sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Físico e não-físico. Eis uma dicotomia fisicalista. No não-físico estão os conceitos (abstrações da mente) para explicar as coisas. Mas a "realidade concreta", que você comentou, é um playground teológico: mente nenhuma ou mente inteligente (Deus)?

A questão das categorias de realidades não é simples. Denomino "Realidade Concreta" à dos seres que têm existência independente de mentes que os concebam. Note que "concreto" não está significando material, mas independente de qualquer mente, ou seja, em si mesmo. Isto supõe que exista um mundo objetivo fora das mentes, o que não pode ser provado, mas pode ser aceito, pela grande plausibilidade. Nesta categoria encontram-se os seres: naturais ou físicos, tanto vivos quanto inanimados, e os sobrenaturais, se existirem, o que não considero. Mas não se incluem entidades puramente conceituais, cuja existência só se encontra nas mentes que as concebam, mesmo que haja um consenso entre mentes com relação a seu conceito, uma vez que elas não existiriam se não houver pelo menos uma mente a concebê-las.
A categoria das ideias é outra realidade. Tratam-se de entidades concebidas pelas mentes, podendo ou não ter existência objetiva na realidade concreta. Inclui também, além de entes, valores, ações, juízos, qualidades, modos, sentimentos, emoções, normas, leis e outras abstrações, como números, figuras geométricas, notas musicais, cores e assim por diante. Uma idéia só existe em um sujeito pensante.
Se uma ideia for compartilhada, com o mesmo significado, por uma coletividade de mentes, ela adquire uma objetividade não concreta, constituindo-se em outras categorias de realidades, como as deontológicas (dos valores, como bondade, beleza, preço etc.), as abstrações puras, como os números, figuras geométricas, notas musicais, elementos químicos e outras generalizações, como matéria, radiação, campo de força, sociedade, países, nações, leis, normas...
A noção mais genérica possível é a de "algo", que abrange tudo o que possa ser concebido. Já "ente" é algo que possa ter uma realidade substancial ou institucional, isto é, que seja feito de algum constituinte, material ou não, ou ainda alguma espécie de estrutura ou organização coletiva. Ser, no meu entendimento, é o ente que, de fato, existe concretamente no mundo físico ou sobrenatural. Valores, ações, juízos, qualidades, modos, sentimentos, emoções, normas não são entes. Coisa é um ente substancial desprovido de mente e objeto é um ser substancial com extensão espacial. Uma coisa pode não existir mas um objeto sempre existe.
Quanto à mente, trata-se de uma ocorrência advinda do funcionamento do sistema nervoso, especialmente do cérebro, mas também do sistema endócrino, dos órgãos dos sentidos, das vísceras e de todo o organismo. Dentre os atributos da mente podem-se citar a memória, a inteligência, a associação, o raciocínio, as emoções, os sentimentos, a imaginação, a volição, a consciência, o juizo e outros. O indivíduo vivo possuidor de uma mente também terá características idiossincráticas associadas à mente, como sensciência, percepção e temperamento, configurando-se em um sujeito. Se, além disto ele tiver consciência, personalidade e caráter, tratar-se-á de uma pessoa. Toda mente é propriedade exclusiva de um sujeito ou uma pessoa, que são indivíduos, mas nem todo indivíduo é um sujeito e nem todo sujeito é uma pessoa. Não existe mente coletiva trans-subjetiva, isto é, compartilhada por vários sujeitos ou pessoas. Tampouco nenhum tipo de “consciência cósmica”. Se houver Deus e se tratar de uma pessoa, terá uma mente que lhe será própria e exclusiva.
A concepção de que a realidade concreta seja uma projeção da realidade das ideias de alguma mente, ou da mente divina não procede. As ideias é que são geradas pelas impressões que os seres reais causam na mente. A partir delas pode a mente gestar novas concepções, por associação, não correspondentes a nada do mundo exterior. Assim a objetividade de alguma ideia é um produto da comunicação entre mentes, por meio de linguagens. Mas elas não têm existência por si mesmas.

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Agradeço sua resposta sobre Arte. Talvez eu esteja sendo redundante, mas o meu problema é relativo ao macaco e universalização(dúvidas de diletante). No que concerne ao macaco, o processo criador. No que é referente a universalização, a apreciação.

Esta é a questão dos dois pontos de vista da arte: do produtor e do apreciador. Note que arte é um produto artificial e não algo engendrado espontaneamente pela natureza. Do ponto de vista do produtor, isto é, do artista, é preciso haver a intenção artística ao elaborar a obra de arte, o que não acontece com o quadro pintado pelo macaco, que, por este ponto de vista, não é arte. Contudo, do ponto de vista do apreciador, arte é algo produzido artificialmente que provoque um prazer estético em sua apreciação, isto é, que produza sentimentos de admiração e de agrado na contemplação. Este agrado pode ser sensorial ou intelectual. Neste caso a obra do macaco pode ser artística. Todavia uma paisagem natural, por mais bela e agradável que seja, não é artística, pois não é um produto artificial. Assim também, um objeto puramente utilitário, como um automóvel, mesmo que produzido sem intenção artística, pode constituir-se em uma obra de arte. É claro que um objeto utilitário também pode ter tido uma intenção artística em sua elaboração. Mas a arte, em si mesma, não tem intenção utilitária nem tampouco a de comunicar alguma mensagem ideológica ou ética, mesmo que assim o faça, mas este não é o seu caráter estético. Uma obra que comunique uma mensagem eticamente negativa pode ser esteticamente positiva.

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Como surgiu a vida? O senhor poderia me explicar a abiogênese? Ainda não entendi como ela ocorreu!

Trata-se de uma hipótese não comprovada, mas extremamente plausível. Veja estes artigos:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Origem_da_vida ;
http://pt.wikipedia.org/wiki/Abiog%C3%AAnese .
Ou, melhor:
http://en.wikipedia.org/wiki/Abiogenesis .

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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Deixa eu ver se eu entendi: o Big Crunch seria a deformação do espaço-tempo (devido à gravidade exercida por um agregado imenso de matéria) até ele se contrair sobre si mesmo?

Exatamente: Veja isto:
http://en.wikipedia.org/wiki/Big_Crunch

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Por que se diz que a expansão não terá limite? O universo é finito e a energia contida nele também... E se ele se expandir muito, ficará com a energia tão dispersa que se estagnará, não?

Não se sabe se o Universo é finito ou infinito. Provavelmente seja infinito, segundo os dados mais recentes. De qualquer modo, realmente, se a expansão for indefinida, haverá um momento em que todos os sistemas estarão em seu nível mais baixo de energia e a entropia global terá atingido seu máximo valor. A partir daí nenhuma alteração do estado do Universo poderá ocorrer e o tempo deixará de passar. Isto é a "Morte Térmica" do Universo, que seria atingida assintoticamente num prazo de alguns trilhões de anos. Veja este artigo e seus links:
http://en.wikipedia.org/wiki/Ultimate_fate_of_the_universe

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suicidio é a solução?

Pode ser, num caso extremíssimo. Para uma pessoa filosófica que viva uma síntese polialética estoico-epícuro-cínico-hedonista, é sempre possível libertar-se de tudo e começar do zero, mesmo que se esteja preso ou doente. Se se atinge um estágio de iluminação e paz, nada pode perturbar, nem a pobreza, nem o desprezo. Todavia há situações de extrema dor, sem possibilidade de reversão, que podem levar a concluir-se pelo suicídio como solução preferível, e, então, que se o faça. Mas, repito, só depois de uma profunda ponderação e estudo de outras possibilidades. Pois a morte é irreversível e um suicídio eficaz leva à morte. O que é abjeto é a "tentativa de suicídio" propositalmente levada a cabo para ser ineficaz, a fim de provocar piedade e compaixão. Se se pretende suicidar, que se o faça bem feito. Contudo não recomendo, mesmo em casos de gravíssimos estados de falência econômica, afetiva ou existencial. É preferível ser preso ou abandonado pelos entes queridos e amigos. Nestes casos ainda é possível reerguer-se das cinzas e começar nova vida do zero.

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Qual o critério da evolução? E qual é o objetivo máximo dela?

Veja esta resposta:
http://www.formspring.me/wolfedler/q/1038401640

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por que a maioria das pessoas respondem "sei lá"?

Porque têm preguiça mental de pensar a resposta e porque não são continuamente observadoras da realidade e nem estudiosas, para terem uma bagagem de conhecimentos teóricos e vivenciais para poder dar uma resposta adequada. Ou então, se souberem, porque não querem se comprometer e assumir posturas condizentes com suas concepções, para que isto não seja motivo de incômodos ou prejuízos. Em suma, são ignorantes, mentecaptas, inseguras ou pusilânimes.

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quem veio primeiro, o ovo ou a gainha?

Veja esta resposta:
http://www.formspring.me/wolfedler/q/1000865773

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Tem quem aposte na teoria das cordas, associando com o principio da genese. Você é humanista secular? Ah Ernesto, muito obrigado pelas respostas.

Tenho reservas em relação à teoria das cordas, das branas e a teoria M. Acho que o Universo é mesmo único e não existe unificação das interações com a gravitação que é só um efeito da curvatura e torção do espaço-tempo, não sendo interação. Posso estar enganado, contudo.

Considero-me, sim, um livre pensador humanista secular. Contudo, sou arredio a qualquer rotulação, pois posso discordar de alguma característica desta ou daquela posição. Tendo isto em vista, posso dizer que, além disso, sou cético, ateísta, anarquista, empirista, fisicalista (antigamente chamado de materialista), cínico (no sentido grego), estóico-epicurista (dialeticamente sintetizado). Tenho uma proposta filosófica que posso chamar de "Filosofia Científica" em que os temas filosóficos seriam tratados por métodos científicos.

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É possível o espaço-tempo se retrair? Algo que seria como o inverso do Big Bang?

Sim, é possível, claro. Do mesmo modo que há uma expansão, pode haver uma contração. São soluções da Equação de Einstein para o Universo. Só não pode ser estacionário, exceto se houver outros ingredientes, como o surgimento uniforme e constante de conteúdo substancial (matéria, radiação e campos), ou a presença de outro campo encurvador da geometria, além da gravitação, como seria o caso da impropriamente denominada "Energia Escura". Uma das soluções da Equação de Einstein, sem energia escura, é a de um Universo que oscila em ciclos entre um Big Bang e um Big Crunsh. Isto depende dos valores da velocidade da expansão e da densidade de massa-energia, que provoca o freiamento. Recentes medidas, contudo, indicam que a expansão não terá limite.

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Se vc concorda com Socrates que os sentidos nos confundem e não nos garantem a verdade, como então querer aferir a existencia (ou não) do sobrenatural por meio deles?

O sobrenatural não é evidente nem percebido diretamente pelos sentidos. Nem pelo critério de objetividade como subjetividades concordantes. Assim, a hipótese apriorística é de que não exista. Isto não significa que não exista, mas que só se possa garantir sua existência por comprovações indiretas, com base em raciocínios que se fundamentem em evidências sensoriais devidamente comprovadas pelo cotejo entre vários sujeitos e depuradas por uma analise criteriosa de possíveis ilusões sensoriais. É preciso buscar alguma ocorrência cuja explicação só possa ser feita considerando a existência do sobrenatural e, então, fazer o teste de sua validade. Não me consta que exista nenhum caso desse tipo. Toda e qualquer ocorrência pode ser atribuída a fatos naturais, quando não são fraudes descaradas. Mesmo que não se tenha uma explicação cabal, não se tem caso nenhum que exclua a possibilidade de explicação natural ainda não achada, isto é, que só admita explicação sobrenatural. Se houver, quero ter conhecimento para me inteirar dos relatos dos experimentos realizados para contestar sua explicação sobrenatural que foram rechaçados. Note-se que explicações fantásticas requerem comprovações fantásticas. Quando digo que os sentidos podem enganar, digo que isto se dá para cada pessoa. No cotejo de várias e na depuração criteriosa das possíveis ilusões, pode-se tirar uma validação da veritabilidade por evidência.

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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Qual é a coisa para a qual você é realmente bom?

Academicamente: Física e Matemática. A partir daí, em ordem decrescente, acho que sou razoavelmente bom em Português, Filosofia, Cosmologia, Desenho, Pintura, Informática, Música, Religião, Didática, Retórica, Dialética e História. Também tenho algum conhecimento de Geografia, Astronomia, Geologia, Psicologia, Biologia, Engenharia, Arquitetura, Cinema e Química. Não entendo quase nada de Direito, Medicina, Administração, Economia, Negócios, Dança e Esportes. Quanto a idiomas, tenho um bom conhecimento de Inglês, mais ou menos de Francês e um pouco de Italiano e Espanhol. Apesar de minha ancestralidade austríaca, não sei alemão.

Também escrevo bem ensaios, crônicas e poesias e pinto quadros. Canto no estílo lírico, toco um pouco de piano e componho música para piano razoavelmente.

Quanto a conhecimentos práticos, dou conta de serviços de eletricidade, hidráulica, marcenaria e um pouco de jardinagem. Mas não sei cozinhar, costurar nem tricotar.

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A visão e a audição asseguram aos homens alguma verdade?

Nenhum sentido é capaz de garantir que o que se percebe seja o que aquilo é em si mesmo. Em verdade isto é algo sem definição precisa e, até, impossível de se saber. Tudo o que se tem de informação do mundo é o que os sentidos apreendem e o que a razão conclui. Por exemplo, posso dizer que estou vendo uma bola à minha frente, que ela é vermelha, que é esférica, que está a dois metros de mim, que tem 20 centímetros de diâmetro, que é de borracha, cheia de ar e assim por diante. Mas posso dizer que se trata de um conglomerado de quarks e léptons de certa forma dispostos que é capaz de absorver parte dos fótons que sobre ele incide e devolver outra parte que excita os cones de minha retina de uma forma que meu cérebro percebe como a cor vermelha e assim por diante. Qual dessas descrições é a realidade em si mesma? Ambas! Depende do nível epistemológico que se está considerando. Defina água! Dizer que é H2O é só uma parte do conceito. A textura, o frescor, o som do borbulho, os reflexos, as sensações que sua contemplação transmitem e muito mais fazem parte do entendimento do que seja água.

Além disso existem as ilusões de percepção, pois ela não se deve só ao que os sentidos captam, mas, principalmente, à interpretação que o cérebro faz, em razão de todas as vivências anteriores e dos conceitos que se tem. Quem acredita em fantasmas os vê em qualquer sombra e qualquer ruído. Objetividade, isto é, descrição independentes do sujeito, é algo difícil de se ter. O máximo que se pode chegar perto é quando se tem uma concordância entre impressões subjetivas.

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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Teria algum palpite para o "principio da genese"? Andei pensando em algo ciclico ultimamente, ou em um universo que sempre existiu. Claro que, apenas pensamentos, nada demais. Aposto que o "complexo" provem do simples. Digamos assim.

Para mim o Universo (espaço, tempo e conteúdo) surgiu no Big Bang sem ser proveniente de nada antecedente, sem causa, sem razão, sem propósito e sem planejamento. Não há como provar isto, contudo. Poderia ser cíclico, mas também não se tem dados para provar. O complexo vem do simples mesmo. A ordem localizada se dá às custas de uma desordem global maior.

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O maior problema que enfrento, nos alicerces dos debates sobre a existencia divina, tentando provar epistemologicamente, é a convicção absoluta que muitos teístas tem. Pocha vida, o que fazer?

Sim, apesar da pretensão de serem científicos, como o William Craig, partem do pressuposto da existência de Deus e, então, buscam prová-la, sem êxito, contudo. Penso que o grande problema para que aceitem partir da hipótese da não existência de Deus e, então, tentar prová-la, como deve ser feito, já que ela não é evidente, é o medo de ir para o inferno agindo assim, se as doutrinas em que crêem forem verdadeiras. A mudança da crença para a descrença é uma ruptura radical da cosmovisão que possuem e traz grande angústia enquanto não se resolve. O que se pode fazer é apresentar argumentos convincentes e esperar que façam efeito, sem pressionar nem ofender, respeitando toda crença, mesmo equivocada, pois tratam-se de pessoas a quem se deve consideração, exceto no caso dos que se locupletam com a fé alheia.

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A quantica apoia o ceticismo? Modestia parte, o ser humano é agnóstico por natureza, mas mesmo eu sendo fortiano, receio pelas falácias que perduram até hoje.

Ceticismo é uma postura metodológica científica geral, para qualquer ciência. Toda teoria é provisória. Sempre é preciso ficar testando se não aparece algum fato que a contradiga. Metodicamente cientistas refazem experimentos e elaboram novos para tentar derrubar as teorias. Procuram consequências teóricas que possam ser testadas experimentalmente para confirmar ou não a teoria. Isto é ceticismo. Faz parte do método científico e é um dos maiores valores da ciência. A Física quântica contém várias teorias, cada qual ainda válida em seu domínio de aplicabilidade: Mecânica Quântica não relativistica, Mecânica Quântica Relativistica, Eletrodinâmica Quântica, Ótica Quântica, Teoria da Matéria Condensada, Teoria Quântica de Campos, Cromodinâmica Quântica, Teoria da Grande Unificação, Teorias Supersimétricas e outras. Algumas ainda estão sob a forma de hipóteses, como a Teoria Quântica do Laço Gravitacional, a Teoria das Supercordas, a Teoria das p-branas e a Teoria M, entre outras.

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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Inteligente, intelectual, erudito, filósofo e sábio.



Antes de tudo devemos distinguir inteligência de conhecimento. Conhecimento é acúmulo de informação, certamente correlacionada e sistematizada. Inteligência é habilidade em aplicar o conhecimento na solução de problemas, práticos ou teóricos. A pessoa pode ser inteligente e ignorante ao mesmo tempo. Erudito é uma pessoa inteligente e de muito conhecimento, sendo, assim, capaz de argumentar, articular o pensamento, persuadir, expor uma idéia, desenvolver um raciocínio, sempre com grande embasamento. Mas o erudito pode não ser sábio.

Considero que intelectual não é apenas uma pessoa que domine vastos conhecimentos. Um médico, um engenheiro, um empresário podem dominar vastos conhecimentos sem serem intelectuais. O intelectual é aquele que tem conhecimentos mais teóricos e consegue correlacionar o saber de sua área específica com as demais áreas do conhecimento humano. O passo seguinte é ser um erudito, isto é, que domina seu campo de saber em profundidade e abrangência superlativas. Já o filósofo se caracteriza principalmente por ser uma pessoa que reflete e questiona. Normalmente ele deve ter conhecimento de filosofia e história da filosofia, e, portanto, ser um intelectual, mas não necessariamente. Alguem pode ser um filósofo sem que seja intelectual e nem todo intelectual será um filósofo. Uma característica do filósofo é seu amor e sua busca pelo saber e, mais que o saber, pela sabedoria. Erudição e sabedoria são, certamente, conceitos bem distintos.

Existem dois conceitos de filósofo. Um amplo e um restrito. Segundo o amplo, filósofo é todo aquele que se debruça sobre a realidade para refletir, questionando e buscando respostas (mesmo que não as ache). Assim, não se requer nenhum tipo formal de estudo para se ser filósofo, na concepção ampla. Na concepção restrita, um filósofo é um profissional, com diploma universitário, mestrado e doutorado na área, detentor de um amplo e profundo conhecimento de tudo o que trata a filosofia e do que disseram os grandes filósofos, aliado à habilidade de, ele próprio, fazer uso das ferramentas de raciocínio para construir sua visão da realidade, com a devida competência retórica e pedagógica para expô-la didatica e convincentemente ao público.

A erudição não atrapalha o pensamento de modo algum, como pensam alguns. Pelo contrário, desde que se entenda erudição de um modo que não seja estéril. Embeber-se de conhecimento é um fator que, para quem tenha suficiente talento, estimula a criatividade e a inovação. Não é verdade que a erudição crie amarras. Conhecer as múltiplas facetas da realidade abre os horizontes e espanca os preconceitos. Dá uma visão abrangente da multiplicidade das possibilidades a respeito de tudo e impede o fechamento em estruturas amarradas e inflexíveis. Por isso acho importantíssimo o ensino da filosofia no nível médio, para abrir a mente da juventude e criar um espírito de crítica e reflexão sobre o mundo, sem adesão incondicional aos modismos de ocasião e nem aferroamento a tradições irremovíveis. É falsa a noção de que o erudito ou o intelectual não seja uma pessoa de mente arejada e aberta a novidades ou ao inusitado. Mas certamente é uma pessoa ponderada que cotejará o novo com o que já existe e filtrará o que é válido do que seja mera vaidade. Assim estará agindo com sabedoria.

Sábio é aquele que usa o conhecimento que tem (que pode ser muito ou pouco) e a inteligência, de modo proveitoso e adequado, isto é, de modo a acarretar a maximização da felicidade do maior número de pessoas, de modo a, em tudo, ser justo, equitativo e respeitoso do direito alheio (inclusive dos seres irracionais e inanimados) e pricipalmente, agir sempre colocando a bondade como primeira prioridade. Sim, porque ser bom é mais valioso do que ser justo e honesto, pois o justo e o honesto podem ser frios e calculistas mas o bom é sempre justo e honesto, e, portanto, sábio. Se o sábio for também erudito então termos a pessoa humana com as melhores qualidades que se pode encontrar pois ela será também modesta e virtuosa em todos os outros aspectos. É o ideal do filósofo da grécia antiga ou do “santo” dos primeiros cristãos. Isso não significa que seja casmurro. Certamente o verdadeiro sábio é alegre e jovial.

Ser filósofo, poeta, artista, cientista ou, de um modo geral, intelectual ou erudito, é visto de modo pejorativo entre as pessoas menos cultas (o povão, como se diz) e, mesmo, entre as pessoas instruídas que têm uma visão imediatista da vida, como alguns empresários e técnicos. O que essas pessoas não sabem é que tudo de que desfrutam de comodidades tecnológicas e todas as conquistas sociais que lhes beneficiam, não existiriam sem o concurso dos “filósofos” e dos "cientistas". Muitos pais vêm apreensivamente os filhos se interessarem por literatura, ciência pura ou filosofia, como coisas que “não dão dinheiro”. Astronomia, então, nem se fale. Nem só de pão vive o homem! Digo mais: para se ter o pão, nesta complexa sociedade globalizada, antes de mais nada, tem-se que ter conhecimento. Outra coisa: o que seria do coitado do povo se filósofos e poetas, como Rousseau, Voltaire, Tomás Antônio Gonzaga ou Castro Alves, não tevessem bradado contra os desmandos dos detentores do poder ao longo da história. Se os empresários são a locomotiva do mundo, os intelectuais são a sua consciência. Tenho muito medo do que vai acontecer ao Brasil quando a atual geração estiver morta. Porque o pragmatismo e o desinteresse da juventude estão tão grandes que não haverá quem seja capaz de orientar os rumos da nação e nos tornaremos servos daqueles que deterão o saber. Pois saber é poder.

Concito, pois, a quem tem a prerrogativa de interferir nos rumos da juventude, isto é, aos professores, que se encham de orgulho por sua intelectualidade, mas de forma modesta e assertiva e não gabola e presunçosa, e passem aos estudantes seu deslumbramento pelo conhecimento e seu entusiasmo em fazer uso dele para mudar o mundo para melhor. E que, principalmente, busquem a sabedoria, pela prática do bem e da virtude e possam testemunhar, pela palavra e pelo exemplo, que o mundo pode ser um lugar justo, harmônico, tolerante, aprazível e fraterno, em que todos sejam capazes de prosperar de forma equitativa e a paz, a concórdia, a amizade, a diligência, a colaboração, a solidariedade, o desprendimento e a felicidade possam imperar, em lugar do egoísmo, da ganância, do ódio, da disputa e da preguiça, que só produzem dor, sofrimento, tristeza e infelicidade.

Se evolução se trata de estar melhor adaptado aos ambientes, podemos dizer sim que estamos mais evoluídos que vários animais, pois com a ajuda da nossa tecnologia, podemos viver em praticamente qualquer lugar da face da Terra.

Realmente somos capazes dessa proeza, mas não só nós. Há inúmeras bactérias, líquens, insetos, fungos e outros seres que também vivem em variadas condições. Se o critério de mais evoluído for o número de espécies ancestrais de cada uma das atuais, as bactérias ganham de longe, pois a todo dia surgem novas espécies a partir das que estão aí.

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A evolução não busca ficar cada vez mais complexa?

Não, de forma alguma. Evolução é só mudança, não necessariamente para uma complexidade maior. O que acontece é que, geralmente a mudança se dá por acréscimo de funcionalidades e sistemas, mantendo o que se tinha antes, então aumentando a complexidade. Mas isto não é necessário para se ter evolução. Pode haver redução de complexidade. Por outro lado, em geral, complexidade representa maior leque de possibilidades, geralmente refletindo em melhor adaptação e, portanto, seleção. É importante frisar que a evolução não "busca" nada. Nem precisa acontecer. Acontece por acaso. O acaso é o fator nas mutações, mas não na seleção, que se dá em função de algo pré-existente, que é o ambiente externo e interno ao organismo. Todavia, pode-se dizer que sua configuração se deu por uma conjunção sucessiva de inúmeros acasos. O acaso não determina nada, mas é capaz de qualquer coisa.

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O melhor livro para deixar os cristãos enojadas de sua religião seria a Bíblia, lida de forma crítica. Concorda?

Certamente. Todavia, como roteiro escrito por quem já fez isto, recomendo, antes de tudo, uma visita ao site:
http://www.bibliadocetico.net/ .
Recomendo, também, os livros:
Bart D. Ehrman - O problema com Deus,
Bart D. Ehrman - O que Jesus disse? O que Jesus não disse?
Colocando o texto "contradições da bíblia" no Google, se achará muitos sites a respeito, inclusive que contestam que sejam contradições.
Certamente que é bom para cristãos, não cristãos, agnósticos e ateus que leiam a Bíblia de capa a capa, do mesmo modo que o Corão, os livros de Allan Kardec. É interessante conhecer, também, os Upanisades (http://www.boloji.com/hinduism/037.htm), sobre doutrina hinduísta e o Abhidharma Pitaka, sobre a filosofia do Budismo. O Zoroastrismo é outra religião que vale a pena conhecer por sua influência sobre as religiões abrahãmicas.
Todavia nenhum dos textos desses religiões é tão terrível quanto a Bíblia. Nem o Corão.

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Qual o critério da evolução? E qual é o objetivo máximo dela?

A evolução não tem objetivo nenhum. Seu critério é o da seleção do organismo mais apto ao ambiente do lugar e do momento. Isto inclui o ambiente interno dos parasitas, principalmente. Ao se reproduzir, sexualmente ou não, um organismo pode produzir transcrições imperfeitas dos gens por vários motivos, o que se chama "mutação". Elas são aleatórias e não seguem nenhuma programação. Podem ocorrer em porções não gênicas do DNA ou em gens. Quando isto se dá, a maioria impede o nascimento do ser. Se não for o caso, o descendente diferirá dos pais em algum aspecto, que poderá vir a ser prejudicial ou favorável ao melhor sucesso adaptativo ao ambiente e, portanto, favorecerá o prolongamento da vida e a geração de maior prole. Com o tempo esses mutantes serão os predominantes. Normalmente uma mutação, seguida de seleção, não caracteriza outra espécie, mas evoluções sequenciais, ao longo de gerações, podem vir a constituir em nova espécie. Às vezes uma só mutação pode definir outra espécie. Evolução não significa progresso, mas apenas mudança que melhor se adapta ao local e ao momento. Todos os seres hoje existentes na Terra são igualmente evoluídos, pois estão bem adaptados a seus ambientes hoje. Assim o homem não é mais evoluído do que uma formiga ou uma bactéria. Só é diferente. E nem é o melhor adaptado, além de, é claro, não ser o ápice da evolução, pois ela prosseguirá além dele para vários outros, do mesmo modo que muitas outras espécies também evoluirão no futuro. Isto tudo se dá de forma inteiramente imprevisível e não planejada, sem nenhum objetivo nem razão de ser alguma. A própria existência da vida e do Universo não possuem razão nem propósito.

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Qual o critério da evolução? E qual é o objetivo máximo dela?

A evolução não tem objetivo nenhum. Seu critério é o da seleção do organismo mais apto ao ambiente do lugar e do momento. Isto inclui o ambiente interno dos parasitas, principalmente. Ao se reproduzir, sexualmente ou não, um organismo pode produzir transcrições imperfeitas dos gens por vários motivos, o que se chama "mutação". Elas são aleatórias e não seguem nenhuma programação. Podem ocorrer em porções não gênicas do DNA ou em gens. Quando isto se dá, a maioria impede o nascimento do ser. Se não for o caso, o descendente diferirá dos pais em algum aspecto, que poderá vir a ser prejudicial ou favorável ao melhor sucesso adaptativo ao ambiente e, portanto, favorecerá o prolongamento da vida e a geração de maior prole. Com o tempo esses mutantes serão os predominantes. Normalmente uma mutação, seguida de seleção, não caracteriza outra espécie, mas evoluções sequenciais, ao longo de gerações, podem vir a constituir em nova espécie. Às vezes uma só mutação pode definir outra espécie. Evolução não significa progresso, mas apenas mudança que melhor se adapta ao local e ao momento. Todos os seres hoje existentes na Terra são igualmente evoluídos, pois estão bem adaptados a seus ambientes hoje. Assim o homem não é mais evoluído do que uma formiga ou uma bactéria. Só é diferente. E nem é o melhor adaptado, além de, é claro, não ser o ápice da evolução, pois ela prosseguirá além dele para vários outros, do mesmo modo que muitas outras espécies também evoluirão no futuro. Isto tudo se dá de forma inteiramente imprevisível e não planejada, sem nenhum objetivo nem razão de ser alguma. A própria existência da vida e do Universo não possuem razão nem propósito.

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O natural é descendente de algo que não é natural nos termos atuais? Assim como a vida surgiu a partir de algo não-vivo.

Sim. Os seres vivos atuais descendem de outros seres vivos até o primeiro, que surgiu da matéria não viva. Pode ser que isto esteja acontecendo hoje em dia nas fumarolas submarinas. Para tal são necessárias condições especiais, não encontradas na superfície da Terra atualmente, mas sim nos primórdios do planeta. Isto é, não há geração espontânea dos seres vivos hoje existentes. Mas houve dos primeiros. A Teoria da Evolução não trata disto, que é estudados pelas hipóteses sobre a origem da vida. Ainda não há uma teoria fechada a respeito, havendo algumas hipóteses abiogenéticas, como a de Oparim, dos coacervados e outras, modernamente mais aceitas. Veja-se esta artigo:
http://en.wikipedia.org/wiki/Abiogenesis .

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Se a evolução não tem objetivo, por que os seres vivos têm instinto de sobrevivência? Aonde ela quer chegar?

Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Cada ser vivo surgiu pela evolução de um anterior que o produziu sem que objetivasse fazê-lo. Por isso digo que a "evolução" não tem objetivo. Todavia, todos os seres vivos, desde que surgiram as moléculas replicantes, só permanecem como uma espécie se conseguirem viver até a idade reprodutiva. Assim, o fato de procurarem sobreviver é fator de sucesso para a existência da espécie e isto fará que sejam selecionados indivíduos com mais chance de sobrevivência, garantindo a existência da espécie. Caso contrário não haverá a espécie e a evolução de que falamos é a das espécies e não dos indivíduos. A seleção, pois, mesmo não tendo este objetivo, pois não há razão teleológica (não confundir com teológica) na biologia, privilegia quem consegue sobreviver até a idade reprodutiva (aliás, isto é que é a seleção natural). A evolução não quer chegar a lugar nenhum. Simplesmente vai acontecendo e não se sabe em que vai dar. Isto é o que se verifica na evolução de cepas de microorganismos, observada diuturnamente nos microscópios.

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domingo, 29 de agosto de 2010

Seria ainda idiotice escolher não vivê-la se os dias se desenrolam como uma carga sob os ombros, decepção após decepção, e completamente isentos de esperança?

Sim, seria uma grande idiotice. Sempre se pode tomar uma decisão e mudar completamente a vida, sem precisar suicidar. Se não se consegue, nem com uma drástica e escandalosa ruptura, mudar as condições de vida, pode-se abandonar tudo e começar nova vida do zero, como mendigo mesmo. Se se tem garra e confiança no próprio taco, além de disposição para o trabalho, vai-se vencer. Esperança não é uma virtude, confiança sim. Esperança é supor que algo vai acontecer e resolver os problemas. Não vai! Confiança é a crença de que a própria pessoa resolverá seus problemas, por seu esforço e atitudes. Deus não ajuda, mas outras pessoas podem ajudar, se souberem o que se passa. Suicídio é um recurso muito extremo.

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