segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Professor, é claramente visível o seu gosto pela leitura e principalmente pela escrita que você tem. Você acredita que todo ser humano será eternizado por aquilo que ele deixou escrito, Pra você a invenção da escrita foi a maior invenção de todas.

Para mim, sim. Com a escrita a humanidade pode perenizar seu legado cultural, de modo a não precisar sempre começar tudo de novo. A escrita foi a primeira forma de registro e, mesmo com os recursos multimídia hoje existentes, ainda é a principal. De fato, uma vez que a morte é o fim completo da vida, a única forma de sobreviver à morte é deixar obras materialmente produzidas, como as obras de arte, músicas e obras literárias, mesmo que só didáticas. Assim é que se poderá ser lembrado pela posteridade.

Toca algum instrumento?

Um pouco de piano, que estudei na juventude. Mas há tempo que não tenho mais piano em casa e estou destreinado. Cheguei a tocar flauta doce. Comecei a estudar violino também, quando ganhei um de presente de minha mulher, mas não tive tempo para continuar. Gostaria de concluir o estudo, mas só quando eu, de fato, me aposentar. Quando eu conseguir dinheiro vou comprar um piano de novo e, então, porei em dia minhas interpretações. Se desse queria saber tocar violão, pois acho mais prático e portátil. O violino e a flauta doce são mais portáteis. Só que a flauta não permite cantar enquanto é tocada e o violino também não deixa cantar direito, já que ocupa o queixo. O violão permite que seja tocado enquanto se canta.

Sou ateu como o Sr. e tenho uma questão q n consigo superar: sendo nós humanos produtos da mesma evolução ocorrida com todos os seres vivos, n seria + coerente p/ essa visão de mundo eu ser vegetariano? P.S. adoro compulsivamente carne. O que o sr. me diz smile

Para começar, a natureza não tem compromisso nenhum em ser lógica nem coerente. Isso é uma concepção humana. Mesmo assim, não vejo que seria coerente sermos vegetarianos, pois evoluímos a partir de pré-hominídeos que eram onívoros, como nossos outros primos primatas superiores, como os chimpanzés. Nosso trato digestivo é capaz de digerir tanto vegetais quanto animais. Podemos nos tornar vegetarianos por uma opção consciente, mas não o somos por natureza. Se o fôssemos, nunca nenhum ser humano teria comido carne, como os herbívoros não fazem. Biologicamente, num caso extremo, poderia se justificar o canibalismo de quem ja estivesse morto. Mas nisso entra uma questão ética, que ultrapassa a biológica. Eticamente é preferível morrer de fome do que matar outra pessoa humana para comê-la. De modo geral, eticamente é preferível morrer do que matar. A ética é metafísica mesmo. E é superior a biologia, pois se reporta à harmonia da convivência gragária da humanidade.

Você costuma rezar/orar? Se não, agradece pelas coisas que tem, pela sua vida e etc?

Não oro porque não há a quem fazê-lo, logo, é inócuo. Mas, às vezes penso, e se eu estiver enganado? E se houver algum Deus? Então, mesmo que esteja convencido de que não existe tal entidade, imagino que existisse e converso com ela em pensamento. Uma loucura. Mas não peço nem agradeço nada. Só comento como ela fez tanta burrada, se é que foi ela que fez o Universo. Como ela pode permitir a existência de tanta maldade e não fazer nada? Realmente lhe passo uns pitos. Tem dó! Vê se te manca, ó Deus! Faz alguma coisa para resolver a problemática do mundo! Agradecer por essa coisa horrível que se tem aí? Claro que há belezas e bondades. Mas... os defeitos são muitos e bem grandes.

Você tem vocação para alguma coisa?

Para o que já sou: professor, pesquisador, escritor, conferencista, músico, pintor, poeta. Ou seja, completamente lunático. Sem nem um pouco de pé no chão.

NASA divulgou que irá iniciar trabalhos para criar "velocidade de dobra". O que acha dessa possibilidade de poder fazer viagens intergaláticas?

Acho que é completamente impossível. Não passa de ficção. Algo totalmente inviável. Mas... posso estar enganado. Só vendo.

Acredita em horóscopo, signos?

Isso é baboseira pura. Não tem nada de verdadeiro. Não tem fundamento nenhum. É uma vasta perda de tempo prestar atenção em horóscopo e em previsões astrológicas em geral. É tolice. Os signos são constelações, algo que não significa nada além da aparência da visada a partir de nossa posição. A época do ano em que se nasce pode ter influência em doenças infantis, pelo frio. O resto não.

Já leu algum livro em outro idioma?

Sim, vários, em inglês, espanhol e francês. Especialmente livros didáticos de Física e Matemática. Os livros russos, muito bons em nível de pós-graduação, no tempo da União Soviética, eram editados em Francês para serem vendidos no mundo. Estudei pela coleção do Landau e Lifschitz, excelente. Em Matemática, estudei pelo Smirnov, também em francês. Em inglês eram a maioria dos livros que estudei relatividade e física quântica. Mas também já li literatura em inglês e em francês. Também aprendi um pouco de italiano para acompanhar os libretos das óperas. Agora estou aprendendo alemão e aperfeiçoando meu francês. Apesar de minha ascendência austríaca, eu não sabia alemão. Depois eu quero aprender russo e grego. Também sei um pouco de latim, que estudei quatro anos no ginásio. Interessante que, quando você aprende outras línguas, você fica mais por dentro do próprio português, porque toma contato com outras estruturas gramaticais e, então, entende as nossas. O alemão e o grego são importantíssimos para o estudo de Filosofia, e o russo é porque eu adoro literatura russa, bem como a cultura russa em geral, especialmente a música.

Qual sua teoria sobre a criação do mundo?

Vamos entender que o que você está chamando de "mundo" seja o planeta Terra. Para começar ele não foi "criado". Ele "surgiu", como os demais planetas de nosso Sistema Solar, a partir da matéria centrifugada pelo Sol em seu processo de contração gravitacional, que, como na maioria dos casos, não foi radial, dando azo ao surgimento de uma rotação. Pela gravidade, essa matéria se aglomerou e formou os planetas, como pequenos sóis, só que sem massa suficiente para causar uma pressão e aquecimento interior suficientes para dar início à ignição nuclear. A Terra e os outros planetas próximos foram formados principalmente por metais e os externos por gases (se bem que o hidrogênio é um metal gasoso). A perda de calor para o espaço fez surgir a crosta, que isolou o núcleo de mais perda de calor. Os movimentos tectônicos formaram vulcões, que expeliram água gasosa formando nuvens que se precipitaram e formaram os oceanos. Os detalhes podem ser encontrados na internet. Isso não é uma teoria minha, mas a que se tem como verdadeira, até que outros indícios mostrem diferente.

A imaturidade pode ser usada como justificativa para comportamentos maldosos, repetitivos e equivocados?

Jamais. Pode até explicar, mas não justificar. Não há justificativa para maldade nenhuma. E, geralmente, a maldade não vem da imaturidade. Um imaturo de bom coração jamais fará uma maldade por causa da sua imaturidade. Pode se equivocar nos julgamentos e nas ações, mas jamais terá nenhuma intenção malévola. Pode causar algum prejuízo, mas nunca fará um mal de propósito. Quem faz o mal não o faz por imaturidade e sim por índole maléfica mesmo, quer seja maduro ou imaturo.

O mais firme dos amores é aquele que resulta de uma grande amizade? Justifique.

Claro que sim. Amor surge da admiração, do desejo, do bem querer e da amizade. Sem amizade não há um verdadeiro amor, um amor que ame a outra pessoa em sua plenitude, isto é, em todos os aspectos. Para se amar de verdade tem que se curtir a presença um do outro, que se ter interesses comuns, que se ter assunto para conversas, que se gostar das mesmas coisas (não de tudo, decerto, mas de bastante). Há que se comprazer no tempo passado junto, entretido em atividades compartilhadas, nem que seja arrumar a casa. Tem-se que ver na outra pessoa os valores e as qualidades que se admira, físicas, morais, intelectuais, comportamentais e todas mais. É a beleza, a bondade, a dedicação, a firmeza, a lealdade. E tem-se que compartilhar os sonhos, tanto os pessoais como os gerais, sobre o mundo. Isso tudo envolve uma grande amizade. Não se pode amar a quem não se tenha amizade. Além da amizade o amor quer mais, quer a entrega, a dedicação, o compartilhamento dos corpos e das mentes, a ternura e o desejo. Mas nunca a posse e o controle. Quem ama de verdade quer a total liberdade do ser amado, inclusive para não amá-lo. Não se pode exigir reciprocidade no amor, apenas desejar. Aliás, não se pode exigir nada, nem a exclusividade. Quem exige não ama.

O egoísmo é um sentimento que pode abalar qualquer estrutura ou podemos conviver com ele sem grandes perdas?

O egoísmo é a fonte de todos os males. Ele impede a realização plena de todos, pois faz com que cada um queira apenas o próprio bem e não o de todos. A sociedade é formada pelos laços de colaboração e apoio mútuo que o egoísmo destrói, abalando, pois, a estrutura da sociedade. Não há como conviver satisfatoriamente com o egoísmo. Ele pode ser benéfico, temporariamente, para o egoísta, mas é impossível se construir um mundo só de egoístas, como é impossível uma sociedade em que só haja ladrões. Quem iria produzir algo para ser roubado? Egoísmo é um roubo, é uma atitude criminosa que deveria ser punida com a restrição da liberdade. A única forma de se estabelecer uma convivência proveitosa para as pessoas é elas sendo altruístas e agindo umas em benefício das outras.

Sobre a internacionalização da Amazônia, pelo senador Cristóvam Buarque. O que o senhor achou sobre a matéria e o que pensa sobre o assunto?

Concordo plenamente com Buarque, a quem admiro muito. Acho mesmo que tudo deveria ser internacionalizado e que se acabassem com todos os países. Porque a Amazônia deveria ser só dos brasileiros? Porque as Savanas deveriam ser só dos africanos? Porque as plantações do meio-oeste deveriam ser só dos americanos? Tudo deveria ser de todo mundo. Acho isso mesmo, sem brincadeira. Sou contra a existência de nações soberanas no mundo.

Como decidiu cursar física?

Quando adolescente eu tinha a ideia de cursar Arquitetura ou Engenharia Mecânica, pois gostava dos dois assuntos. Ao entrar para o Científico (atual Ensino Médio) me entusiasmei pela Física como ciência básica que investiga o funcionamento do Universo, já que sempre gostei de Astronomia e Cosmologia (pelo que me consta, desde o curso primário). Então resolvi fazer Física, mas o curso mais perto de Barbacena era em Belo Horizonte e meu pai não teria condições de me manter lá. Além disso eu já havia passado em um concurso para professor da EPCAR. Então resolvi fazer Matemática em Barbacena, trabalhando para pagar a faculdade particular, que era à noite. Mas eu dava aula de Física na EPCAR e na EAFB. Ao me formar, fui dar aula de Física na UFSJ e na UFJF, depois na UFV. Também dei aula de Estatística na UNIPAC. Já em Viçosa, saí de licença para fazer mestrado no CBPF, em Cosmologia. Acabei não fazendo doutorado porque aceitei cargos na administração da UFV, como Coordenador do Curso de Física, Chefe do Departamento de Física, Pró-Reitor de Graduação e Chefe de Gabinete da Reitoria. Ao me aposentar fui convidadeo para ser Vice-Diretor do Colégio Anglo, cargo que exerço até hoje. Escolhi a Matemática, a Física e a Cosmologia por serem, para mim, ciências mais filosóficas e eu adoro Filosofia. Só que achei que Filosofia eu poderia aprender auto-didaticamente enquanto Física e Matemática seria difícil. A escolha do Magistério foi porque, como professor, eu poderia influenciar mais a juventude e, assim, colaborar para consertar o Mundo, especialmente difundindo o gosto pelo conhecimento científico e, com isso, afastando as superstições e crenças religiosas infundadas.

A honestidade tem limite? Se sim, qual é, na sua versão? Se não, porquê não?

Sim. Você teria o direito de ser mentiroso se for para salvar um inocente.

Você é bem organizado(a)?

Não, mas gostaria de ser e me esforço para tal. O problema é que o dia só tem 24 horas e eu invento tanta coisa para fazer que não sobra tempo para ser organizado, o que dispende bastante tempo, Mesmo dormindo pouco e vendo pouca televisão eu precisaria de um dia de, pelo menos, 30 horas, para ficar satisfeito. Mas, dentro do possível, eu vou organizando. Sigo alguns princípios, como não deixar de começar, mesmo que não vá conseguir terminar, não se concentrar só no principal e ir fazendo o que seja secundário em paralelo, fazer várias coisas ao mesmo tempo, ir arrumando à medida que se vai fazendo (quando consigo). E, principalmente, buscar a perfeição em tudo o que se faz, não se importando em ir fazendo bagunça, mas ir arrumando sempre que der chance. É preciso saber que a eficácia é muito mais valiosa do que a eficiência. Organização é bom, mas o melhor são os resultados, mesmo que obtidos sem organização.

Transformações físicas no cérebro alteram definitivamente nossa memória, nosso comportamento, e nossa personalidade. Há casos de pessoas com dano cerebral que perderam todo o senso de moral. Dito isso: Você acredita na existência de uma alma?

Claro que não. Alma não existe. Esses fatos mostram cabalmente que não. O psiquismo é todo ele produto da fisiologia do cérebro. Isso já está definitivamente demonstrado pela neurologia. A morte do organismo é o fim de tudo. É como um sono de que não se mais acorda. Não há mais consciência, memória, nada. Mas isso não significa que se possa ser niilista e se abandone a ética achando que tudo seja permitido. O bem e o mal existem como ocorrências humanas e a sociedade, para preservar-se, tem que coibir o mal e estimular o bem. Sem pensar em nenhum prêmio nem castigo numa pretensa "vida eterna".

Se pudesse escolher, você aceitaria ter um pouco menos de liberdade (de expressão, ser mais vigiado pelo governo, etc.) para ter um pouco mais de segurança?

Não. Prefiro a liberdade sem a segurança. Pois, então, eu poderia lutar para ter segurança, com liberdade. Acho que nada justifica nenhuma restrição à liberdade, entendido que não há liberdade para ser criminoso.

A verdade conduz à felicidade? Justifique.

Considero que a verdade seja uma condição necessária para a felicidade, mas não suficiente. Além de ser verdadeiro, isto é, honesto, sincero, justo é preciso ir além. É preciso ser bom, generoso, prestativo, altruísta. E tem que agir positivamente para erradicar o mal e produzir o bem. Assim se poderá conquistar a felicidade.

Como ser feliz nesse planeta, sabendo que muitos estão morrendo de doenças, fome, guerras, assassinatos? Não seria isso um tipo de felicidade egoística?

É possível, não egoisticamente, mas se se empenhar em resolver os problemas do mundo. Se você assim o faz e tem consciência que dá o melhor de si para tal, você pode aquietar sua mente e se sentir feliz por estar agindo a respeito, sem omissão. Mesmo que não consiga, sozinho, resolver todos os problemas. Mas se você se omitir, dizendo que não é problema seu, então não terá paz, exceto se for mesmo um crápula. Nesse caso eu providenciarei para que não tenha paz e nem goze o mínimo resquício de felicidade.

Se os seus pensamentos gerassem som e imagem para os que estão ao seu redor, isso seria bom ou ruim?

Seria uma beleza. Imagino as sinfonias e os poemas sinfônicos que eu produziria. As telas oníricas, as esculturas mirabolantes, os vídeos surrealistas ou abstratos. Pois eu adoro pensar e penso demais. Penso sobre tudo: cosmologia, física, biologia, psicologia, sociologia... Também penso em pessoas, na natureza, nos acontecimentos, nos dispositivos, nas instituições, nas relações, nas normas. Em abstrações filosóficas, em arte, na própria música. Acho que seria maravilhoso poder converter em som e imagem os meus pensamentos.

As certezas sempre nascem de uma dor?

Não existem certezas de modo nenhum. Apenas fortes convicções. Mas elas não precisam surgir de alguma dor, mesmo que possam. Podem surgir da paz e do amor, como o são a maior parte das minhas.

Como seria a sociedade se todos tivessem cursos universitários?

Excelente. O ideal. Para qualquer ocupação é bom ter curso universitário. Alguém diria que, então, quem seria lavrador, zelador, faxineiro, lixeiro, mineiro, estivador, porteiro, pescador e outras atividades consideradas braçais ou servis? Ora... os bacharéis. Se elas precisam ser feitas e ninguém quer fazê-las, a sua remuneração se tornará tão alta que passará a ser atrativa. E um graduado, certamente, terá mais condições de fazer um serviço mais bem feito. Não acho que seja preciso haver pobres e nem pessoas com qualificação menor na sociedade. Podem ser todos ricos e qualificados, sem exceção. Ou então seriam feitas em forma de rodízio. Haveria um dia em que o Presidente da República coletaria o lixo do Palácio e outro em que lavaria a privada. Além do mais, numa sociedade toda sofisticada, tudo seria mecanizado e automatizado, por exemplo, os serviços rurais. Poucos trabalhadores, pilotando sofisticadas máquinas agrícolas, fariam o serviço de muitos peões. E assim o tempo de lazer de todo muito seria muito ampliado. Talvez se precisasse trabalhar apenas três horas por dia, dia sim dia não. A sociedade ácrata, que imagino como ideal, sem governo, sem fronteiras, sem propriedade e sem dinheiro, seria assim. Mulheres e homens, todos trabalhando e pouco, uns pelo bem dos outros. Ninguém é pobre nem rico. Todos têm tudo e nada é de ninguém. Tudo compartilhado. Sem residências monofamiliares. Até sem família. Sem partidos políticos, sem exércitos, sem prisões, sem religiões. Uma beleza.

Qual é o principal direito humano além do direito à vida? Ou seja, qual é o direito mais relevante na tua opinião?

O direito à liberdade, desde que ela não seja usada para prejudicar ninguém. Todos somos livres por natureza e por princípio. Não podemos ser obrigados a fazer nada que não queiramos e nem deixar de fazer nada que pudermos, desde que isso não leve dano ou prejuízo a outrem ou à natureza. Impedir o crime não é tolher a liberdade, pois não se tem a liberdade de cometê-lo. O único problema é estabelecer o que seja lícito ou não fazer. Aí é que a moral tem que ser ética. E, muitas vezes, a definição do que seja permitido e do que seja proibido é feita para atender os interesses de certos grupos em detrimento da liberdade. Por isso é que há que se lutar incansavelmente pelo prevalecimento da liberdade, sem intolerância nem preconceito de espécie alguma. Tudo o que não causar prejuízo de qualquer espécie a ninguém tem que ser permitido. Mas é preciso entender que, por exemplo, escandalizar não é causar um prejuízo. Senão pessoas dirão que não se pode fazer isso ou aquilo pois elas se incomodam. Em certos casos, pode-se aceitar alguma restrição, se ela não for prejudicial a quem a tenha que obedecer, como não andar nu na rua. Mas não se pode proibir alguém de sair cantando pela rua. Essas "excentricidades" têm que ser admitidas como perfeitamente normais. Outras coisas também, como a poligamia. Mas não se pode tolerar, por exemplo, religiões que façam sacrifícios de criancinhas. A liberdade não é fazer tudo o que se quiser mas só o que não prejudique a outrem e à natureza. Não poder fazer o mal não é restrição à liberdade. A sociedade tem que impedir isso. O difícil é definir os limites com liberalidade.

Qual o limite entre lealdade e a conivência?

Lealdade é a atitude de se respeitar, ser amigo, querer o bem, não tapear, não trair uma pessoa. Mas não de lhe encobrir os erros e lhe proteger nas trapaças. Conivência é uma espécie de lealdade nas ações incorretas e, até, criminosa. É concordar com as más atitudes de uma pessoa em nome da amizade. Isso é péssimo. O verdadeiro amigo não é o que é conivente, mas o que, sendo leal, dissuade o amigo da prática do mal e, se for o caso, lhe denuncia, para proteger a sociedade e para não deixar que ele enverede pelo caminho do mal.

domingo, 30 de setembro de 2012

A simplicidade é o último grau de sofisticação? Argumente.

A simplicidade, quando demonstrada por uma pessoa sofisticada, de modo que se apresente natural, de fato, é um requinte de sofisticação. Mas pode ser uma simplicidade genuína e nada sofisticada. Sofisticação maior é saber reconhecer quem se mostra simples sem o ser e quem de fato o é. Todavia a simplicidade, em si mesma, não é um valor ideal a ser perseguido. O ideal é, justamente, ser-se sofisticado sem demonstrar nenhum pernosticismo, presunção nem bazófia. Mas de forma não teatral e sim, sincera. Isto é, ter uma inteligência superior, uma vasta cultura, muitas habilidades, grande traquejo social, discreto charme pessoal e, mesmo assim, não se considerar, sinceramente, superior por isso, não se gabar, se mostrar acessível, cordado, modesto e, principalmente, assertivo. Quem assim conseguir o ser, realmente, merece os maiores encômios, mas, como é assim, não se importa com isso.

Vai votar em Eduardo Paes novamente?

Apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, saí de lá com dois anos de idade e só voltei a morar lá por dois anos, em 1979/80, quando fiz o meu mestrado no CBPF. Morei em Barbacena, Minas, dos dois aos 26 anos e em Viçosa, dos 26 até hoje (62 anos). Voto em Viçosa e, aqui, meu candidato a prefeito é o Sérgio Pinheiro. Não sei se o governo do Eduardo Paes está bom, mas não gosto da coligação de partidos que o apóia, exceto o PV. Os partidos de minha simpatia são o PDT, PSB, PCdoB, PSOL e o próprio PT, apesar de estar desapontado com muitos dos seus líderes.

''Tudo quanto vive, vive porque muda; muda porque passa; e, porque passa, morre. Tudo quanto vive perpetuamente se torna outra coisa, constantemente se nega, se furta à vida.'' O Homem deve estar descontente para provocar qualquer mudança?

Essa sequência não está correta. Vejamos: Se entendermos por mudança uma alteração no estado e não na configuração, e por estado a situação em que "está", podendo ser uma situação dinâmica e não estática, isto é, o estado de algo pode ser o seu estado de funcionamento, no qual pode haver mudança de configuração, que é a disposição espacial, então algo vivo pode permanecer vivo sem mudança, isto é, ficando no mesmo estado. Quanto a mudar e passar, me parece que são apenas duas expressões para o mesmo significado, mas o que passa (muda), não necessariamente morre. Pode mudar e permanecer sempre vivo. Claro que não será possível se viver eternamente, porque, inclusive, o tempo parará de passar. Dizer que tudo quanto vive perpetuamente se torna outra coisa também não é correto. Não há impedimento de sempre se continuar a viver sendo a mesma coisa, entendendo-se por isso que permanece com a mesma essência, isto é, o conjunto de características que fazer aquele ser ser ele mesmo e não outro. Porque uma vida perpétua seria uma negação à vida? Claro que não. Só não poderá ser perpétua porque as condições que possibilitam a vida não existirão para sempre. Finalmente quero comentar que é possível provocar mudanças sem se estar descontente com nada. Claro que a motivação para a mudança será bem menor, mas ela pode existir apenas por se desejar variar o modo como as coisas são, mesmo que se esteja satisfeito com tudo.

O que é virtude‎?

Virtude, sob o prisma moral, é uma prática de vida, um modo de ser e de agir, uma concepção que se relaciona à realização de um bem, isto é, de algo que produza justiça, benefício, satisfação, alegria, felicidade. Não é um sentimento nem um hábito, mesmo que possa também ser. É algo examinado, desejado, escolhido, resolvido e executado de modo lúcido, consciente, livre e consentido. Isto é, poderia não ser feito, mas se quis fazer. As virtudes se enquadram em três categorias: as que se reportam à verdade, à bondade e à fortaleza. Nas primeiras estão a sinceridade, a honestidade, a justiça, a prudência, o ceticismo, a modéstia, a assertividade; nas segundas estão a solidariedade, a compaixão, a generosidade, a cortesia, a temperança, o altruísmo, a paciência, a calma; nas terceiras estão a coragem, a bravura, a perseverança. Virtude também pode ser uma qualidade pessoal não ligada ao aspecto moral, como é o caso da inteligência, de sensibilidade, da beleza ou da força física ou outros atributos que sejam benéficos à própria pessoa, à sociedade e ao mundo.

Professor, da mesma forma como a gravidade é interpretada de modo diferente na Relatividade, existe ou poderia existir uma outra interpretação para as outras forças fundamentais que difira da explicação como interação?

Não. A gravidade é singular, exatamente pelo princípio da equivalência entre a massa inercial e a carga gravitacional. A princípio supôs-se que fosse uma coincidência, mas passou-se a ver que, de fato, trata-se um fato fundamental da natureza. Em consequência, localmente, um referencial acelerado ou um espaço-tempo encurvado são equivalentes a um campo gravitacional, que é observado só no referencial euclideano (ou melhor, lorentziano) localmente tangente ao espaço-tempo curvo. Globalmente não há como se fazer essa equivalência, o que permite diferenciar um espaço curvo de um referencial acelerado, já que o campo gravitacional gerado pela curvatura em cada ponto sempre será gradiente e divergente, o que não se dá com o campo gravitacional equivalente à aceleração do referencial. Esse fato, denominado "força de maré" só existe no espaço-tempo curvo, sendo o tensor de curvatura proporcional ao gradiente do campo gravitacional, que é o que provoca o fenômeno de maré. Sobre a equivalência entre a massa inercial e a carga gravitacional, essa equivalência se mantem mesmo considerando-se a massa relativística, mas o conceito de massa relativística é um conceito ultrapassado. Ele só foi inventado para que as fórmulas da mecânica tivessem uma mesma expressão em qualquer referencial, análoga às da mecânica clássica. Hoje se chama de massa só a de repouso.

Sr:Von Ruckert,me explique porque o perfeito não pode gerar o imperfeito? Qual o argumento que o senhor utiliza para sustentar isso? Já antecipando uma pergunta: pra o senhor,o perfeito pode vir do imperfeito?

Para começar não existe nada que seja perfeito. Se existisse, é claro que poderia produzir algo imperfeito, por que não? Que impedimento haveria? Não é preciso provar que possa, já que isso é o que se tem que considerar, se não houver algo que proíba. Quanto a algo perfeito ser produzido por algo imperfeito acho que não seria possível, já que a perfeição significa ausência total de qualquer falha e algo imperfeito, fatalmente, cometerá alguma falha. Mas isso não é um problema preocupante, já que não existe nada perfeito mesmo. Uma dos maiores enganos é dizer que o Universo e a natureza são perfeitos. Claro que não são. Isso é evidente. Se fossem, não haveria doenças, não haveria dor nem tristeza, nem crime, nem defeitos em coisa alguma. E isso é facilmente constatável que existe.

Matéria é energia ou energia é matéria? Ou tanto faz?

Matéria não pode ser energia nem vice-versa, porque são conceitos de categorias diferentes. Matéria é um dos constituintes substanciais do Universo, ao lado dos campos e da radiação. Energia é um atributo desses constituintes, como massa, extensão, duração, carga, movimento, spin e outros. A equivalência que existe é entre massa e energia. Na verdade a massa é resultante de todo o conteúdo energético de um sistema. Por massa se entende o atributo, bem como a grandeza que o mede, responsável pela magnitude da reação inercial de um sistema à mudança do seu estado de movimento em razão de alguma interação. O interessante é que o atributo, e a grandeza correspondente, que mede a capacidade de exercer e sofrer interação gravitacional, pela mecânica newtoniana, que poderíamos chamar de "carga gravitacional", por analogia com a "carga elétrica", é rigorosamente proporcional à massa do mesmo sistema, de modo que se usa a própria massa como a carga gravitacional. Na Teoria da Relatividade, não existe carga gravitacional, pois a gravitação não é considerada uma interação e sim uma manifestação inercial em um espaço-tempo com curvatura e possível torção. Na aniquilação de uma partícula elementar por sua correspondente antipartícula, as duas desaparecem, mas não são transformadas em energia, e sim em radiação (fótons), cuja energia equivale à massa conjunta da partícula e da antipartícula, por meio da relação E=mc².

Diga-me uma solução que ajudaria a acabar com as guerras no mundo.

Num prazo mais breve, só se a ONU tivesse um poderio militar para impedir as guerras, de fato. Num prazo longo, bem longo, as guerras acabariam quando se acabassem as nações soberanas e o mundo inteiro se tornasse uma única entidade política, sem fronteiras internas. Para isso seria preciso, antes, que as riquezas fossem totalmente distribuídas de forma equitativa e que todos se ajudassem mutuamente. Isso é difícil, mas não impossível e começa pela educação, mudando a mentalidade de competitiva para colaborativa, substituindo o desejo de vencer pelo desejo de ajudar. Antes, contudo, a ONU, respaldade por todas as nações, teriam que aplicar severas punições a todos os governos agressores, como a destituição dos governantes responsáveis, uma intervenção e a realização de eleições verdadeiramente livres, com um período de apoio ao novo governo eleito. O princípio da não intervenção e ingerência nos negócios internos de um país tem que ser limitado e permitir a intervenção quando o país se tornar agressor ou quando seu governo, como está acontecendo com a Síria, governar em oposição aos interesses do seu povo. Para mim, regimes não democráticos teriam que ser destituídos, pois não representam a vontade do povo e um governo só existe para servir ao povo e não aos governantes. Pode-se dizer que isso é uma concepção que nem todos possuem e que muitos querem ser governados por ditadores e monarcas absolutos. Mentira! Faça-se uma consulta verdadeiramente livre e honesta para ver.

Existe algum limite para a propagação de ondas mecânicas, como o som, no ar ou em outros meios? Seria possível em teoria saturar um ambiente com um som de uma frequência inaudível de modo que outros sons não pudessem ser transmitidos?

Sim, há limites. A questão é que a amplitude da onda não pode crescer ilimitadamente sem que se perca a elasticidade do meio e, então, a onda não se propaga. Também há um limite de frequência, acima do qual o meio não responde ao estímulo gerador da onda. Ou abaixo do qual a ondulação não se distingue de sua ausência, em virtude das flutuações térmicas. Também intensidades (e logo amplitudes) muito baixas, podem cair abaixo das amplitudes térmicas e, assim, a onda se torna indistinguível do ruido térmico. Isso é que causa o extinção da onda a partir de certa distância da fonte. Todavia, dentro desses limites, sempre é possível se superpor frequências diferentes, que geram, cada uma, a sua onda, de modo que a presença de ultrassons e de infrassons não impede a propagação de sons de outras frequências. O que é capaz de anular um som (ou uma onda de rádio) é a emissão de outro som de mesma frequência e amplitude, mas com uma defasagem de pi radianos. Isso foi feito na União Soviética para impedir a captação do sinal da BBC e da Voz da América em Moscou, e pode ser feito para o som também. Como o período da onda sonora é bem maior do que o tempo de processamento dos sinais elétricos, é possível um microfone captar um som e um dispositivo inverter a sua fase e emiti-lo de modo a cancelá-lo. http://en.wikipedia.org/wiki/Noise_cancellation http://pt.kioskea.net/faq/7409-tecnica-de-supressao-do-som http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=9&ved=0CGkQFjAI&url=http%3A%2F%2Fwww.eletrica.ufpr.br%2Fmarcelo%2FTE072%2F012007%2FFernando-Ruido.doc&ei=RZJXUKf7JKmV0QHS-oCACQ&usg=AFQjCNFOoe0hkOotZv8IzB7WlmAsVLQVPw&sig2=qLaW8UKXFXprQP3QgmpYqw&cad=rja http://www.bhi-ltd.com/

Você acha que o preconceito já vem enraizado com a gente? Por que algumas pessoas acham estranho homem cabelereiro e mulher jogando futebol? Onde está escrito que "uma coisa é de menina e outra coisa é de menino"?

Não é inato, é cultural. De fato é um grande preconceito você precisar de um serviço elétrico ou hidráulico e "chamar um homem", para fazê-lo. Porque não uma mulher? Ou se precisa de um serviço doméstico contratar uma "empregada". Por que não um empregado? Acho que toda ocupação deveria ser feita metade por mulheres, metade por homens. Todos os direitos e deveres deveriam ser absolutamente iguais para mulheres e homens. A lei não poderia sequer mencionar o gênero ou sexo em seus artigos, como não pode mencionar a raça ou a religião (ou falta dela). A única discriminação admissível é por idade, pois há o que não possa ser permitido a crianças fazer. Ou, conforme o caso, por incapacidade mental ou física. Não vejo como um cego possa ser dentista. Assim, não há nada "de menino", nem "de menina". Meninos podem brincar de bonecas e meninas de carrinhos. Tranquilamente, sem comprometer em nada sua masculinidade ou feminilidade.

Você acredita num mundo melhor ou acha que a tendência é piorar?

Acho que, por uns tempos, vai piorar e, depois, vai começar a melhorar. Essa virada, para mim, acontecerá dentro de uns duzentos anos. Até lá piora tudo, piora tanto que as pessoas vão se conscientizar e farão um grande esforço para reverter. Isso poderia começar mais cedo se a conscientização se ampliasse muito. Mas é difícil convencer as pessoas a trabalhar uns pelos outros e pela natureza, diminuindo seu lucro e suas vantagens para o benefício de todos. Todavia não é impossível. E isso é função da educação. Só que os próprios educadores ainda não são suficientemente altruístas e a melhoria do mundo depende fundamentalmente da erradicação completa do egoísmo.

O que se leva da vida?

Não se leva absolutamente nada. Quando a vida acaba, acaba tudo. Não há sequer lembranças. Mas se deixa e se pode deixar muita coisa para quem fica, O mais importante é deixar um legado de lições para que os outros as aproveitem e tornem suas vidas significativas. Também é bom deixar boas obras. Obras que tornem o mundo melhor. O que se ganha com isso? Só a satisfação interior de se estar fazendo o bem, enquanto ainda se está vivo.

Mesmo quando se perde o rumo ainda assim se chega a algum lugar? Argumente.

Claro que sim. Rumo é uma direção previamente traçada. Não havendo, se caminha para qualquer lugar e, certamente, se chegará a algum lugar, mas, nem sempre, onde se pretendia. Mas, quem não tem rumo, também não sabe onde quer chegar. Logo, tanto faz onde chegue. É bom, primeiramente, saber onde se quer ir para, então, definir o trajeto para se chegar lá e se empenhar em vencê-lo. Claro que pode haver necessidade de correções na viagem e, mesmo, redefinição do alvo. Isso é normal ao longo da vida. Todavia, a cada momento, é bom que se tenha em mente o que se pretende da vida, para se saber o que fazer em cada ocasião, em função desse objetivo.

O medo é uma forma de covardia?

Existem dois conceitos de covardia. Um deles é, justamente, o medo ou falta de coragem de enfrentar perigos. O outro é uma atitude prepotente perante o mais fraco. Esses conceitos são completamente distintos e não deviam ser expressos por uma mesma palavra, mas são. Quem é covarde num desses sentidos, não necessariamente o é no outro.

Estou lendo a auto biografia do historiador Eric Hobsbawm e achando bastante interessante. O senhor é familiarizado com os trabalhos dele?

Conheço Era das Revoluções, Era do Capital, Era dos Impérios e Como Mudar o Mundo. Você deve estar se referindo a Tempos Interessantes. Hobsbawn é um comunista da velha guarda. Gosto dele e de seu idealismo, mas não acho que a interpretação marxista de História em termos de luta de classes, bem como o materialismo dialético sejam corretos. Há outros fatores em questão e a dialética não é o método de raciocínio e interpretação mais aderente à realidade, quer natural, quer social.

São os óculos da razão que impõem limites e impedem-nos de questionar o mundo, de arriscar mais?

De modo nenhum. Muito pelo contrário. A razão é que leva a se questionar o mundo, porque, por ela, se o examina e se confere o que tem de bom e de ruim. E, também pela razão, se conclui que não se pode, sendo bom e justo, compactuar com o que há de errado sem ser incoerente. Portanto a razão mostra e manda que a vontade atue no sentido de questionar, confrontar e afrontar tudo o que seja errado e, com isso, tornar o mundo melhor. A razão é que nos mostra que é preciso arriscar para contribuir com o bem geral. Compactuar e se acovardar por comodismo e medo é que não é racional. Engana-se quem pensa que a razão indica agirmos no sentido de preservarmos nosso conforto e nossa paz. Isso só é válido se estivermos conscientes de que estamos agindo no sentido de fazer o bem e combatermos o mal. Então poderemos gozar a paz e o conforto.

Qual é a maior fábrica de ilusões?

A ambição de ser rico, materialmente falando. Isso é uma grande ilusão. Riqueza, por si, não dá significado à vida. Não que uma pessoa rica não possa ter uma vida significativa, mas, nesse caso, não é a riqueza que a provê. A riqueza pode ser boa, se a pessoa a tiver como algo extra e não depender dela para ser feliz. Isto é, como Sêneca, ser um rico desprendido. O que dá significado à vida, e daí, traz felicidade, é se viver com o sentimento de que a própria vida está sendo razão de melhoria para o mundo e da felicidade para as pessoas. Isso se obtém sendo bom e fazendo o bem, independentemente de se ser rico. Se se for um rico egoísta, não se tirará significado da vida.

É falta de sabedoria a ideia de "querer viver para sempre"? Que tipo de vantagens e desvantagens você encontra nesse propósito ‘’impossível’’?

Não é falta de sabedoria não. É um desejo válido, mesmo que, impossível. Seria possível um prolongamento muito grande da vida, mas não pela eternidade, pois as condições que o Universo apresenta para manter a vida cessarão de existir em qualquer lugar dentro de certo tempo, de ordem de centenas de bilhões de anos, que seria, pois, o máximo de vida que alguém poderia ter. O próprio tempo cessará de passar, não existindo eternidade como uma duração ilimitada de tempo. O bom de se ter uma vida muito longa, dessa ordem, é que se poderia ter tempo para se saber de tudo o que se quisesse e de fazer tudo o que se pudesse. Claro que se teria que achar um meio de continuar vivendo quando a Terra deixasse de existir pela explosão do Sol, dentro de uns cinco ou seis bilhões de anos, ou mesmo antes, quando as condições de temperatura e pressão da Terra já não permitirem a vida como a conhecemos, por falta de água, calor e baixa pressão, ou pelo término do oxigênio. Eu mesmo gostaria muito de viver bastante. Mas, talvez me bastasse algumas dezenas de milhares da anos. A desvantagem é que, se só você viver muito assim, você vai perdendo os amigos. Mas, certamente, outros surgirão, até de outras espécies, que substituirão a humana quando ela se extinguir e você não.

A confiança e a traição são apenas duas faces de uma mesma moeda? Argumente.

Não. As faces opostas de uma mesma moeda são a confiança e a lealdade. A traição é a face oposta da desconfiança numa outra moeda. No sentido de que confiança e lealdade são a mesma coisa vista por quem é o sujeito e o objeto delas, quando trocados. Do mesmo modo, traição e desconfiança.

Pensamos de formas diferentes ou vemos por ângulos diferentes? Justifique.

Trata-se do mesmo. Vemos por ângulos diferentes porque pensamos de formas diferentes. O que é isso? Ao longo de nossa vida acumulamos experiências, adquirimos conhecimentos, interagimos com outros. Tudo isso, moldado por nossa índole e nosso temperamento inatos, elaborado por nossa inteligência e nossa sensibilidade, constrói a nossa personalidade, a nossa visão de mundo, nossas convicções. Tudo isso é um acervo mental que nos influencia nossa interpretação das percepções, que é, justamente, o que se chama "ver por um certo ângulo". Esse "ângulo" é dado por nosso modo de pensar, que é tudo o que eu disse antes.

‘’A pior das loucuras é, sem dúvida, pretender ser sensato num mundo de doidos.’’ Uma pessoa sensata é uma pessoa equilibrada? Como permanecer sensato frente as loucuras do Homem?

De fato, a loucura é que é a normalidade e a sensatez a exceção. Há, portanto, que ser louco também. Aliás, só os loucos é que fazem diferença. Os normais são tão normais que nem se percebe que vivem. Mas há loucuras e loucuras. A loucura que faz diferença é aquela de não aceitar as normas da sociedade por aceitar, de examiná-las, contestá-las e afrontá-las se for o caso. E, é claro, de propor, por palavras e ações, alternativas às que forem ruins. Sendo diferente para mudar o mundo para melhor. Esse é o tipo de loucura boa. Loucura porque, com isso, se vai ser hostilizado, execrado e, talvez, condenado, quem sabe, até à morte. Mas foram esses loucos que possibilitaram o progresso do mundo. Sem eles tudo estaria estagnado e nada mudaria. Mudanças são incômodas para muitos acomodados. Como disse Erasmo, ela é "a mola oculta da vida" porque "não usa arrebiques e não dissimula no rosto o que sente no coração".

A felicidade é para quem se basta a si próprio?

Não necessariamente. Alguém pode ser feliz sendo dependente afetivo de outrem, desde que suas necessidades sejam supridas. Mas essa pessoa se tornará infeliz no momento em que não o forem. Quem não dependa afetivamente de outrem não tem esse problema. Não só afetiva, mas em outros aspectos, como o financeiro, o social, o profissional e tudo o mais. Quanto mais independente a pessoa for, mas chance terá de ser feliz. Isso não significa que não preze ou deseje a companhia e o afeto dos outros, mas apenas que não se abala significativamente com a sua falta. E que seja auto-suficiente para manter a sua vida financeira, por exemplo. A educação precisaria abordar isso na escola, isto é, uma educação psicológica, tanto quanto a acadêmica, a ética, a social, a física, a prática (cozinha, costura, consertos, horticultura etc.).

Por que as pessoas querem fazer o mal?

Nem todas. Aliás, a maioria não quer. Há alguma que queira, em alguns momentos. A razão é que temos essa capacidade. Isto é, nossa capacidade de ação para o bem é a mesma que para o mal. O que nos impede de fazer o mal é a consciência, ou seja, a capacidade de julgar e escolher o que fazer e escolher não fazer o mal. A diferença na escolha está na postura egoísta ou não. Normalmente a pessoa faz um mal para obter um proveito. Sendo egoísta, julga que o que importa é o seu bem, mesmo que isso resulte em mal para alguém. Não sendo, abdica desse bem para não causar mal a outrem. Porque há egoístas e não egoístas? Isso, em parte, é genético, mas também é fruto da educação, não a formal, mas a que é passada no convívio familiar. Mesmo havendo um componente genético, ele não é desculpa para uma ação má, pois é possível contrariá-lo. Todavia, há casos patológicos de pessoas que querem fazer o mal sem levar proveito nenhum, apenas pelo prazer de prejudicar e fazer sofrer. Tais pessoas precisam ser tratadas, mas têm que ser impedidas de agir assim. A sociedade tem que se proteger dos malvados.

O que acha do ignosticismo?

Enquanto o agnosticismo considera que não é possível se saber se Deus existe ou não, o ignosticismo considera que a própria ideia de Deus não tem significado. No meu entendimento, essa ideia, de um ser capaz de criar ou criar e prover o Universo, é admissível, isto é, pode-se conceber tal entidade, como transcendente, imanente ou ambos. A questão é só verificar se tal ente, assim especificado em sua essência, existe mesmo ou não. Dizer que a essência de Deus é existir não é correto, pois essência é um conjunto de atributos e existência não é um atributo e sim um estado. O ateísmo, por sua vez, acha que a ideia tem significado e que é possível saber se Deus existe ou não, só que ele não existe. O ateísmo fraco considera que não há provas de que Deus exista e nem que não exista, logo considera que não existe, já que não é evidente a sua existência. O ateísmo forte considera que há provas de que Deus não exista, tendo essa inexistência como uma certeza. O ateísmo forte é dogmático e o fraco é cético. Tratam-se das posturas opostas à fé dogmática e indubitável e à crença, com dúvidas, na existência de Deus. Também se pode dizer que o ateísmo cético é agnóstico e o dogmático é gnóstico. Ou que o teísmo, deísmo, panteísmo ou panenteísmo céticos são agnósticos enquanto as mesmas concepções dogmáticas são gnósticas. Mas, geralmente, os agnósticos não são nem ateus, nem deístas, nem teístas, nem panteístas, nem panenteístas. Respondendo à outra pergunta digo que sou um ateísta cético e não ignóstico. Há algumas concepções de Deus que não o consideram como uma entidade, nem transcendente nem imanente, mas como um conjunto de valores relacionados ao bem. Crer em Deus, seria, então, possuir disposições mentais para cultivar esses valores e levar a vida de acordo com eles, como verdade, bondade e os que lhe são derivados, como sinceridade, honestidade, justiça, solidariedade, compaixão, cooperação, amor e assim por diante. Nesse sentido eu creio em Deus, pois acho que a vida deve ser pautada por essas virtudes e procuro faze-lo. Mas com um ser, ainda mais uma pessoa, não considero que Deus exista. Muito menos, é claro, que Jesus Cristo seja Deus.

Sua opinião em relação a prática da caça esportiva.

Caça esportiva, para mim, é um esporte malsão. Uma pessoa que frua prazer em matar outros seres vivos, é, no meu entendimento, um psicopata. A emoção da caça esportiva pode ser inteiramente fruída substituindo-se a carabina por uma filmadora ou uma câmara fotográfica com teleobjetiva. Digo isso e nem digo, "salvo melhor juízo", porque, para mim, não tem outro melhor.

Faz tempo que não chove. Em breve os candidatos irão prometer chuva. O quão estamos próximos ou distantes de controlar o clima através das tecnologias?

Por enquanto, bem distantes. Não é impossível, mas requer um domínio tecnológico que a humanidade ainda não possui. Para chegar lá, antes seria preciso resolver a questão da pobreza no mundo, de modo que o mundo todo seja rico, rico pra valer mesmo. Então poderá investir em um projeto mundial de controle da atmosfera num nível plantário, senão não adianta. A não ser que se construa uma bolha que recubra cada cidade e, dentro dela, se crie um clima artificial. Isso também é possível, mas muitíssimo caro. Não há dinheiro que pague isso por enquanto. Contudo, acho que em alguns milhares de anos chegaremos lá. É pouco, considerando que a espécie humana ainda teria alguns milhões de anos de existência pela frente.

O que acha do panteísmo?

Tão equivocado quanto o teísmo, o deísmo e o panenteísmo. No panteísmo Deus é o próprio Universo. Mas, para ser Deus, há que possuir uma mente cósmica, uma capacidade de percepção, uma capacidade de avaliação, uma capacidade de escolha e decisão e uma capacidade de ação, mesmo que não seja da parte de uma entidade pessoal. Nada disso existe no Universo. Ele não tem percepção, inteligência, vontade e nem poder de ação coordenada. Tudo no Universo acontece, ou por acaso, ou como decorrência de acontecimentos anteriores, mas nada é pensado, previsto, planejado. Vai acontecendo e resulta no que resultar. O Panenteísmo é parecido mas, para ele, o Universo é uma emanação de Deus, que é maior do que ele, isto é o transcende, além de lhe ser imanente. Para o deísmo o Universo é distinto de Deus e foi criado por ele, mas abandonado à própria sorte e, para o teísmo, o Universo é distinto de Deus, foi criado por ele e ele permanentemente o provê, isto é, tudo o que acontece, acontece pela intervenção de Deus. Todas essas concepções supõem que exista algo que possa atuar intencionalmente sobre o Universo, ou em sua criação ou em seu provimento, mesmo que esse algo seja o próprio Universo. Isso não é verificado que ocorra.

Você gosta do anarcocapitalismo?

Não. Gosto do anarco-comunismo. Para mim o anarco-capitalismo continua sendo maléfico à coletividade e benéfico apenas individualmente para alguém. Tanto a existência de governo quanto a da propriedade (inclusive do dinheiro), são males. Assim o anarquismo, que é uma postura política, deve ser acompanhado do comunismo, que é uma concepção econômica. É possível um anarquismo capitalista, bem como um comunismo com governo. Mas, para mim, não são o ideal.

Friedrich Nietzsche: "Não há fatos, apenas interpretações"?

Claro que há fatos. A questão é que sua descrição é feita por pessoas que deles se apercebem com seu aparato sensorial, interpretado por suas vivências e concepções. Assim não é fácil e nunca será garantido que se tenha uma descrição objetiva deles. O máximo de objetividade que se pode ter é um consenso de subjetividades, especialmente se as interpretações forem feitas com todas as cautelas para se evitar interferências idiossincráticas.

É lógico a ausência (não existência, falta, não presença) doer? Como pode doer o que não existe? O que nos falta? Como pode doer a inexistência?

Que a falta de algo dói é um fato facilmente constatável por qualquer um. Como é um fato psicológico, não tem nenhum compromisso de ser lógico. O psiquismo não é lógico, como também as ocorrências sociais e econômicas, por exemplo. Não é o que não existe que dói. O que dói é o sentimento da falta daquilo ou daquela pessoa. Porque aquilo ou aquela pessoa nos trazia conforto, satisfação, alegria, felicidade. Sua falta acarreta a perda dessas sensações, que é algo triste e doloroso. A inexistência de prazer, de alegria, de felicidade, seja por que motivo for, é, justamente, o que acarreta qualquer dor psíquica. A dor fisiológica é causada por danos ao organismo, mas a psicológica, pelo não atendimento às recompensas mentais ao ato de viver. Enquanto viver estiver sendo algo que traga prazer, alegria, felicidade, sente-se que a vida ganha significado. Caso contrário ela se torna vazia e isso é fonte de dor psíquica.

Se a mulher nasceu da costela do homem, por que hoje em dia os homens nascem do ventre da mulheres? Segundo a filosofia judaico-cristã, a mulher nasceu da costela do homem. Isso não seria negar a realidade da natureza? Por trás desse pensamento existe um preconceito à figura feminina Sr:Von Ruckert?

Claro que há um enorme preconceito embutido nessa lenda. Essa concepção fantasiosa foi incorporada à Bíblia, dita "sagrada", e passou a ser tida como verdade por muita gente. Claro que não é, como não são as outras histórias míticas sobre a origem da espécie humana. A verdade provisória sobre isso é a que é colocada pela "Teoria da Evolução das Espécies", formulada por Charles Robert Darwin, Jean-Baptiste de Lamarck e Alfred Russel Wallace.

O que nos diferencia dos outros animais? O amor ou a inteligência?

Tanto a inteligência quanto os sentimentos humanos diferem da inteligência e dos sentimentos de outros animais apenas por uma questão de grau. Animais também são inteligentes e também amam. Têm sentimentos, emoções, desejos, volições, como os seres humanos, que também são animais. No caso humano, a complexidade de seu sistema nervoso faz com que esses aspectos de seu psiquismo sejam mais elaborados, especialmente pelo fato dos humanos conseguirem expressá-los por uma linguagem mais articulada e rica de significantes. Não há diferença qualitativa nem essencial entre o homem e outros animais. Entre um homem e um chimpanzé ela é menor do que entre um chimpanzé e um peixe. Não é correto dizer que o que nos caracteriza, essencialmente, é sermos animais racionais. Animais nós somos, mas racionais, outros também são, em grau menor. Também não seria o fato de termos alguma "alma", que os animais não teriam. Não há prova nenhuma de que a possuamos e, se a possuirmos, não há prova nenhuma de que outros animais não a possuam.

Concorda com Edward Witten, que a teoria das supercordas está longe de se tornar finalmente um fato?

O que acho é que a "hipótese" das supercordas está longe de poder ser dita ser uma "teoria". Quanto aos "fatos", eles são ocorrências da natureza que se dão à revelia das teorias que os pretendem explicar. Uma teoria é uma hipótese de explicação já verificada, enquanto uma hipótese é uma proposta de explicação a ser verificada. As super-cordas ainda são uma hipótese de explicação, e não uma teoria. Pode-se dizer que sejam uma proposta de teoria. Mas vejo grandes dificuldades em comprová-la. Para tal, ter-se-ia que formular um teste experimental (ou observacional) de algo que fosse previsto por ela e só por ela. Não se tem nada disso em vista. Para mim a gravitação, de fato, não é uma interação e sim, apenas, um comportamento inercial em um espaço-tempo com curvatura (e, possivelmente, torção). Assim não poderá fazer parte do esquema unificador das interações. Mas elas podem ser consideradas num contexto de espaço curvo e torcido. Penso que essa seja a melhor explicação.

O que significa ignosticismo deísta?

Que a pessoa não concebe a noção deista, isto é de um criador não providente, como passível de significado. Não admite um criador, mesmo não providente.

A essência pode ser relativa? Justifique.

Pode, enquanto a essência de algo tem a ver com o modo como são conceituados os atributos que fazem aquilo ser o que é e não outra coisa. E conceitos, como definições, são arbitrários. Mas, uma vez que se tenha estabelecido, de forma inequívoca, o conceito e as definições dos atributos considerados como essenciais a algo, então a essência do que aquilo seja deixa de ser relativa. Por isso é que, ao se dar a essência de algo, é preciso fazer todos os circunlóquios necessários para que não haja dúvida sobre o que se diz. Grande parte das discussões filosóficas é puramente semântica. Uma vez esclarecidos os significados dos termos, muitas vezes não há o que se discutir. A diferença principal entre a ontologia e a metafísica reside, justamente, em que a ontologia é uma espécie de semântica filosófica, isto é, estabelece o que cada coisa é. A Metafísica, por outro lado, categoriza cada coisa e investiga as relações que elas guardam entre si, como a dinâmica, na Física.

Como alcançar a simplicidade num mundo tão complexo ?

Não vejo razão para alcançar a simplicidade. O mundo é complexo e o bom é ser complexo. Quanto mais tivermos capacidade de assimilar e gerenciar a complexidade, melhor. Para isso é que temos inteligência. Para vivermos satisfatoriamente a complexidade. Simplicidade não é uma virtude. A virtude é manter a sabedoria dentro da complexidade. Nada é dicotômico. Nada é trivial. Em tudo há nuances e múltiplas facetas. O erro da dialética é exatamente ser dicotômica: tese, antítese, síntese. Não há só a tese e a antítese. Há todas as possibilidades intermediárias bem como outras, em outras direções. E não há uma única síntese possível. Podem haver múltiplas sínteses distintas. O evolução natural, pessoal e social caminha por meio da multiplicidade de linhas de vida que se intercruzam e dão azo a decisões de mudanças de trajetos, que não são determinísticas e, nas mesmas circunstâncias, em instâncias diferentes, podem levar a resultados distintos. Assimilar toda essa complexidade, digeri-la, compreendê-la e saber decidir sabiamente em cima dela é que é a sabedoria. Ser simples pode ser, justamente, falta de sabedoria.

A paz só pode ser conquistada com a guerra? Justifique.

Claro que não. E é por isso que existem organismo como a ONU (pelo menos pretende-se que assim o seja). Para que grupamentos humanos possam se entender e viver em paz sem precisar guerrear, sem precisar impor um ao outro suas concepções. Sem querer tomar um do outro o que o outro tem. Mas compartilhando os benefícios usufruídos e, com isso, melhorando as condições de todos. Esse é o ideal pacifista, bem como o ideal anárquico. Um mundo sem fronteiras, todo ele uma única nação e um único povo: os terráqueos. Vou mais longe. Que isso possa ser uma consideração universal, em relação a qualquer espécie viva inteligente que exista ou venha a existir neste ou em qualquer outro planeta.

Na sua opinião, educar é ''modelar pessoas''?

De modo nenhum. "Modelar" é pretender fazer de uma pessoa algo que se tem como modelo. Educar é fazer a pessoa desabrochar em si mesma. Ser o que ela mesmo é e não o que se pretende que ela seja. É fazer florescer suas capacidades e, com isso, dar-lhe condição para assimilar o mundo em todas as suas facetas, de munir-se de conhecimentos, de desenvolver habilidades, de aprimorar sua inteligência, sensibilidade e caráter. Para que atue sobre o mundo positivamente e dele receba, em reação, plenitude de vida. Modelar é uma bitolação que não considera a pluralidade de modos de ser, de concepções, de abordagens, de visões. Educar, definitivamente, não é modelar.

''Quanto mais racional for o ser, de mais ilusão ele necessita para continuar a viver.'' Seria suicida, um Homem que perdeu a capacidade de iludir a si mesmo?

Discordo totalmente. Pode-se ser completamente racional e também imensamente emotivo e intuitivo. Tais aspectos não se excluem. Não é preciso se iludir com nada para se emocionar com tudo. A consideração da extrema singularidade da existência já é razão suficiente para fruir o prazer de viver, e isso não é ilusão nenhuma, mas pura racionalidade.

São as emoções passadas e até a ânsia das futuras, que fazem a vida valer a pena?

Não acho que sejam as emoções que fazem a vida valer a pena, se é que seja uma pena. As realizações é que fazem isso. Emoções podem ser boas ou más. As boas são gratificantes, mas, mais do que elas, é a satisfação (que não é propriamente uma emoção, mas um sentimento) por se estar fazendo algo pela melhoria do mundo, que dá significado à vida. Isto é, sentir-se que a própria vida faz diferença para o mundo se tornar melhor para todos os seres (até não humanos).

De que maneira a internet está mudando a sua forma de trabalhar?

No trabalho, a internet me acode como fonte de informação e conhecimento, para que eu desenvolva meus projetos e minhas propostas de melhoria do Ensino, da Administração Acadêmica e do processo educativo de modo global. Mas eu me valho mais dela não é para o trabalho, e sim para minha atividade de divulgação de idéias e de difusão de conhecimentos, bem como me propiciando frutíferas discussões, nas quais eu reviso minhas concepções e me embaso para confirmar as que já tenho. Além de me propiciar o contato com muitas pessoas que me enriquecem com suas vivências e me acolhem com sua amizade.

Quais foram as pessoas mais influentes em sua carreira?

Primeiramente meu professor de Matemática no Ginásio e no Científico, Anastácio Pereira da Rocha, que me fez considerar a Matemática uma Boatemática e me incutiu o gosto por ela e pela Física, bem como a admiração pela carreira do magistério a que me dediquei como professor de Física e Matemática. Ele também que me incentivou e recomendou como professor para a EPCAR, a UFJF , a UFSJ e a UFV, onde trabalhei. Depois meu orientador do Mestrado, Mário Novello, que me abriu as portas da Cosmologia como trabalho de pesquisa. Os Reitores da UFV, Geraldo Chaves e Antônio Bandeira, que me chamaram para trabalhar com eles em suas administrações, como Pró-Reitor de Graduação e Chefe de Gabinete. E, finalmente, Adil Rainier Alves, dono do Colégio Anglo de Viçosa, que me chamou para assumir a Vice-Diretoria do Colégio.

Como retomar o gosto pelo o estudo?

Isso é uma motivação interna. Se você pergunta, suponho que queira, então tem motivação. Desde criança que meu pai me abastecia com livros de divulgação científica e, até hoje, eles são, para mim, a porta para o aprofundamento e o alargamento dos estudos em qualquer assunto que eu queira. Não sei em que reside o seu interesse, mas há livros de divulgação científica sobre tudo. Mas você tem que gostar de ler e preferir ler do que ver televisão, por exemplo. Mas pode, também, se nutrir dos documentários do Discovery, do NatGeo, do Futura, do History, da TV Cultura, TVE, TV Sesc e outras que divulgam a ciência. Então compre livros sobre o assunto e leia. Não tenha pena de gastar dinheiro com livros. Economize nas roupas, passeios, carros e outras coisas para sobrar dinheiro para livros. Finalmente, consulte a internet. Faça apostilas sobre os temas que te interessam. A Wikipedia (especialmente em inglês) tem muita coisa boa, e tem os links. Já fiz muitas apostilas assim. Sobre Eclipses (como prevê-los), sobre interpretações da Mecânica Quântica, sobre Cosmologia, sobre Política, sobre Ética e Moral, sobre Neurociência, sobre vários compositores de Música Clássica e muitos outros assuntos. Imprimo uma capa e encaderno com uma mola helicoidal.

O que vocês mais gostam em termos de artes plásticas? Podem citar artistas,obras para exemplificar melhor.

Na pintura eu gosto tanto do impressionismo quando do academicismo, apesar de terem sidos movimentos antagônicos na segunda metade do século dezenove, na França. Gosto, por exemplo, de Renoir e de Bouguereau. Também de Monet, Manet, Van Gogh. Na escultura eu gosto de Bernini, Gianbologna, Michelangelo, Rodin, Canova. Na arquitetura, gosto do Gótico, do Neoclássico, da Art-Nouveau. Estou elaborando um banco de dados de artistas plásticos, com informações e links, que já está com umas 2500 entradas. Breve publicá-lo-ei.

Qual é a diferença entre o sábio e o inteligente?

Já comentei isso várias vezes em meus blogs: www.ruckert.pro.br e wolfedler.blogspot.com. É só colocar as palavras na caixa de busca. Mas repito. Inteligente é quem seja capaz de solucionar problemas de toda ordem. Sábio é o que faz uso da inteligência de modo proveitoso para o bem geral. O sábio pode não ser tão inteligente e um inteligente pode não ser sábio, no sentido em que não usa a sua inteligência para a promoção do bem, isto é, da paz, da concórdia, da alegria, da felicidade, da prosperidade. Tudo de modo geral, para o maior número de seres, e não só para si. É preciso, também, distinguir sabedoria (qualidade de quem é sábio) de sapiência (qualidade de quem sabe). Uma pessoa pode saber muito, isto é, ter muitos conhecimentos e dominar muitas habilidades, sem ser sábia.

Você prefere um criminoso solto ou um inocente preso?

Prefiro um criminoso preso e um inocente solto, mas, entre as opções dadas, prefiro um criminoso solto, porque ainda pode ser preso. Prender um inocente é um crime oficializado. Não há justificativa. Já participei, como jurado, de várias seções de juri e sempre tive muito cuidado de nem inocentar um criminoso e nem condenar um inocente. Mas, em caso de dúvida, preferia inocentar. Mas sempre fui muito criterioso, crica mesmo. Para não cair na lábia do advogado da defesa e nem do promotor.

Professor, pode me explicar por que partículas com massa não podem atingir a velocidade da luz?

Porque aumentar a velocidade significa aumentar a energia cinética e ela não é dada pela expressão clássica da metade do produto da massa pelo quadrado da velocidade, exceto como aproximação para baixas velocidades. No caso geral, há que se dividir esse valor pela raiz quadrada de um menos o quadrado da fração da velocidade em relação à velocidade da luz*. Tal expressão faz com que o valor da energia a ser suprida tenda a infinito, à medida que a velocidade se aproxima da velocidade da luz, o que é impossível de ser suprido. Essa expressão, todavia, não se aplica a partículas sem massa, pois levaria a uma indeterminação do tipo zero vezes infinito. Neste caso a energia cinética é dada pelo produto da constante de Planck pela frequência da onda associada à partícula, quanticamente falando. Isso é um valor finito que pode ser alcançado. O interessante é que essas partículas, como os fótons, só existem quando estão com a velocidade da luz. Por isso elas têm que ser bósons e não férmions, como as partículas constituintes da matéria, pois os bósons, diferentemente dos férmions, não possuem conservação de número, podendo surgir e desaparecer à vontade, com a sua energia sendo obtida ou sendo transferida para a matéria. * A expressão correta é: K = mc²(1/√(1 - v²/c²) - 1) em que c é a velociade da luz.

Existe um método melhor de seleção de vagas em universidades que o vestibular? Ou é necessário aceitar o clima de concorrência entre os estudantes (uma vez que, por regra, nem todos passarão)?

Sim. Para mim é, exatamente, o Exame Nacional do Ensino Médio. Mas ele precisa ser aperfeiçoado. Primeiro que devia ser aplicado semestralmente e, no fim, produzir um escore que seria apresentado à universidade pretendida para se proceder à seleção, por meio de um mecanismo como o SISU. Mas isso teria que ser para todas as universidades brasileiras, sem exceção, com o fim completo do Vestibular. Além do mais, em minha opinião, o escore para entrada em um curso superior não poderia ter ponderação diferenciada dos conteúdos por curso e precisaria ter um escore mínimo aceitável. Acho que deveriam haver questões por área e questões interdisciplinares, havendo um escore minimo por grupo e um global. Porque é preciso que advogados saibam matemática e física, engenheiros saibam história e português, médicos saibam matemática e história, por exemplo. Pelo menos no nível básico em que esses conteúdos são passados no Ensino Médio. E se acabariam com todas as políticas afirmativas, como as cotas para negros e outras. É preciso que todos tenham igualdade de oportunidades, sem privilegiar ninguém por nenhuma razão. Já que não há vagas para todos, e nem é preciso que todos tenham nível superior, o acesso só pode ser feito por mérito acadêmico. Isto é, provar que possui conhecimentos, domina habilidades, tem inteligência, enfim, que se é competente para fazer um curso superior bem feito e não esses chinfrins que há por aí. Para mim também deveria haver um modo de se medir o bom caráter e isso ser motivo de pontuação para acesso ao nível superior também. Isto é, mau-caratistas não poderiam ter oportunidades de progredir na vida. E isso não é nenhuma discriminação inválida. Essa é válida mesmo. Realmente é muito difícil se fazer um teste do caráter. Mas pode ser aferido ao longo da vida estudantil e ser objeto de avaliação escolar. Como se o aluno foi pego colando, ou se é generoso, prestativo, ou se é egoísta e mesquinho.

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