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Queria saber porque fora necessário um sacrifício expiatório para Deus perdoar o homem pelo pecado original, isto é, porque ele não poderia simplesmente ter perdoado, como pregou Jesus? Não respondam com citações de versículos bíblicos, mas com argumentos.
Se a união da divindade com a humanidade de Jesus fosse indissolúvel, ele, como Deus, não morreria. Se morreu é porque sua parte humana dissociou-se da divina. Outra coisa: tendo ressussitado e ascendido aos céus de corpo e alma, como seu corpo sobreviveria sem alimentos? E onde fica o céu? Se for no espaço sideral, sem apoio, então Jesus está em órbita? Mas o céu é só dos terráqueos? E os outros possíveis seres conscientes de outros planetas, que podem haver? Também foram redimidos por Jesus? Ou não cometeram pecado original? Ou houve outro Jesus lá? Ou o cristianismo não admite sua existência? Não estou fazendo brincadeira. Estou falando sério. Como se pode extender o cristianismo aos extra-terrestres (que suponho que possam haver, mas não que possam comunicar-se conosco e nem nos visitarem)?
Toda pessoa inteligente, pode, deve e tem que questionar as informações constantes da Bíblia, senão estará abdicando de sua humanidade e se transformando em zumbi. É muito esquisito isso de Deus ter querido sacrificar-se a si mesmo para expiar nossos pecados. Acho uma parvoiçe de Deus, caso exista.
Não contesto a possibilidade de poder haver um Deus incriado. O que contesto é que exista de fato. Como saber que existe? Porque, se não houver prova de que exista, há que se considerar que não exista. Isto não requer prova.
Não creio que a natureza tenha o poder de criar-se a si mesma. O que considero (mas isto não é crença) é que nada foi criado e sim surgiu expontaneamente, sem causa e nem propósito. Não do nada, mas sem ter algo de que proviesse.
A ciência tem um crédito superior às crenças, exatamente porque não pretende ser detentora da verdade, mas sim estar empenhada em buscá-la, a despeito de se derrubar todas as convicções. Porque a ciência é honesta e verdadeira, enquanto as crenças insistem na validade de suas proposições sem comprovação. E como existem multiplas crenças, com proposições contraditórias a respeito de vários fatos, não há como saber qual delas é verdadeira. A suposição mais sensata é de que nenhuma o seja. A fé, realmente, não tem credencial alguma para servir de critério de verdade.
“Sentir” a existência de Deus é uma experiência subjetiva que não garante, em absoluto, sua veracidade. Podemos “sentir” inúmeras coisas, inteiramente falsas.
De certa forma, mesmo que existam pessoas altamente inteligentes, informadas e cultas, que crêem em várias modalidades de Deuses, nas diferentes religiões, considero que sua crença é um tipo de ignorância, a respeito dos fatos concernentes à existência de Deuses. Na verdade sua consideração de que Deus exista não procede de uma verificação racional e fatual mas de uma adesão a uma crença infundada, justificada por razões afetivas e emocionais, e não empíricas ou racionais. Não digo que os aspectos afetivos e emocionais sejam menos importantes do que os racionais na condução da vida, pelo contrário, tanto é que respeito a crença em Deus das pessoas. Só considero que, quanto a esse respeito, os afetos não garantem a veracidade e, então, lamento o fato de viverem uma ilusão, mesmo que ela possa ser consoladora e gratificante.
Não tenho medo de morrer e de castigo eterno nenhum, pois sei que isto não existe.
Pergunta-se “quem?” apertou o botão para dar origem ao Universo ou criou as forças que o produziram. Esta noção de que seja necessário “alguém” (isto é, uma pessoa dotada de inteligência, vontade e poder) para produzir os eventos da natureza é inteiramente falsa. Trata-se de uma concepção humana, advinda da observação, desde tempos pré-históricos (ou mesmo de nossos predecessores pré-humanos) de que as ocorrências se davam por ação de alguém. Então, por extensão, os primitivos humanóides, consideravam que tudo requereria a interveniência de “alguém”, que, quando não identificado, foi inventado, na figura de um “gênio”, “espírito” ou “deus”, como causador do fenômeno (chuvas, trovões, raios, enchentes, vulcões, eclipses, nascer e por do Sol, fases da Lua e todas os fenômenos naturais). Com a evolução da humanidade e o surgimento das civilizações, tais coisas se transformaram em mitos, que, numa etapa posterior, passaram a doutrinas religiosas, consignadas nas diverentes “escrituras sagradas”, muitas vezes, umas espelhadas em outras, como as judaicas se basearam nas babilônicas, que o foram nas hinduístas e assim por diante. Tal encadeamento de considerações chegou até a algo tão sofisticado como o “Direito Canônico” da Igreja Católica, por exemplo. A ciência, contudo, pouco a pouco foi achando explicações naturais para tudo, de forma que o que provém dos conhecimentos mitológicos nada mais é do que “ficção lendária”, como a Bíblia, sem valor epistemológico algum.
Em resumo, não é preciso haver “ninguém” para apertar botão nenhum e fazer surgir o Universo. Ele pode surgir por acaso, de forma expontânea, sem criador.
Ao discutir religião e fé, peço argumentos racionais e fatuais pois não vejo porque a Bíblia seria depositária da verdade e não as outras escrituras, como os Vedas, o Corão, ou mesmo os escritos de Allan Kardec. Todos esses textos foram redigidos por pessoas que estavam convencidas de serem portavozes de Deus e, no entanto, escreveram coisas que se contradizem umas às outras. Há crentes sinceros, fiés, pios e santos em todas as religiões, como há os aproveitadores desonestos da fé do povo. Então o critério para decidir em qual delas se encontra a verdade tem que ser extrínseco a elas. Até hoje não ví, em nenhuma, provas de serem as donas da verdade. O único e legítimo critério de verdade é a prova por evidências ou raciocínios válidos, em última análise, calcados em evidências. A existência do Deus abrahaãmico, bem como do pecado original, da redenção de Jesus, do juízo final e dos demais pontos fundamentais da doutrina cristã, são tão desprovidos de fundamento como a existência de Rá, Amon, Hórus, ìsis, Brahman, Brahma, Shiva, Vixnu, Krishna, Maya, Yin, Yang, Aúra-Masda, Arimã, Allah (não tripessoal), Zeus, Apolo, Athena, reencarnação, metempsicose e outras divindades e conceitos das demais religiões. Todos eles, contudo, são objeto de citações nas escrituras sagradas de suas religiões.
A exigência de justiça por parte de Deus, em relação ao pecado de Adão e Eva, não tem nada a ver com sacrifícios expiatórios. Justiça se traduz em prêmio ou punição ao autor da ação objeto de apreciação. Sacrifícios ou oferendas são caprichos exigidos pelo Juiz em completo desacordo com o próprio espírito imparcial e desinteressado da justiça. A satisfação propiciatória de Deus apenas com o sacrifício de seu próprio filho Jesus revela um caráter mesquinho e egoísta de Deus, muito longe do padrão de bondade e santidade que se atribui a Ele.
Além do mais tudo isto só tem significado se se admitir a criação do homem diretamente por Deus nas pessoas de Adão e Eva, o que é inteiramente desprovido de confirmação, além de ser extremamente ingênuo.
A questão fundamental do ateísmo não se prende a possíveis deslises morais dos personagens bíblicos e nem, realmente, ao que a Bíblia ou qualquer outra escritura sagrada diga ou não. Todas elas são códices redigidos por pessoas, mesmo que convictas de sua inspiração divina, mas que, na verdade, expressam o modo de pensar de sua época, sua localização, sua etnia, seu extrato social e demais circunstâncias, além da opinião pessoal do próprio autor do texto. O fundamento do ateísmo, ao afirmar que não existem divindades de espécie alguma, nem tampouco semideuses, almas, anjos, demônios, gênios, djins, duendes, elfos, gnomos ou qualquer tipo de espíritos ou elementais de qualquer natureza, é que não há comprovação nem evidência da existência de tais entidades e, portanto, tudo o que existe é natural, as únicas substâncias de que qualquer coisa seja feita são os constituintes naturais do Universo, isto é, matéria, radiação e campos (mas não energia, pois não é uma entidade e sim um atributo de entidades).
É claro que o ateísmo considera a existência de abstrações, mas elas são apenas concepções mentais, não tendo existência sem mentes que as concebam. E as mentes são apenas ocorrências advindas da composição, estrutura e funcionamento do organismo, especialmente do cérebro.
Deuses são, pois, conceitos, ideías concebidas por mentes, sem existência no mundo real. Nada há que comprove sua existência e, como não são evidentes, a hipótese zero, isto é, “por default” é de que não existam, sendo requerida comprovação para considerar que existam. E isto ainda não se deu, pois as pretensas “revelações” não comprovam coisa alguma, nem tampouco as falaciosas "provas" da existência de Deus.
A existência de personagens históricas, incluindo Jesus, Maria, Moisés, Abraão e outros da Bíblia, é aceita face os testemunhos orais e escritos dos contemporâneos, transmitidos até os dias atuais. A existência de Deus não pode se basear no mesmo critério, senão seria preciso admitir a existência de todos os deuses da mitologia pagã, hinduísta e assim por diante. Se nós concordamos que os deuses mitológicos da Grécia e de Roma são invenções consignadas em textos, como a Ilíada e a Odisséia, porque não colocamos o Deus judaico-cristão-muçulmano na mesma categoria, mesmo que constem da Biblia e do Corão? Porque seria a Bíblia uma revelação e o Corão não? Porque os cristão têm fé? Mas os muçulmanos também têm! E, para eles, Jesus foi só um grande profeta, logo abaixo de Maomé, mas não o Deus encarnado. E nem existe nada de Santíssima Trindade. E quanto ao zoroastrismo, que considera o demônio uma divindade? E o panteão hinduísta? E o espiritismo, que nega divindade a Jesus?
Deuses não são evidências sensorias diretas, como pessoas. Eu acredito que Jesus existiu, e, inclusive, o admiro e procuro imitar, mas não acho que seja Deus.
É claro que os argumentos racionais não abalam a fé, pois a fé é irracional. O que proclamo é que se precisa abandonar a fé, pois ela não tem cabimento. Pode-se crer sem prova, provisoriamente, em algo não comprovado, desde que hajam fortes indícios, mas com a disposição de abandonar a crença quando evidências a derrubarem. Tal não se dá com a fé, que é proposta ser aceita sem discussão. Isto é inteiramente inadmissível. Concito a todos que possuem fé, que a deixem em suspenso e façam uma análise crítica de seus fundamentos, como eu, que fui católico, o fiz e a abandonei.
É claro que existem cientistas que crêem em Deus. Isto não prova que Deus existe, como o fato de haver outros que não acreditam não prova que não exista. Ou, ainda, alguns que, mesmo não sendo crentes, não aceitam a “Teoria da Evolução”. A questão é que a Teoria da Evolução (como atualmente entendida e não como originalmente formulada) é consensual na comunidade biológica, sendo seus detratores uma corrente marginal. E, note-se que, a Teoria da Evolução não faz nenhuma afirmação sobre a inexistência de Deus, apenas que as espécies evoluiram umas a partir das outras e não que foram criadas individualmente. Nem cogita do surgimento da vida, que é objeto de outras teorias, de biogênese, mas que mostram ser perfeitamente possível o surgimento da vida a partir da matéria inanimada, sem criação. Mas não diz que foi assim que ocorreu. No entanto, a inserção de um ente extranatural interveniente é perfeitamente dispensável, por não ser necessária.
Quanto ao Universo ser finito ou infinito, ter surgido ou sempre existido, são possibilidades inteiramente admissíveis na cosmologia, a serem decididas, não por informações mitologicas, mas pela análise de dados observacionais, que, no momento, ainda não são conclusivos a respeito. O que não significa que não venham a ser. Há que se aguardar. O fato de não se ter ainda uma certeza não significa que não se possa alcançá-la. Acontece que a humanidade é jovem no planeta (menos de meio milhão de anos) e a ciência menos ainda (só uns 500 anos). Dá para esperar algumas dezenas de milhares de anos, ou mesmo milhões.
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sábado, 28 de novembro de 2009
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Minhas profissões
A profissão de uma pessoa pode revelar muito de sua personalidade, cosmovisão, temperamento, inclinações e, até mesmo, caráter. Eu me sentiria realizado em exercer qualquer uma das seguines profissões:
Engenheiro, Físico, Matemático, Astrônomo, Cosmólogo, Professor, Filósofo, Arquiteto, Desenhista, Pintor, Escultor, Escritor, Poeta, Conferencista, Compositor Clássico, Regente, Cantor lírico, Biólogo, Programador, Analista, Piloto de avião ou navio, Marceneiro, ou outras de caráter criativo, teórico e intelectual.
Todavia não tenho vontade nenhuma de atuar como:
Comerciante, Industrial, Banqueiro, Capitalista, Fazendeiro, Médico, Empresário, Dentista, Administrador, Economista, Advogado, Psicólogo, Sacerdote, Contador, Político, Sociólogo, Bancário, Publicitário, Veterinário, Agrônomo, Militar, Policial, Motorista, Desportista, Funcionário burocrático, Agricultor, Comerciário, Industriário, Minerador ou outras que tenham caráter prático e utilitário.
Não que eu tenha objeções a estas últimas, apenas que não se adequam a meu perfil de interesses, habilidades e conhecimentos, além de não se coadunarem com minha visão de mundo.
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Respostas fundamentais
Como todo filósofo sempre acha que sua filosofia veio para ser a definitiva, eu também penso que achei algumas respostas a essas perguntas primordiais, sem ter certeza, mas bem convicto, apesar de disposto a rever, se convencido:
Porque existe algo e não nada?
Não há motivo algum. Por mero acaso. Poderia não haver nada.
Qual a razão e o propósito da vida?
Nenhum também. Temos que achá-los por nós mesmos, para dar sentido a ela e termos paz.
Existe um mundo exterior fora de minha mente?
Não há como saber, mas temos que viver supondo que sim.
Supondo que exista o mundo exterior, qual a sua origem?
Nenhuma. Surgiu de modo fortuito sem ser proveniente de coisa alguma.
Porque o bem é preferível ao mal?
Porque propicia mais felicidade, no fim das contas.
É possível conhecer-se a verdade?
Não, mas pode-se perseguir uma aproximação cada vez maior dela, nunca com certeza e sempre disposto a revisão.
Existe algum Deus?
Impossível saber, mas, muito provavelmente, não. E, se existir, certamente não é a figura que as religiões abrahâmicas concebem.
Há vida após a morte?
Não. A morte biológica leva à extinção total da mente e da consciência.
A propósito, vejam isto:
http://wolfedler.blogspot.com/2008/11/meu-credo.html
domingo, 22 de novembro de 2009
Falácia do Princípio Antrópico
O Princípio Antrópico é a assertiva cosmológica de que nosso Universo é tal qual é, com as leis da natureza que existem e os valores das constantes físicas (velocidade da luz, constante de Planck, constante da gravitação universal, carga elementar, permissividade do vácuo) estabelecidos como são, para que a vida humana surgisse. Se as leis fossem outras ou as constantes tivessem valores diferentes, poderiam não terem surgidos partículas elementares ou átomos, ou galáxias, ou estrelas, ou planetas, ou a vida, ou a inteligência. Tais coisas surgiram porque as leis da física e os valores das constantes o permitem.
Que os valores que as constantes físicas atômicas e cosmológicas apresentam são exatamente aqueles que permitiram o surgimento de átomos estáveis, de reações nucleares, de galáxias, estrelas e planetas, da vida e, principalmente, da espécie humana com sua inteligência e consciência é mais que óbvio. Inferir disto que esses valores foram propositalmente estabelecidos para que tal fato se desse é outra história. Nada há que permita tirar esta conclusão, que é inteiramente gratuita. Os valores poderiam ser quaisquer outros e, assim, nada disso teria acontecido. Aliás a probabilidade de serem outros é muito maior do que serem o que são. Mais uma vez afirmo: é como ganhar na loteria. Se estamos aqui é porque, por acaso, calhou dos valores coincidirem com os necessários para tal. Isto é muito simples de se ver. Não consigo atinar com a razão pela qual se diz, no Princípio Antrópico, que isto tenha sido por obra de um planejamento inteligente. Isto sim, é que é completamente surreal e uma crença inteiramente infundada, assentada em uma opinião de que coincidências não existem e o acaso não pode ser responsável por tal complexidade. Aceitar o acaso não é uma crença e sim a constatação do óbvio. Se não há razão verificada, é por acaso!
Mesmo que descartemos a associação entre o princípio antrópico e o projeto inteligente, pode-se ver que as condições que nosso Universo preenche e que possibilitam (e não determinam) a existência de vida inteligente são fortuitas. Uma coisa que não existe em ciência são explicações teleológicas. Nada se dá “para que” tal ou qual consequência ocorra. Tudo na natureza se dá sem propósito. As consequências são o que, por acaso, venha a surgir. O que pode ocorrer, como se dá na evolução, é que uma imbricação sequencial de eventos faça restrições a uma ou outra possibilidade (como é o caso da seleção natural). É totalmente impossível, a não ser que haja uma entidade extrínseca ao Universo que o tenha criado e dirigido sua evolução (algo extremamente improvável), que a natureza, por sí, aja de forma a objetivar algo, especialmente tão longíquo quanto é o surgimento do homem em relação ao Big Bang. O Universo é tal qual é porque assim, por acaso, foi formado. Poderia não ter sido assim e poderia não se ter formado nenhum, em absoluto, isto é, não existiria coisa alguma. A existência de algo ao invés de nada não tem razão de ser nenhuma, da mesma forma que o fato do que existe ser como é e não de outro modo. Uma coisa, contudo, é certa. O acaso é capaz de qualquer coisa, mas tudo é como é porque a sequência de acasos calhou de dar nisto e não em outra coisa. É como ganhar na loteria: antes do resultado, todos os concorrentes têm a mesma probabilidade, muito pequena, de ganhar. Mas algum ganha e, para este, depois do resultado, a probabilidade se torna 1. É o colapso da função de densidade de probabilidade em uma delta de Dirac, para quem entende de matemática.
MANUAL DE CIVILIDADE
Na página 109 da edição 2137, de 4/11/09,
http://veja.abril.com.br/acervodigital/?cod=JMORLMDPE0 ,
a revista VEJA publicou um "MANUAL DE CIVILIDADE", muito apropriado para os dias atuais. Com comentários dos cientistas políticos Bolivar Lamounier, Rubens Figueiredo e Gaudêncio Torquato, dos filósofos Roberto Romano e Renato Janine Ribeiro, da psicóloga Lídia Arantagy e dos sociólogos Piero Forni e Demétrio Magnoli, o artigo elenca as atitudes básicas que precisam ser cultivadas para que a sociedade possa existir em um clima de paz e harmonia que promovam, afinal das contas, o bem estar e a felicidade de cada um, que são as razões para que vivamos em sociedade.
Tais atitudes são HONRADEZ, INTEGRIDADE, BOAS MANEIRAS, TOLERÂNCIA, AUTO-CONTROLE, CIVILIDADE, HONESTIDADE, CONTENÇÃO VERBAL, PEDIR DESCULPAS E DECORO. Não há dúvida de que, sem estas atitudes disseminadas por todo o corpo social, a vida seria uma guerra permanente de egos, cada qual querendo fazer prevalecer seus desejos egoístas sobre o bem estar comum. Tal comportamento não pode ser tolerado, simplesmente por inviabilizar qualquer projeto de construção de um mundo afável e prazeroso para todos.
Atualmente vemos que essas atitudes são, muitas vezes, tidas como anacronismos bisonhos, inapropriados para pessoas pragmáticas, objetivas e vencedoras, como se propala que seja o ideal a perseguir-se. Tratam-se de "fraquezas" ou, pelo menos, "frescuras" de gente servil e perdedora, que nunca obterá sucesso em nada que fizer. A juventude, especialmente, assimila esta concepção e considera que o importante é levar vantagem a qualquer custo, enriquecer, ficar "bem de vida", isto significando não que alcance paz e harmonia, mas que tenha sucesso e seja rico, mesmo que, para tal, passe por cima de todas as normas de ética, de todos os compromissos e de todas as pessoas que lhe opuserem algum obstáculo. Esquecem-se, contudo, que são apenas parte do organismo social e que só terão benefícios garantidos e perenes, se eles o foram para todos e não só para uns em detrimento de outros.
Eu, no entanto, vou além. Mais ainda do que tudo isto, que representa apenas a "conditio sine qua non", da civilidade, apregoo a prática de virtudes mais positivamente direcionadas para a construção de uma sociedade não só harmônica, mas excelente e plena de júbilo para as pessoas. Além da cortesia, a GENTILEZA, além da honestidade, a GENEROSIDADE, além da justiça, a BONDADE, além da tolerância, a DISPOSIÇÃO de lutar para que qualquer preconceito ou intolerância sejam abolidos. Além da honra, a BRAVURA em promover a aniquilação do mal e o prevalecimento do bem e além da própria bondade, o ALTRUÍSMO de levar prejuízo e até danos para garantir tais valores para todos. Exatamente a não omissão, a posição de sempre ter a ver com tudo de que se toma conhecimento e não "lavar as mãos", dizendo não ser da própria conta tomar qualquer atitude. Estar disposto a ter aborrecimento e levar prejuízo para combater toda injustiça, mesmo com quem não se conhece. Este é o galardão da pessoa verdadeiramente de bem. Este é o heroísmo que faz a vida valer a pena ser vivida. Não basta apenas ser bonzinho para não ir para o inferno. Fazer o bem é muito mais do que ser bom (mas não dispensa o ser). É claro que ser bom é mais valioso do que ser apenas justo e honesto, pois todo bom o é. Ser bom é ser solidário e compassivo. Mas fazer o bem é muito mais. É ser combativo pelo prevalecimento do bem e aniquilação de toda maldade, toda injustiça, toda desonestidade, toda mentira, toda safadeza, toda ganância, toda malqueirança, todo desamor.
A propósito quero recomendar a leitura do livro "Pequeno Tratado das Grandes Virtudes" do filósofo francês André Comte-Sponville (Martins Fontes) que se encontra integralmente disponível na internet no site:
http://www.pfilosofia.xpg.com.br/03_filosofia/03_03_ptgv/ptgv.htm .
Só que o mocinho não pode se valer dos métodos do bandido. O crime não pode ser combatido com os meios de que ele se vale. Todos os escrúpulos têm que ser tomados. Não é válido matar o assassino, pois isto também é um assassinato. Aí está a grande dificuldade do combate ao mal. E, principalmente, não se pode pensar em vantagens pessoais, mas sim no bem coletivo, a ser preservado mesmo ao custo de desvantagem pessoal.
São tais considerações que reputo essenciais a se transmitir à juventude pela escola, já que esses valores não são mais cultivados em muitas famílias e, mesmo quando o são, muitas não conseguem passá-los às novas gerações. É claro que isto não pode ser confundido com formalidades apenas exteriores e sem significado profundo, como chamar os mais velhos de "senhor" ou "pedir a bênção". Isto pode até ser cultivado, mas não é essencial e a sua falta não significa, absolutamente, falta de respeito e consideração, mesmo que possa o ser, em alguns casos. A escola tem que assumir esta missão em seu comportamento cotidiano, como um cosmovisão pedagógica, que perpasse toda a vida escolar, nas aulas de todas as matérias, por parte de todos os professores, bem como no dia a dia administrativo e em todas as atividades. Mas, sem dúvida, faz falta uma disciplina do tipo (mas não exatamente como) da antiga "Educação Moral e Cívica", que, ao invés de inculcar valores da antiga ditadura, transmita, sim, valores éticos, cívicos, humanos, culturais, estéticos, filosóficos e mesmo atitudes científicas (não confundir com conhecimentos e habilidades científicas) de deslumbramento pelo saber e pela natureza e de espírito inquiridor, crítico e reflexivo. Talvez a Filosofia e a Sociologia, agora obrigatórias, possam fazer este papel, mas ele tem que ser assumido como tema transversal de todas as matérias.
Transformar todo jovem não apenas em profissionais competentes e de sucesso, como muitos pensam resumir-se a função da escola, mas também em cidadãos e pessoas humanas integrais, isto é, em damas e cavalheiros cônscios de seu papel na humanidade e no contexto global da natureza, que sejam exemplos de civilidade e locomotivas da transformação deste mundo no lugar aprazível que cada um sonha que seja é, pois, uma responsabilidade irremovível da escola, do educador, da família e de toda pessoa cuja ação no mundo deva ser imitada pelas novas gerações. Abdicar disto é decretar a derrota da civilização frente à barbárie.
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