que ser um polímata, pois filosofia é a ciência das ciências, além de abarcar todo o vasto campo de conhecimentos humanos. Filosofia, diferentemente do que se pensa, não pertence às "Ciências Humanas" mas transcende a todas.

Assim, o professor de Física precisa inculcar em seus alunos esse caráter unificador da Física e fazê-los ficar deslumbrados com a maravilha que é a natureza, tal qual descrita pela Física. É preciso lecionar Física filosofando. Isto é mais importante do que abordar as inúmeras aplicações práticas e tecnológicas da Física que, todavia, não devem ser esquecidas, apenas não priorizadas. Por isso é fundamental que o Ensino Médio veja, pelo menos, um semestre de Física Moderna, mesmo que não caia nos vestibulares, pois é esta Física, que se desenvolveu a partir de 1900, que contempla as explicações sobre a natureza da realidade. Além de ser o fundamento da moderna engenharia eletrônica, essencial para a informática e as telecomunicações. Ser professor de Física é, pois, uma das mais gratificantes atividades que se possa desenvolver, no sentido de levantar os véus da ignorância que obliteram a visão correta da estrutura do mundo para a grande parte das pessoas.

Além do ensino, as atividades de pesquisa e extensão, em Física, também são fonte de grande satisfação e motivo de imensa sensação de realização de vida. Fazer extensão em Física é, principalmente, fazer divulgação científica. É proferir palestras e redigir textos de divulgação de conhecimentos físicos em livros, revistas e na internet. É levar a toda a população as noções fundamentais da Física que lhe façam entender o significado do mundo, de uma forma inteiramente dissociada de qualquer participação de pretensas entidades sobrenaturais. É, pois, uma atividade libertadora, já que induz, necessariamente, ao livre-pensamento, ao ceticismo metodológico, ao questionamento das explicações religiosas. Uma vez que tal modo de operar mentalmente seja estabelecido nas pessoas, elas o aplicarão a todos os outros aspectos da vida, com resultados significativamente proveitosos. Assim a Física se torna em uma forma de mudar a "cosmovisão" das pessoas, com implicações até na ética, na política e nos relacionamentos pessoais. Posso dizer, com segurança, que todo o meu posicionamento ético a respeito de tudo na vida se fundamenta em minhas profundas convicções fisicalistas. A Física, como todas as ciências, de modo diverso do mundo dos negócios, por exemplo, sempre se pauta pela extrema honestidade de conduta, pois o maior valor que se busca é, exatamente, a verdade, e não a vantagem ou o lucro.

Finalmente quero aborda a atividade de pesquisador, que acabei abandonando logo após meu mestrado, por ter me enveredado na administração acadêmica, que, aliás, não foi tanto por gosto, mas porque me propiciaria condições melhores de prover minha família. Jamais, contudo, me afastei do magistério. Pesquisar em Física, descobrir os meandros mais profundos do comportamento da natureza é algo só comparável aos arroubos místicos ou ao prazer do artista em parir sua obra. Um cientista, especialmente um físico, é como um compositor, um poeta, um escultor. O que ele faz ao desvendar o Universo macro ou microscopicamente é uma obra de arte. Saber, ainda mais, que assim agindo torna-se um benfeitor da humanidade, lhe propicia uma gratificação maior ainda. Por isso sempre recomendei a todos os alunos do Curso de Física que fizessem licenciatura e bacharelado, para que pudessem, ao mesmo tempo, iniciarem-se na profissão de professor e prosseguirem no mestrado e no doutorado para serem cientistas. Pois é importante que todo cientista também seja um professor e, para um professor, didática e pedagogia são essenciais, qualquer que seja o nível.

Para concluir só quero dizer que um professor ou um cientista dificilmente ficará rico em sua atividade. Pode ganhar bem e viver confortavelmente, mas quem quiser ser rico que seja empresário, mas honesto, é claro. Políticos podem ficar ricos se não forem honestos, pois seus salários também não são de ricos. Médicos, engenheiros e advogados também podem enriquecer honestamente, mas nem todos o conseguirão. Os professores e cientistas que não se tornarem também empresários não enriquecerão. Todavia riqueza não é garantia de realização pessoal e felicidade, mesmo que possa possibilitá-las mais facilmente. Por mim, ter participado da formação de alguns milhares de jovens que foram meus alunos é uma realização inigualável. Como se pode ver em minha avaliação docente ( http://www.ruckert.pro.br/blog/?page_id=2379 ), posso me considerar um bom professor, mas não fiz fortuna alguma e só deixo de herança minha mensagem e meu exemplo ( http://www.ruckert.pro.br/blog/?p=131 ).

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E quando o relacionamento envolve dogmas de uma sociedade, como o preconceito sexual? (sobre a pergunta do amor escondido)

Se tais dogmas são contrários à felicidade e se o relacionamento não provoca mal nenhum aos envolvidos, então é preciso enfrentar os ditos "dogmas da sociedade", contrariando-os de modo firme e assertivo, fazendo que todos vejam como estão errados em atender a tais dogmas. Talvez isto traga inconvenientes sociais mas se não se enfrentá-los com altivez não se é digno de ser chamado de humano.

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Professor, eu preciso de uma dica sobre metodologia de pesquisa. Sou um leigo em cosmologia. Daí, vejo em um livro dizendo que foi provado pelo cálculo um fato X sobre o Cosmo. Como sou leigo, os cálculos são muito avançados pra mim. Como me certificarei?

Este é um grande problema. Entender de cosmologia requer bastante conhecimento de Física e Matemática. Por isso é uma pós-graduação da Física. Mas, mesmo tendo conhecimento em nível do Ensino Médio é possível entender pelos livros de divulgação que muitos cientistas escrevem. Recomendo os do Marcelo Gleiser, Stephen Hawking, Steven Weinberg, Simon Sing, Brian Greene. Na Wikipedia, em inglês, também é possível achar muita coisa. Veja o artigo:
http://en.wikipedia.org/wiki/Physical_cosmology
bem como os links nele mencionados.

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Você acredita que a natureza humana é capaz de se adaptar em um sistema socialista utópico? Ou realmente isso é uma ficção que inventaram e não se enquadra no perfil do homem médio?

Claro que pode! Todo homem tem condição de ser bom ou mal. Depende de como será educado. A sociedade tem que fazer com que ser bom seja melhor do que ser mau. Vou além do socialismo utópico: sou anarquista. E o anarquismo só poderá ocorrer em uma sociedade de pessoas virtuosas, sem preguiça nem cobiça. Isto é possível sim, mas ao longo de um tempo bem grande, da ordem de centenas de anos, desde que um trabalho educativo seja feito persistentemente nesse tempo todo. E que quem tenha esse ideal se disponha a lutar por ele, com o sacrifício de seus interesses pessoais, com desprendimento, com paciência e com perseverança, sabendo que o fruto desse trabalho só será colhido dentro de dezenas de gerações.

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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

E quando o relacionamento envolve dogmas de uma sociedade, como o preconceito sexual? (sobre a pergunta do amor escondido)

Se tais dogmas são contrários à felicidade e se o relacionamento não provoca mal nenhum aos envolvidos, então é preciso enfrentar os ditos "dogmas da sociedade", contrariando-os de modo firme e assertivo, fazendo que todos vejam como estão errados em atender a tais dogmas. Talvez isto traga inconvenientes sociais mas se não se enfrentá-los com altivez não se é digno de ser chamado de humano.

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Quem é você? de verdade?

Você pode saber que sou eu aqui:
http://www.ruckert.pro.br/blog/?page_id=2832 ;
http://www.ruckert.pro.br/blog/?page_id=2454 ;
http://www.ruckert.pro.br/blog/?page_id=2379 ;
http://www.ruckert.pro.br/blog/?page_id=125 ;
http://www.ruckert.pro.br/blog/?page_id=6 .
Para me encontrar em vários lugares da internet veja:
http://www.ruckert.pro.br/ .

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Willian Lane Craig diz que os ateus apresentam argumentos contra a existência de Deus mas não apresentam boas evidências pra se adotar a posição ateísta. O que acha?

Craig está inteiramente enganado. Ao atacar a fé, qualquer fé, não só a cristã, o ateista propõe algo muito melhor para substituí-la: a razão. Só a razão, assessorada pela dúvida metódica e pela investigação empírica, é capaz de alcançar a verdade, jamais a fé. A fé não pode ser critério de verdade nenhuma, pois existem fés sinceras em coisas inteiramente distintas que, certamente, não podem ser todas verdadeiras, pois a verdade é única. É preciso, pois, um critério extrínseco à fé para decidir qual a verdadeira, ou se nenhuma o é. Ora, então porque não adotar logo este critério e deixar de lado toda e qualquer fé? Só isto já é um excelente motivo para abandonar qualquer fé. Além disso, não há nenhuma evidência ou comprovação de que exista algo a que se possa chamar Deus, segundo o conceito que se tem de tal tipo de entidade. Isto não significa que não exista, mas mostra que não se deve supor que exista, até se ter alguma prova de que exista, já que não é evidente. O ônus da prova está em provar a existência e não a inexistência, justamente pela falta de evidência da existência. Não é preciso evidência da inexistência se não há evidência da existência, nem é preciso provar a inexistência. Os indícios da inexistência, porém, são enormes. Se o conceito de Deus inclui o fato de ser onipotente, onisciente, onipresente e onibondoso, então como explicar a existência do mal? Só se ele não for onibondoso ou não for onipotente. Mas neste caso, seria Deus?
Se Deus é um ser perfeitíssimo, porque criou um Universo tão cheio de imperfeições, como doenças, por exemplo? Só se for um incompetente. Mas, então, seria Deus? Se é onisciente, porque não atende as orações das próprias pessoas que crêem nele? A fração de orações que são atendidas é tão ridícula que é inteiramente indistinguível das ocorrências aleatórias. Não há como considerar que algum Deus vele pelo bem das pessoas. Desgraças acometem a qualquer um, seja justo ou injusto, bondoso ou malvado.

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Você acredita que vale a pena viver um amor escondido?

Escondido? Não acho que vale a pena. Porque não ser aberto para todo mundo saber? Acho que, quando se ama alguém, o bom é que isto seja divulgado e todo mundo saiba. Se você tem um companheiro(a), namorado(a), esposo(a), amante ou o que seja e se apaixona por outro(a), no meu entender não se pode manter o romance em segredo. É preciso que se diga isto para o(a) companheiro(a), porque enganar alguém é algo vil e torpe, não se podendo admitir de forma alguma. Então há duas possibilidades: ou ele(a) admite ter o seu amor compartilhado com outro(a) e vocês vivem um "menage a trois" inteiramente consentido por todos os envolvidos ou vocês interrompem o relacionamento e você fica só com o novo. Se você não quer isto, então renuncie ao novo. Se você acha que, só de contar o caso, seu companheiro(a) romperá com você e você não quer que isto aconteça, não conte e não vá adiante com essa paixão. Para mim, contudo, não há problema nenhum em se manter relacionamentos plurívocos, todos envolvendo amor sincero e intenso, com relacionamento carnal e todos os demais compromissos que isto envolve, como dedicação, companheirismo, amizade, cuidado recíproco e apoio emocional, doméstico e financeiro. É claro que você tem que admitir que seu(ua) companheiro(a) também possa viver outros relacionamentos em paralelo. Isto deveria ser permitido pela legislação com todas as implicações legais envolvidas nos relacionamentos monogâmicos entre pessoas de sexos opostos ou do mesmo. Isto é uma extensão do conceito de família para uma célula bem mais ampla e flexível, não perdendo as características de núcleo social responsável pela manutenção das necessidades cotidianas da vida e pelo apoio recíproco de seus membros. Assim é que considero que devam ser as células de uma sociedade inteiramente anarquista, como almejo que a humanidade venha a se tornar.

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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Qual é a coisa mais generosa que você já fez?

Vendi tudo o que tinha e dei o dinheiro para a família. Hoje não tenho nada em meu nome e vivo só do salário do mês, que, aliás, nem dá para as despesas. Em minha vida toda sempre gastei todo o meu dinheiro com a família e nunca fiz poupança nenhuma. A unica coisa em que gastei meu dinheiro, além de comida, foi em minha biblioteca, que doarei ao povo. Nada deixo de herança em termos materiais. A este respeito, escrevi este poema:

Minha Herança

Às vezes quedo absorto,
olhando longe o vazio,
pensando a vida passada,
lembrando os anos vividos.

Será que foi proveitosa?
Será que deixo saudade?
Será que parto sem mágoa?
Será que fui bem amado?

À minha posteridade,
filhos da carne e da lousa
e aos por amor adotados,
quero passar minha herança.

Na vida não fiz fortuna
nem deixo bens de valor,
nada que valha dinheiro,
nada que seja poupança.

Mas deixo meu horizonte.
A vista descortinada,
do mundo belo e fraterno,
dos homens em harmonia.

Deixo a fé no trabalho,
orgulho da coisa bem feita.
Deixo a honra e a modéstia
de ter sido verdadeiro.

E a luta cotidiana,
contra toda hipocrisia,
A peleja altaneira
prá acabar a vilania.

E a ternura escondida
pela gente mais sofrida.
A raiva bem merecida,
da soberba presunçosa.

Derrotas acachapantes
frente ao vil e prepotente,
são folhas edificantes
de uma vida merecida.

Mas algo passo adiante
a toda a posteridade:
A flama da esperança
na tocha da humanidade.

Levem adiante sem medo
prá que essa luz poderosa
do bem, saber e justiça,
alto vá resplandecer.

E as trevas da ignorância,
os freios da iniquidade
e a peste da malqueirança
não mais poder hão de ter.

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"O Universo não surgiu do nada e sim surgiu sem que tivesse do que ser proveniente, o que é outra coisa" ,está é uma colocação sua,não discordo,até por que não a entendi bem.Expressei-me mal na pergunta anterior.Na realidade,gostaria de entender como pode

Sua frase não está completa mas penso que você quer saber como pode algo surgir sem provir de algo precedente. Não se sabe como, mas se não se admitir isto não há como explicar a origem de tudo. Se se disser que foi por obra de Deus, isto não é explicação, pois então se teria que dizer de que modo Deus fez surgir tudo, sem que houvesse nada antes. Com Deus ou sem Deus o conteúdo do Universo apareceu sem provir de conteúdo nenhum que lhe precedesse. Se houvesse um conteúdo anterior, então já haveria Universo e seria preciso explicar o surgimento desse conteúdo anterior. Uma alternativa é considerar que tudo sempre existiu. Não há nenhum impedimento lógico nem ontológico para tal. O fato de ter havido um surgimento é inferido a partir de uma extrapolação para o passado da expansão cósmica observada. Há teorias que consideram que o conteúdo que iniciou a expansão proveio da contração final de um conteúdo prévio, de forma que o Universo se expandiria e contrairia em ciclos. Como os dados observacionais indicam que o Universo se expandirá indefinidamente, não é de se supor que hajam ciclos e, portanto, a expansão começou no big bang e não tinha nada antes (nem "antes").
Explicando de novo a diferença entre "surgir do nada" e "surgir sem ter do que provir". No primeiro caso, admite-se que exista algo, o "nada", uma entidade sem conteúdo, nem tempo nem espaço, da qual tudo teria provido. No segundo caso não se considera a existência de entidade nenhuma, nem algum "nada" e, então, o que existe surgiu sem provir de coisa alguma. Não é possivel existir algo que não tenha conteúdo nem espaço nem tempo e, se existisse, disso não se poderia provir coisa alguma, pois provir é uma transformação. O surgimento do Universo não é uma transformação, nem de nada em algo. Transformações supõe a existência de uma situação anterior e uma posterior. Antes que existisse tempo não haviam situações e nem algum momento que possa ser chamado de "anterior".

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O que faz alguém ser bom em matemática?

Normalmente uma grande fascinação por ela. Quem acha matemática uma "boa temática" e adora cálculos, raciocínio lógico, figuras geométricas e todos os assuntos que são tratados pela matemática, normalmente se dedicará com prazer ao seu estudo e ficará afiado nisso. A primeira condição para ser competente em qualquer assunto é gostar dele, mas gostar prá valer. Isto significa, em matemática, que a pessoa estuda muito além do que é exigido na escola e tira um grande prazer em ficar resolvendo problemas matemáticos, ao invés de fazer outra coisa, como ver televisão ou jogar futebol, por exemplo. Gostando se acha fácil e tudo vira um círculo vicioso: acha fácil porque gosta e gosta porque acha fácil, que nem tostines. Mas isto tem que vir desde a mais tenra infância. É difícil começar a gostar de matemática se não se gostou desde criança. É nos primeiros anos do fundamental que se define esse gosto. Talvez seja uma propensão nata, como para música. O fato é que quem acha matemática fácil e fica bom mesmo nela, adora matemática. Quem sente dificuldade não gosta e quem não gosta não consegue ficar bom.

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Professor Ruckert, sobre a inexistência do éter: o que difere o conceito do éter com o dito conceito da "matéria escura" do Cosmo?

Matéria escura é matéria que não emite luz. O espaço é preenchido por gás, poeira, planetas, asteróides, buracos negros, anãs marrons, anãs negras, estrelas de nêutrons e outros objetos invisíveis. Ao que parece, contudo, a maior parte da matéria escura é composta de partículas subatômicas exóticas, como axions e neutralinos, além de neutrinos e prótons e elétrons livres. Cerca de 23% do conteúdo de matéria-energia do Universo é matéria escura, 5% é matéria luminosa e 72% é a dita "energia-escura", cujo nome não é apropriado, já que energia não é uma entidade e sim um atributo de entidades. Trata-se de algum campo que promove uma espécie de repulsão, responsável pela aceleração da expansão do Universo, em sentido oposto à gravitação, que a desaceleraria. Tanto uma quanto a outra não têm nada a ver com "eter", pois este, se houvesse, seria um meio sutil, não massivo e nem energético. Eter, simplesmente, não existe.

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Professor Ruckert, eu procuro um dia estudar etnoastronomia e arqueoastronomia, se puder. O que devo fazer? Procurar pela física/astronomia ou pela antropologia? Exatas ou humanas? Ou ambas?

Você deve fazer Astronomia, que é uma pós-graduação da Física. Mas precisa também estudar Biologia, especialmente Evolução e Paleontologia, Pré-História e Arqueologia. Não precisa fazer todos os cursos, mas sim disciplinas avulsas. Para tal precisa se matricular em uma Universidade que tenha tudo isso. Recomendo a USP de São Paulo. Veja no IAG, como fazer astronomia e como cursar essas disciplinas de outros cursos. Vai demorar mais tempo, mas vale a pena.

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Você confia na Wikipédia?

Sim, especialmente em inglês e quando os artigos possuem uma extensa lista de referências, que eu sempre confiro. Além de trazer hiperlinks cruzados para conceitos correlatos, de modo que se pode fazer um cotejo, os artigos em inglês costuma ser umas vinte vezes mais extensos que em português. Para assegurar um melhor entendimento costumo consultar o tópico em português, inglês, francês, espanhol e italiano, que sou capaz de ler. Já montei várias apostilas de artigos correlatos sobre certos temas, que me dão um verdadeiro compêndio sobre o assunto. Por exemplo, montei apostilas com base na Wikipedia sobre neurociências, interpretações da mecânica quântica, cosmologia, eclipses, música clássica (vários volumes), epistemologia, lógica, metafísica, ateísmo, história da arte, teoria da evolução e muitos outros temas do meu interesse.

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E quando nós encontramos um presidiário que de dentro da sua cela diz que não tem mais ninguém no mundo, apenas Jesus? Nesse caso a religião não seria um recurso saudável e insubstituível que ajuda a superar os problemas, apesar de não ser verdadeira?

De jeito nenhum. A espiritualidade filosófica é um recurso imensamente melhor para consolar do que qualquer religião. Nem Jesus, nem Maomé, nem Buda, nem Krishna, nem Allan Kardec, por suas mensagens relativas a qualquer realidade sobrenatural, podem dar à pessoa o consolo que a meditação puramente filosófica é capaz. Para se valer disto a pessoa tem que possuir uma boa bagagem filosófica e isto deveria ser objeto de um aprendizado amplo e profundo na escola, num nível de prioridade superior ao do conhecimento científico e humanista em geral. Porque a filosofia é a mestra da vida, é a disciplina que se debruça sobre a realidade para refletir sobre ela e tirar lições de vida e sabedoria. Dentre essas está a superação dos infortúnios, a sombranceria perante a miséria, a doença, a desgraça e, até, a morte. Assimilando as lições dos grandes filósofos, até mesmo dos líderes religiosos, considerados como filósofos e não como representandes de divindade nenhuma, a pessoa pode colocar-se num estado espiritual de desapego aos valores mundanos e amor à virtude que lhe dá a certeza de seu valor intrínseco e o conforto de sempre estar do lado do bem e da verdade, pelo que nada teme, sequer o sofrimento. Não é preciso se valer de nenhuma crença na sobrevivência de alguma pretensa alma imortal, nem da esperança de uma eterna bemaventurança paradisíaca. A vida bem vivida é galardão bastante e suficiente para a glória e a paz interior de uma pessoa virtuosa. É interessante conhecer a mensagem de Epicteto, Sêneca, Marco Aurélio, Lao Tzu, Sócrates, Buda, Jesus (o homem), Kabir, Hakim Sanai, Comte-Sponville e outros sábios espiritualistas. Mas é preciso entender que espiritualidade não tem nada a ver com a existência de espíritos como entidades sutis sobrenaturais. Considero que espiritualidade é um conceito desvinculado de crenças e religiões. Trata-se de um conceito filosófico, entendido como atitude de vida. É aquela atitude de se priorizar os valores mais elevados e nobres da humanidade, como bondade, solidariedade, cordialidade, gentileza, altruísmo, compaixão, abnegação, diligência, nobreza de caráter, justiça, honestidade, lealdade, sinceridade, coragem e bravura na defesa do bem, da virtude e de todos os valores mencionados, bem como a beleza, o conhecimento, a prudência, a sabedoria e tudo que seja edificante, enlevante e capaz de fomentar a paz, a harmonia, a alegria e a felicidade de todos os seres. Trata-se de uma disposição de viver virtuosamente e em prol do outro, da coletividade, da humanidade e de toda a natureza, despido de todo e qualquer egoísmo, orgulho, soberba, inveja, avareza, maledicência, vaidade, ambição, mesquinhez, desonestidade, prepotência, enfim, de todos os vícios. É um desejo de fazer prevalecer o bem, a virtude, o conhecimento e a sabedoria sobre o mal, a ignorância e o vício.
Isto é independente de qualquer crença em Deus e na existência de espíritos e de uma alma imortal, como bem mostra o filósofo André Comte-Sponville.

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Boa noite, professor Ruckert. Posso tirar uma dúvida com o sr.? Os cosmólogos já chegaram num consenso do que é a luz? E o éter, o que seria no sentido científico?

Claro que se sabe o que é luz, mas isto não é assunto da cosmologia e sim da física. Luz é uma onda eletromagnética dentro de uma faixa de comprimentos de onda entre 380 e 780 nanômetros, perceptíveis pelo olho humano. A luz, como todas as ondas eletromagnéticas, é quantizada em fótons, que são "pacotes de onda", sem massa, mas com energia e momentum, além de spin. O fóton é a sua própria anti-partícula, o que lhe coloca em posição privilegiada. Fótons, como todos os bósons, podem ser criados e aniquilados à vontade, não possuindo conservação de número. Sistemas físicos ao saltarem entre seus níveis de energia relacionados com a interação eletromagnética, o fazem com a emissão e absorção de fótons. Da mesma forma a aniquilação de uma partícula com sua antipartícula se dá com a emissão de fótons. Os fótons da radiação de fundo do Universo, na faixa de microondas, provieram da aniquilação da matéria com a antimatéria, existindo na razão de um bilhão deles para cada bárion de matéria que sobrou dessa aniquilação. O éter, meio proposto para ser o propagador da luz, na verdade não existe. A luz e todas as ondas eletromagnéticas (raios cósmicos, raios gama, raios X, ultravioleta, infravermelho, microondas e ondas de rádio) se propagam no vácuo, sem necessidade de meio de propagação. Os próprios campos elétricos e magnéticos oscilantes se autopropelem. A luz só existe propagando-se com a velocidade da luz, que é a mesma para qualquer referencial. Veja este artigo:
http://en.wikipedia.org/wiki/Light .

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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Em quem você votará para presidente da república?

Votarei na Marina Silva para presidente, apesar dela ser crente e criacionista. Meu receio está em que assuntos que atinjam seu credo religioso possam influenciar suas decisões: pesquisa científica, posicionamentos que esbarrem na ética dita cristã, como células-tronco, pesquisas genéticas e doações de órgãos, por exemplo. Este é o senão que vejo nela. De qualquer modo, prefiro um crente honesto do que um ateu que não o seja. Para mim, Dilma e Serra não são confiáveis pelos compromissos assumidos com quem os apoiam e, mesmo, pelo que vejo de sua conduta política. É claro que podem até ser competentes, mas isto é uma segunda condição. A primeira, inescapável, é a honestidade e o compromisso com um governo fundamentalmente ético, antes de tudo. Quanto aos tópicos que mencionei, isto é mais da alçada do legislativo, apesar de poder haver o veto presidencial, que, inclusive, pode ser derrubado. Mas, nos outros aspectos, o programa da Marina é muito melhor e, o que é mais importante, Marina inspira a confiança de que, de fato, o cumprirá. Sinceramente, já votei no Lula e no PT em muitas eleições, mas estou inteiramente decepcionado com esse partido. O mesmo se dá com o PSDB. Aquele idealismo do tempo do MDB esvaiu-se completamente. E coisa que eu abomino é pragmatismo. Marina não é o presidente ideal, mas é preferível, especialmente porque também é mulher, mestiça de negra e de origem pobre. Mas não é ignorante como o Lula. É claro que um homem branco e rico poderia ser um bom presidente. Depende de sua ideologia e conduta. No contexto desta eleição, voto em Marina. Jamais faço uso do “voto útil”.

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Professor, o que acha da criogenia? Vale a pena gastar dinheiro com isso quando morrer? O senhor acha que a ciência conseguirá reanimar tecidos humanos mortos conservados no futuro? Acha que seria bom viver de novo?

Certamente que seria bom viver de novo, ou viver indefinidamente, pois assim se teria tempo para aprender muita coisa e conhecer mais ainda. É claro, só se for com saúde. Não posso dizer se será possível, no futuro, reviver as pessoas que foram congeladas, mas acho que há possiblidade, sem garantia. No entanto, não considero válido o investimento financeiro neste projeto para alguns privilegiados. Se se está fazendo um experimento, que se arregimentem cobaias, sem cobrar nada. Eu me candidataria.

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"O Universo não surgiu do nada e sim surgiu sem que tivesse do que ser proveniente, o que é outra coisa" ,poderia explicar como isso é possivel,ou mesmo faz sentido.

É claro que é possível, pois ele está aí e não existe desde sempre,ao que se pode concluir das observações (mas não do argumento Kalam). Até mesmo as cosmogonias que atribuem a Deus a criação do Universo consideram que ele criou tudo o que existe sem ter do que extrair tal conteúdo. Como isto ocorreu, não se sabe e talvez nunca se saiba. Mas isto não significa que, por não se saber, se conclua que tenha sido obra de Deus. Que faz sentido é claro que sim. Não faria se o surgimento do Universo estivesse coberto pelas leis de conservação que vigoram atualmente. Mas estas leis também surgiram com o Universo e, se o surgimento tivesse se dado de outra forma, poderiam ser outras. O Universo não "obedece" as leis da natureza. Pelo contrário, elas "descrevem" o comportamento do Universo. Não havendo Universo, não há lei a descrever seu comportamento. Assim nada impede que surja tudo sem que seja proveniente de nada. Aliás, o surgimento de tudo sem provir de nada é a unica coisa que faz sentido a respeito do início do Universo.

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O modo como se ensina a ciência, desestimula os jovens a aprender?

Nos anos iniciais do Ensino Fundamental não. Alí o ensino é estimulante e desperta a curiosidade e o desejo de saber. Ao passar para os anos finais e para o Ensino Médio, o deslumbramento científico começa a se dissolver. A razão é que se passa a estudar para tirar nota e para passar no vestibular e não para saber. Quando lecionei na Escola Preparatória da Aeronáutica, de 1968 a 1975, em Barbacena, o ensino médio visava a aquisição de conhecimentos e habilidades importantes para a vida, sem preocupação com o que caísse ou não no vestibular. Então conseguíamos despertar o gosto pelo conhecimento e o prazer em descobrir como o mundo funciona nos laboratórios a que se dedicavam duas aulas toda semana. E todo mundo trabalhava diretamente com os equipamentos, em kits para cada dois alunos. Além disso tínhamos a bateria completa de filmes do PSSC, que, mesmo rodados na década de 50, em celulóide de 16mm e preto e branco, eram magníficos.

Realmente esse ensino massacrante de macetes para o vestibular e a insistência em tópicos meramente tecnicistas, para que rendam muitas questões, não leva à compreensão do âmago da natureza e da sociedade que as ciências e as humanidades devem conceder ao egresso do Ensino Básico. Não se deve pensar em encaminhar o estudante para as áreas de exatas, biológicas ou humanas nesse nível. É preciso dar uma visão ampla, global, abrangente de todo o cabedal do conhecimento humano, para fazer uma pessoa culta e apta a compreender o mundo natural e social em que se insere, independentemente da área profissional a que vá se dedicar. Um advogado tem que saber matemática e física, um médico, história e geografia, um engenheiro, biologia e literatura, no nível do Ensino Médio, naturalmente. O vestibular não é para ver se alguém é apto para esta ou aquela área, mas se domina a totalidade dos conteúdos e habilidades previstas para o nível médio.

Especialmente nas ciências naturais, é preciso que o estudante ponha a mão na massa e faça trabalhos experimentais, pesquisas de campo, estudos "in loco" do que se esteja abordando. Que redescubra, nos experimentos, as leis que descrevem o comportamento físico, químico, geológico e biológico da natureza. Que seja capaz de induzí-las e deduzir seus corolários. Que saiba expressar em equações, gráficos, imagens e textos o que aprendeu, comunicando de modo que outros possam assimilar o conhecimento pelo que está dito. Aprender ensinando é o melhor método. Que cada tema a ser abordado o seja em um projeto completo, envolvendo grupos de alunos e professores de múltiplas disciplinas em trabalho conjunto de gestação e parto do conhecimento e na aquisição de habilidades que os apliquem na solução de problemas reais.

Isto também deve ser feito nas ciências humanas e nas disciplinas não científicas, muito especialmente na Filosofia, que não pode ser descurada por ser a que unifica todo o saber e lhe confere perspectiva e sentido. Outras habilidades precisam ser desenvolvidas de forma, até mesmo, lúdica, como o domínio de idiomas estrangeiros, das técnicas de informática e, até mesmo, de eletrotécnica, mecânica, marcenaria, eletrônica, culinária, corte e costura, música, artes plásticas, dança, teatro. Tudo isso em um regime de estudos integrados, em tempo integral.

Infelizmente estamos longe desse ideal. Mas algo pode ser feito e depende, principalmente, da disposição dos professores em abraçar um tipo assim de projeto e arcar com todos os esforços para concretizá-lo, dando muito murro em ponta de faca, caçando muita sarna para se coçar e inventando muita moda para se cansar.

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Professor, mas a massa e energia do universo não pode ser infinita, pois ambas surgiram, de um estado inicial com densidade finita! De onde que o Cosmo vai tirar matéria pra preencher sua infinitude?

Claro que pode! O fato de que o estado inicial tenha densidade finita não diz nada sobre a massa total, que será infinita se a extensão do espaço for infinita. Quanto à questão sobre de onde vem a massa e a energia, ela não tem resposta, nem se a massa e energia forem finitas. Não vem de nada! Isto é que é o surgimento do Universo. Antes não há coisa alguma e, de repente, há tudo, pois desde que o Universo surgiu seu conteúdo completo já existe integralmente e continua a ser o mesmo. Mas na passagem da inexistência para a existência não há conservação de coisa alguma: nem massa, nem energia, nem carga, nem spin, nem número bariônico, nem número leptônico ou qualquer grandeza descritiva que atualmente seja conservada. Estas conservações só se dão uma vez que exista algo. Não existindo não há conservação de grandeza nenhuma.

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Ernesto, não concordo com a base informacional que vc utilizou na pergunta a respeito da bi-sexualidade.. Por que então em sociedades como a Grécia antiga, a maioria da população praticava esta forma de relacionamento? Não seria por causa da cultura deles

Os dados que indiquei estão disponíveis na internet para todos e têm por base pesquisas realizadas por sexólogos. Certamente que o fato de se viver em uma sociedade em que o desvio da heterossexualidade não é tido como aceitável, influencia a pessoa a não assumir uma condição assim, prejudicando a pesquisa. No entanto, não se tem outros dados disponíveis. Outras culturas, especialmente dos aborígenes polinésios, em que a sexualidade não é reprimida nem regulamentada, não apresentam níveis elevados de bissexualidade.

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Ernesto, você acha possível que a força do pensamento positivo é capaz de transformar nosso mundo fenômeno para melhor?

Se por "força do pensamento positivo" está se falando de alguma influência paranormal do pensamento sobre os acontecimentos, certamente que não, pois isto não existe. Por outro lado, se muitas pessoas passarem a conceber o mundo de um modo não competitivo, mas cooperativo, não egoísta, mas altruísta, não ganancioso mas desprendido, então passarão a agir em confomidade com seu pensamento e a convencer outros a pensarem do mesmo modo e, então, transformarão o mundo.

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domingo, 19 de setembro de 2010

Quando o combustível das estrelas acabar, não haverá luz. Um universo de tamanho infinito sem nenhuma luz. O infinito de escuridão. Se meu ateísmo acabar por me levar ao inferno, imagino que seja algo assim.

Toda a luz já emitida continuará a pervadir o Universo, cada vez em menores frequências, mas não se extinguirá. Para cada bárion de matéria no Universo, existem um bilhão de fótons e eles continuarão por aí "per omnia secula seculorum".

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Qual a diferença entre consciência mítica e religiosa?

A consciência mítica se transforma em religiosa quando se dá uma institucionalização dos mitos em um sistema doutrinário das crenças, acompanhado de uma organização hierárquica de profissionais da crença, de forma que, em torno da crença, se ergue um verdadeiro empreendimento socio-cultural que é uma religião. Os mitos não possuem este grau de sistematização e organização.

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Ernesto, você acredita na acertiva que se não fossem os padrões morais de dada sociedade, com relação aos valores apregoados na bíblia ou no puro preconceito, a grande maioria das pessoas seriam bi-sexuais?

Não creio. A porcentagem de pessoas com atração simultânea pelos dois sexos já apurada está em torno de 3%, enquanto a de homossexuais em 10% e a de assexuais em 1%, deixando 86% para a orientação heterossexual. As frações das pessoas que têm comportamento não heterossexual, contudo, é menor, por causa das pressões sociais. Não havendo tais pressões, pode se dar um aumento das frações não hetero, mas acredito que de pouca monta.

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Deixe-me ver se eu entendi: o espaço-tempo do universo é infinito, mas sua matéria não. É isso?

Se o Universo for infinito, como parece que o seja, seu conteúdo, tanto de matéria quando de radiação e campos, também o é, preenchendo o espaço ilimitadamente e existindo para sempre.

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Por que não acredita na teoria do multiverso? A teoria mais aceitável hoje em dia não é que o nosso universo surgiu do atemporal nada quântico, não é? E se este é infinito e o universo surgiu dele, por que não surgiriam outros universos de lá?

O que é "nada quântico"? O que eu conheço é o "vácuo quântico", que é um estado em que o espaço está preenchido por um campo indiferenciado que, por alguma flutuação, pode dar azo ao surgimento de pares de partícula e anti-partícula. Mas há um campo e este campo possui energia, que se transformará na massa das partículas que emergirão. Nada é a ausência de tudo, inclusive do espaço vazio. Não é possível se dar o surgimento de coisa alguma a partir do nada, inclusive porque nada não é nenhuma entidade nem o estado de alguma coisa. Nada é a ausência de qualquer coisa: tempo, espaço, matéria, campo e radiação. Não sendo coisa alguma não possui atributo nenhum, como energia, massa, carga, extensão, duração ou o que seja. O Universo não surgiu do nada e sim surgiu sem que tivesse do que ser proveniente, o que é outra coisa e não um mero jogo de palavras. Surgir do nada implica a existência de um "nada", o que não há. Nada não é algo. O surgimento do Universo não é descrito por nenhuma lei física atualmente vigente, porque elas descrevem o comportamento do que existe. A passagem da inexistência para a existência, quando relativa à totalidade do que existe, é um evento único, pois, existindo algo, isto já passa a ter um funcionamento que pode ser descrito por leis. Nesse evento poderia terem se dado inúmeras possibilidades, pois não havendo nada, tudo é permitido, não havendo proibição alguma. Mas, uma vez que surgiu o que há, as outras possibilidades ficaram perdidas. Outros universos significam outras possibilidades, mas não que elas tenham sido realizadas. Esses universos são hipotéticos. Por definição, Universo é o conjunto de tudo o que existe, portanto não podem existir outros Universos, pois o que quer que seja que exista, pertence ao Universo. O que se pode ter são partes disjuntas do Universo, isto é, incomunicáveis. Essas partes poderiam funcionar de forma descrita por leis diferentes das que vigoram em nossa parte, sem que isto implicasse em problema nenhum, pois nenhum sistema pertenceria em parte a uma dessas partes disjuntas e, em parte a outra. Mas isto é uma conjectura impossível de ser verificada, pois, por definição nada do que haja numa delas teria a menor influência em outra. Como não há indício nenhum da existência desta situação, a hipótese mais aceitável é considerar que isto não existe, como se faz a respeito da existência de Deus.

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Professor, não entendo esse conceito de universo infinito. Se ele teve um começo finito e se expande a uma velocidade finita, demoraria um tempo infinito pra ele atingir um tamanho infinito, não? (Perdoe-me se eu estiver errado, sou leigo no assunto.)

Se o Universo é infinito, ele sempre o foi, desde que começou. Apenas que, no momento inicial, a densidade era imensamente grande (mas não infinita). Mas ele se estendia infinitamente e assim continua todo o tempo. O que muda é o fator de escala das distâncias, isto é, o tamanho do espaço entre dois pontos fixos. Mas o espaço estende-se infinitamente. A massa do Universo sempre é infinita.

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Professor, o senhor não entendeu minha pergunta. Faço apenas uma extensão do Gato de Schrödinger. Até que alguém perceba o universo, ele estará em todos os estados possíveis, inclusive o de inexistência. Me entende agora? (:

Esta questão precisa ser bem compreendida. Observador, em quântica, não é um ser consciente, mas apenas um sistema que receba dados sobre o estado de outro sistema. Todo sistema é um subsistema do Universo. No momento em que parte do Universo comunicar a outra parte do Universo dados sobre seu estado ela indicará alguma das possibilidades, o que se chama "colapso". Para o Universo como um todo, não há outro sistema a que comunicar algum dado. O que se pode dizer é que qualquer subsistema é capaz de ser informado sobre o estado do resto do Universo, fora ele. Assim a inexistência como um possível estado, só pode ser entendida como a inexistência do resto do Universo, exceto o observador, que seria todo o Universo. isto é, realmente, uma possibilidade. Se não tivessemos contato algum com o resto do Universo não poderiamos saber que existe. No entanto temos esta informação. Não havendo seres conscientes, mesmo assim, os subconjuntos do Universo podem perfeitamente trocar dados entre si, não implicando que, necessariamente, a falta de um observador consciente implique em que o estado do Universo seja o de inexistência.

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Se o universo se expandir a uma velocidade super-luminal pode-se dizer que ele é infinito?

É preciso entender que a velocidade de expansão de uma parte do Universo em relação a outra não significa movimento relativo, não estando, portanto, sujeita às restrições da Teoria da Relatividade. Trata-se da taxa de variação do espaço em relação ao tempo e não da taxa de variação da posição de algo no espaço em relação ao tempo. Assim ela pode ser supraluminal. Este fato, contudo, não implica na infinitude do Universo. Considerando a constante de Hubble como 71km/s.Mpc, pode-se inferir que a recessão se torna luminal à distância de 4.225 Mpc, isto é, 13,7 bilhões de anos-luz, distância denominada "raio de Hubble", pois o que estiver fora dele não poderá ser observado. Mas este valor supõe que a constante de Hubble tenha permanecido constante todo o tempo, o que não é fato. Quer o Universo seja finito ou infinito, pode haver conteúdo externo a esse raio de Hubble. A finitude ou não do Universo está ligada à relação entre os parâmetros de densidade e dasaceleração da expansão. Tais parâmetros são definidos convenientemente na literatura especializada e a comparação entre eles permite decidir se o Universo é finito ou infinito. Dados atuais indicam que seja infinito.

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Universos que não possuem qualquer forma de vida ou entidade capaz de percebê-los ou teorizar sobre eles não existem? Se sim, seríamos nós quem damos sentido ao universo de existir, pois ele seria como um belo quadro não exposto?

Considero que só existe um Universo: este em que estamos. Mas ele poderia não conter nenhuma forma de vida. Nem por isso deixaria de existir. O fato de não ser percebido por mente alguma não impede a existência de modo nenhum. Além disso, a nossa existência não confere significado ao Universo, exceto para nós mesmos. Ele, em si, não se importa nem um pouco com a nossa existência. Entendendo por significado ou sentido o motivo, a razão e o propósito para qualquer coisa, o Universo não tem sentido nenhum, tampouco a nossa existência.

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Olá Professor Ernesto, tudo bem com o senhor? Acaso você saberia me indicar um livro que trate de Matemática de forma clara e objetiva? Agradeço desde já.

Depende do seu objetivo: Se for um livro em nível médio para preparar-se para um vestibular, recomendo os volumes únicos do Chico Nery ou do Iezzi-Dolce. Se for para você se inteirar de Matemática em geral, como uma pessoa que não lida com Matemática, recomendo "O que é a Matemática", de Courant & Robbins. Se for para você entender de Matemática a fundo, recomendo "A Course of Higher Mathematics" de Vladimir Ivanovich Smirnov, em cinco volumes, traduzido do Russo para o Inglês pela Pergamon, também disponível em francês pela Mir. Ambas coleções estão esgotadas mas podem ser achadas em sebos ou consultadas em bibliotecas. Em minha opinião é a melhor obra sobre Matemática disponível.

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Qual é a opinião do senhor a respeito da obra de Johann Wolfgang von Goethe?

Como poeta e literato, um gênio, apesar de eu não apreciar o romantismo exacerbado do "Sturm und Drang", exemplificado no Werther. Ao tratar de ciência, em sua "teoria das cores", contudo, Goethe equivoca-se em muitas coisas, construindo um proposta baseada em sua opiniões e não em explicações científicas devidamente confirmadas.

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Hitler, de uma forma antagonica a Nieztche, em termos de crença, deriva-se de um personagem até oposto. Pois Nit arrebenta a filosofia com o martelo e afirma não existir verdades absolutas, já hitler diz que em nome de sua religiao, havia uma e a fez.

No meu entendimento a "vontade de poder" segundo Nietzsche, é um princípio vital, que ele até considera de toda a natureza, mesmo inanimada, que leva o ser a querer poder, no sentido de "ser capaz" de agir e não necessariamente de "dominar". Hitler interpretou neste último sentido e fez da filosofia de Nietzsche um sustentáculo de seu projeto de dominação. Da mesma forma ele identificou o "übermensch" com a raça ariana, algo que Nietzsche jamais pretendeu. O übermensch é uma superação individual a ser obtida por qualquer pessoa, de qualquer raça. Trata-se de uma concepção ideal da transcendência em relação ao homem comum para um ser inteiramente livre e poderoso, sábio e virtuoso, liberto de todas as amarras de religiões e códigos morais ultrapassados, que se realiza plenamente na vida, conquistando sua felicidade pela realização plena de suas capacidades sem restrições.

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Refleti bastante e, com as informações que disponho cheguei a conclusão que admiro o 'trabalho' que você vem realizado, mesmo com dificuldades e decepções(acredito que o caso do vídeo do ensino médio deve ter sido uma frustração). E agradeço sua ajuda.

Obrigado, Prezado Chomsky. Esta é uma missão que a mim mesmo me impus na vida. Esclarecer a todos para que reflitam e decidam com conhecimento de causa. Principalmente difundir o 'livre-pensamento" e o "ceticsmo", como posturas essenciais para a condução da vida. Libertar as pessoas dos jugos dogmáticos religiosos, ideológicos, políticos ou o que sejam. Que cada um seja ele mesmo e não cristão, muçulmano, hinduísta, budista, judeu, capitalista, comunista ou o que seja. Contestar todo argumento de autoridade. Ninguém é dono da verdade: nem Jesus, nem Marx, nem Maomé, nem Einstein, seja quem for, nem eu.

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O que o senhor toma por moral?

Moral é ética são coisas correlatas mas diferentes. E nenhuma delas tem origem nas religiões. Pelo contrário, foram as religiões que se apossaram da moral (mas não da ética) como parte do ferramental para controle de seu rebanho. A moral existe em toda sociedade, mesmo as primitivas, e consiste em um corpo de prescrições comportamentais a serem cumpridas pela pessoa, para que seu convívio com os demais seja aceito dentro do que se tornou costume para aquele grupamento, naquele tempo e lugar. A moral é, pois, uma disciplina prática normativa e relativa ao contexto. O que é moral para certa sociedade, em certa época, pode não ser noutra época ou noutra sociedade. Já a ética é filosófica. A ética discute a razão das ações humanas e procura achar justificativas para sua aprovação ou condenação com base nos critérios de certo e errado, bom ou mau, justo ou injusto, honesto ou desonesto, verdadeiro ou falso, virtuoso ou viciado e outros do tipo. Busca, portando, independente dos costumes, definir os critérios para que algo seja ou não certo, bom, justo, honesto, verdadeiro ou virtuoso. E busca, também, definir que escolha seria a certa, entre essas possibilidades. É importante frisar que a eticidade de uma ação se prende à sua intenção e não à sua execução e só pode ser imputada se a ação foi realizada de forma livre e desimpedida de qualquer coação. Três critérios sobressaem dentre os que já foram levantados para a eticidade: o primeiro refere-se à característica daquela ação promover a maximização da felicidade para o maior número de seres ou ao contrário; o segundo se liga ao fato da ação poder ou não ser erigida como norma universal a ser prescrita para todo mundo e o terceiro se a ação seria uma que o autor gostaria de ser alvo ou não. Outros critérios, de menor valor, se prendem à utilidade e à lucratividade, por exemplo, que, em minha opinião, deveriam ser rejeitados.

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para você, a vida tem algum sentido? se sim, como é possivel nao relacioná-lo a deus?

Extrinsecamente, não. O sentido, a razão e o propósito da vida é a própria vida. A vida existe para se manter, propagar-se. Surgiu por acaso, sem motivo nenhum. Mas é uma raridade preciosíssima. Por isto precisamos preservá-la a todo custo. Não só a de cada um, nem só a da nossa espécie, mas de toda a natureza. Crimes, guerras e devastações promovidas pela humanidade são o cúmulo da ignorância e da burrice. Preservar a vida é despir-se do egoísmo, pessoal, de classe, de raça, de gênero, de nacionalidade, de espécie e se abrir altruisticamente para a doação ao outro, seja ele nosso amigo ou não, seja da nossa raça ou não, da nossa classe ou não, do nosso sexo ou não, da nossa espécie ou não. Este é o significado que é preciso dar à nossa vida. Viver para que, por causa de nossa vida, o mundo se torne um lugar melhor para todos os seres, humanos ou não. Sabendo que esta vida é única: não há nada após a morte. Portanto o tempo urge.
Isto não tem nada a ver com Deus nenhum. Não se precisa considerar que exista ou não Deus para dar significado à vida. Se existir Deus, isto não muda em nada o significado a se dar à vida. Se não existir, o que é que eu penso que seja, também continua a mesma coisa.

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voce considera a religiao importante para o homem?

Não. Pelo contrário, atrapalha. Infelizmente a história levou o homem a criar religiões. Trata-se de um fenômeno antropológico que, primeiro, surgiu do desejo de encontrar explicações para o, então, inexplicável. Daí o surgimento dos mitos. Então eles foram apropriados por um grupo de espertos que transformaram, em conjunto com os detentores do poder político, em instituições que pretendem regular e controlar a vida do povo em proveito dos mandatários e sacerdotes de todo tipo. Com isto podou-se o espírito crítico e a possibilidade do povo gerir seu próprio destino. Por ser contra isto é que Sócrates foi morto. A filosofia é que deveria ter sido a mestra dos povos, como o queria desde o início Pitágoras. Se as religiões não tivessem sido inventadas e o homem se pautasse pela filosofia o mundo hoje seria muito mais pacífico, fraterno, solidário e benéfico para todas as pessoas. Religião, ao contrário do que este nome significa, contribui para separar pessoas em grupos de crentes em diferentes doutrinas, que se tornam inimigos uns dos outros. Não vejo o dia em que as religiões possam ser extintas e as pessoas passarem a fazer o bem por seu próprio valor, independentemente de se pretender obter algum tipo de salvação, não sei de quê. Aí a humanidade se tornará uma unica família.

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