sábado, 18 de setembro de 2010

Você não me conhece. Estudo no colégio equipe de viçosa. Dizem que você é muito inteligente, pelas suas respostas posso concordar.

Obrigado pelo elogio e pela participação. Divulgue este formspring e meu site entre seus colegas do Equipe:
www.ruckert.pro.br

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Bertrand Russell disse que não se poderia ser feliz sobre a infelicidade dos outros mas que seria preciso tolerar a felicidade dos outros. O que acha?

Bertrand Russell é meu guru. Mas não é o caso de se "tolerar" a felicidade do próximo e sim de desejá-la tão intensamente quanto a nossa. Isso é que é ser aquilo que muitas religiões chamam de "santo". O ideal de uma vida. Viver para que o mundo se torne mais justo, mais harmônico, mais fraterno, mais feliz, não para uns, mas para todos. Não em nome da glória de nenhum deus, mas em nome da própria humanidade, da própria natureza, da própria vida, do próprio Universo. Não para garantir a salvação eterna, mas para conquistar a própria paz, alegria, realização, felicidade e recompensa por se viver a vida plena e significativamente.

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Duvidar de tudo ou crer em tudo. São duas soluções igualmente cômodas, que dispensam, ambas, de refletir.

Acho que duvidar metodicamente não dispensa refletir, pelo contrário. Ao duvidar e não aceitar qualquer assertiva como verdadeira sem conferir aí é que se vai refletir sobre a validade ou não do que se está dizendo. Crer, sem duvidar é que dispensa refletir. Pode-se até crer em algo sem provas, mas apenas depois de se refletir sobre os indícios de plausibilidade daquilo que é proposto para crer. Para mim o ceticismo é a condição básica para filosofar.

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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Lindas essas lesmas! Nem dá pra acreditar que existem! Queria eu um dia ve-las de perto!

Quem é você?

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Viva o anarquismo. Ernesto, poderia me dar alguns "discursos do metodo" para por a anarquia em pratica na sociedade atual? Sei que (entre aspas) "é uma utopia", mas eaí?

O anarquismo pode ser gradualmente implantado se as pessoas se dispuserem a dedicar parte do seu tempo a trabalhar de graça em benefício da coletividade. Se se dispuserem a compartilhar seus bens, abdicando da propriedade. Se tomarem a iniciativa de resolver os problemas da cidade por sua conta, sem apelar para o poder público. Por exemplo, catar o lixo, varrer as ruas, consertar os canos, roçar os matos. Quanto menos se envolver o governo em tudo, melhor. Fazer as coisas de forma espontânea, sem institucionalizar, sem criar sociedades, ongs e nada disso. Só reunir as pessoas e trabalhar, procurando conseguir tudo sem o uso do dinheiro, por doações e serviço voluntário, sem registro, sem contabilidade, sem pagar imposto. Isto é anarquismo, ou seja, fazer tudo de forma eficiente e eficaz sem organização formal. Ninguém é dono de nada. Todo mundo trabalha, uns pelos outros, ajudando-se mutuamente. Ninguém ganha nada com isso. Ninguém é preguiçoso, ninguém cobiça nada.

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Deus é uma entidade subjetiva, e nao objetiva

Sim, mas quem crê em sua existência considera que seja objetiva. Como subjetiva trata-se de um conceito, que só existe nas mentes. Não se questiona a existência do conceito de Deus, mas sim do ente objetiva e substancialmente considerado, fora das mentes. É isto que os ateus, como eu, consideram que não existe.

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Religiões que pregam que devemnos ser bons para que possamos alcançar o reino dos céus, são ridículas. Não podemos fazer o bem esperando algo em troca.

É isto aí. Assim penso. O bem é um valor em si mesmo e tem que ser buscado sem se condicionar a recompensa nenhuma, sequer a salvação eterna. Porque o bem, a verdade, a justiça são condições para a existência harmônica, pacífica e fraterna da coletividade das pessoas humanas. Condicionar a bondade a qualquer recompensa é uma atitude mesquinha e egoísta. Apesar do egoísmo, aparentemente, ser um fator favorável à sobrevivência individual, na verdade, considerando que todos nós somos membros de uma sociedade e só seremos beneficiados se a sociedade como um todo assim o for, vê-se que o egoísmo obra no sentido de prejudicar a coletividade e, em decorrência, a cada um de seus membros. Somente o desprendimento e o espírito de colaboração e solidariedade, ao invés da competição e da fruição de vantagens é que pode levar ao aumento do bem estar e da felicidade coletivas.

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O que o senhor acha das maravilhosas lesmas marinhas, e da bela diversidade de cores que elas apresentam?

Maravilhosas! Realmente magníficas. Uma beleza! Veja isto:
http://www.google.com.br/images?q=lesmas+marinhas&um=1&ie=UTF-8&source=univ&ei=202TTN2gJoL_8AbAz6SMDA&sa=X&oi=image_result_group&ct=title&resnum=4&ved=0CCwQsAQwAw&biw=1600&bih=710

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Da mesma forma que o amor existe e não é provado, apenas sentido, Deus também existem, já que muitas pessoas sentem Deus. Tanto a experiência amorosa quanto a de contato com Deus provocam alterações visíveis na atividade cerebral. Deus não existe?

O que você quer dizer ao afirmar que a existência do amor não é provada? É claro que é, pois é uma evidência o fato de sentí-lo. Como já disse em outra resposta aqui, com Deus é diferente, pois sentir amor já é confirmar sua existência, já que ele é um sentimento. Sentir Deus não confirma sua existência, pois Deus não é um sentimento e sim uma entidade objetiva, que, se existir, isto não depende de se crer ou sentir. O fato de sentir Deus provocar alterações mentais não significa nada quanto a confirmar sua existência. Quem acredita em assombração também sofre alterações mentais quando supõe que esteja perante uma, o que não garante que existam.

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O aquecimento global é decorrente de causas antrópicas ou naturais? Se naturais, gostaria que explicasse.

Tanto umas quanto outras, mas com imensa preponderância das causas naturais. De fato, o aquecimento que ora se verifica é um componente de curto período de uma série temporal de variações de temperatura, com períodos superpostos de várias magnitudes. Numa escala de tempo mais ampla, o planeta está em processo de atingimento de uma nova era glacial, dentro de uns dois ou três mil anos, sendo o aquecimento atual apenas a subida de um dente de serra em uma linha de tendência ao resfriamento global. Isto não significa que não se tenham que tomar medidas para evitar este aquecimento, mesmo que seja de curto período (algumas décadas ou poucos séculos), pois a grande população do mundo atual certamente, no total, será muito mais sensível às variações na temperatura do que já o fora no passado. As causas naturais se ligam, principalmente, aos ciclos das manchas solares e das variações dos parâmetros da órbita terrestre, conhecidos como "Ciclos de Milankovitch". são eles a excentricidade da órbita, sua obliquidade, as precessões do perihélio e dos equinócios, e a potência radiante do Sol.
Veja este artigo e suas referâncias:
http://en.wikipedia.org/wiki/Milankovitch_cycles ;

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O que pensas sobre o determinismo?

Uma concepção completamente equivocada, que consiste em considerar que causas idênticas provocam efeitos idênticos, nas mesmas circunstâncias. Tal concepção, assim como a de que todo evento seja efeito de alguma causa, provém de um raciocínio induzido a partir da observação das ocorrências nas escalas de tempo e dimensões acessíveis à percepção dos sentidos humanos. Com o advento da física do mundo submicroscópico, atômico e nuclear, tais noções se revelaram inexistentes no comportamento da natureza nesse nível. Assim não apenas causas idênticas provocam efeitos diferentes, nas mesmas circunstâncias, como também há eventos que não são efeitos de causa alguma. Mesmas causas levam a uma gama de efeitos, cada qual com a sua probabilidade de ocorrência, havendo ocorrências que se dão sem causa, como o decaimento radioativo, a emissão de fótons e o surgimento de pares de partícula e antipartícula. No mundo macroscópico, os eventos são resultantes de um número muito grande de microeventos (como os macroestados de um sistema correspondem a um grande número de microestados possíveis). Uma abordagem estatística leva a uma probabilidade tão concentrada em relação a uma dada consequência macroscópica, que se pode, na prática, falar em termos de determinismo. Mas o importante é que, fundamentalmente, o determinismo e a causalidade não são necessidades, mas apenas uma consequência estatística de eventos elementares indeterminísticos e, até, incausados.

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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

"É claro que se pode experimentar Deus! Amor é algo que muita gente vive com intensidade. Por ele pessoas se sacrificam...O testemunho e a vivência de muitos atestam que Deus existe sim" Você não acha?

Não. São fatos diferentes. Amor não é uma entidade e sim um sentimento associado a uma vontade. Se a pessoa sente amor e decide amar, então ele está existindo nela. Se uma pessoa tem a convicção de que Deus existe e tem a sensação interior de sua existência, isto não garante que, de fato, ele exista, pois não se trata da concepção e da percepção de sua existência e sim de sua existência, objetivamente falando. Podem-se ter convicções sobre a existência de muitas coisas e várias pessoas as têm, sem que elas, de fato, existam, como é o caso da crença em elementais. Pessoas podem agir em função de suas crenças, mesmo que não correspondam a verdades, como se assim o fossem e pautarem suas vidas por essas crenças estando completamente enganadas. Por exemplo, os cristão, judeus e muçulmanos não crêem na reencarnação, mas os espíritas, hinduístas e budistas sim. Estes vivem em função desta crença e os cristãos até zombam dela. Há comprovações cabais de que seja falsa? Da mesma forma os cristãos crêem no juizo particular e na salvação ou danação após a morte, da alma imortal da pessoa. Pode-se provar que isto seja a verdade? Crer não é garantia de verdade para nada. Nem a vivência de acordo com a crença. Senão tanto seria verdade que a alma se reencarna quanto que não, pois há quem creia numa e noutra coisa. Como pode haver duas verdades que se contradizem?

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Considerando-se um homem que não possui senso de bem e mal, o senhor o consideraria um homem mau se ele tomasse atitudes que sejam consideradas antiéticas, embora ele não tenha prejudicado a vida de um outro ser de forma direta e intencional?

Se isto existir, o que não acho que aconteça, exceto em patologias, de fato essa pessoa não é má, pois a maldade, do ponto de vista do executor, só acontece quando há a intenção livre e consciente de causar prejuízo, sofrimento, dor, tristeza, infelicidade em quem seja objeto dela. Daí não lhe poder ser imputada culpabilidade. A questão é saber se a pessoa realmente é portadora desta anomia, o que requer uma análise psicológica difícil.

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Professor, o senhor acha que o cristianismo está em decadência? Se sim, qual a estimativa de duração que você daria pra ele?

Não sei. Por um lado parece que a sociedade está cada vez mais vivendo sem se importar com religião, especialmente o ocidente cristão. Por outro lado, em certos grupos, há um recrudescimento do fundamentalismo, mesmo cristão. Mas parece que são grupos isolados e minoritários. O grosso da população segue uma religiosidade superficial, baseada mais em rituais do que em convicções doutrinárias. Assim é que quase todos os casais católicos usam pílula anticoncepcional, apesar da condenação papal. E o sexo antes do casamento é corriqueiro. Muita gente se diz católica não praticante: não vai à missa nem se confessa. Para mim não são católicos. Essa liberalização, para mim, é irreversível e, fatalmente, levará ao esvaziamento do cristianismo, especialmente do catolicismo. Quase não se tem mais pessoas dispostas a serem padres e freiras. Mas isto é um processo lento e ainda dou para o cristianismo alguns séculos de existência.

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Qual é a opinião do senhor a respeito da música de Tchaikovsky?

Gosto muito, apesar da crítica negativa de muitos ao compará-lo com Mussorgsky e os alemães, como Brahms. Certamente que Brahms e Beethoven estão num patamar mais elevado em termos de arte musical. Mas Tchaikowsky é muito bom. É um mestre na arte de produzir efeitos grandiloquentes, humorísticos, marciais, patéticos, lúgubres, sentimentais, eufóricos, melancólicos. Em suma, é um compositor das emoções. E domina seu metier com mestria, especialmente em orquestração. Que ele não seja um fiel seguidor das estruturas como a forma sonata não depõe contra ele, pois Liszt também não era. Gosto de suas seis sinfonias, do Manfredo, dos três concertos para piano e do de violino, das aberturas bem como da música de câmara. Já dos balés, nem tanto. Quanto às óperas, ainda não as ouví.

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"Em primeiro lugar o Caos existiu, e espontaneamente Gaia, a mãe natureza" Mitologia Grega, Hesíodo, século 7 a.C. Em outras mitologias a causa primária do universo também é aleatória. O mito cristão surgiu para sufocar outras crenças, já que as repudia?

O mito da criação adotado pelo cristianismo e islamismo não é cristão e nem judaico mas foi assimilado a partir das culturas mesopotâmicas, como também o greco-romano. Neles há coincidências e discrepâncias. Este é um assunto interessante mas que ainda não tive oportunidade de me aprofundar para saber em que momento e lugar começaram a divergir. De qualquer modo, todos eles provêm de tradições orais pré-históricas e não possuem base cientifica nenhuma, não precisando serem levados em consideração para a elucidação da origem do Universo.

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Como explicar a inexistência de algo improvável, mas que se possa se sentir? por exemplo, o amor. Em um mundo como o nosso, muitos poderiam dizer que ele não existe, uma vez que não podemos vê-lo ou provar sua existência.

É claro que se pode experimentar o amor! Amor é algo que muita gente vive com intensidade. Por ele pessoas se sacrificam e não se importam com isto, pelo contrário, até ficam satisfeitas. Isto é comum. O testemunho e a vivência de muitos atestam que o amor existe sim.

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E quem se aventura a ser bondoso e amoroso em um mundo onde é louvável ser mau, acaba sendo taxado como bobo. Nós somos muito imperfeitos para vivermos sem alguma instituiçao que reprima a nossa vontade de destruir nosso semelhante

Uma pessoa boa só é taxada de bobo se for humilde e submissa. Pode-se ser bom e praticar o bem de forma altiva e serena, sem se inferiorizar e sem ceder às pressões dos maus para agir como eles querem. Para tal tem-se que ser também corajoso, destemido, forte, valente, diligente. Essas são as virtudes de uma pessoa de valor, que as alia à generosidade, solidariedade, compaixão, tolerância, bondade, justiça, honestidade, sinceridade e todas as virtudes relativas ao amor e à verdade. Ter vontade de destruir o semelhante não é normal e sim uma patologia a ser corrigida pela sociedade, não tolerando tal conduta.

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O homem tem capacidade de ser o que quiser, mas na maioria das vezes se torna mau, quando se depara com um mundo de pessoas egoístas, injustas, orgulhosas e nada humildes.

Não é verdade que o homem se torna mau na maioria das vezes. Pelo contrário. Há mais pessoas boas do que más. A questão é que, geralmente, as pessoas boas são menos afirmativas, enquanto as más se impõem. Um aspecto da educação que é deixado de lado nas escolas é a educação do caráter e, nisto, há que se cultivar a assertividade, que é o comportamento de se afirmar sem passividade mas sem prepotência. Isto tem que ser treinado como uma habilidade em aulas. Nosso sistema educacional é muito falho por centrar-se quase exclusivamente no acúmulo de informações e conhecimentos mas não no desenvolvimento de habilidades e na formação de padrões de conduta. É preciso que os bons não dêem chance aos maus de realizarem suas maldades com firmeza. A educação é capaz de eliminar o egoísmo. Mas isto é trabalho para um processo educativo longo, ao longo de muitas gerações (alguns séculos).

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"É preciso educar para praticar o bem, sem pensar em recompensa. Nem a salvação eterna". O cristianismo não acredita na salvação por meio da pratica do bem. Só por meio da fé em Deus é que somos salvos.

Esta é a versão calvinista do cristianismo, que não é a única e nem pode ser considerada correta em relação a outras. Depois, esse negócio de salvação é muito esquisito. Ser salvo de quê? Porque uma pessoa que não tenha fé em Deus mas seja boa seria condenada? Condenada a quê? Ao inferno? O que é isto? Além disso, a salvação ou a condenação pressupõe que haja uma alma imortal que sobrevive à morte do corpo. Mas o que é isto? De onde se conclui que existe tal coisa? Pecado original é outra coisa complicada. Quem cometeu tal pecado se não se pode saber a partir de qual indivíduo se estabeleceu a espécie humana? A lenda de Adão e Eva certamente não pode ser levada a sério. Mas, sem ela, onde fica o significado do pecado original? E se não existiu pecado original, qual o sentido da redenção? Mesmo que houvesse um sentido, como é cruel um Deus que exige o sacrifício de seu próprio filho para aplacar sua ira pelo pecado da humanidade. Se ele, de fato, é bom, porque não perdoou apenas, como prega que se deve fazer? De fato, de todas as religiões, o cristianismo é a mais implausível. O espiritismo é mais coerente. Ou mesmo o budismo, o hinduísmo e o islamismo.

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O anarquismo é bem interessante mas acho que seria mais interessante se o mundo inteiro estivesse sob as mesmas leis, afinal o homem tende a ser mau, fazer o mau ao seu semelhante, logo o ideal de liberdade poderia se tornar libertinagem.

O homem não tende a ser mau nem bom. Ele tem capacidade para ser um ou outro. Evitar que se faça a opção pelo mal é uma questão social e de educação. É preciso ver que ser mau não é um comportamento que leve à felicidade, que é o bem maior que se almeja. A sociedade tem muito mais pessoas boas do que más. As boas precisam ser mais atuantes e fazerem com que todo comportamento malévolo seja prejudicial a quem o tenha. Colocar o mundo todo sob leis únicas não é boa idéia, porque existem muitas diferenças culturais. O ideal é não ter lei nenhuma e as pessoas agirem da forma correta por conta própria. E depois, quem definiria quais leis seriam as adequadas? Nem sempre a opinião da maioria é a correta. E quem poderia se arvorar em ser o dono da verdade?

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Até onde o senhor acredita que o nome próprio tenha importância para a preservação da identidade de um indivíduo?

Acho que não tem importância. Qualquer que seja o nome a pessoa é o que ela é, independentemente dele. Exceto, talvez, no caso de nomes que possam causar constrangimento. Neste caso, muda-se e pronto. É claro que, qualquer que seja ele, precisa ser mantido para que se faça a identificação da pessoa com o seu nome e, assim, a fama da pessoa, para o bem ou para o mal, ficará associada ao nome. Mas ele pode ser qualquer um. Não acho que o nome seja capaz de influenciar o comportamento da pessoa por ser este ou aquele. Mas isto é uma opinião. O fato precisa ser objeto de alguma pesquisa ampla, da qual não tenho conhecimento.

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Que ideais o senhor acredita que devem ser adotados e preservados para construir uma sociedade mais harmoniosa e saudável no futuro?

Cada ser humano precisa ter o ideal de ser virtuoso, isto é, de fazer o bem. Só assim se construirá uma sociedade ideal, porque constituída de seres ideais. Isto é um problema de educação. É preciso educar para praticar o bem, sem pensar em recompensa. Nem a salvação eterna. O bem tem que ser praticado pelo seu valor intrínseco e não porque traz alguma vantagem. Quando todo mundo só pensar em fazer o bem para todo mundo não haverá mais crimes e se poderá construir uma sociedade ideal que, para mim, é a anarquista.

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O que acha do livro "O mundo de Sophia"?

Ainda não lí.

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Pode explicar melhor o que fala quando diz que o surgimento não é um fato fenomenológico e não lógico? eu não consegui entender, tenho pouca base filosófica. :)

Fenomenológico significa que é um acontecimento, um fenômeno da natureza, cuja ocorrência se dá por si mesma, independente de qualquer explicação. Lógico é algo que se conclui que tem que ser por algum tipo de raciocínio. Não há raciocínio que permite chegar a uma conclusão a respeito do modo como surgiu o Universo. Só se pode induzir por uma extrapolação dos fenômenos que se observa. Em outras palavras: não é lógico que o surgimento do Universo tenha se dado sem que fosse proveniente de algo, mas é o que ocorreu, pois se o Universo é o conjunto de tudo e sua expansão mostra que houve um momento em que ele iniciou, então pode-se inferir que antes disso não havia coisa alguma, pois, se houvesse, já existiria o Universo. Então ele surgiu sem que proviesse de algo precedente. Isto é uma conclusão fenomenológica, que não se pode demonstrar a partir das leis que se sabe que descrevem o comportamento da natureza. Mas, antes do início do Universo, não havia natureza e, logo, leis que descrevessem o seu comportamento. Então não se pode tirar conclusão lógica nenhuma a respeito. Dizer que ele foi criado por algum ente extrínseco a ele, contraria sua própria definição como o conjunto de tudo, isto é, não existe coisa alguma que não pertença ao Universo. Se Deus criou o Universo, ele não faz parte dele, mas, por definição, teria que fazer. Então, se Deus existe, sempre existiu, algum Deus o criou ou surgiu do nada. Então o Universo teria sempre existido. Porque não supor que o Universo surgiu sem ter do que provir?

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Anarquista? você acredita que a sociedade conseguiria viver bem em libertinagem e sem leis? Como?

Anarquismo não é libertinagem de modo algum. Anarquismo é uma sociedade livre mas altamente organizada, ordeira, responsável e trabalhadora, que faz tudo o que precisa ser feito com disciplina porque considera que assim é que deve ser, sem ser preciso coação de nenhuma espécie para tal. Por isso é que o anarquismo não pode ser implantado. Tem que ser alcançado por vontade da própria sociedade, por um processo educativo ao longo de muitos séculos. E não pode haver um país anarquista. Tem que ser o mundo todo. Um mundo, não só sem leis, nem governo, nem dinheiro, nem propriedade, nem fronteiras, nem prisões, nem exércitos, nem polícia, mas pacífico, trabalhador, solidário, cooperador, honesto, idôneo, generoso, enfim, virtuoso mas de forma livre, sem pressão nem punição. E isto porque todos concluírão que assim é que é melhor para o bem de todo mundo, para a maximização da felicidade. Como se poderá chegar lá? Só por um meio: educação! Educação para o altruísmo, com o fim de todo o egoísmo, para a diligência, com a extirpação da preguiça, para a generosidade, com a abolição da cobiça e da ganância. Isto é possível e eu tenho confiança de que será atingido em menos de mil anos.

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Por que ainda vale apena ser professor?

Porque é a melhor maneira de conseguir influenciar as gerações que deterão as rédeas do mundo futuro para que elas possam transformar este mundo num lugar realmente bom, aprazível, justo, próspero, igualitário, harmônico, fraterno. Professor é quem pode ser mais capaz de provocar as mudanças de mentalidade necessárias para isto. Ser professor é uma das maiores realizações de uma pessoa, depois de ser pai e mãe. Porque o professor é o pai e a mãe das mentes. Isto é notável e é um motivo pelo qual se vale viver a vida, mesmo que não se fique rico e se tenha que trabalhar muito. É muito mais gratificante do que ser um médico, um sacerdote ou um empresário, do meu ponto de vista. Fui professor a vida toda e ainda o sou, mesmo não dando mais aulas e tenho muito orgulho de minha profissão. Estou já na terceira idade e não tenho bens nem fortuna, nenhuma propriedade, nenhuma poupança. Só tenho minha biblioteca, que doarei ao povo. Mas tenho a satisfação imensa de ter vivido minha vida em prol da educação, dado mais de vinte mil aulas, para mais de três mil alunos do Ensino Médio e do Superior. Veja minha avaliação na Universidade em:
http://www.ruckert.pro.br/texts/avaliacao_ernesto.pdf .

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O que você diria a respeito do fim do mundo em 2012?

Baboseira completa! Sem o mínimo fundamento. Tudo com base em fatos mitológicos inteiramente desprovidos de qualquer justificativa plausível.

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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Qual é a opinião do senhor a respeito da família?

Uma instituição limitadora das possibilidades de realização humana, por se restringir a um círculo reduzido de pessoas. Estou falando da família mononuclear (pai, mãe e filhos). Considero que o núcleo da sociedade deva ser mais amplo, se quiser ainda denominado família, mas com maior abrangência de pessoas, isto é, não só irmãos e irmãs com seus cônjuges, filhos, primos, sobrinhos, netos e os cônjuges destes, mas também abrindo a possibilidade de pluralidade de cônjuges para cada pessoa, inclusive com intercruzamentos entre os membros. Isto forma uma grupo muito mais coeso e capaz de propiciar apoio mútuo, além de conjugar esforços para a subsistência e para a realização pessoal de todos.

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Dan brown?

Excelente escritor. Bom para urdir tramas instigantes. Além do mais escreve bem. Bem melhor que o Jõ Soares. Como Tolkien. O que não se pode é considerar que o que ele escreve seja verdade e não ficção.

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Já leu a bíblia?

Não completamente, mas muitos textos, especialmente os evangelhos, o apocalipse, algumas epístolas, o ato dos apóstolos, o gênesis, muitos salmos, o êxodo, e capítulos de outros livros.

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Porque o senhor acha mais sensato dizer que não existe um deus, se não existem provas da inexistencia deste?

É claro que esta é a opção, quando não se há provas nem contra nem a favor, mas também não há evidências. Se Deus não é evidente, há que se provar que existe, caso contrário, a hipótese a ser considerada é a de que não existe. Além disto, contudo, há muitos indícios de sua não existência, como a existência do mal, o não atendimento de preces, o sucesso dos pecadores, o infortúnio dos justos, a inexistência de milagres, a existência de múltiplas religiões, as imperfeições da natureza, a existência de doenças e inúmeros outros fatos. E mais: a suposição de sua existência provoca grandes problemas filosóficos a respeito de sua relação com o Universo. Isto sem falar da concepção cristã do Deus tri-pessoal, do qual Jesus Cristo seria a encarnação da segunda pessoa. Esta questão da redenção é muito mais complicada de se aceitar do que a criação. Nem menciono a crença na divindade da eucaristia, de tão inconcebível que é.

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O que dizer sobre Paulo Coelho?

Um escritor superficial, de grande apelo popular por abordar temas que as pessoas gostariam que fosse verdade, como poderes mágicos. Vende ilusões numa embalagem vistosa. Literariamente deixa a desejar, isto é, sua escrita não é arte. É como Sidney Sheldon e Harold Robbins. Mas ganha dinheiro. Só já li "O diário de um mago" e desisti. Talvez leia alguns outros para firmar meu juizo a seu respeito ou modificar.

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Na sua visão, é possível difundir à massa, o ateísmo, ou, ao menos, a ideia de respeito às pessoas que optam por essa posição filosófica?

Claro! Para tal é preciso que se eduque filosoficamente o povo. E isto é papel da escola. Filosofia tem que ser dada desde os últimos dois anos do Ensino Fundamental (8º e 9º). E todo mundo tem que ter, pelo menos, o Ensino Fundamental. De preferência também o médio, inclusive lavradores, lixeiros, faxineiros, ajudantes de pedreiro, empregadas domésticas (que, aliás, nem deviam existir). E todos têm que filosofar, isto é, questionar tudo o que existe: Deus, religião, pátria, família, propriedade, tradições, sociedade, política, governo, capitalismo, comunismo, educação, saúde, cultura, trabalho, enfim... tudo. Questionar, contudo, não significa, necessariamente, contestar, mas sim criticar, ver se tem valor ou não, propor melhorias ou alternativas, em suma, entender as razões, as causas, os propósitos, o funcionamento de tudo. E, então, fazer sua opção de vida. Aí é possivel se considerar a possibilidade da inexistência de Deus.

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Se o universo surgiu do nada, você admite que 0 + 0 = 1 ?

Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Matemática é uma lógica simbólica, enquanto o surgimento do Universo não é um fato lógico e sim fenomenológico. Surgir sem ter do que provir também não significa provir do nada. E isto não é mero jogo de palavras, como querem alguns. Surgir do nada seria ser engendrado por uma evolução provinda do nada. Mas nada é algo que não existe, portanto não pode gerar coisa alguma. A equação 0 + 0 = 1 está querendo dizer que você reúne conjuntos vazios e forma um conjunto com conteúdo. O surgimento do Universo não é isso. É o surgimento sem ter do que provir e não provindo do nada. Isto é essencialmente diferente e é uma possibilidade, enquanto surgir do nada não é. Matematicamente você poderia equacionar isto como: = 1, sem nada do lado esquerdo, nem o zero. Isto é, se o sinal de igual representa o início do Universo, então antes não há coisa alguma, nem nada. E depois existe tudo.

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Você acredita que, pessoas que crêem em Deus são mais ignorantes e incapazes do que as que não crêem?

Claro que não! Crentes podem ser pessoas muito inteligentes e capazes, até mesmo eruditas e muitas o são. Apenas não obtiveram um esclarecimento amplo e profundo do tema, porque não estudaram e não refletiram sobre a questão. Ou o fizeram e optaram pela crença, agora de forma embasada. Contudo considero que o estudo isento de pré-concepções sobre a existência de Deus, levará à conclusão de que ele não existe, como eu mesmo me convencí justamente a termo de muito estudo e reflexão. Há, porém, os que concluiram que Deus não existem mas continuam a dizer que existe por uma conveniência social ou, até, econômica. Esses são vís e abjetos.

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Ernesto, o que você gosta de escutar? Em termos de música. Cite uns nomes aí, umas músicas, ou excertos. Gostaria de ver se tem algo diferente do que eu escuto.

Sim, escuto muito música clássica. Umas três horas por dia. Inclusive produzo e apresento um programa semanal de música clássica na Rádio FM da Universidade Federal de Viçosa (www.rtv.ufv.br). Também gosto de Jazz, Blues, MPB, easy music, música francesa, italiana, ópera, musicais, samba, tango, bossa-nova e algum rock, como Beatles ou bandas, como Nightwish, Era, Epica.

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Em que área do saber humano você se considera um ignorante?

Direito, Economia, Administração, Negócios, Finanças, Contabilidade, Esportes, Agronomia, Pecuária, Medicina, Enfermagem, Veterinária.

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terça-feira, 14 de setembro de 2010

Ernesto, creio que o que comte quis dizer com estado teológico não se trata do Estado (nação), mas sim da nossa posição a respeito da crença.

A proposta de Comte é a "Lei dos três estágios": Religioso, metafísico e positivo. Considera ele que cada pessoa, bem como a humanidade como um todo, passa por esses estágios em sua evolução. Não vejo que isto seja verdade. Uma pessoa que tenha sido criada em ambiente completamente ateísta jamais passará por estágio religioso nenhum. Se passar, será posteriormente, caso venha a tomar conhecimento de alguma religião. O estágio metafísico também, normalmente, é posterior ao positivo, sendo alcançado só se a pessoa tiver pendores filosóficos. Entendendo-se o estágio positivo como científico, como considera Comte, este também só acontecerá em pessoas com um grau razoável de instrução formal. A maioria das pessoas mentalmente se coloca em um estágio positivo, mas não científico. E como, em nossa sociedade, quase todo mundo é educado em alguma religião, nunca abandona as crenças religiosas, mesmo agindo positivamente, exceto se se tornar um ateu. Com a humanidade, do mesmo modo, o fato de hoje termos explicações científicas para quase tudo, bem como aplicações tecnológicas da ciência em abundância, nada disso tirou a crença religiosa da maioria das pessoas que, por outro lado, não têm concepções metafísicas nenhuma sobre a realidade. Metafísica é coisa para filósofos e cientistas filosóficos. O povo não é metafísico, em absoluto. Em suma, Comte propõe um modelo inteiramente dissociado do que, de fato, acontece.

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Professor, descobriram életrons com massa negativa! http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=eletrons-com-massa-negativa&id=020110100903 Como a gravidade age em corpos de massa negativa?

Este artigo saiu na Physical Review Letters, mas eu não sou assinante. É preciso entender que em física da matéria condensada e no estado sólido existem interpretações de fenômenos que se dão "como se" o elétron tivesse massa negativa, mas não que ele realmente a tenha. Preciso ler o artigo para interpretar. Na relatividade geral e nas teorias de campo não é prevista a existência de massa negativa. Os tachions, por exemplo, são partículas hipotéticas de massa imaginária, mas não negativa. Tachions, todavia, não existem.

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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O que é o amor? Vale tudo para viver um grande amor?

Nada é mais importante do que o amor. Trata-se de algo engendrado pela natureza ao longo da evolução para garantir a sobrevivência da espécie. Enquanto o egoísmo pode ser eficaz para a sobrevivência do indivíduo, é o amor que garante a perenidade da espécie. O sexo foi uma estratégia da natureza para garantir a variabilidade genética e possibilitar múltiplas escolhas na seleção natural. Seria possível, por partenogênese, a existência de espécies apenas com o sexo feminino, que é o essencial, sendo o masculino meramente acessório. O surgimento do sexo, desde os mais primitivos seres vivos, contudo, revelou-se a opção mais eficaz. Eros é, pois, a pulsão mais poderosa, pela qual os indivíduos até mesmo dão a vida.

A sobrevivência da espécie também exige o cuidado com a prole e a proteção da fêmea, atitudes que se sublimaram na componente platônica do amor. Assim o amor evoluiu para um comportamento não só sexual mas também de carinho. A necessidade de proteger o grupo privilegiou aqueles que possuíssem fortes laços de cooperação interpessoal, que é sublimada na amizade.
Duas forças coexistem nas espécies animais: a de competição, egoísta e belicosa, que deseja o poder sobre o outro a ser subjugado e a de cooperação, que se expressa no amor, na compaixão, no altruísmo. A primeira tem suas raízes profundas na necessidade de aplacar a fome fisiológica de alimento e a segunda no impulso de preservação da espécie. Sendo o homem uma espécie altamente evoluída, que atingiu um estágio de consciência psíquica plena e desenvolveu a cultura, essas forças primitivas da natureza foram canalizadas para as expressões refinadas da arte, do engenho e da ciência. São elas que movem o poeta, o guerreiro, o cientista, o sacerdote, o empresário, enfim, todo homem e toda mulher a fazer o que quer que seja na vida.
Em seu livro “O Gene Egoísta”, Richard Dawkins diz que nossos organismos nada mais são do que instrumentos criados pelas moléculas replicantes para perpetuarem-se. Assim os dois instintos primários, da existência e da procriação, forjaram-se na natureza para atender a este imperativo básico do gene: replicar-se. Esta pulsão pode estar contida na própria estrutura subatômica da matéria, de um ponto de vista reducionista. Deste modo, talvez a própria estrutura íntima do Universo seja naturalmente estabelecida para culminar na vida, lembrando as idéias de Teillard de Chardin. Isto não significa que haja um projeto inteligente. Trata-se apenas de como as coisas são por si mesmas, sem razão nem propósito. Mas… não sei. Há que se investigar e discutir.

Pelo que se pode concluir, o sexo é, pois, um componente essencial da vida e um dos mais relevantes fatores de felicidade. Uma vez preenchidas as condições mínimas de sobrevivência: ar, água, alimento, abrigo (incluindo vestuário) e segurança, a pessoa busca sua felicidade. Dentre os muitos fatores que levam à felicidade, não resta dúvida que o mais relevante é a sensação de ser amado. Mas, para quem já seja sexualmente maduro, não é apenas o amor maternal, paternal e fraternal que contam. Há uma carência do amor erótico. Este é o objetivo buscado. Como nisto há uma reciprocidade, há que se amar para ser amado. Tal fato é tão válido que, mesmo sem correspondência, o ato de amar é fonte de felicidade, mesclada com uma doce tristeza.
Quando o amor é correspondido e se realiza eroticamente, atinge-se um êxtase talvez só comparável aos arroubos místicos. Por maior que seja a pulsão fisiológica para o sexo, da qual, por sublimação surgiu o amor, sua realização dissociada do amor não proporciona nem uma mísera fração da beatitude que o sexo com amor é capaz de conceder. Porque, aí, o sexo não é só fruição, mas, principalmente, doação. Excluído o egoísmo do sexo, incrivelmente, ele propicia um prazer maior ainda. É procurando dar o máximo prazer que se desfruta dele em plenitude. E, para isto, há que se buscar conhecer o parceiro completamente, em corpo e em espírito. Tudo está envolvido. Pudores têm que ser esquecidos. Uma pitada de molecagem sempre é bem-vinda. Mas, no meu entendimento, sem afligir dor e nem constrangimento algum. Só o prazer dos murmúrios, dos perfumes e dos odores, dos toques suaves e dos vigorosos, de todos os recursos disponíveis, sem reservas e sem remorsos. Sem pressa. Esquecido do mundo. Isto é o amor e os orientais são sábios em cultuá-lo, de modo até sagrado. Como diz Chico Buarque na “Valsinha”, como não seria melhor o mundo se o amor fosse o prato do dia de todos.
Amor é um sentir, um pensar, um desejar, um querer e um agir, isto é, uma emoção, um sentimento, um apetite, uma volição e uma ação. Esse complexo de fatos psíquicos caracteriza o amor em todos os planos, piedade, compaixão, solidariedade, afeição, amizade, amor platônico, erotismo. Amor filial, maternal, paternal, fraternal, conjugal, idealista. A intensidade e a seqüência em que eles aparecem podem variar. O amor sempre emociona, enternece, enleva e envolve um desejo de zelo, cuidado e proteção da coisa amada, bem como um anseio de reciprocidade. Mas o amor só se realiza quando é expresso em vontade e esta vontade em ação. Não basta sentir e desejar para amar, é preciso querer, demostrar e provar. O amor envolve dedicação e renúncia, paciência e perseverança, trabalho e recompensa, alegria e tristeza, euforia e depressão. É algo envolvente e inebriante. O amor não é possessivo, ciumento, exclusivista, castrador, sufocante. Pelo contrário, o amor é libertário e altruísta. Não me refiro apenas ao amor erótico, mas a todas as modalidades, inclusive as formas idealistas de amor à verdade, justiça, sabedoria, humanidade e natureza. O amor não pode ser cerceado em sua intensidade e abrangência. Ele não possui limites. Quanto mais intensamente se ama e a mais coisas e pessoas, mais capacidade se tem de amar. E quanto mais se ama, mais se realiza e maior é a felicidade, mesmo que nem sempre ele seja correspondido.

Estou com aqueles que consideram o ciúme uma manifestação de puro e simples egoísmo. Sentir ciúme é pretender que o ser amado seja propriedade sua. Isso não é amor. Sou ateu, mas nunca vi melhor descrição do que é o amor do que o que disse o apóstolo Paulo no capítulo 13 de sua primeira carta aos coríntios:
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tivesse amor, seria como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.
Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse amor, não seria nada.
Ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse amor, de nada valeria.
O amor é paciente, o amor é bondoso. Não tem inveja. O amor não é orgulhoso. Não é arrogante.
Nem escandaloso. Não busca seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor.
Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade.
Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”
O amor é completamente gratuito. Não exige nada em troca, nem reciprocidade nem exclusividade. E se compraz com a felicidade do amado em qualquer circunstância. Ciúme é egoísmo, não amor. Não há posse no amor. E a felicidade é maior pelo amor que se dá e não pelo que se recebe. Mas é ótimo ser amado, sem dúvida. O que não se pode é exigir amor de ninguém e nem que o amado não possa também amar a outrem. Aquele que ama, inclusive, dispõe-se a compartilhar o ser amado. É preciso reverter inteiramente esta noção de propriedade no amor. Isso é sinal de imaturidade. Ama-se e confia-se no amado. O ciumento preocupa-se mais é com a perda de sua imagem, caso venha a ser traído. Mas não há traição se o compartilhamento é consentido. Nada disso haveria se a sociedade admitisse, tranquilamente, a pluralidade simultânea do amor.

Assim compreendido, pode-se concluir que, realmente, viver um grande amor vale o sacrifício de outros projetos, como carreira e enriquecimento. Estas coisas têm menos valor. Mas é importante que a pessoa esteja consciente que o investimento em um grande amor não tem retorno garantido. Que se saiba que tudo pode der errado e nem por isso se arrependa do que se fez. E não se pode amar pensando no que se vai ganhar com isto. Ama-se e pronto! Gratuitamente e sem remorsos. Quem assim pauta sua vida, não só pelo amor a pessoas, mas pelo amor à humanidade e a causas nobres e idealistas, nunca se verá acabrunhado com os dissabores, pois sua mente paira sobranceira sobre as picuinhas da vida, até mesmo sobre as necessidades básicas e se porta como o bemaventurado que esquece de si mesmo e vive para a vida e para o bem de todos e de tudo.

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O que o Sr. Dr. pensa a respeito da união civil entre parceiros do mesmo sexo?

Tão normal quanto entre parceiros de sexo oposto. Esta questão da homosexualidade, heterosexualidade, bissexualidade ou asexualidade é de origem genética, havendo pessoas que sentem atração física por outra do mesmo, do oposto, de ambos ou de nenhum sexo. Isto é normal e apresenta uma proporção fixa nas várias etnias e culturas. A diferença está apenas na aceitação social. Considero que o amor tem que ser realizado de que forma for. Quanto mais amor entre as pessoas, melhor o mundo fica. Não se pode restringir a quem se deve ou não se deve amar. E se o amor deve ser realizado, então todas as implicações jurídicas dele decorrentes têm que ser estabelecidas da mesma forma. Considero, inclusive, a possibilidade da pluralidade amorosa simultânea, isto é, a poligamia, tanto poliginia quanto poliandria ou qualquer combinação possível. Isto, em absoluto, não tem nada a ver com devassidão ou libertinagem. Nada disso. Estou falando de relacionamentos sérios e compromissados, com mais de uma outra pessoa do mesmo ou do sexo oposto. Envolvendo amor, carinho, cuidado, respeito, responsabilidade. De forma adulta, consequente e, até mesmo, legalizada.

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O que você acha do pós-modernismo, movimento que prega que a historicidade é o fator determinante para os juízos de verdade, ou seja, a ciência não tem a supremacia dos juízos sobre o que correto continua...

Não concordo. O que a ciência busca é exatamente fugir da historicidade e isto é o que deve ser feito. O que se precisa é justamente evitar que juizos a respeito da realidade dependam o máximo possível da conjuntura presente, sempre que possível. É claro que não se consegue escapar inteiramente, pois sempre se trabalha com os conhecimentos que se tem, no momento. Mas é preciso se libertar de pontos de vista ideológicos, religiosos, políticos, raciais, culturais. É mister se buscar a completa isenção o máximo possível. Isto é difícil, mas é assim que considero que precisa ser. É claro que não se consegue nem se pretende obter o conhecimento final: ele é sempre provisório e precisa ser revisto a todo momento. Mas é o melhor que se tem. Verdade é uma adequação entre o discurso e a realidade. Mas a realidade em si mesma é desconhecida. O que se tem é a sua percepção pelas mentes, que precisam buscar o máximo consenso entre as descrições que fazem, isto é, buscar as palavras cujo sentido seja aceito pela maioria e estabelecer as relações que elas guardam entre sí, pela correspondência entre os conceitos e o que pretendem representar. O que a ciência busca é a máxima objetividade possível. Os mitos são descrições em termos de conceitos inventados, impossíveis de se verificar. Os conceitos da ciência, por outro lado, são estabelecidos de forma a poderem ser verificados, contestados e substituídos, caso sejam inadequados.

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domingo, 12 de setembro de 2010

A medicina moderna é uma ciência?

Em parte ciência, em parte arte, no sentido mais amplo da palavra, pois a medicina não apenas busca conhecer a estrutura e o funcionamento do corpo humano, incluindo os problemas estruturais e de funcionamento, como também desenvolver e aplicar métodos de cura clínica e cirúrgica para tais problemas. Os dois aspectos estão intimamente relacionados, podendo o médico ser um engenheiro biológico ou um cientista, pesquisador da cura de doenças, com a colaboração de químicos, físicos e outros cientistas.

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Como o senhor definiria arte?

Em sua verdadeira concepção, arte é o prodígio de insuflar vida a uma imagem, um som, um texto ou um movimento. Em si, eles são apenas comunicações visuais, auditivas ou cinéstésicas mas, pela arte, transformam-se em objetos de comoção estética, emoção, prazer. Transcendem sua realidade física e se convertem em um bem de valor cultural, testemunho de um ato criativo do artista em externar o que lhe vem de dentro, o modo como interpreta o mundo, eivado de suas vivências e de sua cosmovisão, bem como de sua perícia e de seu trabalho, além, é claro, de seu sentimento e sua inteligência. O artista, assim, é como se fosse um deus, capaz de vivificar uma tela, um mármore, um violino ou o movimento de seu próprio corpo numa entidade etérea e incorpórea, plasmada de beleza e luz.

Na acepção mais básica possível, arte é o fazer e seu produto, englobando aí o artesanato, a engenharia, a indústria e as belas-artes. Em oposição, ciência é o conhecer, o saber, também englobando aí, nesta acepção básica,saberes empíricos e mitológicos. Numa acepção mais restrita, a arte (neste caso, as belas-artes) é um fazer enquanto comprometido com levar à fruição de um prazer sensorial e intelectual, advindo de alguma qualidade do produto, denominada estética, que leve a isto, não importando outras qualidades que possa ter, de caráter utilitário ou outros. Assim, a arte é inútil.

Acho que a arte, como criação, é um construto intelectual do homem em que ele usa sua sensibilidade, inteligência, vontade, habilidades, técnica adquirida e talento nato para fazer uma representação do mundo real ou imaginário, almejando levar ao apreciador uma sensação de prazer no ato de percebê-la, consistente em uma emoção advinda da interpretação feita pela inteligência do que a sensibilidade comunica.

Esse caráter estético pode ser considerado do ponto de vista do autor ou do apreciador. Um quadro pintado por um macaco pode não ser arte na intenção do autor, mas pode o ser na apreensão do apreciador. Do ponto de vista do autor a arte tem a intenção de provocar tal prazer. Notem-se três coisas: A arte não tem compromisso com mensagem alguma, exceto a estética. O prazer estético não tem nada a ver com beleza, o conceito de belo é outro. O feio pode ser arte. Finalmente, como qualquer ação humana, a arte não pode se furtar a ter um valor ético, que pode deliberadamente ser descartado, mas não deixa de estar presente.

Minha opinião é de que a arte não tem utilidade. Não é este o seu propósito. Mas justamente para as inutilidades, o supérfluo, é que faz sentido se lutar pela vida. O necessário à sobrevivência é mínimo. O que distingue o homem é almejar o inútil e se comprazer nisto. Trabalha-se para, afinal, se conseguir ser feliz e se é feliz quando se desfruta da vida com prazer. A arte dá esse prazer. A arte não precisa levar mensagem alguma para ser arte. Basta, do ponto de vista do apreciador, dar prazer em ser contemplada. Do ponto de vista do criador, certamente, a arte não é mero externar de sentimentos e emoções. É, principalmente, um produto da inteligência, do trabalho, da vontade. O quadro feito pelo macaco não é uma obra de arte porque não foi produzido intencionalmente para tal. Mas pode ser apreciado como tal, se levar a quem o vê uma sensação de prazer estético. É claro que eu estou descartando a atitude imbecil de fingir que gosta ou entende de arte para dar a impressão de ser intelectual.

Dizer que a arte é inútil envolve uma ambiguidade proposital. A questão é o conceito de "útil". No sentido pragmático, do que é necessário para a sobrevivência, a arte não tem utilidade. Mas ela se presta a promover o bem estar e a elevar o nível de felicidade. Quanto ao caráter formativo, no sentido de passar uma mensagem transestética, de valor ético ou ideológico, a arte se presta muito bem para tal, mas este não é o seu compromisso. Uma obra de arte conserva o seu valor estético mesmo que seja comprometida com nada ou que o seja com valores equivocados. Mas, é claro, a ética perpassa todo o fazer humano e, logo, não há como escapar. Mas a arte não precisa ter um compromisso, digamos, pedagógico. Todavia pode tê-lo e mais do que tudo, presta-se admiravelmente para tal. Assim é a minha arte: enquanto provoca a comoção estética, instiga a mente a questionar o significado da existência.

Esta questão das inutilidades, da arte e de muita coisa nas ciências, na verdade é a mola mestra do progresso, não só técnico e material, mas, principalmente, cultural. Vejam minha especialidade em física: Cosmologia. Serve para quê? Para o mesmo que servem a poesia, a música, as belas artes: para elevar a mente, expressar o sentimento de deslumbramento frente ao Universo e, principalmente, em relação ao prodígio que somos nós mesmos. Não tem nenhum valor prático e nem precisa ter. É para o inútil que a humanidade aplica tanto esforço em produzir além do necessário para a mera sobrevivência. É nas inutilidades que se compraz o homem e alcança a felicidade de gozar um prazer inteiramente descompromissado.

Quanto à questão do belo e da relação entre o belo e a arte é preciso, antes de tudo, ver que são conceitos disjuntos. A noção de beleza tem a ver com a percepção do mundo por um ser sensiente e consciente. A arte tem a ver com certa produção de um ser inteligente. Um ninho de passarinho não é uma obra de arte. Assim alguma coisa é bela se provoca no observador sentimentos prazerosos ao percebê-la. Pode ser algo inteiramente natural ou um produto intencionalmente feito para provocar este tipo de emoção, dita estética. Assim concebida, a beleza de uma obra de arte não é necessariamente superior à beleza da natureza. Mas também não é necessariamente inferior. Depende de que obra de arte se está apreciando.

Uma característica importante da arte é que o artista tem que ser livre. A arte por encomenda só tem valor quando quem a encomenda deixa o artista livre. Mozart e Haydn compunham sob encomenda, mas Mozart, especialmente, fazia o que queria. Isto porque Mozart era um gênio e Haydn um grandioso talento. Já Beethoven rebelou-se completamente das encomendas. É claro que, mesmo sendo livre, a arte pode não ser boa, mas se não for livre é certo que não será boa. Note que disse boa, e não bela. O belo, na arte, não é necessariamente belo, na acepção corriqueira da palavra. A beleza da arte não é a beleza do que ela retrata. O artista pode passar ao apreciador algo feio como recurso de comunicação do que pretende externar com sua arte. Mas, fazendo-o com valor artístico, esse feio é belo.

Artista é isso: quem é capaz de expressar o sentimento em algo palpável, que outrem possa contemplar e captar. Mas arte não é só emoção e sentimento: é reflexão sobre como colocar o que se pretende, é inteligência, é trabalho, é vontade. São as idas e vindas, as decisões e indecisões. É o cansaço em cima da obra, até que se chegue ao que se concebeu. E, finalmente, o júbilo do parto, a contemplação da própria criação, aquela satisfação interna de ser um criador e não apenas uma criatura. Dá vontade de reter tudo consigo. Mas não se pode esquecer-se de ganhar a vida. E vender também é uma arte. A arte só vale se for para o outro, para o povo, para disseminar a beleza e, principalmente revelar uma postura de quem acredita na vida e nos valores maiores da humanidade. Assim sendo, rejubile-se o artista, pois é colega de Deus (supondo que exista).

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Como o senhor definiria arte?

Em sua verdadeira concepção, arte é o prodígio de insuflar vida a umaimagem, um som, um texto ou um movimento. Em si, eles são apenas comunicações visuais, auditivas ou cinéstésicas mas, pela arte, transformam-se em objetos de comoção estética, emoção, prazer. Transcendemsua realidade física e se convertem em um bem de valor cultural, testemunhode um ato criativo do artista em externar o que lhe vém de dentro, o modocomo interpreta o mundo, eivado de suas vivências e de sua cosmovisão, bemcomo de sua perícia e de seu trabalho, além, é claro, de seu sentimento esua inteligência. O artista, assim, é como se fosse um deus, capaz devivificar uma tela, um mármore, um violino ou o movimento de seu própriocorpo numa entidade etérea e incorpórea, plasmada de beleza e luz.

Na acepção mais básica possível, arte é o fazer e seu produto, englobando aí o artesanato, a engenharia, a indústria e as belas-artes. Em oposição,ciência é o conhecer, o saber, também englobando aí, nesta acepção básica,saberes empíricos e mitológicos. Numa acepção mais restrita, a arte (nestecaso, as belas-artes) é um fazer enquanto comprometido com levar à fruiçãode um prazer sensorial e intelectual, advindo de alguma qualidade doproduto, denominada estética, que leve a isto, não importando outrasqualidades que possa ter, de caráter utilitário ou outros. Assim, a arte éinútil.

Acho que a arte, como criação, é um construto intelectual do homem em queele usa sua sensibilidade, inteligência, vontade, habilidades, técnicaadquirida e talento nato para fazer uma representação do mundo real ouimaginário, almejando levar ao apreciador uma sensação de prazer no ato depercebê-la, consistente em uma emoção advinda da interpretação feita pelainteligência do que a sensibilidade comunica.

Esse caráter estético pode ser considerado do ponto de vista do autor ou doapreciador. Um quadro pintado por um macaco pode não ser arte na intenção do autor, mas pode o ser na apreensão do apreciador. Do ponto de vista do autor a arte tem a intenção de provocar tal prazer. Notem-se três coisas: A arte não tem compromisso com mensagem alguma, exceto a estética. O prazerestético não tem nada a ver com beleza, o conceito de belo é outro. O feiopode ser arte. Finalmente, como qualquer ação humana, a arte não pode sefurtar a ter um valor ético, que pode deliberadamente ser descartado, masnão deixa de estar presente.

Minha opinião é de que a arte não tem utilidade. Não é este o seu propósito. Mas justamente para as inutilidades, o supérfluo, é que faz sentido se lutar pela vida. O necessário à sobrevivência é mínimo. O que distingue o homem é almejar o inútil e se comprazer nisto. Trabalha-se para, afinal, se conseguir ser feliz e se é feliz quando se desfruta da vida com prazer. A arte dá esse prazer. A arte não precisa levar mensagem alguma para ser arte. Basta, do ponto de vista do apreciador, dar prazer em ser contemplada. Do ponto de vista do criador, certamente, a arte não é mero externar de sentimentos e emoções. É, principalmente, um produto da inteligência, do trabalho, da vontade. O quadro feito pelo macaco não é uma obra de arte porque não foi produzido intencionalmente para tal. Mas pode ser apreciado como tal, se levar a quem o vê uma sensação de prazer estético. É claro que eu estou descartando a atitude imbecil de fingir que gosta ou entende de arte para dar a impressão de ser intelectual.

Dizer que a arte é inútil envolve uma ambiguidade proposital. A questão é oconceito de "útil". No sentido pragmático, do que é necessário para asobrevivência, a arte não tem utilidade. Mas ela se presta a promover o bemestar e a elevar o nível de felicidade. Quanto ao caráter formativo, nosentido de passar uma mensagem transestética, de valor ético ou ideológico,a arte se presta muito bem para tal, mas este não é o seu compromisso. Umaobra de arte conserva o seu valor estético mesmo que seja comprometida comnada ou que o seja com valores equivocados. Mas, é claro, a ética perpassatodo o fazer humano e, logo, não há como escapar. Mas a arte não precisa ter um compromisso, digamos, pedagógico. Todavia pode tê-lo e mais do que tudo, presta-se admiravelmente para tal. Assim é a minha arte: enquanto provoca a comoção estética, instiga a mente a questionar o significado da existência.

Esta questão das inutilidades, da arte e de muita coisa nas ciências, naverdade é a mola mestra do progresso, não só técnico e material, mas,principalmente, cultural. Vejam minha especialidade em física: Cosmologia.Serve para quê? Para o mesmo que servem a poesia, a música, as belas artes:para elevar a mente, expressar o sentimento de deslumbramento frente aoUniverso e, principalmente, em relação ao prodígio que somos nós mesmos. Não tem nenhum valor prático e nem precisa ter. É para o inútil que a humanidade aplica tanto esforço em produzir além do necessário para a merasobrevivência. É nas inutilidades que se compraz o homem e alcança afelicidade de gozar um prazer inteiramente descompromissado.

Quanto à questão do belo e da relação entre o belo e a arte é preciso, antes de tudo, ver que são conceitos disjuntos. A noção de beleza tem a ver com a percepção do mundo por um ser sensiente e consciente. A arte tem a ver com certa produção de um ser inteligente. Um ninho de passarinho não é uma obra de arte. Assim alguma coisa é bela se provoca no observador sentimentos prazerosos ao percebê-la. Pode ser algo inteiramente natural ou um produto intencionalmente feito para provocar este tipo de emoção, dita estética. Assim concebida, a beleza de uma obra de arte não é necessariamente superior à beleza da natureza. Mas também não é necessariamente inferior. Depende de que obra de arte se está apreciando.

Uma característica importante da arte é que o artista tem que ser livre. Aarte por encomenda só tem valor quando quem a encomenda deixa o artistalivre. Mozart e Haydn compunham sob encomenda, mas Mozart, especialmente,fazia o que queria. Isto porque Mozart era um gênio e Haydn um grandiosotalento. Já Beethoven rebelou-se completamente das encomendas. É claro que,mesmo sendo livre, a arte pode não ser boa, mas se não for livre é certo que não será boa. Note que disse boa, e não bela. O belo, na arte, não énecessariamente belo, na acepção corriqueira da palavra. A beleza da artenão é a beleza do que ela retrata. O artista pode passar ao apreciador algofeio como recurso de comunicação do que pretende externar com sua arte. Mas, fazendo-o com valor artístico, esse feio é belo.

Artista é isso: quem é capaz de expressar o sentimento em algo palpável, que outrem possa contemplar e captar. Mas arte não é só emoção e sentimento: é reflexão sobre como colocar o que se pretende, é inteligência, é trabalho, é vontade. São as idas e vindas, as decisões e indecisões. É o cansaço em cima da obra, até que se chegue ao que se concebeu. E, finalmente, o júbilo do parto, a contemplação da própria criação, aquela satisfação interna de ser um criador e não apenas uma criatura. Dá vontade de reter tudo consigo. Mas não se pode esquecer-se de ganhar a vida. E vender também é uma arte. A arte só vale se for para o outro, para o povo, para disseminar a beleza e, principalmente revelar uma postura de quem acredita na vida e nos valores maiores da humanidade. Assim sendo, rejubile-se o artista, pois é colega de Deus (supondo que exista).

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