A princípio sou inteiramente favorável a que o ENEm se torne o único processo de seleção para admissão ao ensino superior em todo o Brasil, para todos os cursos, tanto de instituições públicas quanto particulares.
Considero que o aluno de qualquer curso superior, seja de que área, deva ter conhecimentos de nível médio de todas as áreas, bem como habilidades de fazer uso deles na solução de diversos problemas, não só acadêmicos. Assim o advogado tem que saber matemática, física e biologia, o engenheiro tem que saber história, geografia e filosofia e o médico tem que saber física, química e sociologia. E todos têm que saber português e inglês. E bem!. Sou totalmente contra qualquer tipo de avaliação específica por área de exatas, humanas ou biológicas.
Assim é que acho que a primeira versão do ENEM, em que as questões eram totalmente multidisciplinares, sem separação nenhuma de qual era desta ou daquela matéria era muito melhor. Sugiro o retorno a esse padrão.
Todavia, acho que é preciso um aperfeiçoamento. No afã de se eliminar o caráter conteudista, próprio dos vestibulares, pecou-se pelo extremo oposto, que é o da medida quase exclusiva das habilidades cognitivas. Acho válido questões embasadas em textos prévios, mas algumas colocam um texto só para se perder tempo, pois a resposta não depende do texto. É preciso haver um equilíbrio entre a medição de conhecimentos e do uso de habilidades. Toda questão precisa enfocar os dois aspectos. Digo isso com conhecimento, pois tenho curso de especialização em elaboração de questões fechadas ministrado pelo Heraldo Marelim Viana, do CECISP, que foi meu coordenador de avaliação nos oito anos em que lecionei na EPCAR, em Barbacena. Além disso fui membro da Comissão de Física do Vestibular da UFV por oito anos e presidente de sua Comissão Geral do Vestibular durante quatro anos.
Outro ponto que seria interessante é a aplicação do ENEM nas três séries do Ensino Mèdio.
Procedidas essas correções, opto pelo ENEM como única forma de acesso ao nível superior. Acoplado ao SISU, considero o ENEM uma forma muito mais honesta, justa e democrática de avaliação. É claro que se precisa, cada vez mais, aprimorar a segurança no processo de aplicação.
Postagens do pensamento, textos, poemas, fotos, musicas, atividades, comentarios e o que mais for de interesse filosófico, científico, cultural, artístico ou pessoal de Ernesto von Rückert.
sábado, 22 de outubro de 2011
Aproveitando o dia, O que acha do Enem? É um bom meio de se avaliar conteúdo necessario para um curso universitário? Há modos melhores?
Digamos que uma cidade foi projetada com ruas para o fluxo de 1.000.000 de carros/dia. Mas as montadoras de lá já produziram mais de 10.000.000 e continuam fazendo carros que na verdade vão ficar mais tempo parados no trânsito do que andando. Tem lógica?
Claro que não. Este é um paradoxo econômico descomunal. Considera-se que toda empresa ou nação só se encontra economicamente saudável enquanto está crescendo. Ela tem que sempre vender mais, faturar mais, lucrar mais. Se mantiver estável está economicamente doente. Isto é um disparate. Quando o mundo parar de crescer populacionalmente e a renda estiver igualmente distribuída por todos, que serão todos ricos, não haverá mais motivo para crescimento. Inclusive, o que é mais grave ainda. porque os recursos naturais para serem transformados em produtos são finitos e se esgotarão. Esta visão econômica equivocada tem que ser corrigida ainda mais por um outro fator, que, em minha opinião, brevemente ocorrerá. Os consumidores concluirão que o individualismo é inteiramente anti-econômico para seus bolsos e começarão a fazer tudo compartilhadamente, passando a ter residências comunitárias, com refeitórios, lavanderias e todas as facilidades em comum, tipo " apart hotel", só que particular. Então haverá uma drástica redução de consumo de tudo: geladeiras, televisores, louça, talheres, máquinas de lavar roupa, tudo enfim. Porque não mais haverão lares familiares individuais e sim coletivos. A economia será tremenda. Redução da necessidade de tudo. Garagens coletivas com carros compartilhados. Preferência pelo transporte coletivo, mesmo entre ricos. Isso não vai tardar a acontecer e provocará uma mudança radical nesse paradigma de crescimento ilimitado.
Certo. E quando o pessoal fala assim: fulano tem uma energia boa, ele passa isso, ou ainda tem muita energia negativa. Esse show de tal banda tem uma energia boa. Do que se trata afinal?
Nesses casos a palavra energia está sendo usada em uma concepção não física, mas sim querendo dizer que as atividades daquela pessoa induzem disposições favoráveis ou desfavoráveis em quem as recebe. Ou seja, que provoca ânimo, alegria, satisfação, entusiasmo, disposição e coisas desse tipo. A única coisa que fornece energia às pessoas, fisicamente falando, é comida. Essa energia que você menciona acima é a psicológica, que não é uma grandeza, mas uma propriedade do tipo da beleza. A "energia negativa" é a atitude que provoca desânimo, depressão, tristeza, preguiça e coisas assim. Não tem nada a ver com o conceito físico de energia. O problema é que os esotérico confundem os conceitos como sendo o mesmo e aplicam a essa energia psicológica as propriedades gozadas pela energia física.
Professor, compartilho de sua visão quanto ao poliamorismo. Sou, inclusive, um praticante. Minha pergunta, no entanto, restringe-se ao ideal altruísta. Como, em sua opinião, abastece-se uma causa que exige combustível infinito? Como burlar um ciúme...
(continuação da pergunta): ...que, muitas vezes, é inato as nossas características humanas? Como esquecer que se, eventualmente, não pensarmos somente em nós mesmos, não teremos outra garantia de felicidade numa vida que aparenta ser única? Que o amor é possível, não tenho dúvidas. Pergunto, entretanto, se ele é viável. E, principalmente, se é possível mantê-lo vivo sem corromper-se.
Resposta:
O ciúme não é inato. É um condicionamento cultural, ligado à noção de posse do ser amado. O fundamento do poliamorismo é a total independência de cada pessoa em relação às demais. Portanto é fundamental que ninguém dependa financeiramente de ninguém. Se essa condição não for preenchida, não se consegue ter a liberdade que o poliamorismo concebe. Isto não significa que pessoas que mantenham uma relação erótico-afetiva não possam compartilhar despesas na manutenção de seus projetos comuns.
Quando ao egoísmo, não se trata de um saudável desejo de felicidade pessoal, mas uma doentia concepção de que a satisfação dos próprios desejos tem que ser obtida a qualquer custo, doa a quem doer. E o altruísmo também não é a negação de si mesmo para servir aos outros ilimitadamente. É a concepção de que o outro tem tanto valor como nós mesmos e que nossas ações devem ser feitas para a maximização da felicidade global e não só a nossa. Assim se é capaz de se sacrificar pelo bem comum. Mas não a ponto de se viver uma vida completamente infeliz para fazer os outros felizes. Nisso tudo é preciso haver um balanço, pelo qual a pessoa busca sua felicidade sem causar infelicidade aos outros.
Para sermos felizes é preciso, justamente, que não pensemos apenas em nós mesmos, como também que não deixemos de pensar em nós mesmos. É isso que o poliamorismo vem atender e propiciar a maximização da felicidade e sua maior disseminação entre as pessoas. Pensando em nós mesmos, pelo poliamorismo, assumimos a possibilidade de amarmos a mais de uma pessoa ao mesmo tempo e consentimos na realização pessoal, social e carnal desses amores, de forma declarada, aberta e permitida. Pensando no outro, pelo poliamorismo, não exigimos que nossos amores amem exclusivamente a nós, permitindo que também amem a outras pessoas e realizem plena a abertamente esses amores. Isso é honestidade, maturidade, decência, honradez e nobreza. Além de evitar sofrimentos inúteis que a sufocação de amores sempre traz, essa liberdade concede à pessoa uma leveza de espírito e uma alegria que possessividade e ciúme nenhum é capaz de propiciar.
Isso é perfeitamente viável, mesmo que não seja necessário (pode-se perfeitamente ser feliz monogâmicamente), e não exige infinidade de combustível nenhuma, nem burlar nem corromper nada. Pois o importante é que todo relacionamento envolva compromisso (mesmo quando múltiplo) mas não de perenidade. Que seja infinito enquanto dure. Que compromisso é esse, então? O compromisso de dedicação, de lealdade, de honestidade, de sinceridade, de carinho, de interesse, de companheirismo. Mas não de exclusividade nem de perenidade. Traição é uma torpeza inadmissível, pois significa a quebra da lealdade. Ao ocorrer uma nova paixão, se correspondida, que os relacionamentos anteriores sejam cientificados previamente. Desse modo todos os envolvidos podem ser grandes amigos.
Uma questão que é colocada é a do surgimento de filhos. Ora, os filhos serão sempre de seus pais, mesmo que os pais tenham outros maridos ou mulheres. E eles são responsáveis pelos filhos pelo resto da vida. A não ser que sejam pessoas completamente desclassificadas. Na casa de quem morarão os filhos? Para mim o ideal é que as casas sejam enormes para abrigar essas famílias estendidas que, inclusive, compartilhando as despesas, farão um economia tremenda. Na primeira infância a presença constante da mãe é essencial, mas depois a escolha fica à vontade. Sem brigas por quem seja responsável pelo custeio disto ou daquilo. Os dois são responsáveis, segundo suas possibilidades. Acho isso tão simples. Não consigo entender essas brigas por dinheiro. Seja generoso que tudo dá certo.
Finalmente quero abordar a questão do sexo casual, sem envolvimento sentimental. Porque não? Qual o problema? Nesse caso nem precisa haver consentimento e nem se configura infidelidade e traição, desde que isto já seja admitido explicitamente como uma possibilidade para todos os envolvidos. Parceiros eventuais e esporádicos não fazem parte da família estendida de que falo, a não ser que deixem de ser eventuais e que um vínculo afetivo forte venha a surgir.
O documentário O momento da morte diaz q a 1 lei da termodinâmica diz q a energia n pode ser criada nem destruída, e a consciência é uma forma de energia, se for o caso, vai persistir após a morte. Consciência não é energia correto?
Consciência não é energia coisa nenhuma. Esse pessoal esotérico tem uma noção completamente equivocada de energia. Existem dois conceitos de energia. O primeiro é o físico, que a primeira lei da termodinâmica descreve o comportamento. Trata-se do atributo dos sistemas que lhes confere a capacidade de realizar trabalhos mecânicos, térmicos, elétricos ou de qualquer outra modalidade física. O segundo conceito de energia é psicológico, significando, simplesmente, disposição, ânimo para agir, vigor e firmeza na execução de uma ação. Esse último não tem nada a ver com a termodinâmica e nem é uma grandeza quantitativamente mensurável. Além disso faz-se uso da palavra "energia" para significados em que ela absolutamente não se aplica. É uma espécie de coringa linguístico dos esotéricos.
Consciência é uma operação da mente, que consiste em ter a percepção do funcionamento da própria mente. É um tipo de percepção, só que não ligada aos órgãos sensoriais, mas ao interior da própria mente. É a percepção dos pensamentos, dos sentimentos, das evocações, das emoções. Grande parte das operações mentais é inconsciente, isto é, dá-se sem que se saiba que está ocorrendo (aliás a maioria). Uma parte importantíssima da consciência é a "auto-consciência" que é a percepção de si mesmo como indivíduo autônomo e distinto do resto do mundo. É a noção do "Eu", o dono de sua mente e de seu corpo. Isso não é energia coisa nenhuma, apesar de, como todo processamento mental é dinâmico, a consciência só se dá pelo funcionamento do cérebro, e esse funcionamento consome energia, dentro do metabolismo celular, nos processos de glicólise e no cíclo de Krebs. Mas isto não significa que consciência seja uma forma de energia. Energia é uma grandeza física que mede um atributo de sistemas físicos. Consciência é uma operação mental. São conceitos de categorias diferentes, portanto incomparáveis, com tempo e volume.
Com base no que você falou sobre consciência abaixo. Me diga o que aconteceria caso um ser consciente fosse desintegrado e depois (não importa o tempo) reintegrado (da mesma forma como era antes). A consciência original seria perdida?
Certamente que sim, pois a consciência não é meramente uma estrutura, que é o que foi recuperado. A consciência é dinâmica. É um processo continuado. Mesmo sem a perda da estrutura, a interrupção da dinâmica que mantém a consciência implica na perda da consciência. Ela pode ser temporária, como no sono, ou definitiva, como em certos casos de anestesia aprofundada demais ou estado de coma muito prolongado.
"Elas estão presentes no espaço em torno do buraco negro." Então a carga elétrica em si está espalhada na superfície do horizonte de eventos do buraco negro, e não em seu interior? Curioso, já que a massa do mesmo se encontra todo no seu centro. É isso?
Não. A carga está toda no caroço. O campo elétrico é que está em torno dele, dentro e fora do horizonte de eventos. Do mesmo modo a massa e o dipolo magnético. Eles estão no caroço do buraco. Mas o campo gravitacional e o magnético estão no espaço circundante. Os campos são entidades reais e físicas, mesmo não sendo materiais. Na verdade tudo é campo, pois a matéria é uma quantização fermiônica do "campo de matéria" e a radiação (fótons) é uma quantização de campos elétricos e magnéticos oscilantes. O que se pode medir de um buraco negro de fora dele é só a sua massa, carga, momento angular e de dipolo magnético. Só. E isso é medido pelos efeitos dos campos que esses atributos geram no espaço.
O que seria metaciência?? As explicações que encontrei na internet não me pareceram muito boas. Obrigado
Metaciência é a ciência da ciência, isto é, a disciplina que estuda como a ciência funciona, como constrói suas explicações, como as verifica em sua validade e veracidade. A Filosofia, em especial a epistemologia são metaciências. Diferentes ciências têm sua metodologia própria e uma metaciência específica. Mas há também uma metaciência geral, que verifica se um conhecimento é científico ou não. A metaciência também promove uma classificação das ciências, segundo vários critérios e, especialmente, se algum conhecimento tido como científico é mesmo ou apenas uma "pseudo-ciência", como a Astrologia. Ou uma proto-ciência, como a Psicologia.
A consciência seria uma propriedade, um atributo do cérebro material ou uma entidade, uma coisa em si?
Uma propriedade. Ou melhor, uma ocorrência. A mente e todas as funções do psiquismo não são entidades em si mesmas. São ocorrências do cérebro e seus anexos, incluindo todo o sistema nervoso, endócrino e órgãos de sentidos. É um fenômeno e nem é um epifenômeno, mas uma superveniência advinda da extrema complexidade estrutural e dinâmica do cérebro. Você pode se referir à "mente" como se fosse algo em si, mas é só um modo de dizer. A mente é como uma música ou um filme. Algo que só existe enquanto está acontecendo. O substrato material em que o filme está registrado não é o filme. Ele só existe quando exibido. Assim a música. Uma gravação ou uma partitura não são a música. A música é a ocorrência de sua execução. Mas ela só consegue ser executada, ou o filme exibido, se houver um substrato material em que as informações para sua ocorrência estejam registradas e se houver um processo de se fazer essas informações se transformarem em música ou filme. O cérebro fornece as informações e os procedimentos para que a mente aconteça e, dentro dela, a consciência, a memória, as percepções, o raciocínio, as emoções, os sentimentos, os desejos, as volições, as decisões, as ações e tudo o que constitui a vida psíquica. Com a cessação do funcionamento do cérebro a mente e a consciência desaparecem completamente e não há como recuperá-las. Daí o valor inestimável da vida de cada pessoa possuidora de consciência. E também a razão porque todos devem compartilhar uns com os outros suas vivências para que isso se torne um patrimônio comum da humanidade em proveito de todo mundo. Em suma, não existe nenhuma entidade tipo "alma" que contenha o conteúdo da mente. Esse conteúdo é volátil. O Mal de Alzheimer que o diga.
"Portanto o buraco negro tem massa, momento angular e pode ter carga elétrica e momento de dipolo magnético, se a estrela original não fosse eletricamente neutra." Mas como essa interação escapa do horizonte de eventos? Ou só é perceptível em seuinterior?
É perceptível no seu exterior sim. Porque não é nada que seja emitido por ele. Já havia no corpo a partir do qual ele se formou. A massa provoca a curvatura do espaço em torno dele, tanto dentro quanto fora do horizonte de eventos e essa curvatura nada mais é do que a gravidade que atrai corpos para ele ou os mantém em órbita em torno dele. O momento angular provoca a torção do espaço, fazendo com que os corpos em queda para ele o façam de modo espiralado. A carga provoca atração ou repulsão elétrica como qualquer corpo carregado. O momento magnético faz com que ele atue como um ímã, mesmo fora do horizonte. Essas interações não escapam do buraco negro. Elas já estavam presentes no espaço antes de que o buraco negro se formasse, e continuaram. O horizonte de eventos não é um lugar de curvatura infinita e lá, aparentemente, é tudo normal. Só que qualquer corpo que entre nele não mais consegue sair. Mas as interações não estão "saindo". Elas estão presentes no espaço em torno do buraco negro.
Alegria do Amor
Professor, como as estrelas de nêutrons tem campo magnético, já que não tem carga elétrica? E como os buracos negros tem carga elétrica, já que não sobrou nada ali pra contar a história?
Um único nêutron, sendo neutro, tem campo magnético porque, apesar de neutro, ele tem uma distribuição de carga, sendo composto por três quarks, um "up", de carga (2/3)*e e dois "down", cada um de carga -(1/3)*e. Como eles possuem spin (rotação), isso lhes fornece um momento de dipolo magnético, que, na configuração que formam o nêutron, não se anulam, dando-lhe um momento de dipolo magnético não nulo de cerca de e.h/(pi)m. Uma estrela de nêutrons é como se fosse um único núcleo atômico com todos os nucleons transformados em nêutrons pela captura dos elétrons pelos prótons (evento inverso do decaimento radioativo beta). Um processo de emparelhamento, semelhante ao que ocorre nos domínios ferromagnéticos, produz um momento momento de dipolo magnético total bem grande, que, associado ao grande momento angular da estrela e à sua pequena dimensão lhe dá uma velocidade angular enorme, que faz com que o campo magnético do dipolo irradie como um farol de navegação, fazendo da estrela de nêutrons um pulsar.
Quanto aos buracos negros, é claro que sobrou algo para contar a história sim. Todo o material da estrela que colapsou e se transformou no buraco negro continua em seu caroço. Portanto o buraco negro tem massa, momento angular e pode ter carga elétrica e momento de dipolo magnético, se a estrela original não fosse eletricamente neutra. O que se chama buraco negro é a região interior ao "horizonte de eventos" ou "barreira de não retorno", da qual nada sai, só pode entrar. Mas no centro desse horizonte está o caroço, que contém toda a matéria do buraco, como se fosse um hiper-híperon, isto é, uma única partícula sub-atômica com toda a massa da estrela em um tamanho menor do que um elétron.
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Olá, professor. Já ouviu falar do site "a lógica do Sabino"? Existe um site criacionista contrário à Evolução, aos métodos de datação e à idade estimada do Universo com conteúdo relevante? Gostaria de saber se de fato há dúvida entre os cientistas (cont
(continuação da pergunta) acerca de seus estudos, isto é, se há divergências no meio. Alguns professores de filosofia (além de religiosos) discutem se há dogmatismo na ciência. Existem ameaças consideráveis contra evolução e datação?
Dei uma olhada no site e coloquei no meu delicious para consulta posterior. O que tenho a dizer é que a Evolução biológica das espécies é um fato natural mais do que sobejamente comprovado. Certamente há detalhes a se esclarecer e novas descobertas sempre estão corrigindo hipóteses equivocadas, bem como datações enganadas. Isto não compromete o fundamento básico de que toda a vida existente é um produto da evolução a partir de outro tipo anterior, até nós, e que continuará daqui para frente. Outra concepção, não pertencente ao escopo da Teoria da Evolução e ainda não tão bem fundamentada, mas com grandes chances de aceitação por sua elevada plausibilidade, é a da abiogênese, ou do surgimento da vida a partir da matéria inanimada, de forma espontânea. Quanto aos processos de datação geológica e cosmológica, há uma grande convergência de resultados dos diferentes métodos, sendo normal a existência de ligeiras discrepàncias. O fato de as datas serem periodicamente corrigidas não depõe contra os procedimentos, pelo contrário, os apoiam. Uma das características mais interessantes da ciência é, justamente, não ter as respostas definitivas e ir se corrigindo gradativamente. Por princípio, a ciência não é dogmática, pelo contrário, o ceticismo é inerente a ela. Apenas quem busca a confirmação científica de teorias já previamente assumidas como verdadeiras, como o criacionismo, é que ameaçam a evolução, sem sucesso. Sua postura é inteiramente anti-científica, pois já partem da resposta para buscar as justificativas.
Professor, é correto afirmar que os neutrons presentes no nucleos dos atomos vieram do nucleo de isotopos pesados de hidrogenio no processo de fusao nuclear?
Não. Os prótons e os nêutrons foram formados antes dos átomos por união de quarks livres existentes nos primeiros instantes do Universo. Depois é que se formaram núcleos atômicos, no caso, do hidrogênio, do deutério, do trítio, do hélio-3, hélio-4, lítio-6, lítio-7, berílio-7, berílio-8 e pronto. Os outros se formaram nas estrelas muito, mas muito tempo depois do big bang. O trítio e o berílio são instáveis e decairam. Isto se deu entre 3 a 20 minutos após o big bang e parou. Veja:
http://en.wikipedia.org/wiki/Nucleosynthesis
http://en.wikipedia.org/wiki/Big_Bang_nucleosynthesis
http://en.wikipedia.org/wiki/Stellar_nucleosynthesis
http://en.wikipedia.org/wiki/Stellar_evolution
http://en.wikipedia.org/wiki/Supernova_nucleosynthesis
Professor, é correto afirmar que os neutrons presentes no nucleos dos atomos vieram do nucleo de isotopos pesados de hidrogenio no processo de fusao nuclear?
Não. Os prótons e os nêutrons foram formados antes dos átomos por união de quarks livres existentes nos primeiros instantes do Universo. Depois é que se formaram núcleos atômicos, no caso, do hidrogênio, do deutério, do trítio, do hélio-3, hélio-4, lítio-6, lítio-7, berílio-7, berílio-8 e pronto. Os outros se formaram nas estrelas muito, mas muito tempo depois do big bang. O trítio e o berílio são instáveis e decairam. Isto se deu entre 3 a 20 minutos após o big bang e parou. Veja:
http://en.wikipedia.org/wiki/Nucleosynthesis
http://en.wikipedia.org/wiki/Big_Bang_nucleosynthesis
Stellar nucleosynthesis
Stellar evolution
Supernova nucleosynthesis
Qual a diferença entre epifenômeno e superveniência?
Ambos são ocorrências que se dão em um nível mais elevado da realidade em decorrência de ocorrências havidas em níveis inferiores. O que eu chamo de nível mais elevado é aquele cuja estrutura e funcionamento são mais complexos. Diz-se que há epifenômeno quando não há modo de reduzir o fenômeno de nível superior a nenhuma combinação (mesmo não linear) de ocorrências dos níveis inferiores, isto é, há características que são geradas exclusivamente pela complexidade do nível. Na superveniência as ocorrências podem ser reduzidas a efeitos gerados por ocorrências dos níveis anteriores, mesmo que de forma não linear. Muitas vezes um fenômeno é considerado epifenômeno pelo desconhecimento dos mecanismos geradores de efeitos de ordem superior a partir dos de ordem inferiores. Isto se dá, na maioria dos casos, pela suposição da linearidade, que consiste numa combinação de adição de efeitos, mesmo que com fatores multiplicativos. As não linearidades, alem disso, envolvem também conjunção de efeitos simultâneos, potenciação de efeitos e retroalimentações. Considerando isso, pode-se dizer que toda ocorrência de nível mais elevado em um sistema decorre das ocorrências de níveis menos elevados, eliminando-se o epifenomenalismo. Outra ideia correlata é a do holismo, segundo a qual toda ocorrência em qualquer sistema é influenciada não apenas pelos níveis inferiores da estrutura de que é formado o sistema mas do restante do Universo. Isso é verdade, uma vez que não existe sistema perfeitamente isolado no Universo, de modo que todo sistema é, sempre, um subsistema do Universo em constante interação como ele. O que discordo é dizer que o holismo se oponha ao reducionismo, pois nenhum sistema complexo existe sem as partes que o compõem. Então as ocorrências do sistema superior só se dão porque há ocorrências nos níveis inferiores. O que não significa que os fatos tenham que ser interpretados como "O todo é a soma das partes". Não é apenas, mas não existe sem as partes. O que me parece é que essa discussão toda se prende mais a uma interpretação do significado das palavras "holismo", "reducionismo", "epifenomenalismo" e outras correlatas.
Não sei se já lhe fizeram-lhe uma pergunta semelhante, se já, me desculpe: Você acha que existe uma ''Lei Moral'', aplicável a todas as coisas do mundo, a todas as ações? Agradeço se responder-me =)
Sim, mas prefiro denominá-lo de "princípio ético", já que moral é um conjunto de prescrições relativas ao contexto temporal, espacial e social. Assim as "leis morais", não são absolutas. A ética, por outro lado, sendo filosófica, busca, justamente, encontrar os princípios que devem nortear as leis morais para que elas tenham validade, o que nem sempre ocorre. Ética e moral não se aplicam a seres, mas a ações. Nenhum ser é bom ou mal, mas sim o que ele faz o o que se faz com ele. Três princípios destacam-se como universais sobre o comportamento ético: que toda ação seja tal que possa se erigir em prescrição universal, que toda ação produza a maximização da felicidade para o maior número de seres e que toda ação seja aquela que desejamos que a nós mesmos seja aplicada. Assim procedendo, normalmente, as ações serão promotoras do bem, isto é, causadoras de satisfação, alegria, felicidade, prazer, gratidão, benefício e tudo de bom para quem dela seja objeto. Uma ação será má se causar dor, sofrimento, tristeza, prejuízo, injustiça, revolta, amargura, malefício e tudo de ruim a quem dela seja objeto. Mas nada é tão simples assim. Arrancar um dente pode causar dor, mas ser um benefício para a saúde do paciente. Há que se considerar o aspecto mais abrangente, mas de forma ponderada. Enterrar um recém-nascido aleijado vivo pode ser um benefício à tribo, por não ter que cuidar dele o resto da vida, mas não é ético sob ótica nenhuma, mesmo que ele seja anestesiado para não sofrer. E, no entanto, não é imoral, pois atende aos costumes tribais. Como é o caso da ablação do clitóris na África e a lapidação de adúlteras em alguns países islâmicos. Ética e moral não são disciplinas exatas e, realmente, são bem complexas. Em tudo, todavia, acho que se pode elevar um princípio norteador, que é o amor, a compaixão, sem abandonar a justiça. E a justiça não é só dar a cada um o que ele merece, mas também não dar o que não merece. Fazer justiça com amor é o grande desafio da ética que a moral precisa acompanhar.
Faria sentido dizer que a energia do nosso universo sempre existiu?
Não, a não ser que o próprio Universo tenha sempre existido. Energia é uma propriedade dos constituintes do Universo. Não é uma coisa em si, uma entidade, mas sim um atributo das entidades. Sem campo, matéria ou radiação, que são os constituintes desse nosso modelo de Universo, não há energia. A chamada "energia do vácuo", em verdade é a energia do campo que preenche o vácuo, já que não existe espaço vazio no Universo. A lei de conservação da massa-energia (e não da matéria-energia, como erroneamente muitos dizem), assim como todas as leis que descrevem o comportamento da natureza, surgiram com o surgimento do Universo. Na passagem da inexistência para a existência, nenhuma lei atualmente aplicável se aplicava, de modo que nada objetava o surgimento de energia sem que antes houvesse. Aliás nem "antes" havia, pois não havia tempo. Todavia é bem possível que o total de energia atual do Universo seja nulo, levando-se em conta os valores positivos das massas de repouso (tanto da matéria visível quanto da escura) e do campo repulsivo da (impropriamente) denominada "energia escura", os valores positivos da energia da radiação eletromagnética, bem como os valores negativos da energia potencial gravitacional, uma vez que o total de energia dos campos elétrico e magnéticos é nula, uma vez que, em bloco, o Universo é neutro. Isto significaria que, mesmo sem que haja exigência, a energia estaria conservada no processo de surgimento do Universo, permanecendo sempre nula. Se assim o for, a melhor expressão para a sua pergunta seria: "Faria sentido dizer que a energia do nosso universo nunca existiu?"
Costumas marcar os trechos que julgas mais interessante nos livros ou, como eu, não marcas? (Curiosidade)
Marco sim, no caso de livros didáticos em que a leitura e feita para preparar aula, por exemplo. Em romances ou livros de ensaios filosóficos, não costumo marcar, mas, às vezes, faço alguma marca.
Li uma resposta na qual o senhor diz ser necessário aos filósofos conhecem física. Pois bem; o curso de filosofia da UFABC inovou e resolveu colocar na grade cursos de filosofia da biologia, filosofia da física e filosofia da matemática.
Isso é muito bom, mas ainda não é o suficiente, pois é preciso que os filósofos não só conheçam filosofia da ciência, mas também a própria ciência e o nível em que os assuntos são abordados no Ensino Médio não é suficiente. As questões principais, na Física, por exemplo, são as teorias quânticas, relativísticas, de campos, de partículas elementares e cosmologia. Quem não tiver uma ideia conceitual bem formada sobre esses temas nem é capaz de entende a Filosofia da Física. Não é preciso abordar o aspecto matemático, mas o conceitual é essencial que se compreenda. Da mesma forma em Biologia, as noções de biologia molecular em nível de processos celulares, é essencial para entender os mecanismos da evolução e da genética, bem como da abiogênese, sem o que a compreensão do que seja a vida fica tremendamente prejudicada, o que leva à aceitação de noções irrelevantes, como o dualismo corpo-alma. Uma boa noção de geologia e paleontologia também é requerida, para poder interpretar os dados fósseis na análise evolutiva. Quanto à Matemática, da mesma forma, os conhecimento do Nível Médio deixam muito a desejar, especialmente as noções da análise matemática, topologia, estruturas matemáticas, lógica matemática e outros conceitos sem os quais o filósofo fica sem piso. Acho que, como a
Filosofia é uma espécie de "Ciência das Ciências" seu curso mereceria um ano introdutório a mais para que tais assuntos fossem abordados, antes de se começar a filosofar propriamente. Para mim, o filósofo é o intelectual por excelência e, como tal, também tem que ter noções de todas as artes, além de ter uma formação de escritor e conhecer várias línguas, para poder ler no original. Pelo menos grego, alemão, latim, francês e italiano, além do inglês, é claro. Isso se não se enveredar pela filosofia oriental, o que requer saber árabe, chinês e sânscrito. Ser filósofo é algo bem mais difícil do que ser médico, engenheiro ou advogado. Ou mesmo físico ou biólogo.
o que acha do livro Deus não é grande (Christopher Hitchens)?
Já o li. Aprecio o trabalho do Hitchens e dos outros ditos "néo-ateístas", como Dawkins, Dennett, Harris, Onfrai e outros, cujas obras já li todas. Mas tenho uma questão a colocar. Muitas vezes eles se valem dos malfeitos dos religiosos em suas trapalhadas para arguir contra as crenças. É preciso distinguir bem religião de crença. A Religião é uma instituição humana construída em torno de uma crença, administrada por pessoas que são falhas como todas. Muito do que é feito pelas religiões não se fundamenta nas crenças que lhes suportam, mas são apenas atos das pessoas que comandam as religiões, de sua própria iniciativa, a pretexto de atender alguma determinação da crença, mas, em verdade, com outras intenções. Isso pode ser usado para condenar as religiões, mas não tem valor nenhum para condenar as crenças. As crenças têm que ser combatidas em suas doutrinas mesmas. Com argumentos filosóficos, científicos, antropológicos, lógicos, mas sempre racionais, além dos empíricos e factuais, que se prendam às proposições doutrinárias das crenças e não aos aspectos meramente perfuctórios, como as liturgias e outras práticas acessórias. Estas não constituem a essência das crenças. Deixar de comer carne de porco não é significativo no contexto das crenças do judaísmo. O que importa é a relação do homem e da natureza com a divindade, em termos ontológicos, metafísicos, cosmológicos e fenomenológicos. Isto é, a relação entre Deus e o surgimento do Universo, da vida, bem como a questão da providência, da redenção, da alma e sua sobrevivência ou reencarnação. Esses aspectos fundamentais das crenças religiosas é que não vejo profunda e abrangentemente abordados nessas obras néo-ateístas, de modo que acho que não cumprem o seu papel de demonstrar a superioridade do ateísmo em relação a todas as crenças. A que me desapontou mais foi o "Tratado de Ateologia" do Onfrai, que é meramente um opúsculo panfletário. Quero ver uma obra do peso da "Summa contra os gentios" de Tomás de Aquino, isto é, uma "Summa contra os crentes". Ainda penso em escrever uma.
Se tá todo mundo careca de saber que combustível fóssil faz mal e que existem energias mais limpas e abundantes no planeta pra que ainda se discute pré-sal e se monta carro a gasolina?
Poque as energia mais limpas ainda são raras e caras. É preciso um esforço crescente para disseminá-las e barateá-las. Enquanto isso, como a demanda de energia é crescente, há que se buscar as fontes tradicionais também. Outra providência essencial é a de se economizar e otimizar o uso da energia, de modo a reduzir o aumento da demanda. Apesar da abundância da energia solar e eólica, por exemplo, elas têm uma densidade baixa, o que exige extensões muito grandes de captação, encarecendo-as.
Você acha que uma pessoa, que teve uma péssima criação quando criança e que, após crescer, discorda dessa criação e se esforça pra ser uma pessoa decente, merece ter mais chances e ser melhor considerada que as pessoas de boa criação?
Sim. Mas o que acontece é que, quando se toma contato com uma pessoa, o que se apreende dela é o que ela apresenta no momento e não a história de como ela chegou àquele estado. Assim duas pessoas em idênticas condições terão o mesmo impacto, não importa se uma delas sempre foi assim e a outra se tornou por esforço pessoal. Só num momento posterior, ao se estabelecer um contato mais completo e se passar a conhecer a história da pessoa é que seu esforço será revelado. Por outro lado, não se pode desprezar quem seja uma boa pessoa, mesmo que assim o seja naturalmente, sem ter-se esforçado para tal, justamente por não ter preciso fazer o esforço. De qualquer modo deve-se dar um crédito suplementar ao esforço de auto-superação, sem dúvida.
Poderia um ser onipotente criar algo indestrutível, que seja indestrutível até para ele mesmo e em seguida destruir?
Não, simplesmente porque a existência de um ser onipotente é uma impossibilidade lógica, fenomenológia, ontológica e epistemológica. Simplesmente não existe tal tipo de coisa. Seria uma contradição total, como você pode ver por essa mesma questão que propôs.
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Tentar fundamentar uma crença é o melhor pra quem busca explicações? Ou o ceticismo completo por si só é a melhor forma de se chegar as respostas?
Fundamentar uma crença é uma tentativa infrutífera. O melhor para se descobrir as explicações verdadeiras é esquecer completamente qualquer crença a respeito e proceder a investigações científicas, testando-as sistematicamente até obter (ou não) uma satisfatória. Nisso o ceticismo metodológico é uma ferramente preciosíssima, pois, ao se duvidar, envidam-se esforços para esclarecer. Mesmo quando se chegue a uma explicação aceitável é preciso que ela seja considerada sempre provisória, estando-se disposto a corrigi-la logo que evidências fatuais contrariem algum aspecto da explicação. Quando às explicações mitológicas, é claro que elas merecem estudo, mas apenas do ponto de vista antropológico e histórico, jamais científico. Todavia, podem servir de ponto de partida para se saber onde procurar as explicações. Isto se aplica, por exemplo, aos conhecimentos fitoterápicos. Quanto à astrologia ou as cosmologias mitológicas, que sejam vistas como meras curiosidades e se deplore o quando tempo foi perdido porque pessoas levaram a sério tais explicações e, até, impediram que mentes científicas se debruçassem sobre o assunto para achar explicações verdadeiras. O mesmo se pode dizer das concepções criacionistas a respeito da vida.
Existe mesmo uma improbabilidade estatística das leis da física serem tão bem ajustadas para permitirem a construção do universo tal qual o conhecemos?
Não é uma improbabilidade e sim uma probabilidade. Exato! O Universo é tal como é dentre um leque de incontáveis outras possibilidades, dentre as quais, por exemplo, poderiam não haver átomos ou a matéria poderia não ser capaz de exercer as forças que permitem a formação das estruturas geológicas e biológicas. Isso é o que se entende por múltiplos universos, ou seja, múltiplas possibilidades de universos. Alguns consideram que todas as possibilidades existem em paralelo, mas não há evidência nenhuma disso. Para mim, por acaso, dentre todas as possibilidades, o Universo surgiu do modo que é e, assim, foi possível se desenvolver as galáxias, as estrelas, os planetas, as substâncias que os compõe e, disso tudo, por uma série de coincidências, ter surgido a vida aqui na Terra e ela ter evoluído até nós. Mas poderia não ter havido nada disso e, então, não existiríamos. Isto significa que a probabilidade de nossa existência é ridiculamente pequena. No entanto, como estamos aqui, foi o que se deu, mesmo assim. Dai o valor incomensurável da vida que, como somos seres conscientes (outra coincidência por acaso), temos o dever de preservar a todo custo.
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Vc não acha que pessoas que conhecem relacionamento amoroso somente na teoria (conhece muito bem,como estudar o comportamento humano, analisar diversos casos de casais) tem mais chance de ter um relaconamento duradouro que aqueles que conhecem na pratica?
O importante de um relacionamento não é ser duradouro, mas gratificante, significativo para a vida da pessoa, dure ou não. Nesse sentido, o conhecimento teórico vale muito e eu recomendo a leitura de livros a respeito, como, por exemplo, "A Cama na Varanda", da Regina Navarro. A prática também vale, desde que tenha sido praticada da forma correta. Muita prática sempre errada não vale nada. Sempre digo a respeito de todo assunto: o conhecimento teórico tem que preceder a prática, para que esta seja corretamente praticada.
O que acha do curso de Comunicação Social - Jornalismo, professor? Vou fazer o ENEM agora e estou confiante, pois sempre gostei de escrever. Acha que eu como boa leitora e por gostar de literatura e Língua Portuguesa estou indo pelo caminho certo?
Sim. Acho até preferível do que o Curso de Letras, mesmo que você pretenda ser escritora e não só jornalista. O curso de Jornalismo dá mais base para a formação de um escritor do que o de Letras. Torço para que você consiga e que, em breve, tenhamos uma valorosa jornalista que realmente dê a notícia de forma imparcial e não com o viés voltado para o lado de quem controla o meio de comunicação. Esse é o grande mal do jornalismo brasileiro: a parcialidade descarada.
Certa vez o diretor de meu centro acadêmico disse que o melhor matemático do mundo pode estar nesse momento na roça. Como se alguém que nunca pegou num livro possa superar todos os grandes doutores das universidades do mundo.
O que ele disse se refere ao potencial matemático da pessoa. É claro que ela precisaria estudar para superar todos os matemáticos, mas com sua potencialidade, em pouco tempo o conseguiria. Isso aconteceu com Srinivasa Ramanujan:
http://en.wikipedia.org/wiki/Srinivasa_Ramanujan
Certa vez o diretor de meu centro acadêmico disse que o melhor matemático do mundo pode estar nesse momento na roça. Como se alguém que nunca pegou num livro possa superar todos os grandes doutores das universidades do mundo.
O que ele disse se refere ao potencial matemático da pessoa. É claro que ela precisaria estudar para superar todos os matemáticos, mas com sua potencialidade, em pouco tempo o conseguiria. Isso aconteceu com Srinivasa Ramanujan.
Existe algum conceito cientifico tão difícil, mas tão difícil, que só 2 ou 3 pessoas no mundo inteiro conseguem entender?
Não tenho conhecimento, mas sei que a Teoria M é de uma dificuldade extrema. Mas tem mais de 3 pessoas que entendem.
Suponha que um professor de biologia dê uma aula sobre evolução para alunos do fundamental, um dos alunos decide sair da sala dizendo que isso vai de contra a sua crença religiosa. O que o professor deve fazer?
Eu confirmaria que tudo o que dissera é o que os cientistas descobriram e que as crenças religiosas são uma interpretação feita por pessoas há muito tempo atrás, que não tinham conhecimentos científicos. Por isso, nesse aspecto, precisam ser revisadas face aos novos conhecimentos. Diria isso aos pais também. Se não concordassem, paciência.
O amor existe fora da mente humana?
Não, só nas mentes, mas pode ser que outros animais também sejam capazes de experimentá-lo. Mas não conheço, ainda, experimentos feitos para detectar isso. Amor não é uma entidade nem é objetivo. Amor é um complexo de fatos psíquicos, que começa com uma admiração, passa para uma emoção (taquicardia e sudoreses só pela proximidade da pessoa amada ou por uma palavra que ela nos dirige), evolui para um sentimento, firma-se como uma racionalização intelectiva, passa para um desejo de agir, depois um querer, daí uma vontade firmada e, finalmente, culmina com ações positivamente demonstrativas de tal disposição, como o carinho, o desvelo, o cuidado, a atenção, a ternura, a proteção, a defesa, as carícias bem como todos os movimentos corporais envolvidos numa relação sexual, no momento em que ele se expressa eroticamente. Além de envolver a amizade e o bem-querer. Estou falando do amor completo, do amor total, que só existe no relacionamento romântico-erótico dos casais (que podem até ser do mesmo sexo). Aquele amor cantado nas músicas e nas poesias. Há outras formas de amor que não envolvem tudo isso, mas todas elas são puramente mentais, mesmo que se expressem corporalmente. O âmago do amor, contudo, é o sentimento, isto é, uma emoção racionalizada em um pensamento de desejo e bem-querer, que emociona e faz agir no sentido de preservá-lo e aumentá-lo.
Professor, muito obrigada pela resposta. Muitas de suas respostas aqui levam-me a questionar diversas concepções. O que o senhor acha da revista Carta Capital? Meu prof. de Sociologia acha muito "esquerdista", preferindo revistas como "Veja" e "Istoé".
Geralmente eu lia as quatro: Veja, Época, Isto é e Carta Capital. Coloquei-as na sequência da mais direitista para a mais esquerdista. Não há como evitar que um veículo da imprensa expresse o modo de pensar de seus proprietários. Com isso, inclusive, distorcem a interpretação das ocorrências para corroborar seu ponto de vista. Tanto a direita quanto a esquerda fazem isto. Imparcialidade é impossível. O ideal é ler todos os viéses para tirar uma conclusão. Por medida de economia, contudo, vou me restringir a uma só e estou a decidir por Época ou Carta Capital. Talvez fique com as duas e dispense a Veja e a Isto É. Seu professor de Sociologia tem uma tendência mais direitista, é só isso. Não há como ser imparcial. Eu, mesmo sendo esquerdista, vejo que os esquerdistas distorcem as notícias a seu favor.
Você faz alguma coisa sozinho e pensa como seria diferente se alguém estivesse junto de você? Como em uma andada pelo parque, ou comendo em um restaurante...Pensa nas conversas, nas reações que você teria com essa pessoa?
Sim, com muita frequência. Sou uma pessoa solitária e faço quase tudo sozinho, mas sinto muito a falta de uma companhia para trocar idéias e comentários sobre o que se passa e sobre tudo, em geral. Minha tendência é sempre filosofar sobre qualquer assunto, de modo que meu companheiro, ou, de preferência, companheira, também teria que ter essa veia filosófica. O ideal é que também tivesse minha cosmovisão, mesmo que discordando em aspectos particulares, o que até seria interessante. Mas se fosse de uma visão completamente antagônica, a conversa seria um debate e, ao invés de ser motivo de prazer e relaxamento, seria de desprazer e tensão. Ainda sonho em encontrar alguém assim e até conheço, mas está mais longe de mim do que a estrela a reluzir na tarde, como disse Carlos Lyra em sua linda canção "Primavera".
O senhor acha que inteligência está 100% relacionado com o ato de estudar?
Claro que não. Há pessoas muito inteligentes até analfabetas. A inteligência é uma capacidade de resolver problemas de toda ordem, não necessariamente problemas acadêmicos. Problemas da vida cotidiana também. O que desenvolve a inteligência é a contínua aplicação em estar a resolvê-los. É como um atleta. Seu desempenho dependerá de sua aplicação em exercitar-se. No entanto é verdade que as disciplinas acadêmicas, especialmente matemática, prestam-se admiravelmente para exercitar o cérebro e desenvolver a inteligência. Mas não só matemática. Desafios de toda ordem: linguísticos, mneumônicos (história, geografia, literatura), científicos (física, química, biologia). O mais importante, contudo, não é o domínio dos conteúdos das disciplinas, mas a habilidade em aplicá-los na solução de situações inéditas (é claro que, para isso, os conteúdos precisam ser conhecidos). Atividades lúdicas também podem desenvolver a inteligência, como jogar Xadrez, gamão, montar o cubo de Rubik, resolver enigmas, charadas, palavras cruzadas, sodoku, bridge etc. Aprender novos idiomas, tocar instrumentos musicais, praticar esportes que exijam mais raciocínio rápido, como tênis de mesa, fazer tricô ou crochê (mas aqueles pontos intrincados, cheios de desenhos enroscados), desenhar, esculpir, montar puzzles. Há também alguns truques, como usar o relógio invertido, comer, escrever e escovar os dentes com a mão não dominante, trocar roupa e tomar banho de olhos fechados, identificar os alimentos pelo aroma, sem vê-los, andar de fasto, escrever da direita para a esquerda. Em suma, tudo o que complica e dificulta, desenvolve a inteligência. Estar sempre em contato com novidades, por exemplo, caminhando cada dia por um trajeto distinto. Não cultivar hábitos mas sempre fazer tudo pensando no modo.
O fato de a ciência não necessitar da hipótese "Deus" para explicar o Universo (e tem provado isso constantemente) exclui totalmente a possibilidade de sua existência? Não me refiro a nenhum Deus específico.
De modo nenhum. A possibilidade da existência de Deus não é excluída pela ciência, mas apenas a sua necessidade. No entanto, não sendo necessário e não se manifestando em nada, porque supor que existe? Os ateus céticos, como eu, acham que Deus não existe, sem garantir isso, contudo. E pautam sua vida sem considerar a sua existência. Isso não implica no niilismo, que é a consideração de que, não havendo Deus, tudo é permitido. Claro que não, pois existe a sociedade e somos seres gregários. Nossa liberdade deve ser a maior possível, mas não a ponto de tolher a liberdade alheia ou causar dor, sofrimento, prejuízo ou qualquer mal aos outros. Sem Deus, é a própria sociedade que tem que zelar para que ninguém aja dessa forma.
Essa /mudra nao sabe nem o que é amor, todos os namorados dela sao fakes que ela criou ou homens que ela nunca viu. Deveria ler mais isso aqui ao invés de fazer perguntas preconceituosas.
Muitas pessoas não conseguem se libertar dos comportamentos estereotipados que a sociedade lhes impingiu. Às vezes se fazem de modernas e evoluídas, mas continuam com os mesmos preconceitos de nossos avós. Dentre eles os piores são o da divisão de papeis em masculinos e femininos, incluindo aí, modos de pensar e de se comportar em oposição de forma a taxar de "boiola" ou "sapatão", todo homem e toda mulher cujo comportamento envolva traços misturados masculinos e femininos, como deve ser a normalidade das pessoas. Isto é uma pena, pois só leva à infelicidade.
O senhor acha possível que um indivíduo ame; admirando, respeitando e sendo completamente fiel, apenas uma única pessoa (mesmo tendo outras de muita importância em sua vida, porém não tanto quanto aquela em especial)?
Sim, claro. Aliás acho que a maioria seja assim, como eu. O que eu acho é que não se pode obrigar a que se tenha amor consentido apenas a uma pessoa (porque amor não há como se controlar de sentir). Se se ama a mais de uma outra pessoa, porque não se realizar em plenitude esses amores sem restrições, com todos de pleno acordo? Qual a razão de ser egoísta e exigir que a pessoa a quem amamos ame somente a nós e não possa amar a mais ninguém? Não há nenhuma razão plausível para isso a não ser que se associe relacionamento amoroso a dependência econômica. Aí o desastre está consumado e a felicidade vai pro brejo. Ninguém consegue ser feliz sem ser livre e isto inclui ser economicamente livre. Toda pessoa adulta tem que prover-se a si mesma sem depender de outra, a não ser em casos de incapacidade física ou mental. Assim as uniões romântico-eróticas ou conjugais não terão amarra nenhuma a não ser o querer de cada um. É claro que quando houver filhos dessa união a responsabilidade é de ambos, para toda a vida. Mas separações conjugais não alteram em nada a paternidade e a maternidade, pois não existem ex-filhos nem ex-pais ou ex-mães. Além disso, num convívio honesto, decente e civilizado, quando um casal não quer mais ter envolvimento amoroso, isto não significa que se tornem inimigos. Pelo contrário, podem e devem continuar a ser amigos e, mesmo, curtir as lembranças do tempo em que se amavam, ou, até mesmo, de vez em quando, promoverem ou "affair" para matar a saudade. Estou considerando que nenhum dos envolvidos tenha feito nenhuma atitude torpe e que a separação se deu apenas pelo fim do amor ou porque algum se apaixonou por outra pessoa. Mas ninguém precisa trair ninguém por isso. É só contar e resolver se se separam ou continuam os três (ou quatro).
Então o senhor descarta o amor como forma altruísta de fidelidade? Acredita que seja algo idealizado e consequentemente falso?
Não de forma nenhuma. Fidelidade não significa exclusividade. Considero que o amor é a mais alta manifestação de altruísmo e que quem ama verdadeiramente sempre é fiel ao ser amado. Mas o que isso significa? Significa que lhe é devotado, e jamais lhe enganará, que empenhará tudo de si para o seu bem e a sua felicidade. Não se trata de um sentimento falso. É um sentimento real, profundo, sincero. E não só um sentimento. É um ato de intelecção, um desejo, um querer, uma vontade e, principalmente, um testemunho em atos positivos de cuidado, carinho, desvelo, respeito, admiração e tudo o que faz do amor a coisa mais maravilhosa do mundo, quando une a amizade, o bem-querer e o erotismo. Mas não significa, de forma nenhuma, exclusividade. Pode-se perfeitamente amar com toda intensidade e fidelidade a mais de uma pessoa. Esta é que é a questão principal do poliamor e que, ao não ser entendido e aceito como uma condição normal da pessoa humana provoca grande sofrimento. O amor é naturalmente passível de ser plural, tão forte e sincero para com cada amado ou amada quanto para com o outro ou outros. Inclusive fiel, de forma múltipla. Infiel é o que tem um relacionamento amoroso adicional de modo escondido. Se for conhecido e aceito, não é infidelidade. É isso que eu acho que deve ser aceito pela sociedade como normal, pois é um fato biológico e psíquico. Infidelidade é uma atitude torpe e indigna. Pluralidade amorosa é um enriquecimento da quantidade total de amor no mundo.
Professor, qual a relevância de se incluir literatura no currículo básico de ensino?
Tal qual é feito atualmente não acho relevante, porque se reduz aos autores brasileiros. Mas acho importante que todo estudante de nível médio tenha conhecimento de literatura em nível mundial, que saiba quem são os grandes romancistas, contistas, cronistas e poetas de todos os países, suas principais obras e a influência que tiveram, bem como tenham lido, pelo menos, nos três anos do curso, umas três dúzias de livros. Digo o mesmo a respeito das outras artes, como pintura, escultura, arquitetura, música (clássica e popular), teatro, cinema, dança, pelo menos dos principais países, como Itália, França, Alemanha, Aústria, Inglaterra, Rússia, Espanha, Estados Unidos, México, Argentina, China, Índia, Japão, Países Árabes e outros. Faz parte da cultura humanística de toda pessoa ter uma noção geral das escolas de arte, das principais obras e seus autores, de sua importância e influência, tendo tido a oportunidade de ouvir música clássica, contemplar telas e esculturas famosas, ter assistido aos mais importantes filmes da história do cinema. Isso enriquece a vida da pessoa e lhe dá uma perspectiva mais ampla de compreensão da humanidade em que se insere.
Acha que vale a pena assinar a revista Piauí?
Não tenho o costume de ler Piauí, mas, pelas poucas que já li, não acho que valha a pena, ainda mais que é da Editora Abril, sabidamente alinhada com as concepções mais direitistas, o que me leva a crer que não tenha um perfil imparcial (aliás isso é impossível em qualquer veículo jornalístico).
http://www.formspring.me/r/poliamorismo-e-um-belo-nome-pra-cornice-mansa/249945424729750014 MANS isso não muda o facto de outro homem estar a comer a tua mulher. É cornice. Não é prq achou bonito e escancarou para a vizinhança que deixou de ser cornice.
De modo nenhum, simplesmente porque não existe "minha mulher". Nenhum homem e nenhuma mulher é de ninguém. Todos podem transar com todos de forma consentida e ninguém está sendo corno de ninguém. É preciso acabar com essa ideia tosca de posse nas relações amorosas. O amor é livre e anárquico. Pode-se amar, transar ou ambos com quem se desejar, tudo sabido e consentido pelos envolvidos. Isto é que é um comportamento honesto e decente. O resto é preconceito. O pior é a correlação entre relacionamento amoroso e dependência financeira. Isso acaba com a característica mais importante do relacionamento amoroso que é ser totalmente livre. Ninguém pode ser constrangido a se relacionar ou deixar de se relacionar erotico-romanticamente com ninguém por nenhuma outra razão que não a satisfação mútua. Amor com amor se paga, sexo com sexo se paga. Iniciar uma relação ou manter-se preso a ela por outra motivação, qualquer que seja, ou financeira, ou por status social, ou mesmo, por gratidão, é eticamente um comportamento completamente condenável, muito mais imoral do que a prostituição ou o adultério.
Meu sonho perdido
deparei-me numa via tenebrosa,
sem poder ver no horizonte a alvorada.
a me olhar eu vi alguém, embevecido,
que à procura, foi também, laboriosa.
vi que tudo o que dela eu percebi,
me deixara o coração enternecido.
todas sombras afastaram do caminho
e mil sonhos de venturas eu previ.
um vulcão de amor ardeu meu coração
e ternuras pude haurir, um bocadinho.
apagou todo meu sonho embriagador.
Só tristeza ficou e desolação.
terça-feira, 18 de outubro de 2011
Qual você acha que é a importância de se ler certas obras (principalmente as clássicas) em sua língua original (como grego, latim, francês, etc)?
Em verdade "Traduttore, Traditore". Cada língua tem nuances de significância das palavras que se perdem na tradução. Mas para percebê-las é preciso ter um conhecimento profundo e uma ampla vivência da língua original. Isto é difícil. Mas eu gostaria muito de ser fluente, pelo menos em francês, inglês, italiano, alemão, espanhol, russo, grego e latim. Infelizmente, além do português, só sei inglês e consigo ler francês, espanhol e italiano. Meu avô, o Wolf Edler, era professor de Russo e Tcheco. Ainda tenho só 61 anos e vou aprender isso tudo.
o que a música faz por você? o que você faz com a música? ☠
A música me traz um conforto enorme. É minha companheira de todos os momentos da vida e participa de minhas alegrias e tristezas. Minha relação com a música vem da infância, quando comecei a aprender a tocar piano por influência de minha mãe e minha tia que tocava valsas de Chopin, no tempo em que as famílias se visitavam, conversavam e tocavam piano, pois não havia televisão. Com 13 anos ganhei uma eletrolinha portátil e o primeiro LP de uma sinfonia de Beethoven (meu pai já ouvia música clássica nos discos de 78 rpm, que tenho até hoje). Então comecei o meu acervo, hoje com mais de 4 mil discos. Há 15 anos comecei a produzir meu programa de música clássica na Rádio FM da UFV (100,7 MHz em Viçosa), sintonizável em www.rtv.ufv.br. Minha retribuição é divulgar a música clássica em meu programa, em que também faço comentários sobre as obras. Tenho algumas composições elementares para piano e gosto de cantar, no estilo Franck Sinatra, Nat King Cole, Charles Aznavour, Lúcio Alves, Dick Farney e mesmo Pavarotti e música lírica, além de bossa nova, tango, música mexicana, francesa, italiana, samba. Enfim, adoro música. Mas não gosto de funk, axé, sertanejo universitário e esse tipo de música romântica de sucesso atual. Gosto de cantoras celtas, bandas de heavy metal melódico, Beatles, cantoras americanas etc.
Eu espero que ao atingir a sua idade, eu tenha esse tanto de conhecimento que você tem professor. Cada resposta sua é uma aula! Parabéns pela pessoa que é :).
Obrigado, Guilherme. Você até me encabula. Esse meu polimatismo é desde criança. Sempre me interessei pelo conhecimento a respeito de quase tudo e o que mais me comprazia e hoje ainda compraz (depois de amar) é estudar, por gosto mesmo, sem compromisso. Felizmente tenho uma boa memória e não esqueço coisas que estudei a 50 anos atrás. Ou, pelo menos, lembro onde buscar a referência, pois tenho todos os livros que já li na vida. E também gosto muito de ensinar. O magistério é a minha profissão por vocação genuína. Fico imensamente gratificado ao ver que alguém pode tirar proveito do meu conhecimento e, com isso, crescer como gente e, principalmente, alegrar-se por estar sabendo mais coisas. O conhecimento, para mim, além de grande satisfação, é a alavanca para mudar esse mundo para um lugar mais aprazível, justo, harmônico, próspero, fraterno e feliz para todos e não só alguns. Fazer isso, levantando os véus da ignorância que oblitera a visão nítida da realidade é o que consider minha missão na vida.
O que aconteceria na Terra se o Sol desaparecesse por 15 min?
Ela ficaria no escuro nesse tempo, o que provocaria um grande esfriamento e inúmeros fenômenos atmosféricos, como chuvas torrenciais, ventos fortíssimos e outros, como perturbação nas marés. O pior é que ela pararia de orbitar nesse tempo, prosseguindo em linha reta, e quando o Sol voltasse ela pegaria outra órbita, provavelmente muito mais elíptica, o que a faria variar mais a aproximação e afastamento do Sol, alterando as temperaturas das estações do ano, dependendo de em que época isso ocorresse. É claro que são conjecturas gratuitas, pois tal evento não tem a possibilidade de ocorrer.
Assim como 3a = a + a + a e a³ = a.a.a, existe alguma notação que signifique a^a^a? Algo como ³a, p ex? Existe algum estudo das propriedades de tais operações? Poderia haver, ou há, uma "álgebra" com tais propriedades?
A operação a∧b (exponenciação) não possui várias propriedades:
a∧(b∧c) <> (a∧b)∧c - não associatividade
a∧0 = 1; 0∧a = 0 - 0 não é neutro
a∧1 = a; 1∧a = 1 - 1 não é neutro
a∧b <> b∧a - não comutatividade
Pode-se definir uma operação inversa:
a∧b=c é inversa de a∨c=b (logaritmação)
Acho que a exponenciação não preenche um grupo de propriedades para caracterizá-la com alguma estrutura algébrica como grupo, anel, ideal, corpo, ou o que seja. Todavia, vou pesquisar sobre o tema, que achei interessante.
Quem daqui tem algum Blog? Qual o link? (não Tumblr, Blog estilo Blogger, Blogspot)
www.ruckert.pro.br/blog ,
www.blogspot.com/wolfedler
Conhece uma versão melhor que o(a) original?
Talvez o Parthenon de Nashville, réplica fiel do de Atenas.
Professor, você é a favor da implantação do anarquismo no Brasil do jeito que está, ou acha que medidas devem ser tomadas primeiramente?
De modo nenhum. O anarquismo não pode ser estabelecido em nenhuma nação particularmente. Tem que ser no mundo todo junto. E só pode ser atingindo depois que houver um processo educativo preparatório que leva, pelo menos, vários séculos. O anarquismo não pode ser imposto. Tem que surgir espontaneamente. O dinheiro, a propriedade, o governo, as leis, a polícia, o sistema judiciário, as fronteiras nacionais, os exércitos terão que desaparecer naturalmente por absoluta falta de necessidade e não por decreto. Quando se chegar lá nem Brasil existirá mais. Para se chegar lá é preciso, antes de tudo, mudar a mentalidade das pessoas e isso é o que a educação tem que fazer. Trocar a competição pela colaboração, o egoísmo pelo altruísmo, a ganância pela generosidade, a cobiça pelo desprendimento, a preguiça pela diligência, a possessividade pela liberalidade, a indiferença pela solidariedade, a injustiça pela justiça, a corrupção pela honestidade, a intolerância pela tolerância, o preconceito pela aceitação, enfim, todo vício pela virtude, todo mal pelo bem. Só assim se poderá estabelecer a ordem perfeita sem coação, por convicção. Para se conseguir tal proeza é preciso muita luta, ao longo de muito tempo, para acabar com as desigualdades sociais e toda a pobreza do mundo. Isso é trabalho para muitas dezenas de gerações. Mas temos que começar já, para chegarmos lá em mil anos. Como? Pela lição e pelo exemplo. Trabalhando de graça de forma comunitária.Compartilhando nossos bens, estimulando o trabalho cooperativo. Fazendo tudo à revelia do governo. Aplicando todo o dinheiro recebido em benfeitorias para a comunidade, não deixando sobrar para pagar impostos nem para fazer poupança e nem investimentos. Isso tudo pode ser feito. É o comunitarismo, um dos pilares do anarquismo. Sem patrão e nem empregado. Dividindo a propriedade das empresas pelos trabalhadores e assim por diante.
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Existe maneira de algo encontrar-se fora do tempo e do espaço em um lugar que convencionou-se chamar de "eternidade"? Por quê? Obrigado
Não existe lugar fora do espaço e nem momento fora do tempo. Se se está, está-se em algum lugar num certo momento e, portanto, no espaço e no tempo. Fora do espaço e do tempo não há nada, nem vazio, nem vácuo. Aliás, vazio não existe, só vácuo. Eternidade não é algo em que se esteja, mas a concepção de uma existência, no espaço, ao longo de um tempo ilimitado. Tudo o que existe, ou está em algum lugar, durante algum tempo ou é uma abstração, isto é, uma concepção mental, uma imagem formada pelos circuitos neurais e dada a perceber pela mente à consciência. As abstrações não têm existência própria, mas apenas em mentes que as concebam. Sua aparente objetividade decorre apenas de um consenso intersubjetivo, como é o caso dos números e das figuras geométricas. Mas as abstrações não "estão" localizadas. Mesmo que geradas por mentes, não são entidades que ocupem espaço, apesar de terem permanência no tempo em que nelas se pensa. Mas não são eternas. Espíritos, se houver, não seriam abstrações, pois existiriam independentemente de mentes que os concebessem. No entanto, por não serem físicos, também não teriam extensão nem localização. O entendimento das propriedades entitativas de um espírito é algo extremamente controverso. Para mim, esse tipo de coisa, simplesmente, não existe.
Você acredita em amor incondicional?
Totalmente incondicional é difícil. Mesmo o de um pai ou mãe para um filho ou filha pode ser minado por um comportamento filial extremamente hostil ou ingrato. No caso do amor romântico de um casal, dependendo do grau de admiração e adoração que se tenha pelo ser amado, ele pode resistir a muitos reveses, mas haverá um limite em que todo encantamento pode ruir, por obra de uma grande repulsão pela outra parte, manifestada por palavras e atos de declarada hostilidade. Todavia, se as partes envolvidas, entre si, guardam um querer e uma admiração muito profundas, os fatores externos, como a reprovação familiar ou social não serão capazes de impedir a realização desse amor, pois eles podem, e digo mais, devem, rebelar-se contra tais oposições, mas não sem antes ouvir os argumentos e ponderar sobre eles, verificando se procedem. Se não procederem, e se se estiver disposto a arcar com todas as consequências, como a rejeição da família, vá-se em frente. Mas veja bem se o amor é forte e verdadeiro mesmo.
Já leu algum livro do Richard Dawkings? O que acha da obra dele, em especial a "Memética"? Faz sentido?
Já li quase todos os livros de Dawkins. Considero-o um ótimo divulgador científico, especialmente da evolução biológica e um valoroso e competente defensor do ceticismo e do ateísmo, a par de uma conduta ética irrepreensível. Contudo não estou de acordo com sua noção de memes e da memética. Para fazer um comentário mais completo eu precisaria reler os últimos capítulos do "Gene Egoísta", e isto mereceria um ensaio de maiores proporções. Vou ver se faço isso logo que tiver um tempo e publico em meu blog do Wordpress (www.ruckert.pro.br/blog).
Qual sua opinião sobre Robert Crumb?
Fenomenal, especialmente por sua irreverência politicamente incorreta, sem contar, é claro, seu traço marcante e personalíssimo.
Prof. li em uma resposta sua e concordo q tens q se preocurar c a saude. Infelizmente a chave p viver mais e melhor é comer pouco, já está cravado pela ciência. Minha dica e: Experimente de jejum tomar suco com pelo menos 6 frutas no liquidificador. Abs!
Concordo com você a respeito de comer pouco. Mas prefiro beber só água e comer a fruta mastigando. Aliás, para mim, a melhor de todas as bebidas é a água. De manhã eu tomo yogurte natural desnatado com granola e frutas. Tenho é que diminuir o almoço e o que como à noite, pois gosto muito de pão e queijo, que tomo com chá (camellia sinensis).
Qual o seu entendimento sobre pseudo-ciencia? Cite alguns exemplos do que vc considera como sendo pseudo-ciencia.
Pseudo-ciência é uma disciplina com todo o aparato de uma ciência, em termos de estruturação, sistematização e modelamento da realidade, sem, contudo, ter os pressupostos e fundamentos desse modelamento verificados de forma inequívoca por meio de observações e experimentos controlados, bem como uma cadeia de corolários deduzida por um processo logicamente consistente e validado. Assim, apresenta-se ao público desavisado como um corpo de conhecimento consistente e válido, portanto crível. Além do mais, suas explicações, em geral, atendem aos anseios profundos de uma apaziguação da mente em assentar-se em respostas que não sejam impessoais e frias como as da ciência ortodoxa. Ou seja, diz o que as pessoas querem ouvir. Enquadram-se nessa categoria a Astrologia, Numerologia, Homeopatia, Ufologia, Grafologia, Antroposofia, Logosofia, Gnoseologia, Parapsicologia, Quiropraxia, Acupuntura, Vitalismo e uma série de outras. Nem sempre, contudo, os resultados de uma pseudo-ciência são falsos. Podem até serem verdadeiros (há alguns casos), mas não são científicos por lhe faltarem um modo de validação.
Outro caso parecido são os das proto-ciências, que também não são ciências propriamente ditas, mas que procuram se enquadrar e, aos poucos, vão conseguindo, na metodologia científica de validação de seus modelos. É o caso da Psicologia, da Sociologia, da Economia, da Historiologia e outras.
Vc acha que Krishna não existe, mas quero ver só quando vc estiver no leito de morte. Duvido que nas suas horas finais vc não irá louvar alguma vaca que esteja perto de sua janela ou passando na TV.Os deuses hindus podem te salvar, é só vc querer.
Não é Krishna que vai me salvar, mas Ahura Mazda. É nele que tenho que confiar para ele orar na hora da morte.
Professor, teve alguma mobilizacao hoje na sua cidade à favor da democracia? Eu participei da que teve aqui em Berlim e lembrei do senhor quando vi os punks e seus cartazes à favor do anarquismo!
Infelizmente não teve. Minha cidade é uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. Apesar de ser um centro educacional, com uma Universidade Federal de bom porte e vária particulares, além de muitos colégios, para onde se dirigem estudantes de várias procedências, o pessoal parece que anda meio desligado dessas questões maiores de âmbito global, tanto econômicas quanto ecológias. Parece que só se preocupam com suas vidinhas vazias e seus problemas imediatos de sobrevivência. Aqui ainda não foi resgatado o idealismo dos meus tempos da juventude, na década de 60 do século passado. Uma pena. Até que eu me esforço, mas a inércia está grande e o "stablishment" é forte para manter o "status quo".
Qual a música que faz você viajar sem usar drogas?
"She" a versão em inglês do Charles Aznavour de sua canção, Tous Les Visages de L'amour, que foi gravada por Elvis Costello na trilha do filme "Nothing Hill", de Roger Mitchell, com Julia Roberts e Hugh Grant. A música descreve, com riqueza de detalhes, exatamente como eu vejo a pessoa que amo e o que sinto por ela.
http://www.youtube.com/watch?v=wxKDXVbR3fc
Como se manter saudável, física e mentalmente, professor?
Principalmente sendo uma pessoa interessadíssima por tudo o que existe e acontece. Do tipo extremamente curioso, que mete o nariz onde não é chamado, que não pergunta se pode fazer o que resolve e já vai fazendo, que dá palpite em tudo, que quer resolver tudo, que não tem preguiça de fazer nada em benefício do mundo, que não fica preocupado se está com fome, sede, sentindo calor, frio, se está cansado ou com sono. Que luta por seus ideais, que estuda, discute, argumenta, debate. Que não tem medo de trabalho e faz tudo o que for preciso, até trabalho braçal. Que resolve tudo para todo mundo, Que está sempre prestativo. Em suma, uma pessoa que não fica preocupada consigo mesmo, mas com a melhoria do mundo. Mas que também curte a beleza, o amor, a amizade e o lazer, mas sem priorizá-lo e nem ficar neurótico com o cumprimento dos deveres. Manter uma atitude mental de disposição sem preguiça, mas sem afobação. Ter uma certa sobranceria e fleuma, de modo que se faça sempre o melhor possível (mas que considere que impossível é só quando for impossível mesmo e não apenas muito difícil) e, se não conseguir, não se abalar. Não se importando com o que der e vier. Se ficar pobre, ficou, se for preso, foi, se morrer, morreu. Então pode também se alimentar saudavelmente e praticar exercícios sem neuras. Em suma, dedique-se a viver plenamente de forma a dar significado à sua vida que ela será saudável.
domingo, 16 de outubro de 2011
Não acha mesmo que a ciência que descobriu a antimatéria, dna, partículas subatômicas, átomos, moléculas, metamateriais os cambal poderia perfeitamente já ter descoberto a alma caso existisse? Só lembrando q já descobrimos onde ela PODERIA estar: na mente
Considero que sim. Se houvesse algo a que se poderia chamar de alma, isto é, uma entidade éterea que sediaria a consciência e que, de certa forma, se ligaria ao organismo, dele se desligando com a morte biológica e sobrevivendo, acho que já se teria encontrado um modo objetivo de se verificar sua existência, independentemente de crença. Pelo que sei, isto nunca foi verificado.
Você faz academia? Se não, tem vontade de fazer?
Já fiz e parei por falta de dinheiro. Mas tenho uma bicicleta ergométrica e posso fazer muitos exercícios de solo, bem como caminhadas de graça. Alíás preciso fazer, por motivo de saúde geral e cardiológica, bem como dieta. Mas não tenho feito. Porque? Porque detesto e ainda não reuni força de vontade suficiente. Em 2002, depois do meu segundo infarto, eu emagreci 35 kg em 4 meses (de 120 kg para 85 kg) e fiz academia, ficando bem em forma. Mas eu estava muito motivado. Inclusive porque pretendia conquistar uma pessoa que também era ligada em malhar o corpo. Isto foi no ano seguinte ao de minha separação. Não tive sucesso, mas, depois encontrei outra companheira, com que estou até hoje. Mas, desde então, voltei a engordar 20 kg. Estou com 105 kg e tenho que emagrecer esses 20 kg, inclusive porque adquiri diabetes do tipo 2. Vou caminhar e me exercitar sozinho, pois ando bem apertado de dinheiro, para gastar com academia.
Ernesto, existe alguma razão para que a razão áurea (ϕ) apareca tanto na natureza? ou é só coincidência mesmo?
Claro que existe! A razão áurea é, justamente, uma propriedade da natureza, descoberta pelos matemáticos. Trata-se do fenômeno pelo qual, na natureza, quase tudo o que cresce por etapas, de modo descontínuo, se faz de forma que o a razão do novo valor, com o acréscimo, para o anterior é a mesma do anterior para o precedente. Esta figura ilustra bem isso em retângulos crescentes:
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/23/Golden_spiral_in_rectangles.png
Poliamorismo é um belo nome pra cornice mansa.
Demônios da Garoa foi um famoso grupo formado em meados do século passado que interpretava principalmente Adoniran Barbosa. Se fosse formado hoje, seria mais apropriado chamá-los de Demônios da Enchurrada? Ou: o que está acontecendo com o clima da cidade?
O clima mudou pouco. O que mudou mais foi a impermeabilização do solo, que impede a chuva de ser absorvida pelo terreno exposto e, então, a água, ao invés de se dirigir ao lençol freático, escorre por cima, provocando as enchurradas.
Quando a realidade bate a sua porta?
Quando minha excessiva generosidade me deixa sem dinheiro para pagar as contas, isto é, todo mês.
Você prefere criar ou quebrar regras?
Uma coisa não exclui a outra. Criar é sempre uma celebração e quebrar regras idiotas e opressoras, uma libertação. Que se faça sempre que for oportuno, sem receios, com firmeza e altivez. E assumindo todos os riscos e responsabilidades, sem vacilo.
Qual amor vc considera impossível?
Não acho que nenhum amor seja impossível. Pode ser que não seja correspondido ou que não possa ser expresso publicamente. Mas o sentimento não tem barreira nenhuma. É completamente livre. Você pode amar a quem ou a que quiser, a quantos quiser, o quanto quiser, o tempo que quiser. E, se não for prejudicar o ser amado, ou outros amores, pode proclamar a quem quiser.