Aproveite o dia e a noite e goze a vida sem pensar que vai morrer. Só precisa pensar que vai morrer a pessoa que acha que tem uma alma imortal que pode ir para o céu ou para o inferno em função do que fizer na vida. Não vai para lugar nenhum. Alma não existe. Com a morte a pessoa acaba inteiramente para sempre.
Isto, contudo, não significa um niilismo nem um hedonismo desenfreado. A inexistência de Deus e de alma imortal não exime a pessoa de agir eticamente em tudo o que faça, isto é, de modo a não causar prejuízo e dor a ninguém. O ideal é a síntese dialética entre o epicurismo e o estoicismo. Curtir a vida para ser feliz praticando a virtude e fazendo o bem. Com moderação, os prazeres do amor, da alimentação, da amizade, das artes, da convivência e todos os que houver serão fruídos com maior alegria e satisfação, sem efeitos dolorosos colaterais. É preciso pensar na vida e não na morte. Isto inclui cuidar da saúde física e mental e dar significado à própria vida, vivendo-as de tal forma que, por causa dela, o mundo se torne um lugar melhor para todos.
Postagens do pensamento, textos, poemas, fotos, musicas, atividades, comentarios e o que mais for de interesse filosófico, científico, cultural, artístico ou pessoal de Ernesto von Rückert.
sábado, 16 de outubro de 2010
Carpe Diem ou Memento Mori?
O Brasil pode ser um país laico, mas quando a vontade de pelo menos 170 milhões de pessoas (numero de reliosos no brasil-2000) é proclamada, logo chega-se a conclusao de que para a maioria cre que o bem mútuo é a nao legalização da prostituição.
Eu diria que 170 milhões de brasileiros declaram no censo que possuem uma religião mas, de fato, uma pequena fração deste número realmente vive integralmente sua religião. Para mim, ser afiliado a uma religião é ter um compromisso de viver segundo seus preceitos, isto é, ser santo, ou, pelo menos, envidar o maior de seus esforços neste sentido. Se assim não for a pessoa não é religiosa, mas apenas finge ser. Muitos cristãos não seguem as prescrições de Jesus, por exemplo, não dão tudo o que possuem aos pobres para seguí-lo. Até sacerdotes não cumprem seu voto de pobreza e castidade. Serviços religiosos têm que ser inteiramente gratuitos. Os templos têm que viver de doações voluntárias em bens e não em dinheiro. Religião não pode mexer com dinheiro. Há cristãos que falam mentiras, são desonestos e cometem vários pecados. Se isto for algo esporádico e se a pessoa tiver um contrito arrependimento e se emendar, aceita-se como um sinal da fraqueza humana. Mas muitos agem assim rotineiramente, sem emendar-se e nem querer emendar-se. Como podem dizer que possuem religião nos censos? Estão mentindo. Muitos dos que dizer ser contra a legalização da prostituição fazem uso dos seus serviços. Então sua moralidade é falsa. Como pretender se valer de prostitutas mas não reconhecer que elas são seres humanos merecedores dos mesmos direitos que todos os outros. Parecem que não conhecem a Bíblia, por exemplo, o capítulo 8 do Evangelho de João. Tenho muito desprezo por pessoas desse tipo, que jactam uma moralidade que não praticam. Gostaria que existisse mesmo o inferno para que lá eles padecessem por esse pecado maior do que o das prostitutas.
E o que acha da legalização da prostituição?
Considero que prostituição, quer masculina, quer feminina, seja uma coisa que não deveria existir numa sociedade em que o sexo fosse algo completamente livre, sem restrição nenhuma, podendo ser praticado pela juventude com aquiescência dos pais e por casais com outros parceiros, com aquiescência recíproca. Tudo isto de uma forma segura, com envolvimento afetivo e com respeito mútuo, mas sem nenhuma conotação econômica. Inclusive no matrimônio. Isto é, nenhum casamento poderia ser realizado como meio de vida para um dos cônjuges. Trata-se de uma espécie de prostituição velada. Todo adulto capaz tem que prover-se a si próprio, sem depender de nenhuma união conjugal para tal. Considero, também, que possa ser inteiramente aceitável as uniões plurívocas, isto é, a poliginia e a poliandria, com todas as implicações legais decorrentes. O mesmo penso das uniões entre parceiros do mesmo sexo. Quanto aos filhos, naturais ou adotados, sempre se identificará o adulto que será considerado seu pai ou mãe, numa concepção alargada de família, não necessariamente mononuclear. Isto já acontece, mais ou menos, com os casais que se separam e constituem novas uniões, em relação aos filhos dos diversos casamentos. Só que tal situação passaria a existir não apenas sequencialmente, mas também concomitantemente. Não se trata de libertinagem nem de devassidão, mas de um fato inteiramente normal, dentro de um compromisso de fidelidade não exclusivista, com envolvimento amoroso plural e sem nenhum ciúme.
Isto posto, afirmo que a prostituição poderia, sim, ser uma atividade legal, com todas as implicações que disto decorrem pela legislação trabalhista, tanto para homens quanto para mulheres, até que a liberalização total da sociedade faça com que tal prática se extingua naturalmente. Acontece que, com a hipócrita repressão social do sexo atualmente existente, que admite casos extraconjugais, desde que não abertamente admitidos em público, bem como pela dificuldade de encontrar parceiros ou parceiras para o sexo, face as implicações extrassexuais geralmente envolvidas nos relacionamentos consentidos, muitas pessoas se vêm privadas do sexo, até mesmo por sua falta pessoal de atrativos capazes de provocar o desejo no sexo oposto. Neste caso, apenas a prostituição, masculina ou feminina, lhes propiciará a possibilidade de fazer sexo. Tal fato, além de outros, faz com que, mesmo que não seja legalizada, a prostituição continuará a existir por um bom tempo. Só que, sem a legalização, os prostitutos e as prostitutas ficam a descoberto de toda proteção legal, além de serem alvo de chantagem por parte do aparelhamento policial, por exemplo.
A legalização da prostituição, inclusive, facilitará a extinção da cafetinagem e do tráfico de escravos e escravas para fins sexuais. Em minha opinião, seria uma grande vantagem social.
As manifestações religiosas contra isto não devem ser levadas em consideração, pois o Brasil é um país laico e, em grande parte das vezes, as religiões se colocam exatamente contra medidas que beneficiam a sociedade, em nome de princípios obsoletos e insustentáveis na conjuntura social e científica atual.
O que te faz pensar que a humanidade durará 50 milhões de anos?
Um modelamento matemático da extinção das espécies (Newman & Palmer - Modeling Extintiction) prevê uma média de 10 milhões da anos para a duração de cada uma, até serem extintas. Mas há uma distribuição com algumas durando centenas de milhões de anos. A humana, no meu entendimento, por ter um domínio sobre as condições de sobrevivência (medicina) e alta adaptabilidade às variações ambientais, certamente estará acima da média. Mesmo considerando a hipótese de uma destruição cataclismica por meteorito ou guerra mundial, haverá sobreviventes que recomeçarão a marcha da civilização, que, inclusive, poderá vir a ser interrompida inúmeras vezes, retornando tudo ao começo. Fatalmente, contudo, haverá um momento em que as novas espécies trans-humanas que surgirão levarão vantagem competitiva com a nossa, que se extinguirá, como ocorreu com os Neandertais e outros hominídeos.
O que seriam para o senhor matérias desnecessárias nas escolas?
Não matérias, mas conteúdos das matérias. No ensino básico (fundamental e médio), aqueles eminentemente técnicos, que só seriam usados por profissionais da área. Muitos, como associação de resistores, equilíbrio de barras, só para citar os de minha área, a Física, são colocados porque caem nos vestibulares e caem porque é fácil se arranjar muitas questões sobre eles. Isto também ocorre em todas as matérias. No seu lugar se poderiam abordar conhecimentos mais fundamentais para a compreensão do mundo, como, ainda na Física, momento angular, hidrodinâmica, lei de Gauss, lei de Ampere, ondas eletromagnéticas, física quântica, relatividade, cosmologia, ou, na Matemática, derivadas e integrais. Ou, ainda, mais habilidades úteis para a vida de todo mundo, qualquer que seja sua profissão, como horticultura, mecânica, eletrotécnica, eletrônica, hidráulica, edificações, marcenaria, além das artes plásticas, música, oratória (retórica), dialética, lógica, educação moral, educação sexual e afetiva, boas maneiras etc. Não se vê história do oriente, religiões do mundo e outras temas importantes. É preciso se mudar a concepção do Ensino Básico e tirar dele o caráter de treinamento para resolver questões e problemas, passando para uma compreensão e uma reflexão sobre o legado científico, técnico, artístico e cultural da humanidade numa perspectiva crítica, ao mesmo tempo que se priorize as aplicações e o desenvolvimento de habilidades úteis para a vida. Isto precisa acontecer em uma escola de tempo integral, como pretendiam ser os CIEPS e os CAICS.
Bom, todo dia é um dia. E você merece parabéns em todos os dias. Todos os dias são dádivas. Então, não vou te dar parabéns não. Mas eu já te dei parabéns hoje? Ah, parabéns vô, você é 10. 10 não, 1000. rs Um abraço do fundo do meu coração.
Obrigado, Jean. Esta manifestações me comovem. Veja o que eu respondi ao Gui. O mesmo digo a você. Um abraço.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
O que é informação para você(o Sr.)?
Chame-me por "você". Aprendi com meu pai, que aprendeu com o dele e ensinei a meus filhos que ninguém é superior nem inferior a ninguém na vida. Assim não chamo ninguém de senhor e nem gosto de ser chamado assim. Só de você ou tu, como meu pai dizia, pois sua mãe era portuguesa e o pai um anarquista austríaco, apesar de ser da nobreza, que falava o português de Portugal. Isto não é desrespeito, pelo contrário, é a máxima consideração ao colocar o interlocutor no mesmo nível seu, seja quem for. A mesma consideração e respeito que eu tenho para com a maior autoridade eu tenho para com o mais humilde serviçal e chamo todos de "você".
Informação, para mim, são dados interpretados num contexto que lhes dê significância. Por exemplo, os fótons que atingem a retina são dados, que, interpretados pelo cérebro, passam a informação sobre uma imagem que está sendo vista. A informação só existe quando alguma mente a captura em uma percepção, que é uma interpretação de sensações fornecidas pelos órgãos sensoriais. Dados são sinais a serem processados por um interpretador, de acordo com algum algorítmo decodificador que lhes confere uma significância. Por exemplo, as marcas refletoras e absorvedoras de luz que se dispõem sobre a superfície de um Compact Disk são dados, que só passarão a informação sobre a música ali gravada se forem lidas por um feixe de raio laser ao longo de uma espiral de passo determinado e com uma velocidade específica, processadas por um modem, que converterá cada grupo específico de sinais (bits) em um valor de intensidade de onda sonora a cada intervalo definido de tempo, para construir uma sequência modulada de pulsos elétricos que, no circuito eletrônico e no alto-falante, se transformará na informação da música gravada.
Qual o melhor livro sobre evolução que você leu?
Para uma abordagem técnica o melhor, na minha opinião, é "Análise Evolutiva", de Freeman & Herron.
Também recomendo "Evolução", de Mark Ridley.
Como divulgação científica, elenco:
"O que é Evolução", de Ernst Mayr.
"A longa marcha dos grilos canibais", de Fernando Reinach,
"Lance de Dados" e "A montanha de moluscos de Leonardo da Vinci", de Stephen Jay Gould.
"O gene egoísta", "A escalada do monte improvável", "O relojoeiro cego", "O maior espetáculo da Terra" e "A grande história da evolução", de Richard Dawkins.
"À Beira d'Água" de Carl Zimmer.
Para saber dos argumentos contrários, cito:
"A Caixa Preta de Darwin", de Michael Behe.
Sobre uma outra abordagem da evolução:
"Evolução em Quatro Dimensões", de Jablonska e Lamb.
Sobre consequências da Teoria da Evolução:
"Darwin e os Grandes Enigmas da Vida", de Stephen Jay Gould.
"O Especrtro de Darwin" de Michael Rose.
Feliz dia dos professores, Ernesto. Você é absurdamente inteligente e tem uma habilidade notável de transferir conhecimentos. Queria que todos os professores fossem como o senhor.
Obrigado, Gui. Fico feliz em ouvir isto e, principalmente, em reconhecer que meu trabalho de disseminação de conhecimentos e valores, não só em sala de aula, mas pela internet, em meus blogs, nas comunidades de que participo e, agora, neste formspring, tem tido repercussão e sido motivo de conscientização de muitas pessoas para a necessidade de refletirem livremente sobre tudo o que lhes é impingido pelo sistema educacional, pela imprensa, pelas tradições familiares e pelas instituições, como as religiões. E que, assim conscientizados, pugnem pela construção de um mundo melhor, esclarecido, mais justo, tolerante, harmônico e fraterno. Quanto ao papel do professor, vejo que ele é, principalmente, não o de um transmissor de conhecimentos, se bem que isto também faça parte, mas de um incitador da busca de conhecimentos pelo próprio educando, um incentivador da curiosidade e do entusiasmo pelo saber, um abridor de horizontes, um desenvolvedor de habilidades de raciocínio, de pesquisa e de aplicações do saber para a vida e, mais do que tudo, um formador do senso crítico, do livre pensamento, da personalidade e do caráter.
Qual a sua definição para "intelectualóide"? Abraços.
A própria palavra já diz: uma pessoa que se passa por intelectual sem, de fato, o ser. Considero que intelectual não é apenas uma pessoa que domine vastos conhecimentos. Um médico, um engenheiro, um empresário podem dominar vastos conhecimentos sem serem intelectuais. O intelectual é aquele que tem conhecimentos mais teóricos e consegue correlacionar o saber de sua área específica com as demais áreas do conhecimento humano.
O passo seguinte é ser um erudito, isto é, que domina seu campo de saber em profundidade e abrangência superlativas. Já o filósofo se caracteriza principalmente por ser uma pessoa que reflete e questiona. Normalmente ele deve ter conhecimento de filosofia e história da filosofia, e, portanto, ser um intelectual, mas não necessariamente. Alguém pode ser um filósofo sem que seja intelectual e nem todo intelectual será um filósofo. Uma característica do filósofo é seu amor e sua busca pelo saber e, mais que o saber, pela sabedoria.
Erudição e sabedoria são, certamente, conceitos bem distintos, como já está mais que provado. Antes de tudo devemos distinguir inteligência de conhecimento. Conhecimento é acúmulo de informação, certamente correlacionada e sistematizada. Inteligência é habilidade em aplicar o conhecimento na solução de problemas, práticos ou teóricos. A inteligência é o “hardware” e o conhecimento é o “software”. A pessoa pode ser inteligente e ignorante ao mesmo tempo. Erudita é uma pessoa inteligente e de muito conhecimento, sendo, assim, capaz de argumentar, articular o pensamento, persuadir, expor uma idéia, desenvolver um raciocínio, sempre com grande embasamento. Mas o erudito pode não ser sábio. Sábio é aquele que usa o conhecimento que tem (que pode ser muito ou pouco) e a inteligência, de modo proveitoso e adequado, isto é, de modo a acarretar a maximização da felicidade do maior número de pessoas, de modo a, em tudo, ser justo, equitativo e respeitoso do direito alheio (inclusive dos seres irracionais e inanimados) e pricipalmente, agir sempre colocando a bondade como primeira prioridade. Sim, porque ser bom é mais valioso do que ser justo e honesto, pois o justo e o honesto podem ser frios e calculistas mas o bom é sempre justo e honesto, e, portanto, sábio. Se o sábio for também erudito então termos a pessoa humana com as melhores qualidades que se pode encontrar pois ela será também modesta e virtuosa em todos os outros aspectos. É o ideal do filósofo da grécia antiga ou do “santo” dos primeiros cristãos. Isso não significa que seja casmurro. Certamente o verdadeiro sábio é alegre e jovial.
Existem dois conceitos de filósofo. Um amplo e um restrito. Segundo o amplo, filósofo é todo aquele que se debruça sobre a realidade para refletir, questionando e buscando respostas (mesmo que não as ache). Assim, não se requer nenhum tipo formal de estudo para ser-se filósofo, na concepção ampla. Na concepção restrita, um filósofo é um profissional, com diploma universitário, mestrado e doutorado na área, detentor de um amplo e profundo conhecimento de tudo o que trata a filosofia e do que disseram os grandes filósofos, aliado à habilidade de, ele próprio, fazer uso das ferramentas de raciocínio para construir sua visão da realidade, com a devida competência retórica e pedagógica para expô-la didatica e convincentemente ao público. Considero-me um filósofo no sentido amplo.
Tenho uma história familiar inteiramente intelectual. Meu pai, o pai dele e o pai do pai dele eram professores, respectivamente de Geografia e História, Línguas Eslavas e Química. Meu pai no Ensino Médio, Meu bisavô e avô, na Universidade em Viena e eu lecionei Física e Matemática em Universidades e no Ensino Médio (vejam meu currículo em meu blog: www.ruckert.pro.br/blog). Meu avô, partidário da libertação da Hungria e da Tchecoslováquia do Império Austríaco, emigrou para o Brasil em 1906, por intercessão do pai dele, que era professor do Arquiduque Francisco Ferdinando, para não ser preso. Aqui ele, que não era lavrador em uma colônia de imigrantes agrícolas, acabou como professor no Mosteiro de São Bento no Rio. Ele falava oito línguas: Alemão, Tcheco, Russo, Inglês, Francês, Italiano, Espanhol e Português.
Por parte de minha mãe não era diferente, pois o pai dela, Almirante médico, era primo de Rui Barbosa, meus tios foram intelectuais, um deles médico do exército, pesquisador da cura da Tuberculose no Sanatório de Itatiaia. Todos meus tios e primos são professores, advogados, médicos, engenheiros, militares ou funcionários públicos e sempre tiveram bibliotecas. O pai da mãe do meu pai foi adido comercial de Portugal no consulado de Belo Horizonte e tinha uma grande biblioteca. Em minha família não há empresários e nem ruralistas. Assim, posso dizer que meu pendor para os livros é, realmente, hereditário. Meu espírito inquiridor, questionador, libertário e anarquista, mesmo que contidos em um vaso polido por um comportamento e um estilo refinado e aristocrático, me foram passados por meu pai e minha mãe, que os possuiam em grau elevado e que sempre me descortinaram horizontes amplos de possibilidades de um mundo harmônico, fraterno, tolerante, livre e igualitário, mas responsável, ético, solidário, educado, honesto, disciplinado, bem como gentil e alegre. Meus pais foram meus heróis por tudo o que fizeram. No jardim principal de Barbacena há uma placa em homenagem ao trabalho social de minha mãe.
Considero que todo aquele que goza do privilégio de possuir uma facilidade de entendimento intelectual, ou alguma sensibilidade artística ou qualquer dom especial que o destaque, sem que tenha feito nada para merecer isto, tem a obrigação de colocar seu dom a serviço de todos, para o aumento do bem estar, do conhecimento, da sabedoria e da felicidade da humanidade. Este é o significado de sua vida. Quem tem o dom da música e da palavra, cumpre sua missão de fazer o mundo melhor por suas ações, independentemente do que isto possa lhe trazer de recompensa. Da mesma forma os empresários. Eles têm uma delegação coletiva implícita de trabalhar para o bem da coletividade.
O mais interessante é que nenhum mérito pode me ser atribuído por ser eu quem sou, pois tudo me foi concedido naturalmente, sem que eu tivesse que me esforçar para obter o conhecimento, a sensibilidade ou a inteligência que atribuem a mim. Mesmo o caráter me foi presenteado. Assim, valor algum se pode dar a tudo que faço, pois o faço por deleite e sem esforço. Este é um mistério que Calvino explicava em termos dos eleitos. Mas eu admiro quem obtém seus méritos por esforço.
Você aceitaria debater com Willian Lane Craig? Mesmo sabendo que ele é um dos melhores, ou talvez o melhor no que se refere a debates sobre a existência de deus? Mesmo sabendo que nomes como Atkins, Crossam, Wolpert, Hitchens e muitos outros se deram mal?
Tranquilamente. Só que não tenho um domínio do inglês falado tão bom. Mas estou redigindo um texto de refutação aos argumentos de Craig em seu debate com o Austin Dacey, que publicarei em meu blog. Mas, como estou super atolado de trabalho, isto ainda demora. Neste fim de semana não vai dar, pois passarei trabalhando em casa. Talvez no feriadão de finados.
Feliz dia dos professores, meu caro Ernesto! É incrível ter alguém como você pra tirar nossas dúvidas! Agora, minha pergunta: " para qualificar um ato como sendo absolutamente errado é necessário pressupor um Legislador absoluto" ?
Obrigado pelos votos e pelo comentário. Realmente, depois de um ser humano, a primeira coisa que sou é um professor. Que também estuda, pesquisa, filosofa, escreve, canta, pinta e ama.
Apesar da ética procurar estabelecer as noções de certo e errado de forma absoluta, isto é, independente das circunstâncias históricas, sociais e geográficas, isto não é obtido de forma definitiva, como também ocorre com a questão epistemológica da procura da verdade. Mesmo assim, sempre se pode considerar que há um meio de se aferir o caráter ético de uma ação, seja ela aceita ou não pelos costumes do grupo e estrato social envolvido naquele momento e lugar. Isto é, o caráter ético não se prende às prescrições morais, mas estas sim, devem, mas nem sempre o fazem, seguir as orientações da ética.
Tais considerações não pressupões nenhum legislador absoluto. São produzidas por reflexões puramente humanas, considerando que a vida em sociedade deve ser de tal modo estruturada que propicie prosperidade, bem estar e felicidade para seus componentes como um todo e não apenas para alguns. Errado é, pois, um ato que se insurge contra tais metas, isto é, que provoque dor, prejuízo, sofrimento, tristeza, incômodo de uma forma global, mesmo que seja bom para alguém ou um grupo em particular. Um ato que não possa ser erigido em norma a ser prescrita para todo mundo sem incorrer em graves prejuízos globais. Um ato que a pessoa não desejaria ser por ele atingida. Isto não tem nada a ver com algum legislador, de nenhuma espécie. Leis e normas não são prescrições éticas, apesar de também terem que obedecer critérios éticos, mas sim prescrições práticas, para a condução da vida social. Algumas podem se referir a punições por desobediência a normas morais, que, teoricamente, devem seguir a ética. Mas o legislador não é absoluto.
De onde vem a fé em divindades? Por que e como o ser humano começou a acreditar em divindades? Por que seres divinos e não outra coisa? Isso merece uma explicação, não acha?
Sim, mas é simples. A observação das ocorrências da vida cotidiana fez ver ao homem primitivo que todas as ações eram provocadas por agentes identificáveis, pessoas ou animais. Assim, ações das quais não se conseguir identificar o autor passaram a ser atribuídas a entidades invisíveis, os elementais, como duendes, gênios, elfos e coisas desse tipo. Ações de grande porte, como tempestades, raios, erupções vulcânicas, terremotos, avalanches, certamente que deveriam ser produzidas por entidades muito poderosas, então chamadas de deuses. Estes também seriam responsáveis pelas ocorrências da natureza, como a germinação das plantas, o nascer e o por do Sol, e tudo o que não se via que fosse feito por alguém imediatamente identificável. Como ocorriam coisas boas e más, os deuses foram tidos como caprichosos, tendo que ser paparicados para propiciarem coisas boas e desistirem de fazer as más. Isto é algo intuitivo para uma mente primitiva, não no sentido de ter menos capacidade do que a nossa, pois o sapiens sapiens já tinha toda a nossa capacidade, mas não o nosso volume de informações, adquiridas ao longo da história, transmitidas e enriquecidas de geração a geração. Primitivas no sentido da ignorância científica, como muitas pessoas hoje ainda o são, apesar de terem o mesmo grau de inteligência de quem seja instruído. Com o passar do tempo e o início da história, devido à comunicação entre os diversos agrupamentos humanos, foram se cristalizando os mitos ancestrais e, em alguns casos, se direcionaram para a concepção de uma divindade principal, que depois passou, entre os judeus e outros povos, a ser considerada unica. O interessante é que tais divindades eram tidas como particulares de cada grupamento. A noção de um Deus só para todo o mundo é posterior. Não há nada transcendental na concepção da existência de deuses. Trata-se de uma inferência quase óbvia, para quem não conheça as causas naturais dos fenômenos.
Quanto à existência da alma, isto também é uma intuição muito fácil de se compreender, uma vez que parece que o pensamento se dá numa instância incorpórea, diferentemente de uma dor, uma coceira, o frio, o calor. Já os sentimentos parecem acontecer no coração, que é o órgão que mais responde às emoções e um sentimento é uma emoção conscientizada. A consciência do "eu" também parece residir fora do corpo. Somente estudos neurológicos bem recentes é que começam a localizar no cérebro a sede do pensamento, dos sentimentos e da consciência. Como isto parecia estar fora do corpo, inventou-se a noção de alma, como a sede da consciência e do pensamento. E se ela não era o corpo, não precisava morrer quando o corpo morria. Daí a considerar sua sobrevivência fora do corpo, como um "espírito", que seria feito de alguma espécie de "matéria sutil". Muito fácil, também, supor que este espírito pudesse voltar a se incorporar ao corpo de alguma pessoa em gestação e se torna a alma dela. Isto é uma coisa tão intuitiva, que surgiu de forma análoga em grupamentos humanos diversos. Possivelmente as formas mais primitivas desses conceitos vieram com o homem da África, antes que se dispersassem pela Ásia e Europa e depois pela América e a Oceania. Todavia, nada há nesses fatos que possa ser considerado como provas da existência da alma e de Deus. Nos dias atuais, pessoas do meio rural, principalmente, acreditam na existência de muitos elementais, o que não prova que existam. Da mesma forma há culturas elaboradas e sofisticadas, como gregos e romanos e, ainda hoje, indianos, que são politeístas. Isto não garante que os deuses em que eles crêem existam. Da mesma forma a crença das religiões abrahãmicas em seu deus único não é prova de que exista.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Cara, você tem algum palpite para o princípio da gênese? Digo assim, algo mais formulado, mesmo que seja uma hipótese.
Considero que o surgimento da vida deu-se a partir de aminoácidos produzidos por descargas elétricas em mares primitivos que foram aprisionados por glóbulos de gordura, criando uma membrana isoladora, dentro da qual puderam ser formar proteínas e estas iniciaram algum metabolismo, mesmo antes de terem surgido as moléculas replicadoras. Quando estas surgiram foi possível àquele sistema reproduzir-se, e assim começou a vida, da qual todos os seres hoje existentes são descendentes, pois aquelas condições não existem mais, exceto, talvez, nas fumarolas submarinas. Assim a vida, hoje, só é proveniente de outra vida, havendo um fio condutor de vida ligando cada ser a seus gametas e estes ao novo ser que geram. Mas, originalmente, a vida surgiu da matéria inanimada, nesse processo de abiogênese, segundo um modelo do tipo Oparin-Haldane.
Professor, o que o sr. pensa das ciências humanas? Crê que elas são mesmo ciências? Por quê?
Sim, são ciências, no sentido em que são um corpo sistematizado de conhecimentos, mesmo que nem sempre se possa aplicar a seus conteúdos o critério de falseabilidade de Popper. Aliás este critério é um indicador do caráter científico do conhecimento. Se houver a possibilidade de sua aplicação e o resultado der negativo, então o conhecimento não é científico. Tal é o caso da Astrologia e do Espiritismo, por exemplo. Há casos, contudo, em que o critério nem consegue ser aplicado, como, por exemplo, em psicologia introspectiva. Isto não significa que se deva rejeitar o campo de conhecimento como científico. Se o conhecimento tiver sido gerado de uma forma objetiva, livre de opiniões, calcado em verificações fáticas, mesmo que não possa ser experimentalmente falseado, pode ser considerado científico, de forma provisória. O inconveniente é a possibilidade da coexistência de teorias paralelas conflitantes, até que se tenha algum teste diferencial que permita decidir entre elas. Por isso é que o estatuto científico da sociologia, antropologia, psicologia, economia, história, por exemplo, são inferiores ao da física, astronomia, química, biologia, geologia, por exemplo. Mas isto não chega a deixá-las à margem do conjunto das ciências.
Como responderia ao argumento cosmológico?
Já escreví muita coisa a respeito disto. Veja, por exemplo:
http://www.ruckert.pro.br/blog/?p=3945 ;
http://www.ruckert.pro.br/blog/?p=3920 ;
http://www.ruckert.pro.br/blog/?p=3821 ;
http://www.ruckert.pro.br/blog/?p=2894 ;
http://www.ruckert.pro.br/blog/?p=4048 ;
http://www.ruckert.pro.br/blog/?p=4009 ;
http://www.ruckert.pro.br/blog/?p=2914 .
Também participei de debates no orkut sobre o tema:
http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=102514309&tid=5477802754424329834&na=1&nst=1 ;
http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=341467&tid=5330550560386409943&kw=ateista .
Não sei se já lhe perguntaram isso aqui, mas você concorda que uma política mais eficaz a respeito da questão do aborto seria por meio de programas de acesso a métodos contraceptivos e educação, em vez cde discutir a criminalização? Fábio Paiva
Esta política é sumamente necessária, não importa o que pensem as religiões. E mais, uma política forte e abrangente de adoção de crianças geradas por mães que não tenham condições de criá-las, por penúria ou pouca idade, com apoio garantido e seguro a que possam levar suas gestações a termo. É preciso deixar de encarar os fatos sexuais como tabú e discutí-los abertamente nas escolas e com os pais, incluindo aí uma educação afetiva e, até mesmo, ensinar a conquistar, a namorar e a transar de forma gratificante e sem egoísmo. Nisto também se colocaria a responsabilidade de se poder, com o sexo, gerar uma vida, para que se tenha cuidado, até mesmo com doenças sexualmente transmissíveis. O ponto principal é considerar o sexo como uma atividade boa e desejável para ser feita pelos jovens, mesmo sem compromisso de relacionamento durável, de forma a que ninguém precise estar afoito para fazer sexo de forma indiscriminada, podendo fazê-lo com os amigos e amigas de forma consciente e tranquila e, principalmente, sem ansiedade e com a aprovação dos pais e mestres. Assim se poderá encarar a prevenção como um planejamento, que as mães ensinem às filhas e os pais aos filhos. Sem distinguir nenhuma menina ou menino como "galinha" ou "garanhão", uma vez que TODOS e TODAS, são "de família" e o fato de fazer ou não fazer sexo não seja nem depreciativo nem valorizado, mas apenas uma opção tão comum como praticar um esporte, dançar ou se filiar a uma religião ou não. Passando a considerar o sexo um componente normal das conversas, sem risinhos, como se fala sobre qualquer coisa, como comida, por exemplo, fará com que ele passe a ser considerado um item da vida a ser encarado com seriedade e às claras, isto é, não algo furtivo, que ocorre sem planejamento da hora e do local, o que, fatalmente, leva à falta de prevenção.
No entanto, isso tudo não exclui a necessidade de se discutir a descriminalização do aborto que ainda poderia ter situações em que seja aceito. Há que se definir bem o momento da gestação em que se considera que o embrião ou feto passe a ser uma pessoa, caso em que o aborto induzido, sem que seja por necessidade médica, seria criminoso. Assim fazendo se evitaria a ocorrência de abortos clandestinos, tão perigosos para a vida das mães, especialmente mais pobres. Mas isto não significa, também, uma abertura total para a permissão do aborto por mero capricho, em qualquer estágio da gravidez. E não vá se dizer que homem não tem que dar palpite em coisa de mulher. Tem tanto quanto mulher em coisa de homem: todo o direito.
Está tarde Ernesto, deveria ir descansar. rsrs Aquele abraço vô. Ah, me conta aí, sobre a probabilidade de associar a teoria das cordas com o principio da genese.
Você fica bem de gravata. Em verdade a teoria que inclui uma explicação para gênese do Universo é a das branas, que é uma extensão da Teoria das Supercordas e que, por sua vez, se estende mais ainda na Teoria M. Mas isto não é uma questão de probabilidade e sim de comprovação por meio de testes tipo diagnóstico diferencial, isto é, e preciso encontrar fatos que só a teoria prevê e explica e, então, por meio de observações, comprová-los ou não. Tais teorias, por enquanto, ainda não se encontram num estágio passível de testes observacionais que as elejam como as definitivas. Tenho o sentimento pessoal de que a unificação supersimétrica das demais interações com a gravitação é algo que não será obtido, pois acho que a gravitação não é uma interação, mas apenas uma manifestação da curvatura, da torção e do cisalhamento do espaço-tempo. Assim, a Cosmologia de Branas, pode ser algo fadado ao insucesso. Mas posso estar errado: é só um sentimento meu. Não acho que uma "Teoria de Tudo" seja algo viável e nem acho que a natureza possua o grau de simetria que muitos físicos teóricos querem que tenha. Neste sentido tenho o mesmo pensamento do Marcelo Gleiser, exposto em seu livro "Criação Imperfeita". E isto eu já penso desde os anos 70, muito antes do Gleiser começar a faculdade.
Se TUDO sempre existiu, estamos diante de algo chamado ETERNIDADE. Algo tão misterioso, assombroso, inexplicável e improvavél como um criador para os ateus. Admitir a eternidade é ir contra o racional, contra a lógica, não acha?
Absolutamente NÃO. A eternidade não tem nada de ilógico e é perfeitamente possível, fenomenologica-mente falando. Também não tem nenhum impedimento metafísico ou ontológico. O que acontece é que as observações mostram que houve um momento inicial para o fluxo do tempo em que estamos inseridos. Mas poderia não ter havido. Do mesmo modo que o espaço pode ser finito ou infinito, sem problema nenhum. A questão é saber como é, e isto depende de dados observacionais. No momento os dados indicam que o Universo é espacialmente infinito e temporalmente eterno para o futuro, mas tendo tido um zero dos tempos no passado. Note que também poderia ser finito no tempo para o futuro, isto é, haver um último momento do tempo, além do qual ele não existiria mais.
O que é o espaço e o que é o tempo? Espaço é a cabência, isto é, a capacidade de caber. O espaço surge com o surgimento de um conteúdo para preenchê-lo. Não existe vazio no Universo, isto é, espaço sem conteúdo. Só existe vácuo, isto é, espaço sem matéria, mas sempre preenchido por campo ou radiação. Já o conceito de nada significa ausência de tudo, até de vazio. E o tempo é uma sucessão de alterações no estado do universo, sendo estado a condição em que seu conteúdo “está”, tanto em termos de estruturação espacial quanto em termos dinâmicos, isto é, de mudanças e de tendências a mudanças. Se não houver mudança nenhuma o tempo não passa, e isto poderá vir a ocorrer na chamada “morte térmica” do Universo, situação em que ele todo atingirá a máxima entropia e o mínimo nível de energia (a energia, juntamente com a massa, é conservada, mas seu nível pode variar, isto é sua distribuição entre os componentes).
Nesse sentido é preciso entender a existência de um componente não substancial e não estático do Uni-verso, que são os fatos, os eventos, as ocorrências, os acontecimento, os fenômenos. O Universo não é só feito de coisas, mas do que se dá com elas. Um ser não é algo que seja definido pelo que “é”, mas pelo que “está sendo”, a cada momento, não perdendo sua identidade nas modificações que sofre, uma vez que preserve sua “continuidade histórica”.
Assim o fluxo do tempo pode ser entendido como um desenrolar de variações no estado do Universo, com uma flecha apontando para o futuro, flecha esta estabelecida por duas considerações: a causalidade e a entropia. Quando se tem uma situação cuja obtenção seja um evento provocado por outro, diz-se que o primeiro sucede ao segundo no tempo, sendo, pois, o tempo, uma sucessão de momentos. A entropia global também pode indicar a sentido da flecha do tempo, pois a entropia de um sistema isolado nunca diminui, e, se aumentar, o estado de maior entropia é posterior ao de menor.
Pode-se, pois, considerar uma sucessão de estados, cada qual provocando o próximo e esta sucessão pode ser imaginada tanto propagando-se indefinidamente para o futuro, quando sendo proveniente de uma su-cessão de infinitos estados para o passado, o que significa uma eternidade pretérita, isto é, que não tenha nenhum momento inicial. Não estou dizendo que não tenha tido, mas sim que pode-se admitir, sem con-trariar nenhuma lei descritiva do comportamento da natureza, que não tenha tido.
O chamado “argumento Kalam” diz que isto seria impossível, pois, se o momento inicial dos tempos esti-vesse infinitamente deslocado para o passado, então não teria havido tempo para se chegar até o momento presente, que não existiria. Como ele existe (estamos aqui e agora), então não é possível que o início dos tempos esteja infinitamente afastado no passado. Isto está perfeitamente correto. A questão é que um tempo infinito para o passado não significa uma origem infinitamente deslocada para o passado, mas a ausência de uma origem unilateral. Isto é, o eixo dos tempos não seria uma semi-reta, mas uma reta, estendendo-se infinitamente nos dois sentidos. Então a origem pode ficar em qualquer posição, inclusive agora. O fato de o eixo dos tempos ser uma semi-reta não é por uma impossibilidade lógica ou fenomenológica, mas por uma constatação fatual, com base nas observações.
Se TUDO (incluo outros universos e dimensões, caso existam) veio a existir, deve ter uma causa incausada, imaterial, atemporal e muito poderosa. Seja lá o que for essa causa! O que acha?
Não precisa ter causa nenhuma. Esta questão de causa e efeito precisa ser bem entendida. Causalidade é uma relação entre eventos, isto é, ocorrências, acontecimentos, que se dão com entidades. Não é uma pro-priedade das entidades ou seres e sim do que ocorre a eles. Se alguma ocorrência provocar outra ocorrência, então a primeira é dita causa da segunda e a segunda é dita efeito da primeira. Mas nem todo evento tem que ser um efeito. A suposição de que todo evento seja efeito de alguma causa é uma indução tirada da observação de inúmeras ocorrências no nível dos fenômenos acessíveis à percepção direta do homem. No mundo subatômico, contudo, há miríades de eventos que não possuem causa. Por exemplo a desintegração radioativa, o surgimento de pares de partícula e antipartícula, a emissão de radiação por sistemas excitados e outros. Todos estes eventos se dão quando o sistema preenche certas condições que os possibilitam, mas nada há que os determine, que é o conceito de causa. Um átomo pode ficar indefinidamente excitado e não emitir luz, como pode, a qualquer momento, fortuitamente, emití-la. A única informação que se tem é sobre a probabilidade desta emissão. O mesmo se dá com o decaimento radioativo. O surgimento de pares é mais fortuito ainda, pois nem a probabilidade se conhece. No caso de eventos macroscópicos, envolvendo um número imenso de eventos microscópicos, cada qual com a sua probabilidade, pela lei dos grandes números da estatística, a probabilidade fica tão concentrada que se apresenta como uma determinação, levando à noção de causalidade e determinismo do mundo macroscópico. Mesmo assim não é impossível que, por exemplo, o ar do escritório em que me encontro, de repente, se concentre todo na extremidade oposta à que me encontro e eu morra por falta de ar. Como todo raciocínio indutivo não é garantido e existem casos em que eventos não são efeitos de causa alguma, então o princípio de que todo evento seja um efeito não é válido. O “Princípio da Causalidade”, em verdade, estabelece que, se um evento seja um efeito, então sua causa o precede, isto é, não pode haver causalidade retrocessa. O futuro não pode causar nada no passado. Isto derruba as explicações teleológicas. Portanto se não é obrigatória haver causa, porque o surgimento do Universo teria que ter tido alguma causa? Se não se detecta, se tudo surgiu sem que nada houvesse antes (nem “antes”), porque inventar uma entidade extrínseca ao Universo para criá-lo? Pode-se perfeitamente supor que tenha surgido expontaneamente e isto é o mais plausível. É claro que, se houve uma causa, e não havia tempo, nem espaço nem Universo, esta causa teria que ser produzida por alguma entidade que não estivesse imersa no espaço nem no tempo, nem que fosse constituída do conteúdo substancial do Universo. Note-se que tal entidade não SERIA, ela mesma a causa, mas o agente provocador da causa, pois causa não é atributo de seres, mas de ocorrências.
Mais ainda, na relação entre causa e efeito, quando há, nada diz que a causa tenha que ser maior ou mais poderosa do que o efeito, mas apenas que provoque a sua ocorrência.
Outra coisa que não existe é o determinismo, isto é, uma mesma causa, nem sempre produz o mesmo efeito, quando há. Isto é um dos pilares da Física Quântica, magistralmente expresso pelo “Principio da Incerteza”. E o Universo funciona com base nas leis físicas, e toda a física é quântica.
Por que tudo existe, ao invés de nada? Só o fato de tudo existir já não é um bom argumento a favor da e-xistência de um criador?
Não existe razão nem motivo para existir algo ao invés de nada. Poderia perfeitamente não existir coisa alguma e nunca vir a existir, como pode ocorrer o colapso de tudo que existe, voltando não existir coisa alguma. O surgimento do que existe foi um evento fortuito, isto é, incausado e todo o conteúdo existente, não é proveniente de coisa alguma que já existisse. Surgiu sem provir de algo anterior. Isto é diferente de dizer que surgiu do nada, pois dizer isto significa dizer que havia algo, o nada, do qual surgiu o que existe. Não havia algo nenhum. Nada não é coisa alguma. Não se pode surgir do nada, mas pode-se surgir sem que haja do que ser proveniente. Isto são afirmações ontológica e fenomenologicamente distintas e não um mero jogo de palavras. Nada não é uma entidade, mas sim a noção da inexistência de qualquer coisa. Note que isto não exclui a possibilidade de ter havido um criador, isto é, um ser extrínseco ao Universo que provocou seu surgimento. Mesmo assim este surgimento se deu sem provir de nada (e não provindo do nada). A não ser que o criador tenha feito surgir tudo do conteúdo de si mesmo. Isto, contudo, é fenomenologicamente complicado, uma vez que o criador não pertence ao Universo. A não ser que pertença, então, se fez o Universo de si mesmo, o Universo é o criador de si mesmo. Tais concepções são difíceis de comprovar e levam a incoerências. Contudo, da mesma forma, o surgimento do Universo sem ter do que provir, não implica que tenha que ter havido um criador, isto é, um agente causador de tal evento.
Se o tempo e o espaço surgiram no Big-Bang, então TUDO surgiu lá. Como dizer que surgiram outros universos fora do Big Bang?
Tempo, espaço, campo, matéria, radiação, estruturas e ocorrências (e, alguns dizem, informação), que são os constituintes do Universo, surgiram com seu surgimento, pois ele é o conjunto de tudo isso. Tal surgi-mento, segundo se sabe, deu-se no evento denominado, impropriamente, de Big Bang. Se houver outros universos, este Big Bang foi o surgimento DESTE Universo. Outros Universos poderiam ter surgido em outros Big Bangs, de outra forma ou sempre terem existido. Neste conceito, Universo não é o conjunto de TUDO o que existe, mas sim de tudo que está conectado conosco, mesmo que, no momento, seja obser-vacionalmente inacessível. O que se pode acessar, pelo menos em princípio, é o Universo OBSERVÁVEL. O resto está alhures, pois a luz não teve tempo de chegar até nós desde que o Universo surgiu, mas este alhures pertence ao nosso Universo, pois poderá vir a ser acessado no futuro. Dizer que são outros universos significa dizer que seus conteúdos, incluindo espaço e tempo, são disjuntos, isto é, os outros espaços e os outros tempos, bem como os conteúdos substanciais, que podem ser outras coisas que não campos, matéria e radiação, não têm ligação nenhuma com os nossos, não sendo acessíveis de forma al-guma e em momento nenhum. Não há como saber se, de fato, existem. Sou de opinião que não existem, uma vez que não há como se verificar ou comprovar que existam. O conjunto desses Universos seria um Multiverso, este sim, o conjunto de tudo. Mas isto não é um sistema físico, pois nem sequer funcionaria de acordo com as leis que descrevem o funcionamento do nosso Universo, que, em minha opinião, é o único.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Por que a matemática e a filosofia são tão relacionadas?(Os maiores filósofos da história foram também os maiores matemáticos)
A matemática é a maior aplicação da lógica, que é a arte de bem raciocinar. Um filósofo é, antes de tudo, um pensador, e, como tal, precisa saber raciocinar. Sabendo bem matemática ele saberá articular argumentos para raciocinar em todas as áreas. É preciso entender que filosofia não é uma das ciências humanas, como se pensa. É uma meta-ciência, estando além das ciências e dos demais saberes humanos, mesmo não científicos. O filósofo, pois, precisa ser um polímata, isto é, uma pessoa erudita em várias áreas. Dentre elas, destaca-se a matemática, como disciplina valiosíssima para dar ao filósofo o traquejo mental necessário para seu trabalho. Mas ele precisa, também, conhecer, pelo menos, física e biologia, pois estas ciências são fundamentais para o entendimento do mundo. Não estou falando da física elementar do Ensino Médio, mas de uma física mais avançada, incluindo quântica e relatividade e de uma biologia mais aprofundada, incluindo bioquímica, biologia molecular, genética e evolução. É claro que um filósofo tem que ser um conhecedor de artes, especialmente de literatura, uma vez que muitos grandes escritores desenvolveram excelente filosofia em suas obras. Realmente, o ofício de fílósofo é o que exige maior dedicação ao estudo e, principalmente, à reflexão e ao pensamento. O filósofo precisa dedicar algumas horas do seu dia simplesmente para pensar. Não adianta ler, ler e ler, se não se pensar sobre tudo o que leu e, principalmente, sobre o que se observa diretamente da vida. O filósofo precisa interagir com o mundo e com as pessoas, sempre perscrutando o que está acontecendo. Para pensar é interessante ter-se a mão papel para anotar os raciociocínios e as conclusões, para depois examiná-las e criticá-las. Finalmente o filósofo tem que ser um bom escritor, dominar seu idioma com maestria para saber comunicar o que desenvolve, sendo versado também nas artes da retórica e da dialética. É claro que vale a pena saber alemão, francês, grego e latim, sem esquecer o inglês, mas isto é uma necessidade para qualquer um. Quem quiser ser filósofo tem que abandonar a preguiça e desistir de ficar rico, pois não terá tempo para isto. Inclusive porque não há como ser filósofo sem pretender ser sábio, ou seja, virtuoso, e isto é incompativel com ambições de riquesas. Não que um filósofo não possa ser rico, mas tem que ter o despendimento suficiente para não se importar em ficar pobre, como o era Cícero.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Por que você não se considera um cientificista?
Acho que me enganei na pergunta e respondi porque não me considero um cientista e não um cientificista. Um cientificista é aquele que considera que somente a ciência é capaz de alcançar a verdade a respeito do mundo e da vida. Não penso assim. A verdade, sempre ressalvando que nunca se pode ter certeza de que se a possua, pode ser alcançada pela filosofia e pelo senso comum, em muitos casos. O senso comum é a forma de se descrever a realidade em termos dos conhecimentos adquiridos pela vivência cotidiana, sem nenhum estudo. A filosofia é um modo de inquirir a realidade pela razão, isto é, por raciocínios calcados nas apreensões sensoriais, devidamente codificadas pelos conceitos que se constroem para descrevê-las, bem como pelas informações oferecidas pela ciência. Mas a Filosofia não se vale do método científico de validação de suas conclusões e assertivas, o que considero uma falha. Estes dois caminhos podem e realmente fornecem proposições aceitáveis para a realidade. Todavia, se a ciência, a respeito do mesmo assunto, apresentar proposição conflitante ou apenas diferente das propostas pela Filosofia ou pelo Senso Comum, estas têm que ser abandonadas em favor da científica, pois a ciência possui recursos de conferência da veracidade de suas proposições que a Filosofia e o Senso Comum não dispõe. A tendência, segundo penso, é por uma cada vez maior cientificização da Filosofia. Contudo, certamente, ainda haverá certas áreas que a ciência não conseguiu abordar. Nelas não há como não aceitar as verdades propostas pela Filosofia ou pelo Senso Comum, descartando este quando a Filosofia apresentar sua formulação.
O que é ser estoico pra você?
Ser estóico é não se perturbar com a dor, o sofrimento, a tristeza e os dissabores e vicissitudes que a vida pode propiciar. É ter serenidade na aceitação dessas ocorrências, não significando que não se aja no sentido de combatê-las ou contorná-las, mas sim que não se deprima com o insucesso desta empreita. O estóico não é um derrotado e infeliz. Pelo contrário é aquele que preserva a felicidade nas dificuldades da vida e mantém-se assertivo, sem humilhar-se, mas sem soberba ou jactância. Nada o abala e ele enfrenta tudo com sobranceria e galhardia. Isto não o impede de também ser um epicurista, mas não um hedonista.
O que é ser epicureu pra você?
Ser epicurista é considerar que o objetivo da vida é alcançar a felicidade. E que a felicidade consiste em evitar as dores. Isto não significa uma busca desenfreada de prazeres, pois estes, muitas vezes, vêm acompanhados de dores. A felicidade envolve prazer, mas um prazer sereno e comedido, especialmente aquele advindo da amizade, do amor, da contemplação da natureza, da arte, da beleza e, especialmente, da prática do bem. Assim considerado, o epicurismo se diferencia do hedonismo e não fica conflitante com o estoicismo. Aliás, o ideal é uma síntese dialética entre o epicurismo e o estoicismo.
O que é ser cético pra você?
Ser cético, não é considerar que o conhecimento seja inatingível, como o dizia Pirro, mas sim que não se pode ter certeza de que se o possua. É considerar que a verdade, que é a adequação entre a realidade e o que se diz a respeito dela, não seja algo inalcançável, mas que seja muito difícil se saber que a tenha alcançado. Assim, duvidando-se metodicamente, envidam-se os maiores esforços para se obter as máximas garantias para a veracidade das assertivas, sempre considerando que isto seja algo provisório e sujeito a revisão, face novas informações ou interpretações. O ceticismo é, pois, a ferramenta básica do cientista, do filósofo e do investigador do que quer que seja. Isto não significa que se deva desprezar qualquer crença, pois é preciso se ter algum ponto de apoio para a construção do edifício do conhecimento. Mas toda crença, que são assertivas não comprovadas nem evidentes, seja suportada por grandes indícios e que sempre se esteja disposto a abandoná-la ou refornulá-la em razão de novos fatos ou considerações. Vejam o que escrevi sobre isto em:
http://wolfedler.blogspot.com/2008/08/o-valor-do-ceticismo.html ;
http://wolfedler.blogspot.com/2010/03/verdade.html .
O que é ser ateu pra você?
Ser ateu, ou ateísta, é considerar que não existem divindades nem espíritos de espécie alguma, que toda a realidade substancial é puramente física, isto é, feita de campo, matéria e radiação. A realidade objetiva, além do seu conteúdo substancial, comporta as estruturas desses conteúdos, bem como suas dinâmicas, isto é, seu funcionamento. Tais estruturas e tais dinâmicas se dão no espaço e no tempo, que não são entidades apriorísticas, mas decorrentes da existência do conteúdo do Universo e de sua evolução. Tudo isto surgiu de forma expontânea e incausada, sem necessidade ou propósito algum, especialmente sem a interveniência de nenhuma entidade supranatural, que seria Deus. Além disso, tudo o que existe são abstrações, isto é, idéias e conceitos, que só ocorrem em mentes que os concebam, mas não existem objetivamente no mundo exterior às mentes. Ser ateu é também considerar que a mente é uma ocorrência do organismo biológico vivo, em função da estrutura e do funcionamento do sistema nervoso, não tendo natureza espiritual e não sobrevivendo à morte do organismo. Tais considerações não são meramente uma crença gratuita, como a fé religiosa, mas uma crença embasada em fortes indícios, mesmo que não comprovada por evidências nem por conclusões lógicas inescapáveis, como, aliás, também se dá com a consideração da existência de Deus.
Por que você não se considera um cientificista?
Iniciei minha carreira de cientista em meu mestrado em Física Teórica, em 1979, e ainda, por um certo tempo, prossegui minhas pesquisas orientando estudantes de iniciação científica do Bacharelado em Física da UFV, na área de Relatividade Geral, Teoria de Campos e Cosmologia. Todavia, ao aceitar, em 1983, participar da administração da Universidade, nos cargos de Chefe do Departamento de Física, depois Coordenador do Curso de Física, Pró-Reitor de Graduação, Assessor do Reitor e Chefe de Gabinete do Reitor, acabei desistindo de fazer o Doutorado e interrompi minha atividade de pesquisa, ficando, porém, com o ensino no Bacharelado, além da administração. Em 1996, aposentei-me da Universidade e passei para a docência e a administração do Ensino Básico, em uma escola particular, não mais pesquisando em Física. Porém, continuo me atualizando e estudando, especialmente interpretações da Mecânica Quântica, Teoria de Campos e Cosmologia, apenas por meu interesse pessoal. Passei, contudo, a me dedicar mais a estudar filosofia, biologia, a pintar quadros, à música (canto, composição e história) e a escrever, especialmente em meus blogs e, agora, também neste formspring. Já tenho quase duas mil páginas de ensaios filosóficos e já estou no quinto capítulo de um livro de onze, intitulado "Física para Filósofos". Só que meu trabalho me consome de 50 a 60 horas por semana, daí o tempo para isto ser pouco, apesar de eu não ver televisão e dormir pouco.
Ok professor, vou respeitar o seu ceticismo. Mas que fique claro q as cicatrizes que tenho são extremamente reais, e q eu não estava em hipnose e nem sou esquizofrenico. Dou o convite, de sem racionalizar a fé, a ir de peito aberto, procurar Deus.
Ricardo. Sofrer alguma alucinação não significa ser esquizofrênico. Isto pode acontecer com pessoas mentalmente sãs em situações de estresse psíquico ou por alguma questão somática mesmo, até intoxicação alimentar. Já fui católico praticante e tinha uma fé muito grande. Todavia meus estudos e reflexões me levaram a abandoná-la. Posso voltar a considerar que Deus exista, mas não pela fé, que considero inteiramente despropositada, e sim pelo convencimento em função de evidências ou comprovações.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
O que acha da legalização da maconha?
Menos pior que o tabaco, mas, realmente, acho uma temeridade. Não que eu seja contra, por princípio, mas que acho que as consequências para a saúde física e psíquica não compensam. Talvez, com restrições ao volume periódico de consumo, seja viável. Aliás, isto também devia acontecer com o álcool, que, globalmente, traz mais prejuízos que as drogas, se não considerarmos os crimes do narcotráfico, mas apenas as consequências fisiológicas de seus usos, levando em conta a extensão de seus usuários e a frequência de seu uso.
"O que fazemos em vida ...ecoa pela eternidade"?
Se isto se entender como uma eternidade da pessoa, cuja consciência sobreviveria à morte de seu organismo, certamente que não, pois não ocorre tal sobrevivência. Se se entender como uma repercussão de nossos atos da sociedade e no ambiente, pode ser que sim ou não, dependendo do que tenhamos feito. Se bem que eternidade é muito forte. Pode-se influenciar a humanidade por um bom tempo, mas tenho quase certeza de que nenhum dos grandes vultos da humanidade atualmente reverenciados será lembrado daqui a um milhão de anos. As influências ambientais de nossos atos, sobre a natureza, propagar-se-ão ao longo do tempo, vindo a intervir fisicamente em ocorrências futuras, até mesmo longínquas, mas de uma forma cada vez mais diluída pelo aumento de entropia, até que não seja perceptível.
Se pudesse mudar algo no sistema educacional atual, o que mudaria?
Adotaria o modelo da Escola da Ponte, de Portugal:
http://www.escoladaponte.com.pt/
Quais matérias deveriam ser adicionadas e trabalhadas com mais ênfase nas escolas, além da filosofia, e o que o Sr acha que deveria estimular as pessoas em busca do conhecimento, em detrimento do culto a preguiça.
Filosofia (metafísica, epistemologia, lógica, ética, estética - incluindo sociologia e psicologia), ciências (matemática, física, química, biologia, geologia, astronomia, economia, história, geografia), idiomas (linguística, português, inglês, espanhol, francês, alemão, italiano, latim, grego - pelo menos duas estrangeiras), artes (música, pintura, escultura, teatro, dança, poesia - pelo menos duas), cultura geral (direito, administração, literatura, cinema, música, artes), atualidades, habilidades práticas (culinária, costura, marcenaria, mecânica, hidráulica, construções, eletrotécnica, eletrônica, computação, jardinagem, horticultura, direção de veículos, primeiros socorros) e esportes (mas não desportos, além da ginástica cotidiana).
Tudo isto pode muito bem ser visto nos doze anos da eduação básica se se tiver uma escola em tempo integral (dez horas por dia, incluindo o almoço), com redução das horas de aulas e aumento das horas de estudo e treinamento. Para isto tem que se abolir conteúdos desnecessários dos programas e evitar a repetição de conteúdos em várias séries. O ideal é não haver nem série, nem aula, nem sala de aula. A aprendizagem se daria por projetos feitos em equipe. A escola só teria bibliotecas, laboratórios, salas de computadores, oficinas, horta, teatro, quadras, piscina. Os professores, todos em dedicação exclusiva, ficariam à disposição dos alunos o tempo todo. O currículo seria estruturado em projetos, com pré-requisitos, uns dos outros, interdisciplinares, a serem desenvolvidos por pequenas equipes em tempo integral, na base de um ou dois por semana, a serem apresentado a um juri de professores, que aprovaria ou não. Se não, tem que fazer de novo. As equipes podem ter estudantes de diferentes níveis e idades. Não há nota nem série. A conclusão dos estudos é feita pelo cumprimento dos projetos previstos, além de outros facultativos que se queira fazer. Isto é um modelo proposto pela "Escola da Ponte" em Portugal, extremamente interessante e válido, que vem tendo sucesso como modelo experimental há 28 anos. Vejam o sítio da escola:
http://www.escoladaponte.com.pt/
Mas felizmente foi por pouco tempo e agora graças a Deus, eles não me incomodam mais. Acerca da evidência, nao creio que coisas metafisicas se aplicam da mesma lógica da física. N creio q todos as pessoas q tenham tido experiencias asim sejam alucinadas.
Ricardo. Como eu te disse, sou mais incrédulo do que São Tomé, pois, mesmo vendo, duvido de minha visão. So posso aceitar a existência de espíritos se eu realmente presenciar tais manifestações. Não estou dizendo que as pessoas sejam alucinadas, mas sim que tenha sofrido alucinações, o que é outra coisa. Podem também estarem sob efeito hipnótico. Realmente sou muito cético mesmo a respeito da existência de espíritos. Contudo, posso mudar minha opinião se evidências inquestionáveis me convencerem.
Creio que a evidência de Deus, é clara para que tem o coração aberto a ele, mas tal evidência pode ser vaga para que vai digamos na "defensiva". O que mostra o livre arbítrio q Deus dá ao homem de crer ou não. Me desculpe mas nada me convence do contrario
De jeito nenhum. Evidência é um fato objetivo que não depende de disposição mental nenhuma do observador. Além disso, precisa ser testificada por vários observadores, para se garantir não ser fraude. E também tem que ser cuidadosamente examinada para que não se incorra em alguma ilusão dos sentidos. Não conheço nenhuma evidência da existência de Deus. O que existem são comprovações, presumidamente lógicas por seus propositores, mas que não resistem a uma análise criteriosa, revelando-se falácias. A unica base para a crença na existência de Deus é a fé, isto é, uma crença sem base em evidências, provas e indícios, aceita por um ato voluntário em função do afeto que se deposita em tal crença. Mas a fé não é garantia de veracidade daquilo em que ela faz acreditar.
Creio que a evidência de Deus, é clara para que tem o coração aberto a ele, mas tal evidência pode ser vaga para que vai digamos na "defensiva". O que mostra o livre arbítrio q Deus dá ao homem de crer ou não. Me desculpe mas nada me convence do contrario
De jeito nenhum. Evidência é um fato objetivo que não depende de disposição mental nenhuma do observador. Além disso, precisa ser testificada por vários observadores, para se garantir não ser fraude. E também tem que ser cuidadosamente examinada para que não se incorra em alguma ilusão dos sentidos. Não conheço nenhuma evidência da existência de Deus. O que existem são comprovações, presumidamente lógicas por seus propositores, mas que não resistem a uma análise criteriosa, revelando-se falácias. A unica base para a crença na existência de Deus é a fé, isto é, uma crença sem base em evidências, provas e indícios, aceita por um ato voluntário em função do afeto que se deposita em tal crença. Mas a fé não é garantia de veracidade daquilo em que ela faz acreditar.
Ou o qu dizer das chamadas "assombrações"onde estamos bem de boa, qdo começamos a ter experiencias nada agradáveis, de até objetos irem aos ares. Professor quero deixar claro, que isso é experiencia pessoal, nao minto e nem invento tais coisas.
Acredito em sua sinceridade, mas não mentir não é o mesmo que falar a verdade. Não mentir é falar o que se pensa que é verdade. A verdade é objetiva, não depende do que se pensa que ela seja. Para mim estas experiência são impressões, tipo alucinações, isto é, sonhos acordados. Nos sonhos vemos coisas como se fossem reais, e escutamos sons. Eventos naturais podem provocar ocorrências que nossa percepção toma como tendo origem sobrenatural, sem que o sejam. Para mim, até segunda ordem, sobrenatural não existe.
E o que faria por exemplo Paulo, ferrenho perseguidor dos cristãos, mudar de vida totalmente e se aliar aos cristãos e sofrer o que fosse por isso, se nao fosse por uma experiencia real?
Pode ser que ele tenha tido uma alucinação que lhe pareceu uma ocorrência real e que o tenha impressionado muito fortemente, de modo que ele mudou sua vida e, a partir daí, fez disto sua ideologia, pela qual até deu a vida. Impressões podem parecer extremamente reais.
Mas é engraçado professor por exemplo os relatos de mediunidade,aonde na consulta ao espírito,são reveladas coisas que a gente jamais contou para ninguém.N minto sobre isso, e creio q isso n é alucinaçao minha.Ou na possessao linguas estranhas sao faladas
Não acredito nisto. Só posso aceitar se eu constatar pessoalmente evidências diretas (não indícios nem provas indiretas). Mesmo assim posso considerar que sejam perturbações mentais. O experimento tem que ser feito em um ambiente neutro e controlado por experimentadores capazes e céticos (mas honestos e dispostos a admitir o fato, se verificado). Para mim os fenômenos mediúnicos ou são fraudes ou são impressões equivocadas.
O senhor acredita que é possível um ser pessoal ser livre? Caso acredite, o que o senhor toma por liberdade?
Sim, é claro. Liberdade não é se poder fazer tudo o que for fisicamente possível, mas tudo o que não tolha a liberdade de outros e não prejudique ninguém. Não se tem a liberdade de matar, roubar, caluniar, difamar, enganar, prejudicar ou fazer outros atos que causem dor, sofrimento, prejuízo ou mesmo incômodo a outrem. Mas se tem a liberdade de escolher onde morar, para onde ir, em que trabalhar, em quem votar, que religião se afiliar (ou a nenhuma), qual orientação sexual assumir. A liberdade de emitir opiniões a respeito do que for. Mas não se pode agir segundo as opiniões que prejudiquem outras pessoas. Liberdade de se ter tantas mulheres ou maridos se queira. Até liberdade de se andar nú ou vestido eu acho que deve haver, sendo isto algo que todos respeitem com naturalidade.
Você já fumou Ernesto? Poderia falar sobre o tabaco?
Nunca fumei. Quando, adolescente, fui experimentar, achei tão ruim que nunca mais tentei. E olhe que meus pais fumavam e minha mãe morreu de enfisema pulmonar por causa do fumo. Meu pai morreu de infarto e o fumo é um dos fatores de risco. Acompanhei a agonia de minha mãe e, assim, sou um ferrenho combatente pela extinção do fumo. Trata-se de uma condenação à morte de toda uma população. Acho que se deve parar de fabricar cigarro, cachimbo e charuto no mundo inteiro. Que as fábricas se dediquem a outras coisas. Isto poderia ser alcançado em apenas dez anos, primeiro taxando o cigarro até que ficasse muito caro mesmo. Acabando com todo financiamento à indústria do cigarro e ao plantio do fumo, bem como a toda pesquisa sobre fumo. Incentivando as indústrias a mudarem de ramo para não demitir os trabalhadores, até que todas se fechassem. Proibir a importação e punir rigorosamente o contrabando, mas não com multas e sim com muitos anos de prisão. Publicidade: zero. O tabaco precisa ser eliminado da face da Terra, pelo menos por uns 50 milhões de anos, que é o tempo que penso que a humanidade ainda vai existir.
Ernesto, como foi seu dia? Como voce está? E os projetos? E a musica, queria ver suas composições! No seu caso, devem ser preludios, mas deve haver alguma serenata no meio dos papeis, rsrsrs
Estou aproveitando que meu colégio emendou o feriado na segunda feira e estou arrumando meu gabinete. Meus projetos estão, assim, estacionados, por enquanto. Você pode achar minhas músicas em:
http://www.ruckert.pro.br/musics/divertimento.mid ;
http://www.ruckert.pro.br/musics/preludio.mid ;
http://www.ruckert.pro.br/musics/romance.mid ;
http://www.ruckert.pro.br/musics/valsa.mid .
existir é esquecer que se existe?
Esta é uma concepção oriental, cara aos budistas. Não concordo. Pelo contrário, existir é estar plenamente consciente de tal fato e usar todas as potencialidades de que se dispõe para fazer a existência significativa para sí mesmo e para o resto do mundo. É saber que isto é um privilégio raríssimo e investir em sua preservação, cuidando da saúde corporal, mental e social, pois somos umbilicalmente ligados uns aos outros. Isto implica não só em bons modos no trato pessoal e social mas também em valentia na luta pela construção de um mundo melhor e pela erradicação de toda vilania. Para isto não se pode esquecer que se existe.
Para dizer " tenho uma evidência da existência de algo ",é preciso ter obtido prova da existência deste algo,ou basta um indício que fortaleça a hipótese da existência deste algo?
Indício, evidência e prova são conceitos distintos. O Indício é uma suspeita com um embasamento maior, face a constatação de fatos que, indiretamente, indicam a veracidade da assertiva em questão, mas não a garantem. Evidência é uma constatação direta de fatos que mostram a veracidade da assertiva. Prova é uma conclusão, por raciocínio lógico, a partir de evidências indiretas, da veracidade da assertiva, mesmo sem evidência direta. Se a assertiva é sobre a existência de algo, Os indícios indicam a maior probabilidade de que, de fato, exista, mas não confirmam. As provas confirmam a existência de forma indireta, sem evidências, mas conclusivamente. Uma evidência comprova por observação sensorial direta a veracidade da existência. Note-se que a expressão "é evidente" é completamente diferente da expressão "é lógico". O que é evidente não é lógico, o que é lógico não é evidente. Evidente é o "está na cara". Não precisa provar. Lógico é o que se conclui, sem "estar na cara", por raciocínio.
O que o senhor costuma de ouvir, no que concerne a música popular, seja ela brasileira ou internacional?
Bossa Nova, Samba da velha guarda, música americana, francesa, italiana. Estou falando de Franck Sinatra, Nat King Cole, Charles Aznavour, Chico Buarque, Tom Jobim, Lamartine Babo. Também gosto de tangos, música mexicana, espanhola. Geralmente dos anos 40, 50 e 60. Mas gosto também de rock tradicional (Beetles, Elvis Presley) e, até, de conjuntos atuais tipo NIghtwish, Era, Epica, ou cantoras como Nana Mouskuri. Não gosto de música sertaneja (exceto algumas caipiras de raiz), Axé e a mairia do que faz sucesso atualmente. Mas escuto Madonna, Michael Jackson (às vezes). O que gosto mesmo é de música clássica.
Por que tido mundo faz as mesmas coisas que todo mundo faz para agradar?
Porque não tem personalidade suficientemente forte e bem estabelecida, ou seja, não tem convicções seguras o suficiente para se afirmar como é, único e diferente, mesmo que, em alguns aspectos haja coincidência com os outros. Quem assim o é não precisa da aprovação de ninguém para se afirmar. Não é uma pessoa que precise mendigar afeto para ter segurança emocional. Esta pessoa se ama e se basta. Isto não significa que rejeite o afeto, o respeito, a consideração e a admiração, mas que não depende disto, podendo passar sem tais coisas sem se entregar a nenhum desespero, mantendo a serenidade, mesmo que não a felicidade. Isto é o estoicismo, que não contradiz o epicurismo, podendo a pessoa construir uma síntese dialética dessas concepções. Às pessoas que fazem tudo como os outros falta uma boa dose de filosofia em sua educação. Não digo necessariamente o estudo formal, mas concepções, posturas e atitudes que a família deve inculcar na criança em sua criação.
a existência supera a essência?
Sim, porque o fundamental para um ser é existir. A essência de um ser é aquilo que o faz ser o que é e não outra coisa. Entidades inexistentes podem ter sua essência perfeitamente definida, mas não serão seres reais. A essência não é uma condição e sim uma propriedade, uma característica, dita essencial porque se deixar de ser como é, o ser em questão não é mais aquele. Atributos, isto é, características acidentais, não fazem o ser deixar de ser o que é. Existir ou não não é uma característica, nem essencial nem acidental. É uma condição de estado, isto é, como aquele ente se encontra em relação à realidade substancial, que é a realidade objetiva no mundo, independente de mentes que a concebam. Um ser é algo que existe, de fato, no mundo objetivo, fora das mentes. Idéias e conceitos são abstrações que só existem dentro das mentes. Pode-se conceber um ente e se dizer qual a sua essência, sem que ele exista de fato, fora das mentes. Tal ente só será um ser, real, se existir fora das mentes. Assim é a existência e não a essência que confere realidade ao ser. Um ser cuja essência seja existir é uma impossibilidade ontológica, pois existir não é nenhuma propriedade que possa caracterizar um ser. Outra coisa é que um ser, sendo o que existe, não possui uma essência imutável. Isto é, o ser não é aquilo que ele "é", mas o que "está sendo" no momento, já que, a cada momento, ele já não é mais o mesmo. Todavia há uma "continuidade histórica", isto é, mesmo sem ser identico a si mesmo ao longo do tempo ele mantém a essência de ser aquele ser porque sua existência teve continuidade com as modificações.
Religião, do latim "re-ligare", significa exatamente "religar"... No caso, religar-se com Deus ou com o Cosmos pode significar exatamente a mesma coisa, dependendo da concepção de cada um?
Religar-se com Deus só será equivalente a religar-se com o Cosmos para o panteísmo, que identifica Deus com o Cosmos. Na concepção do que seja Deus, uma entidade com poder de intervir por um ato voluntário sobre o Universo à revelia de suas leis naturais, não vejo como o Universo possa ser identificado com Deus, pois ele não desobedece suas próprias leis, além de não possuir uma mente capaz de pensar e decidir voluntariamente sobre coisa alguma. Nossa identificação como o Cosmos não tem nada a ver com nenhuma divindade, mas sim com o fato de que somos feitos dos mesmos prótons e elétrons que se formaram após o Big Bang, que as interações que fazem nosso organismo funcionar são as mesmas quer dão surgimento a galáxias, estrelas e planetas e que põe isto tudo a se mover. Assim, a espiritualidade é algo que surge em nossa mente porque esta mente é uma ocorrência orgânica e, como tal, funciona em termos das leis fundamentais da natureza. Essa comunhão é perceber que nossos átomos, bilhões de anos depois de nossa morte, ainda estarão no Universo e farão parte de novas estrelas que surgirão a partir da explosão deste sistema solar. Somos feitos de poeira de estrelas. Mais especificamente, cada um de nós é um elo da cadeia vital que une o primeiro ser vivo a todos os que existem hoje e que existirão em qualquer tempo, pois nossa vida é continuada pela união de nossos gametas aos de outro ser que levará a fazer surgir um novo ser que propagará esta linha condutora da vida enquanto ela existir. E isto é algo tão extremamente singular que não podemos tratar com indiferença e desdém como o fazem aqueles que, a este ou aquele pretexto, consideram válida a destruição de inúmeras vida, humanas ou outras. A preciosidade da vida, comparada com nossa insignificância neste "Pálido Ponto Azul" é a maior mensagem que Sagan nos deixou, pela qual lhe reverenciamos a memória.
domingo, 10 de outubro de 2010
Meus vários "eus"
Em minha juventude fui um católico fervoroso e meu ideal era ser nada menos do que santo. Gostava de conversar com adultos e um padre amigo da família me instou a seguir o sacerdócio. Disse-lhe que não, pois eu queria ser pai e perguntei-lhe se não era possível ser santo sendo pai, porque a figura de meu pai era e sempre foi meu modelo de homem integro, reto e imensamente bondoso. Mas sempre fui extremamente inquiridor, questionando tudo e querendo saber o porque de cada coisa. Assim aprofundei-me em estudar religião e tanto estudei que fiquei convencido da total falta de sentido da fé. Mas meu primeiro “eu” continua sendo aquele que tem o ideal de virtude, de santidade. De certa forma é um eu místico, enlevado de sacralidade, que se compraz em ouvir música religiosa, em visitar catedrais góticas, que se comove com a beleza de uma flor ou com um gesto de bondade.
Meu segundo “eu”, que me acompanha também desde a infância é o eu cientista, cético, racionalista, reducionista, lógico, matemático, físico. Aquele que se debruça sobre uma biblioteca de milhares de volumes e lê vorazmente tudo sobre todas as coisas. Que questiona, analisa, comprova. Este eu é o que também vê o mundo pelo prisma da honestidade, da verdade, da justiça, que se indigna com a iniquidade e se rebela com o farisaísmo, com a hipocrisia, com a politicagem. É o eu anarquista, livre-pensador. Mas é também o eu que arregaça as mangas e socorre o pobre e ajuda o aflito.
Meu terceiro “eu” é o poeta, o músico, o literato, a cigarra da fábula de LaFontaine. É o eu amante, o trovador, o apreciador da boa mesa, dos bons vinhos. É o eu elegante, espirituoso, que dança, que canta. É também o eu que educa, que conversa, que tem muitos amigos, que é generoso, até perdulário. É o pai, o marido, o namorado.
Ainda há um quarto “eu”. Este é o execrável. É o eu das minhas fraquezas, de quando sou preguiçoso, ou pusilânime, ou quando me encovardo. É o eu de que me envergonho e que combato. Mas ele existe e, às vezes se faz presente. É quando tomo um decisão egoísta, ou a conveniência me faz transigir em um princípio.
O último “eu” é o que fica por cima observando os outros eus e rindo de tudo.
Tirando o quarto eu, que combato e não aceito, acho que consigo conciliar os três primeiros, sob o olhar crítico do último, e assim vou levando minha vida.
Meu segundo eu tranformou o ideal do primeiro no ideal de buscar sempre a verdade e levar a todos as luzes da ciência para espancar as trevas da ignorância e o terceiro me traz a alegria da vida, que procuro compartilhar com todo mundo, mesmo que as atribulações da gestão cotidiana de meus afazeres, de meus compromissos, de minhas responsabilidades, de minhas dívidas, de meu tempo sempre apertado, de tudo que é comezinho na vida, às vezes, me leve a um horizonte desolado.
Mesmo que os desencontros me apartem daqueles que amo e a solidão me abrace, meus eus interiores fazem companhia uns aos outros e, muitas vezes, conversando comigo mesmo, não me sinto só. Porque só ama o outro aquele que ama a si mesmo e só completa o outro aquele que, em si mesmo, é completo.