domingo, 19 de maio de 2013

O que você entende sobre fanatismo? Há graus de fanatismo? Como saber se uma pessoa é fanática? Vale apena debater com fanáticos?‎

Fanatismo é a atitude de se aferrar a alguma concepção religiosa, ideológica ou, até, esportiva, musical ou outra, de um modo totalmente dogmático e irracional, que rejeita, aprioristicamente, qualquer ponderação de sua validade. E que seja acompanhada de uma postura de hostilidade a quem não compartilhe dessa concepção, que pode, até, resvalar para o cometimento de crimes. A identificação de um fanático se faz pela constatação de que ele não admite a menor discussão sobre a validade de sua concepção. O fanatismo pode ter graus sim. Desde uma concepção levemente tendenciosa até uma atitude drasticamente inflexível. Nesses casos mais severos, não adianta discutir e tentar argumentar que será inútil. O fanatismo só será removido quando algum fato da realidade demonstrar, de forma cabal e inequívoca, a improcedência da concepção fanática adotada. Isso será cruel para o fanático, mas é só o que o demoverá do fanatismo. Tenho muita pena de pessoas fanáticas e considero que tal atitude, de fato, seja proveniente de alguma patologia neurológica.

Qual a sua opinião sobre Richard Dawkins?

Já li quase todos os livros dele. Gosto muito, especialmente os que são a respeito de evolução, principalmente "O Gene Egoísta". Falta ler "O Rio que Saía do Éden". Gostei demais do "Desvendando o Arco-Íris". Atualmente ele tem se dedicado a um proselitismo ateísta que acho bem válido, mas discordo de sua postura de desdém em relação aos crentes. É claro que existem muitos religiosos aproveitadores da credulidade do povo, e esses são execráveis mesmo. Mas também há muitos religiosos sinceros, cultos e inteligentes, que merecem ser respeitados, inclusive por sua bondade, honestidade e seriedade. Infelizmente eles estão equivocados em suas concepções e eu acho muito válida e caridosa a atitude de mostrar a eles o equívoco de sua crença. Isso eu sempre procuro fazer e penso que seja direito meu, do mesmo modo que penso que seja direito dos religiosos procurarem convencer os outros, sem tentar impor, que suas crenças é que estejam certas. Isto é, que os muçulmanos, hinduístas, espíritas, budistas, católicos, ortodoxos, protestantes ou de que religião sejam, façam o seu trabalho missionário. Isso é legítimo, inclusive para os ateus. Mas acho que deve se dar um desconto ao Dawkins, porque há muito religioso tachando os ateus de crápulas, venais, imorais, perversos, desonestos e vários outros epítetos desairosos que, absolutamente, não têm nada a ver com a concepção ateísta. Isso pode ser característica de algum ateu, mas também se encontra entre muitos crentes. Ou seja, o caráter é totalmente independente da crença.

Explique os porquês de não se confiar na bíblia. É pela falta de bibliografia, pelo fato do Novo Testamento ser feito sob medida ao imperador Constantino e o Velho Testamente ser feito por povos do deserto da idade do bronze (ad hominem + ad novitatem)? O criticismo Bíblico valida o ateísmo?‎

Se se considerar a Bíblia como um código de moral, pode-se aceitá-la. Mas como um compêndio de história e de ciência, absolutamente não. A razão é que grande parte de suas narrativas está em desacordo com a ciência e a história e estas têm uma validade muito maior, pois fundamentam suas descrições e explicações em evidências e comprovações, mesmo que provisórias, jamais pretendendo ser dogmáticas. Além do mais ela mesmo se contradiz em muitas partes, o que pode ser levantado em vários sites sobre contradições da Bíblia. E, principalmente, porque ela parte do pressuposto de que existe um Deus e de que o homem possui uma alma, fatos que carecem completamente de fundamento, isto é, não há nada que evidencie ou comprove tais hipóteses. Mas não é o fato da Bíblia ser uma obra de ficção que valida o ateísmo. Isso é verdade para todas as demais ditas "Escrituras Sagradas", de todas as religiões. O ateísmo se fundamente, simplesmente, na ausência de evidências ou provas de que exista qualquer entidade que preencha as características do que se conceitua como sendo um deus, bem como de que o homem ou outros seres vivos possuam o que se conceitua como sendo "alma".

Gosta de ouvir notícias no rádio? Quais programas? Qual a importância dos jovens ainda ouvirem rádio?

Quase não ouço rádio, apesar de fazer um programa de rádio, de música clássica. Em casa, ouço CD's ou música pelo computador, de rádios online de música clássica. Também ouço MPB, música francesa, italiana, americana, inglesa. Notícias eu vejo pelos jornais da TV (Bandeirantes, Record e Globo) e pela internet. E leio as revistas semanais. Jornais diários, de papel, eu não leio. Quando sintonizo rádio, ouço a rádio da UFV (www.rtv.ufv.br) que tem uma programação musical que aprecio. Ou então uma que tem aqui de samba e pagode. Especialmente da velha guarda, mas que também toca bossa nova e jovem guarda. Em geral, pelo que percebo, a maioria das rádios, que divulga os sucessos impostos pela mídia, não merecem ser ouvidas por ninguém. O que se chama de "Sertanejo Universitário", para mim, é horrível. Anteriormente eu ouvia a Rádio Jornal do Brasil, a Rádio MEC e a Eldorado. Agora, com a internet, não acho que compense ouvir rádio. Mesmo no carro, eu prefiro meus CD's de música clássica.

Filosofia é a mesma coisa de metaciência? Metaciência é "melhor" que a ciência? Para que serve a Metaciência?‎

Filosofia é mais amplo do que Metaciência. Metaciência seria a Epistemologia, isto é, a parte da Filosofia que cuida da validação da Ciência. A Lógica, como disciplina do raciocínio, também é uma metaciência, bem como a Metafísica. Mas a Filosofia cuida de outros assuntos, não relacionados com a Ciência, como a Ética, a Estética, a Dialética, a Filosofia Política, a Psicologia Filosófica e outros. Metaciência não é "melhor" nem "pior" do que Ciência. Ela está além da Ciência porque cuida de estabelecer critérios para saber se um conhecimento é científico ou não, bem como a metodologia a ser usada na investigação científica e, mesmo, a categorização do conhecimento científico. A Lógica cuida de disciplinar o raciocínio, de modo a garantir a validade das conclusões.

Ernesto, quanto aos livros que você escreve: eles são publicados por editoras e vendidos em livrarias ou ficar apenas disponíveis na internet?

Por enquanto estão apenas disponíveis na internet. Não tenho dinheiro para mandar publicar (pelo menos uns deis mil reais) e nem tenho como fazer a distribuição pelas livrarias. E nenhuma editora vai bancar a edição de um autor desconhecido. Todavia vou publicar no Clube de Autores, que não cobra e imprime sob demanda, vendendo pela internet. Mas cada exemplar sai mais caro para o comprador uns 30%. Veja em pt.scribd.com/wolfedler.

Você é anarquista, certo? Gostaria de viver numa sociedade onde os criminosos fossem livres, sem a intervenção de punição do Estado?

Não. Gostaria de viver em uma sociedade em que, absolutamente, não houvessem criminosos. É isso que eu proponho e acho perfeitamente possível de se atingir em alguns séculos ou poucos milênios.

Se escrevesses um livro, qual seria o tema?


Escrevi um sobre minhas respostas no Formspring:
http://pt.scribd.com/doc/76733718/Pergunte-me
Ele contém as primeiras 602 selecionadas. Como já respondi quase 12 mil e tenho mil aguardando resposta, isso dá para editar uns 22 volumes de 350 páginas. Já tenho tudo salvo em um arquivo de texto, só faltando revisar e diagramar.
Também estou escrevendo "Física para Filósofos":
http://pt.scribd.com/doc/80588829/FISICA-PARA-FILOSOFOS
Outro que está redigido, faltando organizar e revisar é "Ensaios", com base em meu blog http://www.ruckert.pro.br/blog/
Tenho, também, várias poesias para publicar.
Os temas são Filosofia, Arte, Ciência, Religião, Cultura, Relacionamentos e Educação.

O que acha de um adolescente de 17 anos que está no 3° ano do 2° grau e já está fazendo curso para passar em um concurso? Acha que é cedo demais para tal e que primeiramente ele deve se dedicar para passar em uma universidade pública?‎

Acho muito bom e dou os parabéns. Mas não desista da faculdade. O estudo vale para as duas coisas. Saber mais do que é preciso nunca é problema. Nem sempre, contudo, um nível superior de escolaridade é uma garantia de sucesso profissional e financeiro. Muitas pessoas se dão muito bem sem nível superior e muitos que têm diploma superior estão pastando. O que vale é a garra, a disposição para trabalhar, a inteligência, a esperteza (não para ser desonesto). Mas uma coisa tem que ser atendida: É preciso que se trabalhe no que se gosta, de modo que o trabalho se integre à vida sem descontinuidade. Então trabalhar será um prazer.

Por que todo mundo que eu vejo fala mal (inclusive eu) da aprovação automática nas escolas e isso não muda? Por que a sociedade não consegue criar força pra fazer valer suas convicções diante do governo especificamente a respeito dessa lei?‎

Porque os políticos só querem saber de resultados estatísticos de quantidade e não de qualidade. Exigir qualidade do ensino não tem apelo popular, porque a maioria do povo, como não foi formada desde o começo numa escola de qualidade, não vai aguentar a dificuldade que a qualidade exige e vai ser reprovada, criando um imenso represamento. Isso vai render votos para quem for da oposição que, certamente, criticará uma medida rigorosa desse tipo. E também vai exibir as grandes mazelas da educação brasileira, o que depreciará o Brasil no contexto internacional, provocando redução no aporte de capital, por exemplo. O que eles fazem questão de esquecer é que esse negócio de esconder o lixo debaixo do tapete não pode funcionar indefinidamente. Já está acontecendo do Brasil precisar importar técnicos pela falta de mão de obra qualificada para muito trabalho mais complexo. A culpa é dessa pedagogia de aversão a tudo que é difícil, trabalhoso, complicado, demorado. Mas tudo que é importante e que funciona mesmo é assim. Temos que nos mirar no exemplo da Coréia do Sul e da Finlândia, em termos educacionais. Ou da República Tcheca. Acho que a solução é todo mundo que pensa de modo sério entrar para a política e tirar de lá essa cambada de aproveitadores inescrupulosos que querem só se locupletar.

Em universidades americanas, com poucas exceções, os alunos pagam mensalidade. Nessas instituições, há uma boa infra-estrutura e os professores são bem remunerados. Seria esse modelo superior ao existente nas universidades públicas do Brasil? Beneficiar-se-iam elas se cobrassem mensalidade também?‎

Acho que a educação básica deveria ser gratuita para todos, isto é, o governo pagaria as anuidades nas escolas particulares para todos estudarem. Isso sairia mais barato do que manter escolas públicas. Mas as universidades deveriam ser públicas e cobrarem. Só que um valor proporcional à renda familiar per capita do aluno, sendo gratuita em casos de pobreza mesmo. Não justifica alunos ricos estudarem de graça e pobres pagarem nas particulares. Com esse aporte os professores poderiam ganhar mais e se poderia exigir mais deles. Por exemplo, uma avaliação bi-anual consequente, isto é, que demitisse os incompetentes sem dó (dando uma única chance de redenção). Porque o tanto de professor ruim que tem nas universidades públicas é escandaloso. E eles têm estabilidade. Isso é indecente.

Seus filhos são todos ateus?

Não. Mas eles não têm religião. Só que acreditam que há um Deus e que as pessoas têm alma. Isso eles aprenderam com a mãe. Eu não quis forçar a que não cressem. Só expunha minhas concepções. Sou a favor de que as escolas tenham aula de religião em que se exponham a história, a doutrina e as práticas das religiões mais importantes do mundo e que também se exponham as concepções agnósticas e ateístas. Assim a juventude poderá fazer a opção que quiser com conhecimento de causa. Mas essa matéria não pode ter nenhum viés favorável a nenhuma das concepções. Tem que ser neutra. E, principalmente, levar a juventude a examinar, refletir e criticar tudo a respeito de tudo. Não só de religião. Costumes também.

O que é cálculo avançado e física avançada? Seriam os cálculos e físicas I II III e IV ensinados no ciclo básico das engenharias, física e química (bacharelado) em boas universidades do Brasil?‎

A matemática e a física do nível médio são elementares. Esses cálculos e essas físicas do ciclo básico das graduações não são avançados, são básicos. As matérias da segunda metade, profissionalizante, dos bacharelados de física e matemática e das engenharias são intermediárias. Matemática e física avançadas só são estudadas na pós graduação.

Por que mesmo decorando a tabela de integrais & derivadas e fórmulas de física, turmas praticamente inteiras reprovam?

Porque decorar fórmulas e tabelas é o menos importante. Quando eu lecionava, minhas provas eram todas com consulta. O importante é saber o significado das fórmulas e as situações em que elas se aplicam ou não. E saber induzir, deduzir e aplicar em novas situações. Eu sempre pedia deduções e aplicações inéditas. As que foram dadas em aula não eram para se decorar e sim para se treinar em como fazer uma dedução, para fazer novas. Da mesma forma nas aplicações. Não adiantava saber fazer todos os problemas já resolvidos. Os da prova eram sempre novidades, que exigiam a o conhecimento, o entendimento, a compreensão, a habilidade e a competência de se fazer física. Isso é que eu fazia os alunos adquirirem no curso. Eu não ensinava, eu os fazia descobrir por conta própria, sob minha orientação. Isso é que desenvolve a percepção, a inteligência e a criatividade. Os alunos que se concentram em "conhecer", apenas, serão sempre medíocres. A escola existe para dar conhecimentos e habilidades, para ensaiar para a vida real, para formar o caráter, para promover a solidariedade humana, para cultivar hábitos saudáveis, para despertar o espírito reflexivo e crítico, Para fomentar a consciência social, para desenvolver a apreciação estética, e, especialmente, para tornar as pessoas realizadas e felizes. Conhecimento é apenas um dos itens.

Por que o senhor não diz que chama ninguém de senhor? Como você trataria então o delegado, o médico e seu advogado de “doutor” (mesmo eles não tendo doutorado)?‎

Trato de você, normalmente. Chamo pelo nome. Nunca chamei ninguém de doutor e nem de senhor. Nem meus pais e avós. E eles é que me ensinaram a agir assim. Isso não é falta de respeito. É a máxima consideração que eu posso dar a uma pessoa, isto é, considerá-la igual a mim. Porque ninguém é superior nem inferior a ninguém. Também prefiro que todos me chamem de você e não de senhor. Mas se me chamarem de senhor, não crio caso. E se alguém criar caso porque eu o chamo de você, eu explico minhas razões, mas não cedo. Minha irmã recebeu um esculacho da professora primária porque a chamou de você e ela não entendeu o que estava fazendo de errado. Minha mãe teve que ir à escola explicar que em nossa família era assim que as pessoas se chamavam. Para mim um lixeiro é tão importante quanto o papa. Isso é uma convicção profunda minha. Sou radicalmente igualitário. E tenho o máximo respeito por todos. Até por crianças. Tem mais: nunca mandei e nunca obedeci. Meu pai não me mandava e eu nunca mandei meus filhos fazerem nada. Mas eles sempre me atendiam e eu atendia a meu pai e minha mãe, porque eles sempre foram razoáveis em seus pedidos, como eu para meus filhos. Meu conceito é que toda relação humana tem que se basear em liberdade responsável. Não se pode exigir nada de ninguém. Cada um sempre só faz o que quer e assume as consequências, que podem ser, até, a prisão ou a morte.

Uma cigana te para na rua e diz que algo de ruim vai acontecer ctg. Vc ignora e ela insiste no assunto. Vc fica com isso na cabeça, passa uns dias e uma pessoa da sua família morre. E aí, como se sentiria? Qual sua opinião sobre ciganos? Acredita mesmo neles?‎

Claro que não acredito em adivinhações. Mesmo que alguma se concretize, é por coincidência. Não há como se prever o futuro em hipótese nenhuma. Ciganos são um povo nômade que ainda vive com costumes medievais, mesmo que muitos tenham absorvido as modernas tecnologias. Eles conseguem sobreviver de artesanato e esse tipo de trabalho de ler a mão, por exemplo. Infelizmente a população, em grande parte, acredita nesse tipo de coisa, como em horóscopo e outras bobagens do tipo. Michael Shermer analisou isso muito bem em seus dois livros "Cérebro e Crença" e "Por que as pessoas acreditam em coisas estranha", ambos com tradução publicada no Brasil pela JSN. Outro livro excelente sobre o tema é "O mundo assombrado pelos demônios" de Carl Sagan. Vale a pena, também, assistir os vídeos do Neil deGrasse Tyson.

Se você fosse uma pessoa-livro que livro você gostaria de ser? (em "Fahrenheit 451" as pessoas-livro gravam na memória cada uma seu livro favorito e passam a sê-lo pra que mesmo que estes livros sejam queimados, eles não desapareçam pra sempre)‎

Queria ser "Servidão Humana" de Somerset Maughan.

idade média > idade moderna > idade contemporânea. Qual você acha que será a próxima?

A idade em que estamos sempre é a contemporânea. O que será preciso é renomear as anteriores. Acho que a era que começou com a Revolução Francesa foi até a queda do Muro de Berlim. De lá para cá, já é outra, caracterizada pela globalização e pela revolução tecnológica da informação, com a internet, celulares etc. Sugiro que essa idade que era chamada de contemporânea passe a se chamar de Idade Revolucionária, segundo o Hobsbawm.

O que achou do livro "A revolta de Atlas"? Tenho ele. Sei que cada um deve tirar suas próprias conclusões, mas só vou pensar em ler se disser que vale muito a pena, afinal são mais de mil páginas... rsrs...‎

Não li e nem pretendo ler. Não concordo com Ayn Rand, só pelo que já li a respeito dela. Discordo do anarco-capitalismo. Sou anarco-comunista. Também sou contra o socialismo. Prefiro a Social-Democracia.

você é a favor ou contra a redução da maioridade penal para 16 anos, no Brasil?

Sou a favor da redução da maioridade penal e da maioridade em geral para outros assuntos também, como votar, dirigir, casar, trabalhar, fazer empréstimos. Acho que isso é muito importante para amadurecer os jovens que estão retardando demais a tomada de responsabilidades na vida, como sustentar-se a si mesmo. Acho que, no nível médio de ensino, os moços e as moças já deveriam estar trabalhando para manter o seu estudo, suas roupas, seu lazer e tudo o mais. Isso não impede de aproveitar a vida, mas, para mim, é essa falta de responsabilidade, de arcar com as consequências de seus atos é que acaba provocando a precocidade criminal, a indolência típica do brasileiro e outros males. Aos 16 anos uma jovem e um jovem já têm consciência e juízo suficientes para saber o que é certo e o que é errado. Se os pais ainda não ensinaram isso, se paparicam seus filhos, não deixando que eles façam o serviço de casa, como varrer o quarto, estender a cama e compartilhar de outros serviços domésticos, então os pais é que precisam de um corretivo.

Como você disse na outra pergunta sobre o racismo, diferenciando preconceito de gosto. Blogs como eu citei tem aquela mania de "se você não gosta ou prefere o 'aceito pela sociedade', então você é preconceito". O que você tem a dizer sobre isso?‎

Trata-se de um preconceito sobre o que seja preconceito. Preconceito são ações ou ofensas positivas e explícitas. Isso é inadmissível. Opiniões, gostos e preferências são legítimos. Qualquer um pode gostar ou desgostar do que quer que seja. Por exemplo, de algum alimento, bebida, música, filme, esporte ou de outras pessoas, pelo motivo que for, até pela cor da sua pele, sua filiação religiosa, sua ideologia política ou seu partido, seu time de futebol. Não interessa a razão. Gosta-se ou desgosta-se com toda a liberdade. O que não pode é, a partir do desgosto, ofender ou prejudicar quem seja objeto de seu desgosto, se essa pessoa não dá motivo pessoal para nada disso. Quando se passa a agir contra alguém por razão da pessoa ser ou se comportar assim ou assado, então é um preconceito. Claro que eu posso agir contra um ladrão, um assassino ou um corrupto que não estou sendo preconceituoso, pois ser ladrão, assassino ou corrupto não é legítimo. Mas ser da raça que for, da religião que for, da ideologia que for, do time que for, da orientação sexual que for, do gênero que for, gostar da música que quiser... Tudo isso é perfeitamente legítimo e agir contra os outros por essas razões é preconceito. Agir, isto é, prejudicar ou ofender. Apreciar ou desapreciar não é preconceito de modo nenhum. Eu, por exemplo, não gosto de funk e gosto de ópera. Há quem goste de funk e não goste de ópera. Não tenho nada contra gostar de funk e espero que ninguém se oponha a que eu goste de ópera.

O espaço de uma igreja é de propriedade de quem? Do estado? Das próprias instituições religiosas?‎

Das instituições religiosas. Uma igreja não é um espaço público. Pode ser se ela permitir que seja, mas, pela lei, não é.

preferir uma característica, e.g., tipicamente caucasiana como o nariz aquilino implica em racismo?‎

Claro que não. Racismo é considerar que alguma outra raça seja inferior à sua e tomar atitudes de constrangimento e represália em relação a pessoas dessa raça. Achar que negros ou negras sejam mais bonitos não é racismo contra brancos, do mesmo modo que achar que olhos orientais sejam mais bonitos não é racismo. É só gosto, opinião. Gostar mais de pessoas de alguma raça, seja a sua ou outra, não é racismo. Racismo é agir contra pessoas de alguma raça, prejudicando-as ou ofendendo-as. Até mesmo dizer que não gosta de pessoas de alguma raça, sem ofender e nem depreciar, não é racismo. É só gosto.

O fanatismo, seja de qualquer tipo, é devido à falta do que ter que fazer, por interesse próprio ou por algum defeito psicológico da pessoa? Pode-se afirmar que xenofobia, racismo, homofobia são tipos de fanatismo ou são devido ao próprio?‎

O fanatismo decorre de um problema mental, não necessariamente patológico, mas que consiste em um obscurecimento do juízo crítico e uma exacerbação da crença. A pessoa, por alguma razão, se aferra a certos conceitos e convicções, em relação aos quais não consegue sequer levantar qualquer questionamento, muito menos admitir que possam estar errados. Por outro lado, rejeita todos os conceitos e considerações em sentido oposto, sem sequer os examinar. É uma cegueira análoga à que acomete uma pessoa perdidamente apaixonada por outra. De fato, é o mesmo tipo de comportamento, só que relacionado a uma ideologia, religião, partido político, time de futebol ou coisas assim. A pessoa encontrou naquilo algo que lhe preenche as carências e vê a sua rejeição como atestado de seu fracasso e o retorno dessas carências. Então se torna um fanático por aquilo. Xenofobia, racismo, homofobia e outras podem surgir da constatação de que se é possuidor de defeitos e carências que quem seja estrangeiro, de outra raça ou de outra orientação sexual não têm. Então, ao invés de tentar superar isso, odeiam quem não possua tais falhas. Muitas vezes a pessoa, no fundo, gostaria de ser daquele modo que rejeita, mas tem um bloqueio para admiti-lo. Nem sempre é assim, contudo.

Afinal de contas a tautologia e a petição de princípio são falácias ou não? O que seria pensamento circular? A bíblia seria o que dentre essas três coisas? Um exemplo lógico: A bíblia está certa porque a bíblia afirma que ela está certa, logo ela só pode estar certa.‎

Tautologia não é uma falácia. É a propriedade de uma proposição composta ser verdadeira, quaisquer que sejam os valores veritativos de suas proposições elementares ou atômicas. Ou mesmo de uma petição simples predicar algo que já se encontre na definição do sujeito. Por exemplo, dizer que todo círculo seja redondo. Já a petição de princípio sim, é uma falácia que consiste em usar uma referência circular, ou seja, tomar a conclusão como base de validade de alguma premissa. Por exemplo, dizer que o Corão está certo porque no Corão consta que ele seja verdadeiro.

Para você, qual seria o regime governamental ideal? Ou o mais próximo disso.‎

Não sei o que você está querendo dizer por regime governamental. Existe o seguinte: Regime Político (autocracia, oligarquia, democracia, acracia), formas de governo (monarquia, república, anarquia) e sistema de governo (parlamentarismo, presidencialismo), A acracia e a anarquia são regime e forma em que não existe o governo. É o que considero ideal. Mas impossíveis de se estabelecer por enquanto. Havendo governo, sou pela democracia representativa republicana parlamentarista, que considero o regime, a forma e o sistema mais adequados para gerir a sociedade em benefício de todos e com o poder exercido em nome do povo e a favor dele. Note que capitalismo, socialismo e comunismo não são regimes políticos e sim regimes econômicos, que podem existir em qualquer desses regimes, formas e sistemas políticos e de governo. Sou comunista, mas, para que não fique dúvida, sou anti-socialista. A diferença é que, no comunismo, os meios de produção e os serviços estão na mão da população, de modo que não há empregados e, no socialismo, eles estão na mão do governo, do qual todos são empregados.

Professor, o que o senhor acha das cotas raciais? Ouvi pessoas afirmando serem contras porque não há diferença de capacidade entre os negros e brancos. O que tem a dizer sobre o assunto?‎

Não há mesmo diferença na média da capacidade intelectual de negros, brancos, vermelhos, amarelos ou que raça sejam. Como não há na de mulheres e homens. Há mais diferença individual entre os integrantes de um mesmo grupo desses. Isso não significa, contudo, que todos tenham as mesmas condições para entrar e fazer um curso superior, pois tal proeza depende, também, da preparação, e as oportunidades não são as mesmas para todos, por razões históricas. A maior diferença, contudo, está no nível sócio-econômico e não na raça ou gênero. Mas, em geral, na média, negros são mais pobres do que brancos. Mesmo assim, não concordo com as cotas, por quatro motivos. Primeiro porque é injusto deixar de fora um branco mais bem preparado e deixar entrar um negro menos bem preparado. Pensa se a situação fosse invertida, o que pode ocorrer, isto é, a demanda por vagas dentro das cotas ser maior do que fora delas e um negro mais bem preparado ficar de fora, usando as cotas, enquanto um branco menos bem preparado entrar, por fora das cotas. Isso seria justo? Segundo porque permitiria o acesso de gente menos bem preparada, o que faria uma pressão para diminuir o nível de exigência de aprovação nas disciplinas (o que já vem acontecendo), permitindo a diplomação de pessoas mal preparadas para o exercício profissional, o que comprometeria e poderia, inclusive, criar graves riscos para a sociedade. A exigência de apenas 60% de domínio dos conteúdos, habilidades e competências para a aprovação em uma disciplina, para mim, já é um escândalo, de tão pequena. Já pensou se você fosse ficar nas mãos de um cirurgião que se formou em medicina sabendo, em todas as matérias, apenas 60% do que precisava saber? E se o nível de exigência diminuir, 60% significará saber menos ainda. Uma catástrofe! Terceiro porque promoveria uma discriminação para quem fizesse uso de cotas, uma vez que se poderia dizer que essa pessoa teria conseguido diploma porque fora beneficiada por cotas e não por sua capacidade. E, finalmente, porque isso viola o princípio constitucional da igualdade para todos. Cotas são uma discriminação. São a legalização de privilégios. Dizer que é para compensar o privilégio que os brancos sempre tiveram por serem mais ricos é justificar um erro por outro. O que é preciso se fazer é dar oportunidade, de fato, para que todos os brasileiros tenham uma Educação Básica e que ela seja de qualidade, de modo a permitir que, com sua inteligência, todos tenham condição de disputar qualquer vaga em igualdade de condições. Mas isso é que não vai acontecer com essa política imoral de aprovação automática nas escolas públicas.

Quais livros você recomendaria para um autodidata interessado em química e física começar a se aproximar destas ciências compreendê-las desde o básico até chegar a compreensão de teorias científicas mais complexas, diga-se de passagem?‎


Para uma boa panorâmica, em nível de divulgação científica para leigos, recomendo:
Física em 12 LIções - Feynman - Ediouro
Convite à Física - Ben-Dov - Zahar
Física Conceitual - Hewitt - Bookman
Estou supondo que você já tenha o Ensino Médio.
Química não é a minha área, mas posso recomendar os livros do Mahan e do Atkins.
http://www.livrariacultura.com.br/Produto/LIVRO/PRINCIPIOS-DE-QUIMICA-QUESTIONANDO-A-VIDA-MODERNA/1373981
http://www.livrariacultura.com.br/Produto/LIVRO/QUIMICA-UM-CURSO-UNIVERSITARIO/56524
Física eu recomendo a coleção da Universidade de Berkeley, em cinco volumes. Os dois primeiros tem em português e os três últimos em espanhol.
http://en.wikipedia.org/wiki/Berkeley_Physics_Course
Mais conceitual é a coleção do Feynman (A melhor que existe)
http://www.livrariacultura.com.br/Produto/LIVRO/LICOES-DE-FISICA-DE-FEYNMAN-4-VOLUMES/2464814
Paralelamente você vai ter que estudar Cálculo. Não tem escapatória. Não se consegue entender Física sem Matemática:
http://www.livrariacultura.com.br/Produto/LIVRO/CALCULO-V1/2541211
http://www.livrariacultura.com.br/Produto/LIVRO/CALCULO-V2/2653477
Depois que você ver esses, então poderá passar para os mais específicos.

Professor, o que está achando da situação entre as Coreias?‎

Tenho uma grande pena do povo da Coréia do Norte sob o governo daquele insano. Se ele resolver fazer guerra mesmo, vai levar uma traulitada colossal. E o povo vai sofrer. Acho que o mundo, por meio da ONU, deveria entrar lá e depô-lo, fazendo uma intervenção temporária até que o país seja democratizado e um governo legítimo seja instituído. Para mim, o caso justifica violar o princípio da auto-determinação dos povos, simplesmente porque o povo não é que está se auto-determinando. Isso também vale para a Arábia Saudita, por exemplo.

A existência pode ser uma qualidade ou característica de algo (Kant, Anselmo, Gödel)?‎

Não. A existência é um estado de algo. Uma situação. Uma condição. Como, digamos, a temperatura. Não é uma propriedade da coisa em si. É circunstancial. Mesmo que tudo seja mutável e cada ser não "é", mas "está sendo", isto é, as propriedades não são definitivas, existir não é uma propriedade. Daí a falácia do argumento ontológico.

Por que é tão difícil para as pessoas se tornarem ateia ou pelo menos agnósticas? O fator infância e a pouca instrução pesam muito nesse caso?‎

Acho que o mais difícil é vencer a oposição social. Claro que a criação religiosa pesa, bem como a ignorância, no sentido de não se ter o costume de ser questionador. Mas, mesmo quem seja questionador, chegando à conclusão de que Deus não existe, tem dificuldade de se declarar ateu, pela grande represália que vai sofrer. Só se tiver uma personalidade muito forte. Outro problema é o dilema de Pascal, ou seja, o medo de estar errado e, como isso, ir para o inferno. Daí alguns optarem por crer em Deus por ato de vontade, contrariando sua própria razão. Foi o que aconteceu com William Ockham.

o que pensa dessa frase de Sponvile: "Podemos mudar o mundo, mudar a sociedade, mudar os homens talvez ou mudar-se a si mesmo, mas não mudar a verdade.".?

Claro, pois a verdade é a adequação do discurso à realidade. Mesmo que não se tenha uma apreensão total e cristalina da realidade, ela é como é e não como se pretenda que seja. Portanto a verdade diz como ela é ou, pelo menos, como se considera honestamente que seja. A respeito de qualquer assunto. Por exemplo, se Deus não existe, não é porque as crenças religiosas dizem que existe que ele vai existir. Ou vice-versa. O importante, pois, é a busca da verdade e não a adesão a tal ou qual credo ou ideologia. Daí o grande valor da ciência e da filosofia em relação às religiões. Pois, enquanto estas já se consideram possuidoras apriorísticas da verdade e buscam argumentos para justificá-la, as primeiras partem do desconhecimento para procurar qual seja a verdade, a posteriori, sem compromisso prévio com o que quer que seja, exceto com a verdade.

É causa do fundamentalismo religioso problemas de ordem psicológica ou problemas psicológicos podem ser causados pelo fundamentalismo religioso? Acho que a segunda afirmativa pode ser verdadeira em crianças ...‎

Há uma retroalimentação entre os dois fatores. O fundamentalismo religioso é desenvolvido por pessoas que possuem problemas psicológicos, como algum complexo, algum recalque, alguma carência. Dificilmente uma pessoa feliz e bem resolvida será fundamentalista. Uma vez estabelecido e disseminado ele se torna aterrorizante para as demais pessoas, não fundamentalistas, o que pode levá-las a adquirir problemas psicológicos. Para crianças em fase de formação da personalidade ele é devastador e pode, de fato, transformá-las em verdadeiros Chuckies.

O senhor já ouviu falar em duplipensamento? Ele existe mesmo? É um conceito verdadeiro? Ou é um sinônimo de hipocrisia?‎

Claro que existe e não é hipocrisia. Em verdade não somos um "eu" só, mas uma coleção. E dentro de cada um há conflitos de concepções, de desejos, de conclusões. Partes diferentes do cérebro, com base em registros inconscientes de fatos vividos, do que já se estudou, do que se presenciou e tudo o mais que a memória registra sem que saibamos, podem levar a propor à consciência conselhos conflitantes. Isso é perfeitamente normal. A questão é que, ao se resolver tomar uma atitude ou executar uma ação, ela será única e terá que se basear em alguma das propostas que a mente considera. A escolha, muitas vezes, não obedece aos ditames da razão. A intuição e a emoção são muito mais fortes do que a razão. Mas a razão tem que estar presente para levar suas ponderações. Não exite Dr. Spock na humanidade. Vale a pena ler o livro "Incógnito" de David Eagleman, bem como "Subliminar" de Leonard Mlodinow.

O direito natural é uma farsa? A construção familiar humana é um artifício social? Qual o ponto de vista da ética a respeito do sexo (sem ser abuso sexual!) entre parentes muito próximos como entre irmãos, pais e filhos, tios e sobrinhos etc.‎

O direito natural não é uma farsa. É o único que, de fato, vale. O problema é que os mandatários consideram que seja direito natural aquilo que lhes convém e não o que a natureza humana estabelece como inerente ao ser humano. A construção familiar humana é, de fato, um artifício social. Tanto é que existem vários modos de se estabelecer. O homem não é naturalmente monógamo (nem a mulher). Sistemas familiares plurais e comunitários existem em várias culturas. A monogamia e a família biparental é um esquema que se estabeleceu por razões econômicas. Em uma sociedade anarco-comunista essa noção é totalmente dispensável e pode se considerar que família seja um grupo bem amplo, com várias esposas e vários maridos, todos pais de todos os filhos de todos. O sexo entre parentes próximos não é anti-ético. A sua imoralidade foi estabelecida por se verificar que a endogamia costuma provocar problemas genéticos de saúde. O poliamorismo, ou seja, a consideração de que não seja necessária a exclusividade nos relacionamentos amorosos, de forma aberta e consentida pelos envolvidos, não se constitui em traição, sendo menos hipócrita por reconhecer a possibilidade verdadeira de se amar a mais de uma outra pessoa simultaneamente. Nesse sentido a cultura e a civilização vencem o ciúme, que é um instinto primitivo. Mas civilização é, justamente, superar os instintos, que se formaram ao longo da evolução humana em um ambiente completamente diferente do mundo civilizado atual, que só existe há menos de 1% da idade da humanidade.

O que pensa sobre crescermos ouvindo coisas como: "Para ser alguém na vida, você precisa estudar e trabalhar muito pra conseguir dinheiro" enquanto nosso intelecto é estigmatizado? Acha que a maior meta de nossa vida está baseada no dinheiro/consumo de bens materiais e que isso nos faz ser "alguém"?‎

Isso é uma idiotice de marca maior. A pessoa que confere valor à outra por seu sucesso financeiro não merece respeito como ser humano. O valor de uma pessoa é intrínseco. Não é o que ela tem que lhe confere. Nem o seu poder. É o que ela é, em termos de caráter, de nobreza, de cultura, de conhecimento, de habilidades, de personalidade. E, principalmente, o que ela faz de bem para o mundo e para as outras pessoas. Felicidade é o bem supremo por não ser condição para obter nenhum outro acima dele. Mas ela nunca é alcançada quando perseguida. E obtida de brinde para quem leva a vida objetivando ser bom e fazer o bem.

Por que ideologias possuem uma alta capacidade de influenciar pessoas? Uma vez influenciadas essas pessoas seriam culpadas pelos crimes que por ventura seriam cometidos, ou seria justo um abatimento de pena para essas pessoas ou ainda tratamento psicológico para reinserção na sociedade?

Porque elas acicatam instintos primitivos de afirmação e, pela força do grupo, inibem o medo e o respeito aos outros, deixando aberta a possibilidade de se agir prepotentemente contra quem não faça parte do grupo, sem escrúpulos por estar causando dano. Mas isso não exime ninguém de culpa por crime algum, porque, exceto se a pessoa tiver alguma patologia mental, a censura ética não é apagada. A pessoa que age acompanhando o grupo sabe quando faz algo errado, mas se sente autorizada para tal pela ideologia e pela confiança na impunidade, já que a ação foi coletiva, o que dilui e mascara a responsabilidade individual, mas não a exclui.

Matéria é o mesmo que energia?‎

Não. Matéria é um dos constituintes substanciais do Universo, ao lado dos campos e da radiação. Energia é um dos atributos desses constituintes. São categorias diferentes, que não podem se equivaler. O que a equação E=mc² estabelece é uma equivalência entre energia e massa e não matéria. Massa também é um atributo dos sistemas físicos, como carga, volume, spin, momentum, energia e outros. Quando uma partícula e sua correspondente anti-partícula se aniquilam elas não se transformam em energia e sim em radiação (fótons) que carreia uma energia equivalente à massa total delas. Não existe "energia" pura, como algo. O que existe são sistemas feitos de matéria, campo e radiação que podem possuir ou não energia. Da mesma forma que não existe "peso" que não seja de algo, não existe "energia" que não seja de algo.

Gostaria de saber oque voce pensa sobre as teorias de que as civilizaçoes antigas foram visitadas por seres(considerados divinos)e ajudado essas civilizaçoes a se desenvolver(seja na astrologia,arquitetura,medicina,artes,etc)‎

Acho totalmente sem fundamento. Já li os livros do Erich von Däniken e não vejo que nada daquilo não possa ter sido desenvolvido e feito pelos próprios humanos. Ele, o Zecharia Sitchin, o Giorgio Tsoukalos, o Jacques Vallée e outros que tais, para mim, estão completamente equivocados. Podem haver seres inteligentes extra-terrestres sim, mas é remota a possibilidade de que eles nos visitem. Veja o livro "Sós no Universo" de Donald Browniee e Peter Ward, muito mais fundamentado cientificamente, que mostra o quão é improvável a existência de outros mundos com civilizações.

Você acha que uma pessoa que nasce sem os 5 sentidos teria a capacidade de pensar?

Não sei. Ter-se-ia que fazer um experimento e não seria simples. Todavia acho (mero palpite), que não, mesmo tendo o hardware cerebral, não teria dados para processar. Se você pensar em "todos" os sentidos, incluindo fome, sede, frio, posicionamento esquelético (são mais de 20) acho que essa pessoa não conseguiria nem viver. Os sentidos que dão percepção interna são essenciais. Sem os sentidos de percepção externa, acho que ela poderia viver, se bem que perigosamente. Mesmo sendo capaz de falar, não aprenderia. Nem a andar, talvez. Não sei. Há uma memória procedural instintiva, mas a maior parte é adquirida. Quanto ao pensamento abstrato, na verdade ele se ancora em dados concretos registrados pelos sentidos. Sem eles, não sei como seria o pensar.

Professor, o que é a Verdade?‎

Há dois tipos de verdade. A primeira, que pode ser chamada de absoluta, é a adequação entre o discurso e a realidade. A segunda, subjetiva, é a adequação entre o discurso e o que cada um pensa que seja a realidade. Como o acesso à realidade não é fácil, devido à imperfeição de nossos sentidos e da interpretação mental das sensações, é muito difícil se saber a verdade absoluta. O que mais se aproxima dela é um consenso entre muitas verdades subjetivas, que pode ser chamado de verdade objetiva.

Ernesto, o que você entende por Qualidade de Vida?

A condição em que a pessoa tem suas necessidades vitais satisfeitas, como abrigo, alimentação, vestuário, locomoção, saúde, educação, segurança, paz bem como a satisfação de um nível razoável de desejos, como lazer, afeto, cultura, interação social. Isso, no mundo atual, é propiciado por um nível suficiente de renda, já que não se pode contar com doações, trocas, coleta e feitura para a obtenção dos bens e serviços. Como o roubo não é ético, resta a obtenção por aquisição, o que requer dinheiro. Daí, hoje, a qualidade de vida estar ligada à renda familiar e à oferta social, especialmente pelo estado, de educação, saúde, transporte, habitação, segurança e paz. Preenchidas essas condições, a pessoa poderá alcançar a felicidade, que é o alvo a ser perseguido pelos governos para a população. Mas a felicidade também depende de uma atitude pessoal de dedicação ao bem, para que a vida se torne significativa.

O que você me indica de livros iniciais para ententer melhor a política e a democracia? Obrigado

Esse é um assunto que você só assimilará pela leitura de muitos livros e artigos. E deve ler livros de várias concepções, para não ficar bitolado. Tem que ler o Hobsbawn e a Ayn Rand, Marx e Adam Smith e assim por diante. Mas, para começar, eu recomendo História das Doutrinas Políticas de Gaetano Mosca.e Doutrinas e Filosofias Políticas, de Eduardo Bittar.

Em uma sociedade anarquista, como seria a questão do direito autoral? O que foi produzido por mim seria automaticamente de todos, não tendo eu o direito de dizer que fui eu quem criei? Qualquer um poderia fazer uso desse trabalho sem nenhum problema? "Autoria" seria algo egoísta?

Claro que o direito autoral é preservado. Só não é o direito de auferir lucro com a autoria. A autoria é reconhecida, mas a obra é disponibilizada para todos, de graça, ou, a princípio, pelo preço de custo. Isso já aconteceu na União Soviética, em que fazia parte do salário dos professores universitários o trabalho de redação e publicação de livros didáticos (em geral excelentes - tenho muitos de física e matemática), sem receberem royalties, mas com o reconhecimento da autoria. Eles eram vendidos pelo governo a preços bem baixos. Não que eu concorde com o regime soviético, mas concordo com esse procedimento. O uso do trabalho é disponibilizado, com a obrigação moral de se citar a origem.

Como estimular e granjear altruísmo? Eu sinto amor pelas pessoas, porém ao mesmo tempo sinto desprezo, simplesmente por atitudes das mesmas. E acabo sendo egoísta com todos e em tudo na minha vida. Sinto que isso me faz mal.

Essa é sua tendência nata, mas pode ser mudada. Existem várias pessoas dentro de você que lutam para, em cada caso, serem as que dominam suas decisões. Para simplificar há o seu eu emocional e o seu eu racional. Ambos são importantes para a condução da vida. Mas se o eu emocional e instintivo estiver dominando algum aspecto que te faça infeliz, deve ser controlado. Isso acontece com racismo e com o egoísmo, por exemplo. Há pessoas naturalmente altruístas e outras naturalmente egoístas. Mas a vida em sociedade é mais benéfica, até para a própria pessoa, se ela não for egoísta. Vencer o egoísmo é uma questão de treino e auto-sugestão, isto é, uma educação autodidata para deixar se sê-lo. Como? Sempre que uma atitude egoísta estiver para ser tomada, conte até dez, respire fundo e deixe de tomá-la. Isso vai lhe condicionando a não ser mais egoísta, até que passará a ser uma atitude habitual.

Você acredita em reencarnação? Porque?

Absolutamente, Não!. Para haver reencarnação é preciso que o ser humano seja dual, isto é, tenha corpo e alma e esta sobreviva ao corpo, para poder se incorporar a outro. Eu não acho que alma exista, logo não há como se reencarnar. Ao morrer a pessoa acaba completamente. Sua mente é uma função do seu organismo. Não há evidência nenhuma de que existe alma como uma outra entidade associada, mas distinta do corpo.

Onde procuras aconselhamento?

Na Filosofia, nos livros e, até, na internet. Para mim, muitos conselhos religiosos não têm valor. Mesmo assim, gosto de ler livros como o Tao te Ching, o Baghavad-Gita, o Eclesiastes, o Livro da Sabedoria e alguns textos dos evangelhos. Sempre, é claro, com um espírito crítico. Um bom filósofo atual é o André Comte-Sponville. Também gosto de Epicteto, Seneca, Marco Aurélio, Cícero, Epicuro. Vou levantar alguns filósofos interessantes a esse respeito e listá-los depois.

por que uma pessoa se torna tão dependente de uma religião? conheço uma pessoa que coloca religião em primeiro lugar na sua lista de prioridades. quero saber: é saudável this, professor?

Se a pessoa realmente acredita que existe uma alma imortal e que essa alma poderá ir para o céu ou para o inferno conforme a fé e as ações dela na vida, ela considerará que isso seja o mais importante que ela tenha que cuidar. Desde que a pessoa não fique em permanente ansiedade por isso, levando de forma tranquila, ou seja, que não tenha problemas em não cometer pecados, não é prejudicial. Mas quem transforma isso numa paranoia vai ter sérios problemas psíquicos e, até mesmo, somáticos.

Você acredita em hipnose?‎


Pelo que tenho notícia, me parece que é algo que, de fato, ocorre. Note que não é uma questão de se "acreditar", como, aliás, é o caso a respeito do que quer que seja, mas sim de se verificar e testificar, de forma cética e imparcial. Não me dediquei a nenhum estudo mais abrangente e aprofundado da hipnose, de modo que digo pelo que sei e acho que há verificações e aplicações com respaldo científico. O que não é o caso da telepatia, telecinese, premonição e outros fenômenos parapsicológicos. O artigo seguinte aborda o assunto:
http://en.wikipedia.org/wiki/Hypnosis.
Por outro lado, sempre é bom ter uma cautela cética a respeito desse tipo de coisa. Recomendo também a leitura desse artigo:
http://www.skepdic.com/hypnosis.html

Você é fluente em mais de uma língua? Como se tornou fluente na(s) não-nativa(s)?‎

Fluente eu não sou. Mas entendo e posso falar inglês, que aprendi no ginásio e no científico. Francês, italiano e espanhol eu leio razoavelmente. Francês eu também aprendi no colégio, na década de 60, quando aprendi latim também. Italiano e espanhol eu aprendi sozinho, usando dicionário. O italiano para entender óperas.

Você acha que dinheiro não é tão importante quanto dizem?‎

Não. Dinheiro, em si, não vale nada. O importante são os bens e serviços que o dinheiro pode comprar. A obtenção de algum bem pode ser dar de várias formas: pegando, fazendo, ganhando, trocando, comprando ou roubando. Tirando o roubo, por não ser ético, sobram cinco vias legitimas. O dinheiro é um intermediário de trocas. Mas elas podem ser feitas diretamente. E pegar, sem roubar, do que está disponível, é válido. Quanto aos serviços, eles também podem ser feitos pessoalmente, ganhos, trocados, pagos ou forçados. Minha noção de sociedade ideal é aquela em que tudo é feito por doação (ou por si mesmo), sem compra nem troca (nem roubo, nem serviços forçados, certamente). Com uma grande dose de cooperação, compartilhamento e solidariedade, mesmo em nossa sociedade com dinheiro e propriedade, muita coisa pode ser obtida sem dinheiro nem posse. E isso deve ser fomentado, para que a independência do dinheiro cresça cada vez mais, até que ele se torne dispensável. Claro que é preciso acabar com a cobiça e a preguiça. Além de se comprazer na modéstia e se livrar da ostentação. Com a evolução do comunitarismo, até o luxo poderá ser obtido, sem dinheiro.

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