sábado, 6 de agosto de 2011

Você acha que a psicoterapia é algo realmente viável para pessoas que queiram examinar suas áreas emocionais e sociais que as estão afetando no dia-a-dia ou em situações específicas?

A psicanálise tradicional, para mim, é um processo extremamente demorado e caro, só acessível à elite. Além disso tenho minhas dúvidas sobre sua eficácia, já que eficiente não é mesmo. Mas aprecio a psicologia evolucionista, bem como o uso de múltiplos procedimentos, de forma eclética. Apesar de minha concepção de que a psicologia precisa estar embutida na neurologia e todo psicólogo deveria ser, primeiro, médico, considero que psicoterapia seja válida, mesmo quando associada a terapias medicamentosas. É importante que a pessoa explicite sua mente e só um profissional é capaz de induzi-la a isto. Mas ele tem que participar e orientar mais positivamente do que um psicanalista normalmente faz. E ser mais rápido em obter resultados. Inclusive porque acho que a simples explicitação dos sentimentos inconscientes, sem um apoio e uma orientação na sua interpretação e diretrizes para a conduta a ser tomada a respeito, pode ser pior ainda para o paciente.

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Tem algum assunto importante sobre o qual você mudou de ideia? Por quê?

O mais importante assunto sobre o qual mudei de ideia foi sobre a existência de Deus, em que cria e deixei de crer, aos vinte e poucos anos. À medida que vou estudando, o que faço continuamente, vou alterando algumas concepções. Sobre a mente, por exemplo, já fui um epifenomenalista e hoje sou um ocorrencionista. Em epistemologia já fui holista e hoje sou um reducionista não linear. Em Física já acreditei na possibilidade de uma teoria unificada das interações e hoje acho que não é possível. Em política já fui conservador, depois passei para liberal, então para socialista, anarco-socialista e agora sou anarquista libertário. O que sempre fui foi um cético livre-pensador, que se dispõe a mudar de convicções sempre que convencido de seu erro. Mas o que não é fácil é me convencer, não por eu ser teimoso, mas porque sempre me apoio em muito estudo, análises e reflexões para firmar minhas convicções. O que não tenho, contudo, são certezas. Apesar disso, sempre acho que estou com a razão, pois quando eu não achar, eu mudo.

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Você gosta de HQs (Histórias em Quadrinhos)? Quais suas preferidas?

Sim, muito. Aprendi a ler n"O Pato Donald", aos 4 anos de idade e, desde lá, já li milhares. Adoro os personagens de Walt Disney.

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Se você se considera anarquista, como aceita ser vice diretor do colégio Anglo? Não é meu contraditório , visto que a anarquia visa a igualdade ?

Não é contraditório não, pois enquanto não se tem o anarquismo eu preciso ganhar algum dinheiro, já que minhas despesas são grandes, pois durante um bom tempo tive muitas pessoas dependentes de mim. Mas eu faço muita coisa de graça, dentro do espírito anarquista. Além disso, trabalho em um educandário, onde sou capaz de incutir minhas idéias na juventude nas palestras que faço. Por outro lado, o modo como vejo que o anarquismo deva ser atingido não é pela via do socialismo de estado mas sim do capitalismo pulverizado. A propósito eu recomendo a leitura do conto "O Banqueiro Anarquista" de Fernando Pessoa:
http://www.livrosgratis.net/download/1832/o-banqueiro-anarquista-fernando-pessoa.html

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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Olá Ernesto, li a ultima pergunta e me identifiquei com a situação. Curso o segundo ano do Enstino Médio, sou apaixonado por Cosmologia e Astronomia; Sendo realista, em que áreas eu devo apostar e quais são os primeiros passos que devo dar? Obrigado

Astronomia, que eu conheça, só tem graduação na UFRJ, na USP e na UFS (Sergipe). Mas você pode fazer bacharelado em Física e Pós-Graduação em Astronomia na UFMG, UFRJ, ON, IAG ou INPE. Quanto à Cosmologia e a Astrofísica, é só Pós-Graduação, para quem se graduou em Física ou Astronomia. Geralmente é uma opção do Mestrado e do Doutorado em Física. Recomendo o CBPF e a USP, mas há outros bons. Veja esta lista e consulte em cada universidade as áreas oferecidas:
http://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/ProjetoRelacaoCursosServlet?acao=pesquisarIes&codigoArea=10500006&descricaoArea=CI%CANCIAS+EXATAS+E+DA+TERRA+&descricaoAreaConhecimento=F%CDSICA&descricaoAreaAvaliacao=ASTRONOMIA+%2F+F%CDSICA .
Acho mais interessante fazer o bacharelado em Física, o mestrado em Astrofísica e o Doutorado em Cosmologia. Mas você deve cursar disciplinas optativas de Astronomia na graduação e de Cosmologia no mestrado.
Certamente que você só poderá trabalhar como pesquisador em Universidades e Institutos de Pesquisa, pois não há empresas que contratem astrônomos e cosmólogos. Para passar nos concursos você terá que ter sido um aluno de destaque nos cursos, com um excelente histórico escolar (notas e conceitos altos), além de ter participado de projetos de pesquisa de iniciação científica, participado de congressos, encontros e seminários e feito algumas publicações em revistas especializadas. Isto você se inteirará durante os cursos. O assunto é fascinante mesmo. Vale a pena se dedicar a isto.

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Qual melhor livro de calculo I para estudar? (O que usa uma linguagem boa, e se expressa bem)

Estou desatualizado com os livros de cálculo atuais, pois estudei cálculo em 1968 e 1969, pelo Thomas, que tem uma edição atual revista:
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=2541211&sid=8913152001385833864165939
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=2653477&sid=8913152001385833864165939
Para mim é um ótimo livro.
Outra boa referência é o Leithold:
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=72766&sid=8913152001385833864165939
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=73438&sid=8913152001385833864165939

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Olá Sr. Ruckert. Gostaria de conhecer sua opinião sobre a aplicação do método utilizado nas ciências naturais às ciências humanas? Tanto em áreas mais passíveis de aplicação, como a economia, como quanto a áreas mais complexas, como a sociologia.

A princípio considero que a quantificação de qualquer atributo do que quer que seja é sempre um ganho em informação. Além disso, estudos abrangentes e aprofundados podem levar à construção de modelos matemáticos descritivos das realidades sociais, econômicas, psíquicas e todas elas, da mesma forma que se faz com as astronômicas, geológicas, físicas, químicas, biológicas e as outras naturais. Mas é preciso atentar para alguns requisitos primordiais. Para começar há que se investigar a forma mais adequada de quantificar as variáveis, de modo a assegurar a correspondência biunívoca entre o valor da grandeza e a propriedade que ela está descrevendo. Muitas vezes a propriedade é multidimensional e não tem variação linear. Isto tem que ser levado em consideração no modelamento por meio de vetores ou matrizes e na escolha judiciosa da função descritora, que pode envolver logaritmos, por exemplo. A seguir há que se fazer propostas de relações matemáticas entre as variáveis, a partir de levantamentos de campo procedidos, quanto mais extensos melhor. Nisso há que se levar em conta toda a multiplicidade de fatores envolvidos, como localização geográfica, estrato social, variação étnica, gênero, nível cultural, nível econômico, religião. Todos esses fatores têm que ser considerados de forma quantificada. A tentação de simplificação tem que ser corajosamente evitada, pois a simplicidade não é a norma nem da natureza, muito menos da sociedade. Complexidade é, pois, a única abordagem que pode levar ao modelamento mais próximo da fidelidade. Aí está um tipo de problema. É preciso se ter pessoal com bom trânsito tanto na ciência humana em questão quanto em matemática, e eu digo matemática avançada e não a trivial do ensino médio. Isto é um obstáculo que os cientistas sociais têm que transpor. E matemáticos têm que se acostumar com a extrema complexidade das variáveis inclusas na descrição dos fenômenos sociais. Isto não é impossível, é altamente desejável e pode ser feito. Mas não é fácil. O ganho é altamente compensador em termos de previsibilidade. Trata-se, contudo, de um longo caminho a trilhar, eu digo de muitas décadas. A meteorologia, por exemplo, que é uma ciência natural, menos complexa do que a sociologia, ainda não tem um grau de confiabilidade satisfatória, face ao grande número de variáveis envolvidas. Não se pode, todavia, esmorecer. Os louros só serão colhidos daqui a algumas gerações.

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O Sr. acha a vida uma anomalia cósmica?

Uma anomalia não, mas uma excepcionalidade. Talvez a vida procariota possa até ser mais abundante, mas a vida eucariota, a pluricelular e, principalmente, a inteligente, são, certamente, ocorrências raríssimas. Uma anomalia seria algo que contrariasse qualquer expectativa de comportamento da natureza. Mas a vida não conflita com nenhum comportamento da natureza inanimada, pelo contrário, sua ocorrência advém, simplesmente, de circunstâncias especiais que a possibilitam, face a complexidade de suas estruturas, que, contudo, funcionam com base nas mesmas leis que descrevem o comportamento geral do conteúdo do Universo. Apenas se se considerar anomalia na acepção de raridade é que se poderia dizer que a vida fosse anômala. A vida não requer a consideração de nenhuma realidade extra-natural para explicá-la, da mesma forma que a mente.

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Como os médiuns conseguem convencer tanta gente de que conseguem de fato se comunicar com espíritos? Que truques provavelmente usam para, por exemplo, adivinhar o nome de um ente morto?

Ainda não me inteirei aprofundadamente nesta questão, mas há pesquisadores e desmistificadores que mostram esses truques. Houdini foi um deles e, atualmente, James Randi. Veja isto:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Desenganador
http://pt.wikipedia.org/wiki/CSICOP
http://www.skepdic.com/brazil/
http://www.csicop.org/

Pesquise também os links contidos nessas páginas.

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O que me garante que Jesus morreu e foi ressucitado por uma tecnologia alienigena, que ele foi um alienigena, todos os milagres dele baseados numa tecnologia alienigena? Porque é improvavel isso enquanto é provavel ser sobrenatural?

Tanto uma hipótese quanto a outra são grandemente improváveis. Mesmo que exista Deus, que ele tenha se incorporado em um homem para ser sacrificado a si mesmo a fim de aplacar sua ira pelo pecado das duas primeiras instâncias da espécie humana, sem o que a alma de ninguém, mesmo justo, poderia gozar da bemaventurança eterna, é uma lorota que beira a insanidade. Primeiro que não houve nenhum Adão e nenhuma Eva que tivessem cometido o pecado original, pois não se pode dizer que um certo indivíduo seja o primeiro ser humano, já que o estabelecimento das características que fazem a nossa espécie ser ela foi sendo gradualmente alcançado e, ainda hoje, estão acontecendo mudanças, que, certamente, em alguns milhões da anos, caracterizarão uma nova espécie trans-humana. Segundo que, mesmo que isso fosse verdade, esse espírito cruel, sádico e vingativo de Deus em exigir sacrifício expiatório não coaduna com o conceito de um ser benevolente que se tem dele. Porque ele simplesmente não perdoou, como preconiza.
A presença de seres alienígenas em nosso planeta é outra questão altamente improvável, mesmo que se considere que eles possam existir. As condições que permitiram o surgimento da vida inteligente na Terra são muito restritivas para que se considere que ela seja comum no Universo. E as distâncias entre as estrelas são tão grandes (sem falar entre as galáxias), que, praticamente, inviabiliza qualquer expedição fora do sistema solar de qualquer estrela. Histórias sobre OVNI's ou são mentiras deslavadas ou são interpretações equivocadas de fenômenos naturais.
Quanto à existência histórica de Jesus, mesmo entendendo que trata-se, simplesmente, de uma pessoa humana, é algo controvertido. Contudo considero que, realmente, tal homem existiu. Mas muito do que se diz dele é invenção lendária, especialmente seu caráter divino.

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Professor, é possível que dizer que certas coisas acontecem "por acaso" possa ser tida como um tipo de falácia ad hoc, uma resposta pronta pra ocasião, da mesma forma que dizer "foi porque Deus quis"?

De modo nenhum. a afirmação de que algum evento seja incausado só pode ser feita após um exame minucioso da inexistência de causa. Então se pode dizer que é fortuito, sempre tendo a mente aberta para uma possível mudança, face a novas informações. Mas também não se pode dizer que, necessariamente, tenha que ter uma causa e que, se ela não foi identificada é porque deve estar oculta. Não há nenhum princípio que exija a presença de causa para todo evento. Tal afirmação é o resultado de uma indução baseada no exame da quase totalidade dos eventos acessíveis à observação direta. Qualquer conclusão induzida é passível de ser derrubada por um único contra- exemplo. E no nível subatômico existem miríades deles.

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O que acha das pessoas (jovens principalmente) estarem cada vez mais conformados com "a média", ou seja, não se importarem em se sobressair, apenas ficar na média, nulos? É preocupante esse desinteresse com, digamos, a vida?

Sem dúvida. A apatia e o desinteresse da juventude na solução dos problemas sociais, em não pretenderem "consertar o mundo", como a juventude da minha época (anos 60) queria fazer, é preocupante. Isto é sintoma de uma grande preguiça e mediocridade. Fico preocupado com o que vai acontecer com o mundo quando as gerações que ainda têm disposição e idealismo estiverem mortas. O perigo é que, certamente, vai haver um ou outro inteligente e disposto ao trabalho, mas mal-intencionado, que pode liderar a massa de zumbis para os propósitos que quiserem. Não vejo uma solução fácil para esse problema. Há que se criar alguma bandeira pela qual a juventude se entusiasme e abandone o torpor e a nulidade. Para mim poderia ser o anarquismo e o ateísmo.

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O senhor concorda que o voto deveria ser facultativo? Por quê?

Sim, porque voto é um direito e não um dever. O que se precisa é conscientizar a população a votar por escolha, a rejeitar os candidatos só comprometidos em locupletarem-se com o mandato e a se candidatar para promover uma faxina ética na política. O problema é não se admitir candidato sem partido, bem como o famigerado voto proporcional.

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Professor, o senhor poderia me explicar o significado de livre-arbítrio?

É a capacidade de fazer escolhas ao tomar uma decisão. Isto significa que não se precisa agir de uma única forma, nem sequer para cumprir a lei. É a liberdade de poder até transgredir as normas estabelecidas, de não ser ético, de fazer o bem ou o mal. Se assim não fosse, não haveria valor nenhum em fazer o bem e erro nenhum em fazer o mal, pois ninguém teria escolha a não ser fazer o que estaria determinado no "destino". A noção de um Deus onipotente e onisciente contraria o livre arbítrio, pois se tudo o que ocorre no Universo se dá por seu consentimento, isto significa o mesmo que por seu comando e, portanto, não há liberdade para se fazer nada. O determinismo materialista também contraria o livre arbítrio, pois, como o disse Laplace: « Une intelligence qui, à un instant donné, connaîtrait toutes les forces dont la nature est animée, la position respective des êtres qui la composent, si d’ailleurs elle était assez vaste pour soumettre ces données à l’analyse, embrasserait dans la même formule les mouvements des plus grands corps de l’univers, et ceux du plus léger atome. Rien ne serait incertain pour elle, et l’avenir comme le passé seraient présents à ses yeux. » (Um intelecto que, em dado momento, conhecesse todas as forças que dirigem a natureza e todas as posições de todos os itens dos quais a natureza é composta, se este intelecto também fosse vasto o suficiente para analisar essas informações, compreenderia numa única fórmula os movimentos dos maiores corpos do universo e os do menor átomo; para tal intelecto nada seria incerto e o futuro, assim como o passado, seria presente perante seus olhos.). Então, mesmo sem Deus, tudo estaria irremediavelmente previsto nas leis da natureza.
O que garante o livre arbítrio é a incerteza quântica. A natureza não é determinista e nem necessariamente causal. Este comportamento essencial no nível sub-atômico é que possibilita, nos níveis mais elevados da realidade, como a psíquica e a social, já que tudo, em última análise, se reduz (mas não linearmente) a movimentos e interações experimentados pelas partículas subatômicas, a existência da liberdade de escolha.

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Olá Ernesto. Havia lhe feito uma pergunta acerca de um texto chamado O Paradoxo do Espaço, se lembra? Disse que estudaria o tema, para assim então, responder após leitura. Creio que esqueceu rs. Em qualquer caso segue link novamente goo.gl/q26R abraços.

Li o tópico e digo o seguinte. Há vários conceitos de universo. O mais amplo é o do conjunto de tudo o que existe. Há um mais restrito que considera apenas o que pode ser conectado conosco (nosso universo). E há o do que pode ser observado por nós (universo observável). O primeiro conceito admite a existência de mais de um universo do segundo tipo, desconectados, de modo que o tempo e o espaço do nosso não se estenda até eles. O que geralmente se chama de "Universo" é o segundo conceito. O primeiro costuma ser chamado de "Multiverso", mas pode ser que se reduza apenas ao segundo. Mesmo que existam outros universos, cada um possui a totalidade do tempo e do espaço acessíveis. Isto é: o universo não é um conteúdo contido em um espaço maior, vazio fora dele. Não existe "lado de fora" do universo. Mesmo supondo a possibilidade de outros universos, cada um tem a totalidade de seu espaço. Não existe espaço vazio entre eles. Não existe nada e nada não inclui espaço vazio, nem tempo. Isto não é paradoxo nenhum, pois não conflita com nada. Para mim nosso universo é o único. Mas há regiões dele inacessíveis à observação daqui, mas não desconectadas, pois podem ser observadas de outros lugares de forma a haver intercessão entre essas regiões observáveis. O que não se pode observar é tudo o que está fora de nosso cone de luz do passado, o que chamo de "alhures", pois a luz que saiu de lá não teve tempo de chegar aqui, desde que o Universo surgiu.

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Você considera o eruditismo uma virtude?

Sim, desde que não seja pedante e cultivado como algo a ser colocado a serviço de todos. Se você tem gosto por cultura, arte, ciência e filosofia, curte estudar, é inteligente, adora ler, pensa muito, você deve usar seus pendores para o bem, difundindo seus conhecimentos. Mas a falta de erudição não é um defeito. Apenas uma característica. Mais importante do que a erudição e a inteligência, contudo, é a sabedoria. O ideal é a união das três, especialmente quando se é também um polímata. Quem tem uma curiosidade avassaladora por conhecer tudo a respeito do que quer que seja, frui um prazer imenso em mergulhar em estudos, em descobrir e aprender coisas novas, em produzir obras intelectuais, científicas e artísticas, sem se importar com auferir lucro ou outra vantagem com isso. Mas precisa cuidar em não ficar chato nem seboso.

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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Ernesto, estudei no Anglo ano passado, agora estou fazendo Engenharia Civil , durante a aula de Desenho Projetivo, o professor falou sobre o Numero Áureo ou Proporção Áurea. Tem como você falar mais sobre ?

O número áureo é a razão entre os lados de um retângulo construido de tal forma que seja semelhante a outro retângulo cujo lado menor seja o maior do primeiro e cujo lado maior seja a soma dos lados do primeiro. Trata-se de uma razão de crescimento natural, encontrada em muitas estruturas gelológicas e biológicas. Seu valor é irracional, sendo igual a (1 + √5)/2, denominado de "número φ (phi)". Sempre foi muito usado na arquitetura, escultura e pintura. Veja estes artigos:
http://www.educ.fc.ul.pt/icm/icm99/icm17/ouro.htm
http://matematicamania.wordpress.com/tag/segmento-aureo/
http://www.mat.uel.br/geometrica/artigos/ST-15-TC.pdf
http://pt.wikipedia.org/wiki/Propor%C3%A7%C3%A3o_%C3%A1urea .
Veja também este livro:
Razão Áurea - Mario Livio - Record

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Concorda que pessoas bem informadas tem melhores condições de enfrentar situações impostas pela vida em sociedade? Quais são outros benefícios que uma pessoa adquire sendo bem informada?

Certamente que sim, desde que seu cabedal de informações não seja meramente um acúmulo de dados, mas algo realmente compilado, digerido, refletido, cotejado com suas vivências e reconstruído como um produto pessoal que embase suas análises e decisões de modo inteligente e sábio. Assim ela tirará proveito de ser bem informada, tanto para si quanto para a comunidade em que se insere e toda a sociedade. A sabedoria não requer, necessariamente, um grande volume de informações, mas pode se valer dele vantajosamente. A erudição e a cultura são valores que permitem construir uma personalidade e um caráter de valor, mas tudo depende do uso que se possa fazer disso: para o bem ou para o mal. O que faz a diferença é o egoísmo ou o altruísmo, que são características do caráter dificilmente modificadas pelo acúmulo de informações.

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preconceito podre isso fala serio neh...acho q somos todos iguais as pessoas so amam diferente ninguem tem culpa de amar uma pessoa do mesmo sexo...acho q as pessoas nao tem nada pra fazer...mesmo cada um tinha q cuidar da sua vida e opcap sexual...

Veja isto: http://wolfedler.blogspot.com/2008/07/homossexualismo-e-poliamor.html

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Se pudesse dar 3 conselhos para o seu antigo eu, que conselhos daria?

Vide a letra da música "Epitáfio", dos Titãs.

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Como ser um ateu?

Deixando de considerar que a existência de Deus seja uma verdade assegurada. Para concluir isso, convém se municiar de bons argumentos. Para tal sugiro acompanhar os sites:
http://www.ateus.com.br
http://www.bibliadocetico.net
http://brazil.skepdic.com
http://ateusdobrasil.com.br
http://bulevoador.haaan.com
http://ligahumanista.org
http://cienciaumavelanoescuro.haaan.com
http://www.str.com.br
Bem como outros citados no meu delicious:
http://www.delicious.com/ernestovon/Ate%C3%ADsmo?page=1

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Na sua opinião, pq e importante investir em educação?num teste feito com 40 países, entre pobres e ricos, o brasil ficou nas ultimas posições. que sugestões vc daria aos governantes para q essa situação mudasse? Passar bem,obrigado :)

Sempre tenho batido na tecla de que educação tem que ser a primeira prioridade do governo. Antes da saúde, dos transportes, da energia, das comunicações, do emprego, da habitação, da segurança e do que quer que seja. Não que esses itens devam ser esquecidos, mas que, antes de tudo, educação. Porque povo educado e instruído é povo que reflete e questiona, tendo consciência da sua situação e dos malfeitos dos políticos, empresários e detentores do poder em geral. Assim exige e, pelo voto, escolhe corretamente seus representantes. Além do mais, como já está sobejamente demonstrado pela experiência da Coréia do Sul, por exemplo, é investindo maciçamente e permanentemente em educação que a sociedade consegue reverter sua estagnação econômica e prosperar.
O que fazer no caso do Brasil?
Antes de tudo, planejar para um prazo extenso e cumprir firmemente os propósitos como política de estado e não de governo, pois a solução não sai em menos de meio século ou mais.
Alocar para a educação valores vultosos mesmo do orçamento, tipo um quarto da arrecadação.
Estancar os desvios de verbas por meio de punições exemplares, tipo confisco de bens, cassação definitiva dos direitos políticos e prisão sem regalias por trinta anos.
Instituir uma política que valorização da profissão do magistério com salários não apenas dignos, mas atrativos mesmo, de modo que as melhores cabeças prefiram ser professores do que médicos, advogados ou engenheiros. Estou falando em dedicação exclusiva e salário inicial de cinco mil para o fundamental, sete mil para o médio e dez mil para o superior, chegando a quinze ou vinte mil (é uma ideia a ser estudada). Isto seria feito com a criação de uma nova carreira de magistério. O provimento dos cargos tem que ser feito por um concurso super bem planejado e aplicado com rigor e a manutenção neles condicionada a uma avaliação bianual de competência, dedicação e resultados. Os atuais professores ficariam num quadro em extinção, sem a melhoria salarial, apenas com os reajustes, e poderiam ascender à nova carreira fazendo os mesmos concursos abertos a todo mundo. Quem não tiver competência arranje outra ocupação na vida.
Estabelecer o sistema de horário integral, semelhante aos CIEPS do Brizola para todas as escolas.
Reformar os prédios das escolas atuais e construir novas para atender a exigência de horário integral.
Equipar essas escolas com os modernos recursos pedagógicos e treinar os professores para usá-los proveitosamente.
Reestruturar os currículos de forma a que atendam as necessidades atuais da sociedade, incluindo o aprendizado de habilidades práticas, como condução de veículos, eletrotécnica, marcenaria, informática, inglês prá valer e coisas assim.
Estabelecer um regime disciplinar rigoroso para coibir sem tergiversar indisciplinas, uso de drogas e outros problemas que se dão nas escolas.

Bem... essas são algumas sugestões que eu considero viáveis e passíveis de implementação se houver vontade política vigorosa e sentimento de construção de uma nação forte, digna, pujante e honrada, da qual seus habitantes possam se orgulhar de fazer parte. E não se preocupar com os louros do empreendimento para si, o governante, pois eles só serão colhidos depois que ele já estiver morto há tempos.

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A ignorância serve para para o infeliz pensar que é feliz. Concorda ?

De fato, a ignorância permite que a pessoa seja iludida e considere que sua situação, muitas vezes precária em razão da exploração pelos espertos, seja algo normal. Ou que se apegue a uma pretensa recompensa numa vida futura, a resgatar suas vicissitudes presentes. Daí a grande importância da educação como fator libertador e a razão pela qual certos segmentos da elite detentora do poder e do dinheiro não querem saber de povo educado e consciente. Sim, pois educação e instrução dão consciência, porque levam a pessoa a refletir e questionar sua situação e as falsas promessas, especialmente das religiões, que, em muitos casos, fazem as pessoas resignarem-se com sua vida infeliz e, até, ficarem felizes com sua infelicidade na esperança da recompensa celestial.

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Oi tudo bem ? espero que sim ! Pra ti onde termina a boa educação e o refinamento e começa a frescura arrogante e elitista? abraços sucesso :)

Esta é uma fronteira sutil, que eu coloco no foco do interesse da pessoa. Quem é educado e refinado com naturalidade, pois está preocupado com o outro a quem se dirige, numa atitude de consideração, respeito e, digo mesmo, interesse em seu progresso e no seu bem, sempre agirá de forma modesta e sem afetação e pernosticismo. Por outro lado, a arrogância e a frescura advém do desejo de se promover e de se mostrar, isto é, de uma preocupação mais com si mesmo do que com o interlocutor, seja ele uma pessoa isolada, seja uma platéia ao vivo ou, como aqui, virtualmente conectada.

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Nos últimos anos, no Brasil, adotou-se a ideia de q os professores deveriam evitar q os alunos repetissem de ano. o q vc acha disso?

Um absurdo! É claro que todos os esforços têm que ser envidados para que os alunos sejam promovidos. Mas porque o mereceram, a vista de seu desempenho acadêmico satisfatório. Promover o aluno com déficits de aprendizado é prejudicial a ele próprio e, mais ainda, à sociedade, que receberá em seu seio, ao fim do processo educativo, pessoas despreparadas para suas funções profissionais, sociais, familiares e pessoais. Evitar repetências apenas para fazer bonito nas estatísticas é uma atitude completamente burra e reveladora de um espírito político descomprometido com o bem do povo e preocupado em mostrar uma eficiência e eficácia administrativas de fachada, mas inteiramente oca e podre por dentro.

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Seria exagero dizer que a corrupção é a raiz de todos os males da sociedade? a corrupção é um câncer social ? abraços sucesso :)

Os males sociais são consequência das falhas de caráter pessoais. E a origem de todas elas é o egoísmo. Esse é o grande mal. A sociedade será justa, honesta, solidária, harmônica, fraterna, diligente, produtiva, próspera e feliz se as pessoas se tornarem altruístas. Colaboradoras em vez de competidoras, generosas em vez de gananciosas, laboriosas em vez de preguiçosas. Enfim: um por todos e todos por um. É importante saber que o bem estar de cada um só existirá no contexto do bem estar de todos. Não se pode querer o sucesso pessoal em detrimento do bem geral. Ao final das contas, isso reverterá em prejuízo para a própria pessoa egoísta.

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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Professor, a relação mapa-território não acaba sendo um regresso ad infinitum? A questão de que um mapa não é o próprio território acaba por relativizar ad infinitum a proposição. O que o senhor acha?

Não vejo assim. Mapear é fazer uma aplicação injetora de uma região concreta do Universo (que você está chamando de território) em uma representação pictórica dela (em papel ou em tela), dentro de uma escala e com ênfase em alguma característica que se deseje visualizar. Outro mapa é outra aplicação, com outra escala. Certamente que se pode fazer um mapeamento de um mapa em outro mapa, mas isto não significa regressão infinita. Isto se aplica a mapas geográficos bem como a plantas de edificações, de máquinas, modelos de organismos, mobiliário, peças de vestuário etc. O importante é a preservação da vizinhança e da similaridade, mesmo que não se preserve relações de distâncias e ângulos. O que não pode haver é relações plurívocas, exceto nos cortes. Cada ponto do objeto real mapeado (mundo, céu, edificação, mecanismo, organismo etc) tem que corresponder a um só ponto do mapa, segundo uma regra de projeção, de tal forma que preserve também a noção de vizinhança e similaridade.

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O ensino de religião deve ser aplicado em escolas publicas?

Sim, e deve, nas públicas e privadas, mas não precisa haver uma disciplina especial para isto. Em Filosofia pode-se estudar o problema da existência ou não de Deus e em Sociologia o fenômeno religião, antropologicamente, em História, historicamente e em Geografia, geograficamente. Sempre de modo a não fazer proselitismo de nenhuma delas, apresentando as propostas, doutrinas, estruturas, organização, liturgias, história, distribuição geográfica e demográfica e tudo o mais de todas elas, bem como suas inconsistências e defeitos, mas também suas qualidades: Catolicismo, ortodoxismo, protestantismo, pentecostalismo, espiritismo, islamismo, judaísmo, budismo, hinduísmo, siquismo, zoroastrismo, xintoísmo, umbandismo, candomblé, paganismo, egiptismo e todas as demais. Apresentando, também, as concepções gnósticas, agnósticas, ateístas, deístas, panteístas e panenteístas, além da teísta. Desta forma o aluno pode escolher conscientemente que religião prefira professar, ou nenhuma.

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Dia do Orgulho Hétero: preconceito ou orgulho? Comente, por favor.

Grande bobeira. Primeiro que esse negócio de dia do orgulho do que quer que seja é uma grandíssima idiotice. Segundo que os heterossexuais não são objeto de preconceito nenhum para precisar de um dia. Orgulho negro, orgulho branco, orgulho ateu, dia da mulher, dia do homem. Prá que isso? Todos os dias são dias de todo mundo. Basta que todos sejam aceitos por serem o que são e respeitados dentro da pluralidade de condições humanas.

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terça-feira, 2 de agosto de 2011

Tudo que passa a existir tem uma condição? Se substituirmos "causa" por "condição", no Argumento Cosmológico Kalam, ele passa a ser sólido?

O argumento Kalam se refere à impossibilidade de que o tempo seja infinito para o passado. A partir disso, os defensores do argumento cosmológico dizem que o Universo não pode ter sempre existido, pois não há como ele existir sem que exista tempo. A falha do argumento Kalam é que ele confunde dois conceitos: o de ter começado a existir há um tempo infinito no passado e o de sempre ter existido. O primeiro é, de fato, impossível e é isso que o argumento Kalam mostra, dizendo que, se assim o fosse, o presente ainda não teria chegado, já que demandaria um tempo infinito para chegar. Corretíssimo. Mas nada impede que tenha sempre existido, sem ter tido nenhum início. Topologicamente é a diferença entre uma reta e uma semi-reta. O argumento Kalam considera o tempo uma semi-reta com a origem infinitamente distante. Isto é impossível. Mas o tempo poderia ser uma reta, sem origem. Isto não é impossível e nem impede a existência do presente. Não estou dizendo que, de fato, seja assim, mas que poderia ser sido assim. Então o Universo também poderia ter sempre existido. Há teorias que consideram que o tempo sempre existiu, bem como o espaço vazio, mas que o Big Bang foi apenas o surgimento do conteúdo do Universo. Eu considero, como a maioria dos cosmologistas, que o tempo e o espaço se originam do conteúdo do Universo e de sua dinâmica, não existindo tempo nem espaço sem Universo. E que os dados observacionais apontam para um momento em que todos surgiram. Certamente, antes desse surgimento não havia nada do que tudo provir. Em verdade nem havia "antes". Esse evento singular e único difere de todos os outros no fato de que, não havendo nada (não confundir com "havendo o nada"), não há leis nem princípios descritivos do comportamento de coisa alguma, nem leis de conservação, nem uma lei que diga que todo evento só ocorra preenchidas as condições para que se dê. Nada seria então proibido e tudo seria permitido, podendo ter surgido qualquer tipo de Universo ou não ter surgido nenhum. O meu entendimento de multiversos é, justamente, uma multiplicidade de possibilidades. Uma vez que aconteceu de ter surgido este em que vivemos, as outras foram abortadas.

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Recentemente, fiz-lhe uma pergunta, em relação a evolução biológica dos diferentes grupos ètnicos humanos, como necessidade de sobrevivência a determinados ambientes assim adaptando-se a ele. Professor ficaste de estudar o assunto, já tens uma resposta?

Desculpe-me, mas me esqueci. É que chegam-me dezenas de perguntas por dia e eu não dou conta de responder a todas. Então, algumas vão ficando para baixo. De vez em quando tenho que fazer uma revisitada nas antigas. Só que há 975 na fila, além das 3291 que já respondi, fora centenas de perguntas idiotas que descartei. Vou procurá-la, estudar o assunto e responder. Prometo-lhe.

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Professor, sobre o panteísmo: é somente uma crença ou pode ser considerado religião? Tende ao ateísmo, teísmo ou ao deísmo?

Não existe como religião, mas como crença. Não tende a nenhuma das três possibilidades mencionadas, pois identifica Deus com o próprio Universo, sendo, portanto, imanente e impessoal. O Deus teísta e o deísta são transcendentes, mas o primeiro é pessoal e provedor, enquanto o segundo não. Existe, ainda, o panenteísmo, que considera Deus tanto imanente quanto transcendente, como é o caso de Brahman (não confundir com Brahma), na mitologia hinduísta.

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Se (de alguma forma) chegassemos ao nosso horizonte cosmico, veriamos mais espaço ainda? Se o espaço fosse finito, e chegassemos no limite (se é que tem um) do universo, qual o seu palpite de como seja?

Quer o espaço seja finito, quer seja infinito, não possui limite. Assim não é possível chegar à borda do espaço. Se ele for finito, necessariamente seria curvo e, se se avançasse sempre adiante, chegar-se-ia ao ponto de partida, vindo por trás. Não exatamente, pois, enquanto isso, o espaço iria se expandindo. Em duas dimensões, é como uma formiga que estivesse na superfície de um balão esférico sendo enchido. Ela nunca encontraria a fronteira do balão e ficaria sempre rodando em volta. Imagine isso em três dimensões. Se for infinito, ou é plano ou negativamente curvo, como uma sela de cavalo. De qualquer modo, estende-se indefinidamente, e aí é que não tem borda mesmo.

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Suponha que tivesse todo tipo de comida a sua disposição (de graça). Entretanto para todo animal que quiser comer, vc teria de matar com suas proprias mãos, vc mataria um animal para comer?

Se eu tivesse vegetais para comer, não mataria animais, mas se só tivesse animais, sim, eu mataria, preferencialmente peixes. Mas, certamente, não haveria animais se não houvesse vegetais.

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Se tivesse descoberto a partir de agora nesse momento que tem uma doença fatal e só tem mais 24h de vida? o que vc faria nas suas ultimas 24h?

Passaria instruções a respeito de tudo o que estivesse pendente em minha vida para que minha morte não causasse estorvo para ninguém. Por exemplo, minhas senhas de computador e de banco, para quem eu estou devendo, tudo o que precisasse ser resolvido, já que eu teria um tempo para isso. Isto feito, ligaria para meus parentes e amigos despedindo-me. Não precisaria fazer as pazes com ninguém porque não tenho ninguém com quem esteja de mal.

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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Muitas pessoas confundem a condição (possibilidade) de um evento ocorrer com a sua causa (caso exista), supondo assim, que tudo possue uma causa. Poderia diferenciar as duas coisas dando exemplos?

Esta confusão é comum e é mister distinguir. Condição para a ocorrência de um evento é uma situação do sistema que vai experimentá-lo que permite a sua ocorrência, sem a qual ela não pode se dar, enquanto a causa é outro evento cuja ocorrência determina, de modo inescapável o evento em questão, denominado, então, efeito da causa. Nenhum evento experimentado por nenhum sistema é possível sem que as condições de sua ocorrência estejam preenchidas. Condições não são eventos, mas situações, isto é, condições que a configuração e o estado do sistema possuam. Mas um evento pode se dar de forma espontânea ou fortuita, isto é, sem que tenha havido outro evento que o provoque. É o que se chama de ocorrência casual, aleatória ou ao acaso, em oposição à ocorrência causal ou determinística. Há, contudo, uma diferença entre determinismo e causalidade. O primeiro conceito se refere a que determinados eventos determinam a ocorrência de outros, enquanto o segundo se referem a que determinados eventos requerem a ocorrência de outros. Um evento pode determinar a ocorrência de outro que não requeira causa e um evento que requeira causa pode ser causado por um elenco de variáveis eventos. Note, também, que causa e efeito são sempre eventos e não entidades. Não existe uma causa do Universo mas poderia haver uma causa para o evento da passagem da inexistência do Universo para sua existência. Veja alguns exemplos:
Causa - chuva, efeito - enchente (note que a chuva nem sempre determina uma enchente e uma enchente pode ser causada por outros eventos que não a chuva, como a ruptura da barragem de uma represa). Além do mais o efeito chuva pode causar um série de eventos diferentes de enchentes, mas uma enchente é um efeito que sempre requer uma causa, seja qual for.
Evento - decaimento radioativo, condição - núcleo instável. Um núcleo estável jamais será radioativo, mas a emissão de radiação é fortuita, não requerendo causa nenhuma, podendo nem ocorrer, mesmo com o núcleo instável.

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É verdade que o vidro é líquido? Não consigo digerir esse conceito, explique melhor.

Sim e não, dependendo do que você define como sólido e como líquido. O vidro é considerado líquido por não possuir uma estrutura molecular ou atômica cristalina e sim amorfa. Desse modo suas moléculas podem rolar umas sobre as outras, como num líquido, não tendo uma localização definida como num verdadeiro sólido. E isto, de fato, ocorre, só que muito lentamente. Nos vitrais das catedrais góticas, colocados no lugar em que estão há mais de 800 anos, observa-se que todos possuem sempre a parte inferior mais espessa que a superior. Isto seria explicado pelo fato das moléculas terem "escorrido", para baixo, pela ação da gravidade, o que nunca ocorreria em um sólido verdadeiro. Contudo, há controvérsias. Por outro lado ele se apresenta como sólido, por suas características de solidez, ao manuseio normal. A questão é que o escoamento de suas moléculas é extremamente lento, fato caracterizado pela grandeza "viscosidade", que é imensa para o vidro, mas que diminui com o aumento da temperatura. Quando se aquece o vidro ele vai ficando gradativamente mais mole, isto é, menos viscoso. Um sólido não amolece com o aquecimento, mas permanece sólido até a temperatura de fusão, quando, então, de sua superfície, já escorre o material liquefeito. Um líquido super viscoso, também chamado de sólido amorfo, não tem temperatura de fusão. Além do vidro, o lacre, o piche e certos plásticos também são sólidos amorfos (ou líquidos superviscosos).
Para um bom apanhado sobre o assunto veja este artigo:
http://math.ucr.edu/home/baez/physics/General/Glass/glass.html

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domingo, 31 de julho de 2011

Um raio, quando acerta um para-raios produz o mesmo estrondo de quando descarrega na terra?

A finalidade do para-raios é, justamente, evitar que raios se produzam, pois suas pontas, ao concentrarem as cargas induzidas, dispersam-nas na atmosfera, propiciando uma descarga sem que o raio se forme. Mas, às vezes, a ionização é tão grande que o raio se forma mesmo assim, neste caso atingindo preferencialmente o para-raios. Então o estrondo será produzido, pois ele se deve à onda de expansão súbita que o aquecimento da atmosfera no trajeto do raio produz. A temperatura de um raio chega a dezenas de milhares de graus célsius (ou kelvins). Um raio pode ter o sentido da nuvem para a terra, da terra para a nuvem ou de nuvem para nuvem. É interessante ler este artigo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Raio_(meteorologia)

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Já li que 1% da estática da Tv, quando esta está "fora do ar", teve origem no Big Bang. Como saber se a radição é mesmo proveniente do Big Bang?

Esta descoberta foi feita por Penzias e Wilson ao testar antenas de microondas para comunicação com satélites em 1964 para os Bell Laboratories. A conclusão foi tirada a partir da eliminação de todos os fatores possíveis e, mesmo assim, persistir a recepção de forma homogênea e isotrópica. Na televisão tem também o "ruido Johnson" devido à temperatura do circuito eletrônico, mas, mesmo a muito baixas temperaturas, ainda se detecta o ruído cósmico, independente da orientação da antena. Trata-se da "radiação de fundo", que preenche o Universo por todos os lados e é remanescente, não do Big Bang, mas do desacoplamento, que se deu 380 mil anos depois do Big Bang, quando a densidade de energia caiu a menos de 3000 kelvins e os processos de surgimento e aniquilação de pares de partícula e antipartícula cessaram, deixando o Universo transparente e com essa radiação remanescente, na proporção de um bilhão de fótons para cada bárion (próton ou nêutron) existente.

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Qual cientista, seja ele de qualquer época e área, você gostaria de conhecer?

Albert Einstein, sem dúvida. A seguir, Richard Feynmann, todos físicos. Dos atuais, gostaria de conhecer o neurologista António Damásio. Conheci pessoalmente alguns físicos brasileiros importantes, como César Lattes, Leite Lopes (fui aluno dele), Jaime Tiomno (participou de minha defesa de tese), Mário Novello (meu orientador) e outros, como o argentino J.J. Giambiaggi e o venerável Guido Beck. Sinto não ter conhecido o Schenberg nem o Sweica.

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Como é sua relação pessoal com os animais?

Gosto muito. Adoro mesmo. Sempre tive cachorros. Atualmente aqui em casa tem um cão e cinco cadelas, uma das quais pariu nove cãezinhos há um mês. Todos vira-latas, recolhidos das ruas e que passamos a cuidar. Tem também dois gatos. Além disso, no jardim temos um laguinho de peixes e uma fonte e um comedouro para os passarinhos livres que vivem fazendo ninhos em nossas árvores. Meu filho e uma de minhas enteadas são veterinários. Em criança sempre tinha cachorros no quintal, além de um periquito maracanã (jandaia). Isto na época em que não havia proibição de se criar animais silvestres em casa. Meu pai criava passarinhos, mas eu os prefiro soltos. Não gosto nem de matar ratos. Gosto de brincar com os bichos, e ficar lendo na varanda com algum cachorro aos pés que, volta e meia, acaricio. É muito reconfortante e pacificador. Não tolero ver pessoas maltratando animais. Mas não gosto de fazendas nem da vida rural. Sou citadino, mas não gosto de apartamento e sim de casa com jardim e quintal, para ter animais soltos, árvores frutíferas, horta e plantas medicinais. Em bairro sossegado de cidade do interior, mas não muito pequena que não tenha recursos nem vida cultural. Viçosa, felizmente, por causa da universidade tem balé, orquestra, companhia de teatro, cinema, shows bons (de jazz, bossa nova, MPB e não só sertanejo e rock). Mas também gosto de rock, dependendo da banda e do sertanejo de raiz (caipira mesmo). Mas ouço mais é música clássica. Agora, por exemplo, estou ouvindo quartetos de cordas de Mozart. Aqui tem uma boa livraria e a biblioteca da Universidade é grande e franqueada ao povo. Há galerias de arte que sempre estão trazendo artistas de fora, além dos locais (incluindo eu). Cidade grande eu gosto para ir visitar, assistir ópera, fazer compras, participar de congressos ou visitar museus. Para morar não. Já morei no Rio de Janeiro (aliás, nasci lá) e já fui muito a São Paulo e Belo Horizonte. Mas não gosto, principalmente do sentimento de apreensão de ser assaltado, atropelado e coisas assim.

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A comprovação da existência do bóson de higgs mudaria o que na atual concepção que temos do universo?

A comprovação confirmaria o modelo padrão que se aceita atualmente. A não comprovação não o derrubaria, pois pode ser que a energia ainda não tenha sido suficiente. Não estou falando da teoria das supercordas ou das branas, ainda especulativas, mas do modelo padrão da física de partículas, que inclui os quarks, glúons, léptons, neutrinos, fótons etc. Veja:
http://en.wikipedia.org/wiki/Standard_Model
http://en.wikipedia.org/wiki/Higgs_boson
http://en.wikipedia.org/wiki/Higgs_mechanism
http://en.wikipedia.org/wiki/Large_Hadron_Collider

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na física ou na química existem mais chances no mercado de trabalho atual? para alguém quer mora em Florianópolis, qual das duas áreas, em sua opinião, pode dar um "futuro" melhor?

O que você chama de "futuro"? Retorno financeiro ou vida feliz e realizada? Como eu nunca me preocupo com a parte financeira, o que eu recomendo é que você faça o que você gosta. Aquilo por que você é fissurado, ganhe muito ou não. Assim você será feliz, mesmo que fique pobre. A não ser que sua felicidade seja apenas ser rico, não importa o que faça para isso. Nesse caso, não sei responder. Posso dizer que há mais emprego para químicos do que para físicos, pois química é mais prática e aplicada em muitos setores industriais. Físico, no Brasil, trabalha em Universidades e Institutos de Pesquisa, pois só grandes indústrias contratam físicos para seus setores de pesquisa e desenvolvimento. Mas há, principalmente as que mexem com projetos de circuitos eletrônicos (chips), desenvolvimento de materiais para muitas finalidades, como fabricação de baterias de celulares, por exemplo. Ou de equipamentos médicos de ponta, como tomógrafos e outros assim. Em tudo, porém, você tem que ser destacado. O estudante comum, que não fica entre os melhores da turma, tem menos chance de vencer concursos. E se ligue em atividades como monitoria, iniciação científica ou similares. Isto é ótimo, além de enriquecer o currículo. O mais importante é uma grande dedicação e entusiasmo pelo conhecimento. Isto é que faz a diferença. Ir além. Não se ater só ao que é pedido. E aposente a preguiça.

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O que vc achou da arquidiocese do Rio de Janeiro pedir indenização aos realizadores do filme 2012 por terem destruido a estatua do Cristo redentor? Dessa grande injustiça que fizeram conosco? <http://www.youtube.com/watch?v=f_A1-sCSWWQ>

Um disparate e um testemunho de suprema ignorância e burrice. O filme é ficção. Relata uma ocorrência em que se tem a destruição não só do Cristo Redentor mas de inúmeros monumentos pelo mundo todo. Não tem nada de desrespeito a nenhuma religião. É ficção. Só isso. Pretender indenização por isso seria considerar que se tem que pedir indenização por toda obra de arte, musical, plástica, literária ou outra, que faça alguma referência negativa a qualquer religião ou mesmo a outras convicções que se tenha, até mesmo ao time de futebol que se torça. O cúmulo da visão antolhada.

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Se tivesse num avião em chamas que está caindo.Vc não iria rezar para Deus?

Acho que não, mas não posso garantir, pois a situação não se apresentou ainda. Se eu tivesse sido criado como ateu desde criança, a existência de Deus nem seria um dado na minha memória. Mas como fui criado na crença em Deus e depois a rejeitei, isto é algo que existe em minha mente e não sei se pode vir a ser ativado em uma situação extrema. Racionalmente estou seguro de que Deus não existe e, portanto, não há motivo para se rezar em circunstância nenhuma.

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O que acham da divulgação científica através das mídias sociais? Tem futuro, ou é tiro na água?

Sim, tem futuro e é uma ótima coisa. Quanto mais ciência se passar para as pessoas melhor. A ignorância científica é um grande mal e, infelizmente, grassa barbaramente na população. Mas é preciso aperfeiçoar o processo de divulgação científica. Ainda se fala muita coisa de modo incorreto, o que é, às vezes, mais perigoso do que a ignorância, porque a pessoa aprende errado, mas acha que aprendeu certo pela autoridade que a mídia confere. De qualquer modo está melhorando, principalmente nos canais por assinatura de documentários, como o NatGeo, o Futura, a TVE, a TV Cultura, o Discovery, o Animal Planet e o History. Neste último eu tenho deplorado os documentários sobre OVNIs, que são tendenciosos e falaciosos. Muitos canais abertos estão transmitindo documentários científicos. Isto tudo é muito bom.

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Tudo que passa a existir tem uma causa?

Não. Primeiro que causa não é um atributo de entidades e sim de eventos. O que pode ter causa não é aquilo que passa a existir mas o evento da passagem da inexistência para a existência. Pode ter, mas não precisa ter. Causa não é uma exigência necessária para todo evento. Isto é, nem todo evento é um efeito. É claro que todo efeito tem uma causa, pois efeito, por definição, é um evento que tem causa. Mas pode ter evento que não tenha. Aliás, a maioria não tem. Se pensarmos que todo evento pode ser considerado como resultante de pequenos eventos experimentados por cada partícula subatômica da matéria ou pelos fótons das radiações, observa-se que a maioria deles, nesse nível, é inteiramente fortuita, isto é, incausada. Nos sistemas de muitas partículas, as ocorrências globais são descritas pela lei dos grandes números das probabilidades, o que faz concentrar a probabilidade de ocorrência de forma a se ter uma descrição causal e determinista. Como as pessoas, antes de conhecerem os eventos em nível subatômico, observavam a existência de causa para quase todos os eventos macroscópicos, por indução, concluíram que assim o era em todos os casos. Mas a indução não é nunca garantida, de modo que o comportamento quântico forneceu miríades de contraexemplos que mostram a não necessidade de causação na ocorrência de eventos.

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Professor, já sofresse bullying?

Não. Em minha época de estudante isto era mais raro, mas havia também. Só que eu, apesar de "nerd", sabia me impor de forma que ninguém se atrevia a me desafiar. E isto sem uso de força nem ameaças de delação ou coisa que o valha. Acho que meus colegas e amigos realmente respeitavam meu modo de ser, pois sempre fui muito solidário e amigo. Só não fazia bagunça. Em minha época eu era chamado de "Caxias" ou "CDF". Jamais me preocupei em ser igual a todo mundo ou em agradar a quem quer que seja. Sempre na minha, como se diz. Em minha formatura no ginásio fui o único a ser aplaudido de pé pela turma toda. Isto é motivo de orgulho para mim, pois mostra que quando se tem princípios e personalidade forte se é admirado, mesmo que não agrade a todos.

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Na epoca da graduação vc teve algum colega-rival que disputava pelas melhores notas?

Sim, dois. Maria José e Cesário. Maria José era "hors concours", pois tinha um QI beirando a 180 e já era professora de Matemática. Eu e Cesário ficávamos em segundo lugar (do infantil ao ensino médio eu fora sempre o primeiro da turma em todas as matérias). Enquanto eu sempre fui mais teórico e quase não fazia exercícios, Cesário resolvia centenas deles. Mas eu preferia dispender o tempo filosofando e estudando outras coisas, como história, religião, astronomia, música, pintura ou ler poesia e literatura. Matemática e Física, que eram as matérias curriculares, eu aprendia de prestar atenção na aula e metralhar o professor de perguntas. Depois era só rever a teoria que qualquer problema que aparecesse eu resolvia. Nunca achei necessário fazer exercícios. Bastava estudar a teoria. Em geral eu acabava me saindo melhor do que o Cesário, que também era um excelente matemático. Comecei a lecionar Física e Matemática já no primeiro ano da graduação e sempre me preocupei mais com o aspecto conceitual do que com o prático. E usava, como ainda uso, o método maiêutico da redescoberta, fazendo o aluno descobrir por sua conta o que eu queria ensinar. Professor, além de ser afiado na matéria que leciona, tem que ter lógica, dialética, retórica e maiêutica, além de empatia e um verdadeiro deslumbramento pelo conhecimento e amor entranhado pela educação e pelos alunos. Despertar neles a vontade de saber é o maior desafio. Quem aprende a gostar de estudar fara disto um enorme prazer e preferirá estudar do que muitos outros lazeres.

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