Não, absolutamente, Esta é a noção mais errônea que se tem. A de que a expansão do Universo é uma expansão de seu conteúdo para um espaço vazio que seria infinito e sem nada, para onde as coisas que estão em expansão se dirigem. Não é isto. O Universo é todo repleto de conteúdo, não há vazio em lugar nenhum. Pode haver só vácuo, mas não vazio. Não existe "além do Universo". Mesmo que se conceba a existência de outros Universos, cada um deles teria o seu espaço e o seu tempo, juntamente com o seu conteúdo e esses elementos seriam inteiramente disjuntos e incomunicáveis. Não tem como haver um espaço entre eles, separando-os. Não se pode saber se existem outros Universos e eu suponho que não, mesmo que teorias considerem que possam existir. O mesmo acontece com os "buracos brancos" e os "túneis de minhoca (pontes de Einstein-Rosen)", que ligariam os "portais", tão decantados na ficção científica. A expansão do Universo é um "inchamento" do próprio espaço. Isto é, um metro hoje é maior que um metro ontem. Mas isto só é percebido quando se comparam as distâncias entre coisas que são vistas agora e há tempos atrás, como as galáxias distantes. O desvio observado de suas linhas espectrais para a extremidade vermelha do espectro pode ter três interpretações. Ou elas de fato estão se movendo, ou sua excessiva gravidade está encurtando as ondas de luz, ou o espaço está inchando, à medida que a luz trafega por ele. O movimento próprio das galáxias é descartado porque não obedeceria a Lei de Hubble. O desvio gravitacional exigiria massas muito maiores que as observadas nas galáxias. O inchamento do espaço tanto obedeceria a lei de Hubble quanto é previsto nas equações da Relatividade Geral para a dinâmica da Geometria.
Postagens do pensamento, textos, poemas, fotos, musicas, atividades, comentarios e o que mais for de interesse filosófico, científico, cultural, artístico ou pessoal de Ernesto von Rückert.
sábado, 23 de outubro de 2010
Quem não se graduou ainda aos trinta anos de idade, estaria com uma possível e sonhada carreira acadêmica perdida?
Não, apenas prejudicada em termos de tempo que resta para fazer pesquisa até morrer, porque o verdadeiro cientista nunca se aposenta. A idade tem vantagens e desvantagens. A juventude é mais ousada e a maturidade mais prudente. Mas tem mais experiência de vida e de lidar com os relacionamentos humanos, que é um fator importantíssimo em qualquer carreira. Porque a ciência, além da busca do conhecimento, é uma atividade social humana, repleta de vaidades. Experiência ajuda muito a transitar nesse ambiente, por dar mais tato e segurança. E, certamente, um maior cabedal de conhecimentos gerais, de grande importância, ao lado do científico. Normalmente quem inicia um doutorado mais velho já tem um domínio melhor do inglês, por exemplo. Já sabe se expressar melhor, para escrever artigos, já tem mais disciplina para estudar. Tudo isto pode compensar uma menor energia e uma mente mais aberta a rever posições bem estabelecidas, que a ciência nos obriga a aceitar.
O que fazer para amenizar a dor do amor?
A dor do amor não é do amor que se sente e sim da perda do amor do amado. Esta perda dói porque, de forma equivocada, consideramo-nos donos do amor de quem amamos. Mas o verdadeiro amor quer o amado livre e não exige retorno. Ama-se e pronto. E o amor não é exclusivista. Abra seu coração para a possibilidade de novos amores, sem deixar de amar os antigos. Quanto mais se amar melhor. Não estou falando da frivolidade de ficar (que também pode ser considerada válida), mas de amor profundo e sincero. Aquele amor que quer o bem do amado, mesmo que este bem não seja nos amar. O amor altruísta e sem ciúme, que é o verdadeiro amor e não o amor ao fato de ser amado. Não se esforce por esquecer o velho amor e nem nutra sentimentos negativos para com quem deixou de te amar. Apenas se abra para um novo amor e guarde as lembranças ternas e alegres dos velhos amores. E que seu novo amor possa entender que os velhos amores são recordações queridas, que não se pode apagar da vida.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
@Th_NF Li em algum lugar, acho q foi até em um texto seu, que diz q tudo começou pelo Big bang q na vdd seria uma grande expansão, e estariamos vivendo dentro desta expansão, O que me leva a perguntar o que existe fora desta expansão?
Absolutamente nada. Tudo o que existe está dentro do Universo, cujo espaço está em expansão. Não existe lado de fora do Universo. Além do Universo não há sequer espaço vazio. Todo o espaço existente é preenchido pelo conteúdo do Universo, isto é, por campos, radiação e matéria, nesta ordem de abundância decrescente. Pode haver lugares sem matéria, denominados vácuos, mas não vazios, isto é, lugares sem conteúdo nenhum. Sempre haverá campos e radiação preenchendo todo o Universo. Pode ser que o Universo seja finito ou infinito. Se for infinito, é claro que não existe nada além dele, pois se estende ilimitadamente e sempre foi assim, desde que surgiu. Se for finito, é limitado em volume, mas não tem fronteira, pois, então, curvará o espaço, fechando-o sobre si mesmo. Isto significaria que, movendo-se sempre para frente, não se encontrará nunca uma parede, mas se acabará voltando-se ao ponto de onde saiu, vindo pro trás. É claro que, enquanto isto, a expansão continuaria. Os mais recentes dados observacionais indicam que o Universo seja infinito e que se expandirá para sempre. É preciso entender que esta expansão não é um movimento das galáxias através do espaço, mas o próprio aumento do espaço entre elas, sem que saiam do lugar.
Por que a maioria das pessoas tem aversão à filosofia?
Porque têm preguiça mental. Não gostam de pensar, refletir, raciocinar, questionar, detectar problemas, formular questões, imaginar soluções. Porque isto lhes incomoda, lhes faz ver a mediocridade de suas vidas baseadas só em sensações e nas atividades comesinhas indispensáveis a sua manutenção. Nos momentos ociosos só querem saber da fruição de prazeres sensoriais, físicos ou mentais, mas que não consumam esforço de pensamento. Tais pessoas não contestam nada, não contribuem em nada para o progresso da humanidade. São egoístas e mesquinhas mas, principalmente, são burras. Pessoas inteligentes podem ser egoistas e mesquinhas, mas pensam e usam suas mentes para seus propósitos egoístas de dominação e vantagens pessoais. Essas até filosofam e, certamente, têm consciência de sua condição e da falta de ética de seus atos. Mas optam por eles deliberadamente. A sociedade precisa impedir que tenham sucesso. Para isto o povo tem que ser questionador e, logo, pensar. Quem abdica de pensar está abdicando, também, de sua integridade, de sua liberdade e de sua honra. A educação formal precisa incentivar a juventude a pensar, a ler, a filosofar, a criticar, a propor soluções e, principalmente, formar o seu caráter. Isto é mais importante do que acumular conhecimentos para passar no vestibular.
Se você tivesse que escolher entre pena de morte ou prisão perpétua, qual seria sua opção?
Prisão perpétua, certamente. Sou completamente contra a pena de morte, inclusive para mim mesmo. Numa prisão perpétua eu poderia dedicar o resto de minha vida a pensar, o que ninguém pode me impedir de fazer. E só isto já seria uma preciosidade, que a morte não me permitiria desfrutar. A não ser que a prisão fosse um suplício contínuo de torturas físicas e mentais. A restrição da liberdade de ir e vir, de falar, de ter contato humano não impediria de pensar. Talvez até me fosse permitido escrever. Muitos literatos e filósofos escreveram obras notáveis na prisão.
Levy-Strauss, afirmou ter identificado um sistema metafísico avançado entre os índios brasileiros Bororos. É possivel classificar como metafísica compreenções sobre a realidade de povos indígenas?
Claro que sim. Metafísica não é, necessariamente, uma disciplina acadêmica, apesar de também o ser. É uma compreensão das realidades não físicas, isto é, abstratas, mas não necessariamente sobrenaturais. Esta compreensão envolve dois aspectos: o conceitual e o relacional, ou seja, o que vêm a ser as realidades abstratas e como elas se relacionam entre si e com o mundo físico. São noções metafísicas, por exemplo, as de forma, substância (não química), ordem, estrutura, norma, causação, ente, ser, essência, atributo, aparência, existência, realidade, categoria, idéia, conceito, abstração, quantidade, qualidade e outras do tipo. Uma cultura não possuidora de escrita e de uma ciência formal pode, perfeitamente, ser possuidora desses conceitos, transmitidos oralmente.
Ciência Noética seria uma Pseudociência?
Não. A Noética é uma protociência, como a própria Psicologia, a Sociologia, a Economia, a Antropologia e outras. O problema com a Noética é que alguns estudiosos querem incorporar a ela práticas esotéricas e místicas, que deveriam ser estudadas cientificamente por ela. Falta aos pesquisadores noéticos uma visão metodológica cética, que, em nada, prejudica suas propostas. Muitos, contudo, partem de pressupostos já formados e se dedicam à busca de embasamento científico para sustentá-los. Assim procedendo não fazem ciência. A concepção holística por exemplo, nada mais é do que um "reducionismo não linear", para o qual o todo não é a "soma" das partes, mas admite também contribuições de ordem superior, termos cruzados e retroalimentações. Em verdade seria importante que seus pesquisadores, que apregoam característica quânticas ao fenômeno da consciência, realmente entendessem de Quântica, especialmente de Teoria de Campos, da construção de Lagrangeanas e da dedução e solução das equações de campo delas derivadas. Esta é uma visão holística que muitos não são capazes de assimilar, ou seja, de que as ciências humanas, biológicas e exatas fazem parte de um todo que os humanistas precisam dominar. Quero dizer que os filósofos, sociólogos, psicólogos e noéticos precisam entender bem de Matemática, Física e Biologia também. Senão ficam falando besteira.
A morte é a certeza do que o nada nos espera, o Senhor acredita que também seja a nadificação de nossos projetos? A morte retira totalmente o sentido da vida, sou ateu também, meu Von..
Claro que não. Mesmo considerando que não existe Deus, nem alma imortal, nem céu, nem inferno e que a morte seja a cessação completa da consciência, a vida continua a ter sentido. Primeiramente o sentido da vida é sua própria perpetuação. Vivemos para que a vida continue a existir e para que sejamos um elo da corrente vital que começou com o primeiro ser vivo e passa por nós, prolongando-se até não se sabe quando e onde. Assim, gerar uma prole é algo altamente significativo, por nos colocar nessa corrente, mesmo que ela tenha surgido sem razão externa nenhuma e não tenha propósito nenhum fora de si mesma. O ser humano, contudo, por ser possuidor de uma mente desenvolvida e consciente (mas não exclusivamente ele), busca um sentido para sua existência. O ateísmo não exclui este sentido, nem exclui a necessidade de uma ética, como o niilismo o faz. O sentido cada uma precisa achar o seu: um projeto de vida, pelo qual se deseje lutar e cuja consecução seja motivo de imensa satisfação e orgulho. Mas é preciso que os projetos de vida, para que se encontre um significado para ela, não sejam egoístas. De minha parte coloquei este projeto na educação, na ciência, na cultura e na arte. Em levar ao máximo número de pessoas, por minha profissão e minhas ações sociais, a luz do conhecimento científico e filosófico, do ceticismo metódico, do livre pensamento, de uma postura ética, do desenvolvimento de habilidades intelectivas de reflexão e raciocínio, da luta pela implantação de um mundo justo, harmônico e fraterno, para todos os seres, a fim de que o bem e a felicidade se espalhem pelo mundo, atingindo todas as pessoas e a natureza. Mas também levar a beleza da arte, especialmente da música e da pintura, a que me dedico, para propiciar alegria e prazer de viver ao maior número de pessoas. Outra coisa importante é articular seu projeto de vida de forma que ele continue depois de sua morte. Para tal há que se engajar nele o maior número de outras pessoas, de sorte que ele não seja personalista, mas algo coletivamente construído. Morrer com a satisfação de ter deixado o mundo melhor porque vivemos é extremamente gratificante, mesmo que, morrendo, jamais se saberá nada a respeito de qualquer coisa. Assim procedendo, dando de si antes de pensar em si, esquecendo de buscar a prosperidade e a felicidade para que o mundo se beneficie de sua vida, sem esperar retorno sequer com a salvação eterna, então se encontrará a paz de espírito e a felicidade, que não é condição para a obtenção de nada além dela. Mas a felicidade não é alcançada por quem a busca, mas por quem se esquece dela e busca o bem e a virtude.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Sobre a psicanálise, é uma ciência mesmo? é malandragem?
Ciência mesmo, não é. Mas não chega a ser malandragem. Trata-se de uma "protociência", isto é, de um conhecimento com pretenções de se tornar ciência. Mas não é uma "pseudociência", pois suas assertivas são passíveis de verificação. O problema é que ainda existem, na psicanálise e na psicologia em geral, o fenômeno das "escolas de pensamento" que as impede de serem verdadeiras ciências. Nesse contexto vigoram, simultâneamente, modelos explicativos divergentes da realidade psíquica, sem a existência do "corte epistemológico" característico das ciências bem estabelecidas, como a Física, a Química, a Biologia, a Astronomia, a Geologia e outras. Este problema também acontece com a Economia, a Antropologia, a Sociologia e similares. Pelo corte epistemológico, um modelo explicativo sobre dado aspecto da realidade permanece univocamente adotado por toda a comunidade concernente (afora poucas contestações), até que novos fatos levem a uma reformulação, mas esta se torna aceita por toda a comunidade, em substituição à anterior. Nas protociências a comunidade fica dividida entre defensores de diferentes modelos ao mesmo tempo. Isto enfraquece o estatuto científico da ciência em questão. Nas ciências bem estabelecidas, novos modelos ficam "na berlinda", enquanto pesquisadores buscam estabelecê-lo de forma cabal, quando, então, toda a comunidade passa a adotá-lo, em substituição ao anterior, ou, então, são descartados.
O senhor é a favor dos métodos de avaliação do Exame Nacional do Ensino Médio?
Sim, com restrições. Acho que se deveriam acabar com todos os vestibulares e deixar apenas o ENEM como avaliador da qualificação para o ingresso em qualquer curso, de qualquer instituição de ensino superior. Mas prefiro o ENEM como era antes, sem compartimentalização por matérias. Um conjunto de questões inteiramente interdisciplinares para aferir conhecimentos e habilidades que se prevê que sejam aprendidos no Ensino Básico. Só que aquele ENEM estava muito elementar. Que as questões sejam mais calcadas em raciocínio do que em informações acho extremamente válido, mas é preciso, também, que sejam verificados conhecimentos de informações. Assim sendo, haverá uma forte pressão para que as escolas de nível básico (fundamental e médio) se adaptem ao novo modelo, assim como os cursinhos pré-vestibulares deixem de passar macetes e dicas e se concentrem em fazer as pessoas "saberem" de fato, no aspecto conceitual, interpretativo e operacional, os conteúdos avaliados e, principalmente, que se dediquem a aprimorar a inteligência dos estudantes.
O que pensa da Maçonaria e das sociedades secretas e esotéricas?
Tenho grande reserva em relação a qualquer tipo de conhecimento que só seja revelado a um pequeno grupo de “iniciados”, que partilhariam algo “secreto”, como ocorre na Maçonaria, na ordem Rosacruz, com os Gnósticos, Logosóficos, Antroposóficos e coisas assim. Para mim todo conhecimento tem que ser público e disseminado para o maior número possivel de pessoas. Se é um conhecimento verdadeiro e útil para a vida, que seja ensinado nas escolas de modo franco e aberto. Inclusive para se submeter à toda sorte de contestação e, se realmente verdadeiro, se mostre vencedor de todas as contendas e passe a ser a base padrão da ciência a ser reproduzida nos compêndios como verdade universal. Assim é a ciência, que não se furta a ser divulgada e criticada. Conhecimentos mediúnicos, esotéricos, cabalísticos e outros que tais, se fossem de fato verdade, deveriam ser o padrão escolar mundial, não importa qual a religião predominante no lugar. Todo conhecimento que se furta a ser universalizado e criticado, no meu entendimento, peca liminarmente por presunção dogmática. E de dogmas eu estou fugindo. Que tudo seja revelado às claras e exposto ao crivo da crítica mais obstinada para que possa emergir vitorioso em sua veracidade, pelo menos provisória.
Concordo que há dois critérios de verdade: a evidência e a prova. (antes há que se dizer o que se entende por “verdade”: trata-se da adequação entre a realidade e o que se diz a respeito dela – portanto verdadeiro ou falso são atributos lógicos e não ontológicos). A simples coerência intrínseca não prova mas a incoerência derruba. Um outro critério de validade é o de falseabilidade. Uma teoria tem que ser passível de refutação. Certas doutrinas, como o espiritismo, são completas e fechadas em si mesmas, sendo auto-consistentes. Mas não se pode dizer que são verdadeiras, porque não se pode testá-las. O problema com as sociedades secretas, como a Rosacruz e a Maçonaria é exatamente o fato de serem secretas. Se dizem possuir a verdade, então que a mostrem às claras para todos, de modo a poderem ser refutadas. As religiões pelo menos são abertas. Por outro lado nehuma “crença” pode ser critério de verdade, senão haveriam tantas verdades quantas crenças e a verdade, por definição, tem que ser única. (digo a verdade objetiva – é possível considerar-se uma verdade subjetiva que seria a adequação entre a percepção da realidade por parte de uma pessoa e suas afirmações. Assim uma pessoa pode não estar mentindo e não estar dizendo a verdade, objetivamente falando). Então só se obtém a verdade ou por evidência factual objetivamente comprovada por qualquer pessoa, ou, melhor, ainda, por sensores impessoais (foto, gravação, etc, etc), mesmo assim, cercada de todos os cuidados para evitarem-se fraudes. Ou por comprovação lógica (dedução, como um teorema), aí também cercada de todos os cuidados para se evitar sofismas.
O esoterismo, em oposição ao exoterismo, é a noção de que algumas verdades só podem ser reveladas aos iniciados de alguma entidade. Normalmente esse conhecimento se liga à existência de entidades supra-naturais que governam o mundo, que seria, assim, a encenação de uma peça por elas dirigida. Faço duas objeções: Se o conhecimento é vantajoso, deve ser divulgado para todos e jamais permanecer restrito a quem quer que seja. A segunda é que diferentes níveis das sociedades secretas apresentam diferentes visões da realidade. Os cristãos tradicionais (opus dei, TFP) vêem em tudo uma obra do demônio para desacreditar a fé. De acordo com Plínio Correa de Oliveira, os “Protocolos dos Sábios do Sião” estão corretos e a franco-maçonaria é uma fachada para o movimento sionista que visa destruir o cristianiasmo. Em minha concepção materialista (eu que já militei na TFP), nada disso procede, e todos estão enganados. A religião é um produto do homem. O verdadeiro saber e o conhecimento não residem em nada esotérico, mas naquilo que a razão humana gradativamente traz à luz. No entanto estou sempre aberto a mudar de opinião. Mas preciso ser convencido com provas ou evidências bem irrefutáveis. Gostaria que esses conhecimentos esotéricos fossem divulgados e abertos para que qualquer um pudesse checá-los. De outro modo a impressão que tenho é que se trata de algo sem consistência, que não pode vir à luz porque seria contestado por argumentos convincentes. Não consigo conceber essa ordem supra-natural que existe “por trás” do mundo sensível, acessível apenas aos iniciados. Coisas como mediunidade e outras que tais, porque só são percebidas por alguns? Se existem mesmo espíritos e se há comunicação com eles, porque todos não o conseguem? Acho tudo isso muito estranho e gostaria mesmo de ter acesso a comprovações cabais dessas coisas. Por ora prefiro ficar com minha postura de absolutamente não “crer” em coisa alguma. Ou sei ou não sei e se sei é porque possuo evidências ou provas objetivas e cabais, transparentes e abertas a todos.
Sobre falarem que nos seres humanos não chegamos á usar 10% do cerebo , como se diferencia isso ? como sabemos se usamos ou não a porcentagem X do cerebo ? é possivel usar 100% ou isso são apenas mitos ?
Isto é pura boataria. Usamos o nosso cérebro todo. Não existem endereços de memória vazios no cérebro. Cada nova memória cria as conexões neuronais necessárias para se fixar. E isto tem uma limitação, apesar de dificilmente alguém chegar a atingí-la em vida. O cérebro, contudo, faz uma limpeza periódica de memórias menos significativas, abrindo espaço para a formação de novas. Isto vale para memórias episódicas, conceituais, semânticas, sensoriais, emocionais e memórias operacionais, isto é, para habilidades que se adquirem. É importante saber que uma memória não é exclusivamente localizada em um ponto do cérebro, envolvento associações de várias localizações, como se fosse um holograma.
O que pensa dos cultos de feitiçaria e da feitiçaria em si?
O mesmo que penso do satanismo, já respondido. Baboseira pura e simples, pois não existe mágica e os feiticeiros se propõe a produzir fenômenos à revelia das leis da natureza, em seu benefício ou de quem os requer. Isto é tão inócuo quanto as orações ou promessas dos religiosos.
O que pensa do Satanismo moderno (aka, o de LaVey) e dos cultos de adoração a entidades de trevas?
Completos despropósitos, além de ridículas práticas litúrgicas. Crer em demônios, anjos ou quaisquer elementais é uma ilusão tão grande ou maior do que crer em Deus e em almas. Agravado pelo fato de que, pelo menos, a crença em Deus é acompanhada de propósitos elevados de comportamentos benéficos e bondosos, enquanto os satanistas e similares buscam favores egoísticos em troca de uma servidão humilhante. Entidades das trevas não existem e quem as adora, de fato, está obliterado por grave distúrbio psíquico.
o orgulho gera a incredulidade?
Não, absolutamente. A incredulidade provém do espírito inquiridor e cético. Do livre pensamento, que não se alinha com nenhuma proposta dogmática. Não tem nada a ver com orgulho, mesmo que alguns incréus possam ser orgullhosos. Eu, por exemplo, gostaria muito que houvesse um Deus e que eu tivesse uma alma imortal e, até, torço para que alguém possa me convencer que isto existe, de forma cabal e insofismável. Mas não vejo como aceitar tal idéia, face a tudo o que conheço a respeito do assunto e do tanto que já refletí sobre isto. Infelizmente é a verdade. Estou, todavia, inteiramente aberto a mudar de pensamento, logo que convencido e, inclusive, me abro a qualquer pessoa que pretenda fazê-lo. Até hoje, depois que me tornei ateu, ninguém consegui, especialmente o Craig, que só diz sofismas e falácias. O orgulho pode gerar incredulidade sim, como também credulidade, mas elas não são sinceras e fundamentais, como o são para a pessoa que as possui por convicção interior profunda. No caso de serem geradas pelo orgulho, são apenas uma aparência exterior, de um interior que, de fato, só pensa em sua projeção pessoal a fim de auferir egoísticas vantagens. O orgulho e a vaidade são a prole dileta do egoísmo. O verdadeiro crente e o verdadeiro descrente são assertivos em suas concepções, não se jactam delas, mas as atirmam com serenidade e firmeza, estando, contudo, sempre dispostos a revê-las, pois sabem que o valor supremo é a verdade e não as vantagens.
o que pensas a respeito da lógica espírita relacionada à reencarnação?
Não é lógica. É uma opinião de Allan Kardec, fundamentada em crenças mentempsicóticas da Índia e em suas próprias reflexões. Pelo que sei, não há evidência nenhuma da veracidade dessa suposição, nem tampouco da existência de espíritos, mesmo que não se reencarnem. Ele considera que esta é uma explicação lógica para a existência do mal, como uma provação para a purificação dos espíritos. Isto não é lógico, de modo algum. É uma hipótese que pode dar conta da explicação, mas não há nenhuma indicação que, de fato, seja isto. Há outras explicações para tudo o que o espiritismo afirma, puramente naturais, sem supor a existência de espíritos e de deuses, além das que o cristianismo, o islamismo e o judaísmo fornecem, considerando a existência de espíritos e um Deus, mas sem considerar a reencarnação. A decisão por qual delas seja a verdadeira, em termos fáticos e objetivos, não se tem, até o momento. Fica por conta da suposição de quem crê ou não. De minha parte, não vejo indício nenhum de que existam espíritos, quanto mais de que se reencarnem. Assim prefiro adotar o ateísmo cético, que considera, sem ter certeza, que não existem nem espíritos nem deuses.
Qual a relação e diferença entre a epistemologia e a metafísica?
Epistemologia é a disciplina que estuda a validade do conhecimento e Metafísica a que categoriza e estuda as relações entre os elementos de todo tipo de realidade. Assim existe uma epistemologia da Metafísica e uma metafísica da Epistemologia. A primeira critica se certo conhecimento metafísico é válido ou não e a segunda a que categoria de realidade pertence o conhecimento e que relação ele tem com as demais categorias. Por categoria da realidade entende-se o tipo a que se reportam seus elementos, isto é, se são entes puramente abstratos ou conceituais, inexistindo fora de uma mente que os conceba, se existem objetivamente no mundo, fora de qualquer mente, se são apenas significantes, se são seres objetivamete existentes ou meras entidades conceituais, se são entes, valores, ações, fazeres, eventos, estruturas estáticas ou dinâmicas, normas, sensações ou sentimentos e assim por diante. A ontologia é a parte da metafísica que conceitua todas essas categorias enquanto a metafísica propriamente dita pesquisa que relação os elementos conceituados pela ontologia guardam entre si no mundo ou dentro da mente. Já a epistemologia busca saber como obter um conhecimento, como construir modelos mentais descritivos da realidade, como classificar os diferentes tipos de conhecimento: vulgar, científico, filosófico etc. Como classificar as ciências. Estabelecer critérios que possam validar o conhecimento e esse tipo de assunto.
A verdade, o Limite a Perfeição, seria algo inalcançavel?
Teoricamente seria possível existir algo perfeito ou uma proposição que coincidisse exatamente com a realidade objetiva do que afirma. Todavia, na prática, é muito difícil obter-se tais situações e, mais ainda, saber-se que isto seja o que ocorre. Como saber se algo é perfeito se nunca se pode conhecer todas as situações em que aquilo pudesse ser colocado à prova? E como saber se uma proposição a respeito do que for exprime a verdade se não se consegue ter acesso completo a todas as informações a respeito?
Assim, podemos dizer que a perfeição e a verdade são metas a serem perseguidas e atingidas assintoticamente, sem nunca se poder saber se já se a tenham alcançado.
Em que situações é moralmente válido matar?
Moralmente é considerado válido matar em variadas situações, conforme a moral de cada época, lugar e estrato social. Eticamente, contudo, só é válido matar em legítima defesa, pessoal ou coletiva, ou seja, nas guerras, desde que na condição de defender a nação e não de ataque. Note-se que a validade ética ou não de se matar não necessariamente coincide com a validade jurídica do mesmo ato. Pena de morte é algo eticamente inadmissível, mas pode o ser juridicamente. Vingança, latrocínio, bem como guerra de conquista, também não podem ser admitidos eticamente. Estou falando em assassinato intencional e não de uma morte acidentalmente provocada. Se a intenção do assassinato for a própria morte, ele é chamado de homicídio. Legítima defesa da honra é algo que não existe. A legítima defesa só se aplica quando é uma defesa da vida, mesmo que de outrem. Todavia o assassinato preventivo, para evitar de ser assassinado por alguém, não se constitui em legítima defesa, não sendo eticamente admissível, nem juridicamente. Não se pode imputar o caráter ético de erro a quem cometa um assassinado sob coação forte, isto é, ameaçado de morte imediata se não o fizer.
Como tirar notas altas no enem, quais são as materias mais comentadas,o que eu devo estudar idealmente para o ENEM 2010 ?
Este é o problema. O ENEM é um exame cujo desempenho depende essencialmente do desempenho de história da vida acadêmica da pessoa. Isto é, quem, ao longo da vida escolar, sempre foi uma pessoa de bom desempenho e que aprendeu muita coisa, não para tirar notas nas provas, mas para saber de fato, esta pessoa tem ótimas chances de obter um bom escore no ENEM. Porque o caráter interdisciplinar e focado mais em raciocínio do que em conhecimentos memorizados, privilegia quem aprimorou sua inteligência e não apenas colecionou informações. Faltando apenas duas semanas para o ENEM eu digo que não há nada mais que possa ser feito. Sugiro que você compre nas bancas de jornais as revistas sobre o ENEM do "Guia do Estudante", da Editora Abril (tem sobre vários assuntos, até um simulado) e faça as questões para se auto-avaliar. Nas que você errar, pesquise as respostas na internet, mas, em geral, a resposta não é uma informação, mas o resultado de um raciocínio. Então, reúna amigos e discuta com eles, ou peça o auxílio de professores.
Por que seu apelido é Wolf Edler?
Este pseudônimo, que significa algo como "Lorde Lobo", eu fiz em homenagem a meu avô Wolfgang Anton Ferdinand Ernest Ginzel Edler von Rückert que veio da Áustria para o Brasil em 1906, como imigrante, para não ser preso e possivelmente condenado à morte, como anarquista que era e envolvido com grupos de defensores da libertação da Hungria e da Tchecoslováquia do Império Austríaco. Ele havia nascido em Praga, que, à época, pertencia à Aústria. Mas sua família era de Viena. Como o pai dele era da nobreza, conseguiu que ele saísse como emigrante, tendo vindo para uma colônia em Sete Lagoas, Minas. Ele não sabia nada de agricultura, pois era professor de Russo e Tcheco na Academia Teresiana, em Viena. Além do Alemão, sua língua natal, ele falava Inglês, Francês, Italiano, Espanhol e Português (de Portugal). No Brasil ele conheceu minha avó, que era filha do adido comercial do Consulado Português em Belo Horizonte e se casaram. Depois ele foi professor de Inglês no Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, onde também era Guarda Livros (contador). O pai dele era professor de Química na Universidade de Viena, onde chegou a lecionar para o Arquiduque Franz Ferdinand. Meu pai era professor de História e Geografia, além de ser contador também. Minha família é toda de professores, militares, médicos, engenheiros, advogados e funcionários públicos, tanto por parte de meu pai, quanto de minha mãe, cujo pai era Almirante Médico da Marinha de Guerra do Brasil e primo de Ruy Barbosa. Ninguém é nem foi empresário ou fazendeiro.
Qual é o segredo do sucesso no aprendizado?
Curiosidade. Querer saber tudo a respeito de tudo. E isto tem que acontecer desde a tenra infância. Não se contentar apenas com o que o professor ensina. Ir além, tanto em profundidade, quanto em abrangência e detalhamento. Ler muitos livros sobre todos os assuntos. Não se preocupar com as notas, mas em saber, saber muita coisa. E querer saber pelo prazer de saber e não por obrigação. Aquele que se esforça por estudar a contragosto não vai ter sucesso. Isto tem que ser cultivado pelo estímulo dos cuidadores antes de se entrar para a escola, desde que se nasce. Desafios para desenvolver a inteligência, pois a inteligência vale muito mais do que o esforço para estudar. Mas inteligência se adquire, a qualquer momento da vida. Basta querer e se dispor a conquistá-la. E como fazer dieta para emagrecer, ou treinar para ser atleta. Uma luta constante e custosa, mas compensadora.
Quem é, afinal, Wof Edler?
Meu nome é Ernesto von Rückert. Nascí no Rio de Janeiro em 1949 e me criei em Barbacena, Minas. Radiquei-me em Viçosa, Minas, em 1976. Sou matemático (UNIPAC/UFV), físico e cosmologista (CBPF). Professor universitário aposentado (Física Geral, Métodos Matemáticos, Mecânica Clássica, Eletromagnetismo, Ótica, Física Quântica, Física Estatística, Relatividade Geral). Ex-Professor da EAFB, EPCAR, UNIPAC, UFSJ, UFJF e UFV (Barbacena, São João del Rei, Juiz de Fora e Viçosa). Fundador do Curso de Física, ex-chefe do Departamento de Física, ex-coordenador do Curso de Física, ex-pró-reitor de Graduação, ex-assessor e ex-chefe de gabinete do reitor da Universidade Federal de Viçosa, (UFV). Atual Vice-diretor do Colégio Anglo de Viçosa. Ensaísta, poeta, pintor, compositor, cantor, programador. Membro da Academia de Letras de Viçosa. Vice-presidente da Orquestra de Câmara de Viçosa. Casado (Fátima - 2ª vez), com filhos: Érika-1978, Dimitri-1981 e enteados: Adla-1980, Amanda-1982, Márcio-1984, Mayra-1986. Livre pensador, cético, racionalista, humanista, estóico, epicurista, anarquista, ateísta. Atividades: amar, conversar, ler, internetar, cantar, estudar, ensinar, pesquisar, filosofar, escrever, poetar, pintar, compor, programar. Além do meu trabalho no Anglo, em que me ocupo com as questões táticas e informacionais do processo pedagógico, o que me consome umas 60 horas semanais, produzo e apresento um programa de duas horas por semana de música clássica, leio e estudo a média de um livro por semana, pinto uns quatro ou cinco quadros por ano, estou redigindo dois livros, escrevo em meus blogs, participo de comunidades de discussão na internet e respondo estas questões aqui no formspring. O tempo que acho para isto eu obtenho dormindo pouco, não vendo televisão, nem conversando fiado.
Que homem de bom-senso pode considerar o acaso um ser inteligente?
O acaso não é um ser, mas um tipo de processo, isto é de forma de realização de ocorrências, fenômenos ou eventos. Diz-se que um evento é fortuito ou aleatório (ao acaso) se sua ocorrência não se dá por determinação (causação) de nenhum outro evento. Isto é, de forma espontânea e imprevisível, portanto não planejada. Há duas categorias de eventos aleatórios. A primeira é a dos eventos básicos experimentados pelas entidades fundamentais da natureza, que são as partículas elementares, como os decaimentos, interações, absorções ou emissões. Este indeterminismo e esta aleatoriedade é intrinseca a tais fenômenos. Nos conglomerados de muitas partículas, que formam os blocos de matéria, o efeito cumulativo leva a uma concentração da distribuição de probabilidades (tipo uma função delta de Dirac) que leva ao determinismo observado nos eventos macroscópicos. No entanto, estes também, quando dependentes de uma multiplicidade grande de fatores incontroláveis, tornam-se aleatórios, como o lançamento de dados, que é um segundo tipo de aletóriedade. Os eventos aleatórios e os eventos incausados não são produtos da interveniência de nenhum agente inteligente. Note que a ausência de causa determinante não exclui a necessidade da existência de condições que possibilitem a ocorrência do evento, mas não o determinam, que é o que se chama de causa. Além disso, o que estou considerando como evento é a ocorrência, por exemplo, de um particular resultado do lance de dados e não do lance de dados, que, certamente, vai requerer um agente causal. Mas o resultado é casual. No caso da aleatoriedade intrínseca, a própria ocorrência, e não apenas o seu resultado, é casual.
Sobre a aleatoriedade do surgimento do Universo, pode-se considerar que tal fato foi uma ocorrência do tipo básico, experimentado pelas partículas elementares, uma vez que o conteúdo que começou a expandir-se no Big Bang pode ser considerado uma unica partícula com massa correspondente ao conteúdo total de massa e energia existente no Universo. Naquele momento a cosmologia e a física de partículas (teoria quântica de campos) teriam que ser um modelo único do comportamento da natureza, ainda não desenvolvido. Certamente que não foi algo feito por nenhum agente inteligente.
a ciência e a moral são contraditórias?
De jeito nenhum. Tratam de categorias distintas de saberes. A ciência é uma disciplina cognitiva, isto é, ocupa-se de conhecimentos, enquanto a moral é uma disciplina axiológica, ou seja, ocupa-se de valores, mais especificamente da prescrição de normas de conduta para as ações humanas. Neste sentido não podem ser contraditórias, pois seus objetos estão em categorias incomparáveis. Um conhecimento não é passível de valorização moral, mas apenas suas aplicações. Da mesma forma os preceitos morais não são passíveis de apreciação científica e sim ética, que é uma disciplina filosófica e filosofia não é ciência, mesmo que possa se valer de métodos científicos de validação de suas assertivas.
Sendo o Homem uma criação divina, Seria essa criação algo perfeito? O que é o Ser Humano? O que é o Ser Humano em relação a outros eventos da Natureza? Sendo ele Racional em sua natureza resulta na condição de interferir em outras natureza?
O homem não é uma criação divina simplesmente porque Deus não existe. Nem o homem nem nenhum outro ser do Universo são perfeitos, como também o Universo inteiro. O ser humano é um animal como outros, com duas particularidades. A primeira é que nós somos humanos, por isto esta espécie é, para nós, a mais importante. A segunda é que a espécie humana, no momento e aqui na Terra, destaca-se por sua excepcional inteligência e nível de consciência em relação às demais. Outras já houve com nível semelhante, mas extinguiram-se. Novas poderão surgir e mesmo haver em outros planetas, mas não se sabe. O caráter racional, isto é, possuir a capacidade de raciocinar, não é exclusivo da espécie humana, mas ela o possui em grau extremamente diferenciado das demais. Como todo organismo vivo, interferimos na natureza como partícipes dela. Nossa racionalidade faz com que esta interferência possa ser muito mais abrangente e profunda do que a de outras espécies. No entanto, não podemos esquecer que a presença de oxigênio na atmosfera, sem o que não existiríamos, foi obra das cianobactérias e suas precursoras há uns 2,5 bilhões da anos atrás e isto pode ser considerado a maior interferência de qualquer ser vivo no ambiente. Um comentário: a natureza é unica neste planeta. Não existem "outras naturezas" nesta acepção semântica da palavra aqui na Terra. Em outros planetas pode-se falar de outra natureza ou quando a palavra é usada com o sentido de modo de ser ou conjunto de características de algo.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Há algum mal em ser excêntrico?
Absolutamente nenhum! Desde que a excentricidade não cause malefício a ninguém, cada um pode ter o estilo de ser que desejar. É preciso que todos tenham uma compreensão disto e tolerem comportamentos distoantes da normalidade como um direito. Por enquanto, alguns comportamentos ainda podem ser objeto de restrição, mesmo que não prejudiquem a ninguém, como andar nú ou defecar, urinar e fazer sexo em público. No entanto, comer em público não é condenável. Mas falta de respeito, intolerância e preconceito não são excentricidades permissíveis para uma convivência social tranquila. Ser chato também não. Fora isto, cada um pode ser do jeito que quiser.
O que acha do preconceito religioso?
Inteiramente descabido e sem nenhuma justificativa. Uma expressão de mesquinhez e de falta de espírito religioso, inclusive. Sabe-se que, em todas as religiões, existem fiéis sinceros e piedosos, que buscam a santidade em suas vidas pela observância dos preceitos de sua religião. Essas pessoas estão plenamente convencidas da veracidade das proposições de sua fé, considerando-as um baluarte inatacável de sua cosmovisão. Tratam-se de pessoas honradas, podendo ser cultas e inteligentes ou não. Ora, tais pessoas, nas diversas religiões, concebem realidades inteiramente diferentes para as entidades espirituais em que acreditam e para a relação que elas têm com o mundo e com as pessoas. Se a fé fosse um critério válido de verdade, teríamos a existência simultânea de verdades conflitantes, o que é impossível. Então algumas delas têm que estar erradas, possivelmente, até mesmo, todas. A decisão a respeito só poderia vir de considerações exteriores a todas as crenças religiosas. Mas não há nenhuma evidência e nenhuma comprovação que seja capaz de eleger esta ou aquela doutrina religiosa como a verdadeira, com exclusão das demais. Logo, mesmo que a pessoa mantenha sua fé, é preciso que todos entendam que ela não é garantia de que tudo aquilo em que se acredita seja verdade. Portanto, pode ser que a sua religião não seja a verdadeira e sim uma outra, ou nenhuma. Os líderes religiosos, que possuem um maior esclarecimento e, certamente, estudaram o questão das religiões de modo amplo e profundo, precisam mostrar a seus fiéis que não há motivo para intolerância com relação a nenhuma outra religião, a não ser que ela tenha práticas condenáveis, como sacrifício de criancinhas, por exemplo. O verdadeiro espírito religioso, qualquer que seja a religião, é um espírito de conciliação e tolerância. De amor ao próximo, de generosidade, de compaixão. Nunca de belicosidade, nem mesmo de desdém. Respeitar as crenças e opiniões distintas das nossas é a atitude correta de qualquer pessoa que pense em viver em sociedade de forma harmônica e pacífica.
O que acontece é que a intolerância religiosa, geralmente, está vinculada a questões raciais, territoriais, econômicas e culturais, Assim, a pretexto de defender a fé verdadeira contra os infiéis, os lideres religiosos incitam ao fanatismo, pois é um modo eficaz de se obter fidelidade e dedicação total ao esforço de guerra contra grupamentos diferentes com fitos de dominação política, cultural e econômica. Nada mais deprimente e desabonador da condição humana.
Qual a diferença entre ética e moral?
Moral é ética são coisas correlatas mas diferentes. E nenhuma delas tem origem nas religiões. Pelo contrário, foram as religiões que se apossaram da moral (mas não da ética) como parte do ferramental para controle de seu rebanho. A moral existe em toda sociedade, mesmo as primitivas, e consiste em um corpo de prescrições comportamentais a serem cumpridas pela pessoa, para que seu convívio com os demais seja aceito dentro do que se tornou costume para aquele grupamento, naquele tempo e lugar. A moral é, pois, uma disciplina prática normativa e relativa ao contexto. O que é moral para certa sociedade, em certa época, pode não ser noutra época ou noutra sociedade. Já a ética é filosófica. A ética discute a razão das ações humanas e procura achar justificativas para sua aprovação ou condenação com base nos critérios de certo e errado, bom ou mau, justo ou injusto, honesto ou desonesto, verdadeiro ou falso, virtuoso ou viciado e outros do tipo. Busca, portando, independente dos costumes, definir os critérios para que algo seja ou não certo, bom, justo, honesto, verdadeiro ou virtuoso. E busca, também, definir que escolha seria a certa, entre essas possibilidades. É importante frisar que a eticidade de uma ação se prende à sua intenção e não à sua execução e só pode ser imputada se a ação foi realizada de forma livre e desimpedida de qualquer coação. Três critérios sobressaem dentre os que já foram levantados para a eticidade: o primeiro refere-se à característica daquela ação promover a maximização da felicidade para o maior número de seres ou ao contrário; o segundo se liga ao fato da ação poder ou não ser erigida como norma universal a ser prescrita para todo mundo e o terceiro se a ação seria uma que o autor gostaria de ser alvo ou não. Outros critérios, de menor valor, se prendem à utilidade e à lucratividade, por exemplo, que, em minha opinião, deveriam ser rejeitados.
Há certa razão quando se diz que o temor de Deus (isto é, o medo de inferno) é um fator importante na determinação de uma conduta em observância aos preceitos morais. Ainda mais que, de um modo geral, a maioria dos preceitos morais de fundamentação religiosa são éticos. Assim, o ideal de santidade, que é preceituado não só pelo cristianismo, mas pelo islamismo, o hinduísmo, o budismo e o judaísmo (só para citar as mais importantes) se, de fato, fosse seguido por todos os fiéis, levaria certamente a um mundo mais fraterno, tolerante, solidário e compassivo. Parte da escalada de criminalidade hoje observada no Brasil e no mundo deve-se à perda desse temor do inferno (em outras palavras a um ateísmo na prática). No entanto duas questões emergem: As lideranças políticas e econômicas sempre cooptaram os líderes religiosos a incutirem nos fiéis que a consecução de seus desígnios ambiciosos de poder e riqueza deveria ser tomada como missão a ser cumprida pelos fiéis em atendimento à vontade do deus do local e do momento (cruzadas, inquisição, jihad, indulgências etc.). Poucos se insurgiram contra tais práticas (tipo um São Francisco de Assis ou Martinho Lutero), mas a insurgência foi momentânea. Depois, seus próprios seguidores acabaram vassalos da plutotiranocracia. A hierarquia eclesiástica católica sempre explorou os fiéis para o enriquecimento e poder pessoal. Padres como João Maria Vianey, o “Cura d’Ars” são a exceção. E mesmo Lutero, sei lá… A outra questão é simples: Será ético impingir uma conduta moral com base em uma mentira? (o castigo do inferno). Será que não é possível uma educação ateísta ética? Uma educação em que a virtude e o bem sejam erigidos como valores desejáveis por si mesmos e não por vantagem nenhuma a ser fruída ou por castigo nenhum a ser evitado? Será que a sociedade não pode, ela mesma, concluir que a honestidade e a solidariedade são mais valiosas do que o crime e o egoísmo? Não porque seja mais vantajoso, mas porque não é possível erigir a prática do mal como norma? Não importa se a pessoa considere que a existência de Deus seja uma verdade ou uma mentira, a ética se aplica da mesma forma. O que afirmo é que as noções de bem e de mal, de certo e de errado, de justo e de injusto, de verdadeiro ou falso, de honesto ou desonesto, enfim desse tipo de dicotomia que é característico da ética, não são noções religiosas. Elas existem quer se considere que Deus exista ou não. E a ética deve nortear a moral a prescrever os comportamentos adequados de modo inteiramente dissociado de qualquer prêmio ou castigo na vida eterna. Isso é que eu considero importante. Para mim não há virtude em se fazer o bem para se ganhar o céu ou não precisar se reencarnar mais e nem deixar de fazer o mal para não ir para o inferno ou para não se reencarnar outra vez. O bem vale por si mesmo. A recompensa da virtude é a paz da consciência. Esses valores são impregnados na mente, quem sabe, por algum gene, mas a razão é capaz de mostrar que se o mal fosse erigido como norma de conduta a ser recomendada e praticada generalizadamente, não haveria condições para nenhuma pessoa alcançar paz e felicidade. A sensibilidade também repudia toda crueldade e todo mal e infelicidade que se possa causar. E a felicidade é o bem que não é condição para obtenção de nenhum outro acima dele. Dinheiro, saúde, paz, educação e outros que tais se desejam para poder ser feliz. Mas se se é feliz sem dinheiro, para que serve ele? Qualquer um que paute sua vida pelo bem estará tranqüilo e nada temerá, nem mesmo a existência de Deus. Uma conduta hedonista pode e deve ser perseguida, desde que de modo não egoísta. Eu diria que a virtude está na síntese dialética do epicurismo com o estoicismo. Creia-se ou não em Deus.
Como podemos garantir a neutralidade da pesquisa científica se todas as editoras de artigos de pesquisa estão na mão das grandes corporações?
Isto é um fato, mas justamente porque existe é que devemos pugnar pela democracia e elegermos representantes que se comprometam a criar mecanismos públicos de controle da ação das corporações. Nisto se enquadra o projeto de anarquismo ateísta que defendo. Até que se chegue lá, a solução está na democracia e na educação, para conscientizar o povo, tirando-o da ignorância, de forma a que possa votar em candidatos comprometidos com a verdade acima de tudo. Candidatos que pelejem para derrotar a corrupção e o poder das corporações, que sobrepuja o dos governos. Isto não é impossível, mas é uma longa, estafante e tenebrosa luta. Não se pode esmorecer. mas não se pode, também, apelar para regimes totalitários porque, então, se substituirá a tirania das corporações pela tirania dos líderes ideológicos, como aconteceu na Rússia, na China, em Cuba, no Camboja, na Coréia do Norte e nos outros países comunistas. Ou nas ditaduras de direita, como o nazismo, o fascismo, o franquismo, o salazarismo, o pinocheísmo, o regime militar brasileiro, o argentino etc. O mal deles não é ser de direita nem de esquerda, mas em serem totalitários e tirânicos.
O materialismo clássico, que assimila o universo a uma máquina, pede um relojoeiro! Quem é ele?
Sobre esta questão do relojoeiro, há controvérsias. Todo artefato pressupõe um construtor, mas não os seres naturais. A dinâmica da natureza não segue nenhum plano, não tem nenhum objetivo e não requer nenhum arquiteto nem construtor. A natureza se faz a si mesma de forma aleatória. A seleção natural, no caso biológico, se encarrega de preservar quem tiver sucesso adaptativo. A evolução, tanto cósmica quanto biológica, ocorre de forma inteiramente casual e imprevisível. Tanto é que o que é produzido não possui nenhum compromisso com perfeição, eficiência e eficácia. A maior parte dos produtos da evolução é destruída. Só sobrevive o que, por acaso, dá certo. O acaso é o senhor do Universo. O fato de existirmos é o produto final de uma série extensíssima de coincidências. Por isto é tão precioso, pois, pelas probabilidades, jamais existiríamos, como tudo o mais. Mas é preciso entender o que significa probabilidade. Ganhar na Megasena tem uma probabilidade de um em 46.656.000.000. Isto significa que, se se jogar duas vezes por semana, a esperança matemática é de que se ganhe após 449 milhões da anos. Mas, quase toda semana alguém ganha. Pode-se calcular a probabilidade de átomos se reunirem ao acaso e formarem aminoácidos, depois de aminoácidos formarem proteínas, de bases nucleicas formarem nuceotídeos e estes ácidos nucléicos, de proteínas formarem organelas e estas células, de células se organizarem em tecidos, estes em órgãos e estes em organismos. Tudo isto gradativamente em um processo evolutivo. Esta probabilidade será extremamente pequena (mais imensamente maior do que a probabilidade de todos os meus átomos se reunirem, por acaso, em meu corpo, exatamente em sua estrutura). Isto não significa, em absoluto, que não possa ocorrer. Se estamos aqui é porque ocorreu.
A crença no poder da ciência em explicar e controlar o mundo é muito diferente da fé no sobrenatural, pois é embasada em uma imensa quantidade de indícios que a suportam, face a seu sucesso. Certamente que há muito mais a se saber do que o que se sabe, mas isto não significa que se deva atribuir a interveniências extrínsecas ao Universo ou a alguma consciência cósmica a explicação para as estruturas e ocorrências do mundo. A ciência é extremamente jovem. Esperemos, pelo menos, algumas dezenas de milhares de anos.
Por que existe esta evolução que direciona a existência e onde ela nos leva? Há um propósito por trás disto? Que propósito é este? Um acaso apenas que está constituindo toda a teia da existência?
Sim, apenas o acaso. Não há força por traz de nada. Não há nada que dê impulso à vontade de viver, ao gene egoísta que quer se perpetuar. A evolução existe sem motivo nenhum. Aliás ela não direciona nada. Evolução não tem meta nenhuma. Não visa o progresso. Evolução é só mudança que se adapta melhor às condições ambientais internas e externas ao organismo. Existe um desejo humano de encontrar razão e propósito para a vida e o Universo. Eu mesmo gostaria que existisse. Queria que houvesse Deus, que pudesse punir a maldade, que me levasse para o céu quando eu morresse, que atendesse minhas preces. Tais desejos não significam, absolutamente, que exista Deus, alma imortal, motivo ou finalidade para o mundo. Se houvesse isto seria patente, uma evidência direta, mas não há evidência nenhuma de tais suposições.
O que você acha da conceituação de energia de Lupasco?
Lupasco comete um grande equívoco em sua conceituação de energia. Energia não tem constituintes. Trata-se de um atributo de sistemas físicos que os possibilitam a agir sobre sua vizinhança. Tal atributo possui uma grandeza associada, também denominada energia, que não é vetorial e sim escalar, sendo relativa e de calibre, isto é, seu valor depende do referencial e da escolha arbitrária do zero. Pode ser cinética, quando atributo dos movimentos, ou potencial, quando atributo das interações. Apresenta-se nas modalidades mecânica, elétrica, térmica, radiante, nuclear e outras, dependendo da estrutura e das interações existentes nos sistemas considerados. Energia não é uma entidade e não existe por si mesma, mas apenas como atributo de entidades. Não é um constituinte substancial do Universo, que são apenas os campos, a matéria e a radiação, constituintes estes que podem (ou não) possuir energia, mas não "ser" e nem "transformar-se" em energia. A aniquilação da matéria com a antimatéria não as tranforma em energia mas sim em radiação, que carreia a energia que estava nas massas de repouso do sistema aniquilado.
Não há distinção entre matéria física e biológica. Esta também é física, sendo a vida o resultado da estrutura e do funcionamento de certos sistemas que os possibilitam a ter iniciativa própria em suas alterações, e não apenas a responder a estímulos do ambiente. O psiquismo, por sua vez, não é independente do biológico, mas também uma ocorrência advinda de certas características estruturais e dinâmicas de alguns sistemas, como o sistema nervoso humano. A mente é uma ocorrência. Não é uma entidade distinta e nem um epifenômeno. É só um fenômeno. E a consciência é uma ocorrência mental, como a percepção, a memória, o raciocínio, a emoção, o sentimento e outros. A mente e todos os fatos a ela associados não existe sem seu substrato biológico em funcionamento, isto é, vivo. A morte do organismo acarreta a morte da mente, da consciência e de todas as memórias. A não ser que se desenvolva algum procedimento de transferência de consciência e memórias entre cérebros, possivelmente, inclusive, artificiais.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
O nada:
Vou transcrever o que originalmente escrevi para o verbete da Wikipedia (o verbete já foi completado por outros colaboradores):
Fisicamente é preciso distinguir três coisas: o vácuo, o vazio e o nada. O vácuo é um espaço não preenchido por qualquer matéria, nem sólida, nem líquida, nem gasosa, nem plasma, nem mesmo a matéria escura. Mas pode conter campos: campo elétrico, campo magnético, campo gravitacional, luz, ondas de rádio, raios X, ou outros tipos de radiação bem como outros campos e a impropriamente denominada energia escura. Pode também estar sendo atravessado pelas partículas não materiais mediadoras das interações. O vácuo possui energia e suas flutuações quânticas podem dar origem à produção de pares de partícula e anti-partícula.
O vazio seria um espaço em que não houvesse nem matéria, nem campo nem radiação. Mas no vazio haveria ainda o espaço, isto é, a capacidade de caber algo, sem que houvesse. No universo não existe vazio, pois todo o espaço, mesmo que não contenha matéria, é preenchido por campo gravitacional, outros campos e pela radiação que o atravessa, de qualquer espécie.
No nada não existe nem o espaço, isto é, não há coisa alguma nem um lugar vazio para caber algo. O conceito de nada inclui também a inexistência das leis físicas que alguma coisa existente obedeceria, dentre elas a conservação da energia, o aumento da entropia e a própria passagem do tempo. Sendo o espaço o conjunto dos lugares, isto é, das possibilidades de localização, sua inexistência implica na impossibilidade de conter qualquer coisa. Isto é, não se pode estar no nada. O nada é, pois, um não-lugar.
Por definição, quando se fala de existência se fala da existência de algo. O nada não é coisa alguma, logo não existe. O nada é um signo, uma representação linguística do que se pensa ser a ausência de tudo. O que existe são representações mentais do nada. Como uma definição ou um conceito é uma afirmação sobre o que uma coisa é, o nada não é positivamente definido, mas apenas representado, fazendo-se a relação entre seu símbolo (a palavra "nada") e a idéia que se tem da não-existência de coisa alguma. O "nada" não existe, mas é concebido por operações de mente. Esta é a concepção de Bergson, oposta à de Hegel, modernamente reabilitada por Heidegger e Sartre, de que o nada seria uma entidade de existência real, em oposição ao ser.
Por que os presidenciáveis discutem tanto o aborto? A legalização ou não do aborto cabe aos parlamentares, não é? Até mesmo o veto do presidente pode ser derrubado pelo Congresso Nacional!
Isto é só uma questão eleitoral, cada um querendo tirar do outro o voto dos religiosos, que são contra a legalização da possibilidade do aborto em qualquer circunstância. Já falei sobre isto em outra resposta neste sítio. Pena que ele não tenha um mecanismo interno de busca. Veja:
http://www.formspring.me/wolfedler/q/1332718480
"A fonte de todo o mal é o egoísmo."Mas se não cobiçássemos coisas alheias,não teríamos economia,compra/venda de capital,e em determinados aspectos,esporte e cultura em todas suas formas.Em suma,a sociedade colapsaria.Logo,o senhor é socialista,não?
O que eu não gosto nos esportes e jogos é, justamente, competição. Prefiro os que não envolvam isto, como alpinismo. Detesto, especialmente, esportes que usem bola. Discordo totalmente de que a falta de cobiça seria prejudicial à sociedade. Pelo contrário, uma sociedade em que todos sejam generosos e desprendidos seria muito mais satisfatória para todos. Não sou socialista nem comunista, pois estas concepções supõe a existência do estado e de governos. Sou anarquista. Considero que todos teriam que trabalhar de graça uns pelos outros, sem que existisse dinheiro e nem propriedade. Tudo seria de todos e ninguém seria dono de nada. Colaboração e não competição é que levará a humanidade a um estado de segurança, paz, harmonia, tolerância e fraternidade que possibilitarão o bem estar, a alegria e a felicidade de todas as pessoas. Um mundo sem governos, sem fronteiras e sem religiões. Tudo comunitário e compartilhado, inclusive as esposas e os maridos. Economia se teria sim, mas uma economia não monetarista, de geração e distribuição de bens. Estou falando de uma sociedade ultrassofisticada tanto técnica quanto culturalmente. Essa sociedade ácrata é a tendência espontânea de evolução da humanidade e, sem que se tome medidas para que seja atinginda em menos tempo, percebo que será alcançada em poucos milhares de anos. Se se envidar esforços positivos para tal, poderemos chegar lá em algumas centenas de anos apenas. Já discutí, em outras respostas neste formspring, como isto poderia ser feito. Em meus blogs também se poderá achar o que penso digitando "anarquismo" na caixa de busca. Se você acha que sou um lunático utopista, acertou. Mas são os loucos que fazem diferença para mudar o mundo. Os normais não contribuem com nada, exceto com a manutenção do que está aí e o provimento de sua própria vida, sem significância. Quanto ao capital, é justamente o tipo de coisa que se deve acabar com. Não pelo comunismo nem pelo socialismo, mas por sua extrema pulverização até que ninguém seja empregado de ninguém e todos sejam capitalistas. Então o capital se tornará algo desnecessário, em termos monetários. Só persistirão o trabalho e os recursos naturais, compartilhados por toda a humanidade, sem donos.
A questão abortista deveria ser colocada em plebiscito?
Eu prefiro que não, como também no caso do desarmamento. Basta que seja discutida no âmbito do Congresso Nacional. Os plebiscitos são levados em um clima passional que prejudica a análise serena e imparcial dos prós e contras.
Uma causa e seu respectivo efeito podem ocorrer simultaneamente?
Não. O efeito sempre é posterior a sua causa. Isto é que é o "Princípio da Causalidade" e não, como se pensa que "Todo evento seja efeito de uma causa". Inclusive um dos critérios de determinação do sentido do fluxo do tempo é este princípio, além do princípio da não diminuição da entropia em sistemas isolados. Causalidade é uma relação entre eventos e não entre seres, como se pensa. Mas não é obrigatório que todo evento provenha de outro que lhe cause. Pode ser fortuito, isto é, sem causa, como, aliás, o é a maior parte deles, em um nível subatômico de ocorrências. Todavia, macroscopicamente falando, a causalidade parece presidir a todos os eventos. No caso de interação física entre sistemas, descritas pela "Lei da Ação e da Reação", em que a ação seria a causa da reação, ambas iniciam e se encerram ao mesmo tempo, do ponto de vista macroscópico, isto é, na física clássica.
O senhor concorda com o pensamento religioso de que é o cobiçar o bem alheio o berço do mal e da ignorância?
A fonte de todo o mal é o egoísmo. Inveja, cobiça, preguiça, ira, gula, luxúria, vaidade, soberba, avareza, orgulho, mentira, desonestidade, crueldade e todo tipo de males e vícios têm origem no egoísmo. As virtudes, por sua vez, provém do altruísmo, que é o amor ao outro e ao mundo. Quanto à ignorância, em si mesma não é uma maldade, mas pode ser o resultado da preguiça, quando não for da burrice, que também não é uma maldade, no sentido que não pode ser imputada à pessoa como a execução de uma deliberação livre.
O ser humano vive para desejar ou tirar a dor para o prazer ocorrer?
O ser humano não vive para desejar. O desejo faz parte da vida, mas não é o seu objetivo. Da mesma forma, evitar a dor é algo que se deve procurar, sem dúvida. Mas também não pode ser colocado como o objetivo da vida. Tanto um como o outro são metas muito pobres para que sejam erigidas como a razão de se viver. A vida não tem um propósito extrínseco a si mesma. A finalidade da vida é, simplesmente, viver. Contudo, para que nossa mente possa estar aquietada, sentimos necessidade da dar um significado à vida. E o maior que se possa dar é vivê-la de forma a transformá-la em motivo de melhoria do mundo para todos os seres. Viver virtuosamente, para fazer o bem é o melhor modo de se conquistar a felicidade e sentir-se realizado em viver. O acúmulo de riquezas e a satisfação egoísta de todos os prazeres não é capaz de dar à mente a paz e a gratificação de uma vida dedicada à promoção do bem e à erradicação do mal. Nesse caminho pode-se e deve-se fruir dos prazeres e evitar a dor, desde que isto não seja feito em detrimento da felicidade dos outros, exceto em casos partícularíssimos e pontuais. Como norma geral o egoísmo não leva à felicidade. A busca da felicidade, inclusive, se for colocada como meta de vida, não será atingida. Atinge-se a felicidade quando se esquece de procurá-la e vive-se para fazer o bem, mesmo que isto possa trazer alguma dor.
prove que 1 é maior que 0 Se 1 > 0 então x.x^(-1) > x + (-x) ( x diferente de zero) Logo x.x^(-1) > x + (-x) => x.(1/x) > x + (-x) => x > x + (-x)/1/x => x > x(x + (-x)) => x/x > x(x + (-x))/x => 1 > x + (-x) = > 1 > 0 Esse tipo de prova é válida?...
Isto não é uma demonstração, pois se parte de 1>0 para se chegar a 1>0. No caminho multiplica-se por x depois divide-se por x. É só malabarismo.
E o que é ser pandeísta para você?
O pandeísmo pretende conciliar um Universo que foi criado por um Deus e começou a existir num dado momento com o fato de Deus ser o próprio Universo. Assim, pelo pandeísmo, Deus existia como entidade extrínseca ao Universo e o criou como uma transformação de si mesmo em tudo o que existe. Pelo panteísmo o Universo sempre existiu, sempre foi Deus e Deus não é nada além do Universo. Outro conceito é o de panenteísmo, pelo qual o Universo é e sempre foi parte de Deus, mas este é mais do que o Universo, ambos tendo existência eterna para o passado e para o futuro.
O que é ser panteísta?
Considerar que Deus seja uma entidade imanente ao Universo, isto é, essencialmente unido a ele, ou seja, que todo o Universo seja parte de Deus, ou ele inteiro. Assim o Universo teria uma mente, provida de sensibilidade, inteligência, vontade, memória, personalidade, consciência e todos os demais atributos psíquicos de uma mente, além da faculdade e do poder de agir sobre si mesmo em função se seus planos, desejos e vontade. Como somos parte do Universo, também seríamos parte de Deus e comungaríamos de sua consciência cósmica. Na concepção panteísta, o Universo não foi criado por Deus, pois é ele mesmo e sempre existiu.
Olá. Antes de tudo, queria agradecer por você manter esse espaço pra educar as pessoas. Você pode me explicar qual foi o retorno do investimento na corrida espacial pra humanidade?
Mostrar que é possível viajar para fora da Terra. Além disso, grande parte do desenvolvimento tecnológico se deve às pesquisas para a corrida espacial, como nas telecomunicações, sondagens meteorológicas, astronomia orbital, computação, ciência de materiais, aeronáutica, medicina, engenharias e muito mais. Absolutamente não foi em vão, mesmo que esteja em ritmo morno, mas o fundamental já se sabe. Agora é aperfeiçoar para possibilitar viagens espaciais corriqueiras e exploração interplanetária. Sem esquecer, é claro, de resolver os problemas da Terra primeiro. Mas isto pode seguir em paralelo.
UNIVERSO OSCILANTE seria tão mais fácil para a militância ateista se uma teoria encantadora como essa fosse comprovada.Espero ver isso acontecer antes de morrer.Alguns estudos apontam que esse modelo é impossivel.O que acha disso?Eu poderia manter minhas
Esta é uma possibilidade, defendida, inclusive, por meu orientador de mestrado, Mário Novello. Todavia não há indícios observacionais que a sustentem, como também as concepções de Multiversos ou da origem branâmica (não confundir com bramânica) do Universo. No momento a única informação que se tem é sobre o momento em que tudo o que existe começou a se expandir. Sobre como surgiu ou se já existia são conjecturas.
Quais os maiores dilemas do atheos amigo? Seria pôr deus em plano quântico ou metafísico? Será que ele sobrevive lá? rsrs
Deus é um conceito metafísico. Mas não é uma realidade sobrenatural. Isto não existe. Nem a Física Quântica tem nada a ver com Metafísica ou Sobrenatural (que são conceitos distintos). São interpretações equivocadas muito comuns pelo trabalho de pessoas como Deepak Chopra, Fritjof Capra, Amit Goswami, Rhonda Byrne e outros que tais. Tudo baboseira!
Muitos cientistas crêem em uma realidade transnatural. A física quântica faz a ponte com uma consciência cósmica. É perigoso abrir esses conhecimentos para as massas. Eles devem permanecer herméticos. O que acha?
O hermetismo é um perigo muito grande porque nunca se sabe se os detentores desse conhecimento são as pessoas que, realmente, possuam o discernimento para bem usá-lo. É preferível que o conhecimento sempre seja dado a público e que a sociedade, como um todo, articule mecanismos de controle do seu uso. Não acho que cientistas, filósofos, políticos, juristas, sacerdotes ou militares tenham mais competência para saber o que é bom ou ruim para todos do que a população como um todo. Se as massas podem ser manipuladas, que se esclareçam as massas. Nada como a democracia, total e abrangente, em todos os aspectos. Inclusive considero que privacidade não seja algo a que se precise manter. Não vejo mal nenhum, pelo contrário, vejo um bem, no fato de todo mundo saber tudo a respeito de todo mundo.
Quanto à relação entre a física quântica e a consciência, apesar da opinião de cientistas renomados, como Schrödinger, Bohm e Penrose e toda a turma da Gnose de Princeton, considero um grande equívoco de interpretação. Primeiro que o observador de um sistema físico não precisa ser um ser dotado de consciência, mas qualquer outro sistema que troque informação com o primeiro. O que ocorre é que, quando dois subsistemas do Universo interagem com uma troca de informação isto altera seus estados para um estado que seja auto-estado da observável que tenha sido passada como um auto-valor na informação. Não tem nada a ver com consciência. Consciência é uma função da complexidade de certas estruturas e de sua dinâmica, como o sistema nervoso humano, também passível de ser encontrada em outros sistemas, mesmo artificiais, que venham a ser produzidos. Mas não é nada imanente ao Universo como um todo. Quanto ao princípio antrópico, ele é inteiramente insustentável. A sintonia fina das constantes da natureza que permitem a existência do Universo e da vida são uma mera coincidência. Se não fossem como são, simplesmente não existiríamos e, talvez nem o Universo tal qual é, ou nada, absolutamente. Não há justificativa para supor que tais valores tenham sido ajustados por alguma inteligência exatamente para permitir que existíssemos. É coincidência, como quase tudo ao longo da evolução cósmica e biológica.
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
O ternário brilha em cada canto do universo - E a mônada é seu princípio.
É o que consta no oráculo de Zarathustra, segundo os princípios pitagóricos, abraçados pela maçonaria, pela cabala e pela ordem Rosacruz. Eu, todavia, cético e materialista, não acredito nas prescrições esotéricas. Primeiro porque acho que restringir conhecimentos importantes para o bem estar de todo mundo, como eles crêem que seja, apenas a iniciados é algo até, eu diria, imoral. É preciso que todo conhecimento seja dado a público. Por isto não tenho simpatias pelo esoterismo. Sou a favor do exoterismo, que é característico da ciência. Segundo que esses conhecimentos não passam por um critério de validação rigoroso, isento e aberto, configurando-se mais em crenças pseudocientíficas do que e epistemes, como ocorre com a astrologia, a numerologia e outras que tais. Terceiro porque não vejo como justificar a existência de qualquer tipo de entidade espiritual e divina. Essa questão do número três é apenas uma questão matemática e geométrica, não tendo nenhuma implicação metafísica, como o pensavam Pitágoras e Kepler, por exemplo. Ciências ocultas não são ciências, mas mitos. Que o número um seja a base da aritmética e esta a base da álgebra e da análise é um fato matemático, que, inclusive, possibilita todo o cálculo numérico e as operações dos computadores. Mas que isto tenha um significado metafísico, não tem não.
É preciso ter fé para ser ateu? Achar que tudo veio do nada...
Claro que não. O ateísmo é justamente a ausência da fé, entendida como uma crença não apoiada por indício algum de sua veracidade. Achar que tudo tenha surgido sem que tenha sido proveniente de algo já existente, todavia, não é uma característica do ateísmo. O teísmo também considera que Deus criou o Universo sem que houvesse algo de onde tirar seu conteúdo. Isto não significa vir do nada, pois nada não é algo de que se possa provir algo. O panteísmo considera que o conteúdo do Universo é o próprio Deus e o deísmo, neste aspecto, acompanha o teísmo, só que não acha que Deus seja providente, apenas criador. A unica alternativa para que o Universo não tenha surgido sem provir de coisa alguma é que sempre tenha existido, o que é uma possibilidade que não contraria nenhum preceito lógico, ontológico ou fenomenológico. O panteísmo considera assim, mas o ateísmo não rejeita esta possibilidade. Os dados observacionais, contudo, indicam que houve um início para a existência do Universo. A diferença entre as concepções ateístas e as demais é que o ateísmo considera que este surgimento (dito, impropriamente, "do nada") tenha sido fortuito, isto é, incausado, enquanto nas concepções teísta e deísta este surgimento ("do nada", insisto) teria sido causado pela interveniência de um agente extrínseco ao Universo, que é o suposto Deus. Considerar esta possibilidade, sim, é que requer fé, pois não há indício nenhum de que tal fato tenha se dado. O surgimento incausado é, pois, a hipótese nula, isto é, a que se considera válida, se não se provar o contrário. Ela não precisa ser provada, pois, não havendo evidência nenhuma da existência de Deus, isto só pode ser aceito se for comprovado por algum raciocínio baseado em fatos evidentes, o que não se conseguiu fazer até o momento. Assim, a ausência de fé implica, necessariamente, na concepção ateísta.
Você acredita que algum dia será possível à ciência desacelerar bastante ou até mesmo suspender o ritmo de envelhecimento do ser humano?
Sim. O envelhecimento e a morte são uma espécie de doença dos organismos vivos. Esta doença surgiu como uma vantagem adaptativa da evolução, nos eucariotas metazoários e nos vegetais e fungos. Bactérias são eternas. O ser humano, com o desenvolvimento da ciência, pode intervir na natureza e mudar o fluxo natural da evolução, impedindo os fatores que levam ao envelhecimento e à morte, como a deteriorização dos telêmeros.
Vamos supor por um momento que fosse possível transferir a consciência humana para uma máquina. A máquina é avançada a ponto de ter sensores que proporcionem uma imitação do nosso sistema sensorial. Você gostaria de experimentar isso?
Sim, é claro. Acho que isto vai acontecer, mas ainda demora. A tendência é o surgimento de seres mistos, os cyborgs e, depois, andróides completamente artificiais, mas com mente e consciência, além de auto provimento de energia, de modo a poderem ser considerados artefatos vivos e, mesmo, pessoas. Só que imortais. As pesquisas do Nicolélis vão nesse sentido, apesar de ainda muito incipientes.
domingo, 17 de outubro de 2010
No nível atômico, ilustramos prótons, nêutrons e elétrons como bolinhas. Isso é meramente didático ou as partículas sub-atômicas têm essa forma? Elas têm alguma forma definida, de fato?
É meramente didático. A forma das partículas não é definida. Quando livres de interações com outras, são aproximadamente esféricas, devido às interações internas, mas não tem uma fronteira rígida. As partículas são quantizações de campos que têm uma distribuição espacial de densidade, que se atenua exponencialmente de forma assintótica. Quando em interações com outras, a distribuição espacial da intensidade de seu campo pode tomar variáveis formatos, como se dá com os elétrons ligados aos átomos que se distribuem espacialmente nos orbitais. Dizer que são quantizações é dizer que seu campo possui uma individualidade, caracterizada por certas grandezas que medem atributos que ficam indissoluvelmente ligados a ela, como sua carga, massa, spin e outros números quânticos que a caracterizam, como se fosse uma carteira de identidade. Quando se encontra uma região do espaço em que esses valores estão presentes, diz-se que alí há a partícula por eles caracterizada.
O que aconteceria se uma cratera com aproximadamente 300 m de diâmetro fosse aberta no meio do oceano, com profundidade suficiente para chegar ao manto terrestre?
A espessura da crosta no fundo dos oceanos é bem pequena, da ordem de 5 a 10 km, enquanto a continental vai de 30 a 50 km. Uma cratera submarina que fendesse a crosta e expusesse o manto provocaria uma troca de calor, com aquecimento da água e resfriamento do manto, criando uma película de crosta. Para se ter uma idéia, 300 m de diâmetro seriam 70 mil m². A diferença de temperatura entre a água e o manto logo abaixo (descontinuidade Moho) é de apenas 100°C, provocando um fluxo de calor de um milhão de calorias por segundo, mas isto é pouco e causaria um aquecimento de apenas 60°C na água, que logo se dispersaria pelo oceano. Se esta cratera fosse provocada pela queda de um meteorito, a dissipação de energia cinética do meteorito provocaria um aquecimento muito maior, Digamos que o meteorito tivesse uma tonelada e viesse a 100 km/s. Sua energia cinética seria de 4,5E11 J, ou seja dez trilhões de calorias, o que daria para ferver um milhão de toneladas de água, equivalente ao volume de um cubo de 100 m de aresta.
O que faz a vida valer a pena?
Primeiro que não é nenhuma pena. A vida é maravilhosa, mesmo com suas vicissitudes e percalços. Para alguém que esteja passando por graves problemas de doença, penúria extrema, aprisionado ou escravizado, a vida é, sim, uma pena e, em alguns casos, pode não valer, sendo preferível o suicídio, que acho que é algo que se pode levar em consideração. Mas só nos extremos. Normalmente viver é extasiante, embriagador, extremamente precioso e único. Sentir que se respira, que o coração bate, que se enxerga, se ouve, se sente os odores, os sabores, os toques, o frio, o calor, a sede, a fome, o desejo. Que se pensa, que se sente, que se ama e é amado. Tudo isto é fantástico e nos dá um sentimento de poder, de vigor, de alegria de satisfação, de realização. Sim, pois a razão e o propósito da vida é a própria vida. Vivê-la intensamente e em plenitude, fruindo tudo a que se tem direito é o que lhe dá sentido e significado. Mas não me refiro a um hedonismo desenfreado e egoísta. Sou um estóico-epicurista. Considero que a felicidade é a maior recompensa, mas não o objetivo e sim uma retribuição por se viver virtuosamente, gozando os prazeres com moderação, sem efeitos colaterais dolorosos e, principalmente, fazendo o bem, que é o que nos dá mais satisfação e alegria em ver que nossa vida é importante para que o mundo se torne melhor. Assim a vida tem valor, mesmo sem pena, e gostaríamos que ela se prolongasse por dezenas de milhares da anos, para que possamos contribuir mais ainda para a felicidade global que incluirá, em consequência, a nossa própria.
O que aconteceria se uma cratera com aproximadamente 300 m de diâmetro fosse aberta no meio do oceano, com profundidade suficiente para chegar ao manto terrestre?
A espessura da crosta no fundo dos oceanos é bem pequena, da ordem de 5 a 10 km, enquanto a continental vai de 30 a 50 km. Uma cratera submarina que fendesse a crosta e expusesse o manto provocaria uma troca de calor, com aquecimento da água e resfriamento do manto, criando uma película de crosta. Para se ter uma idéia, 300 m de diâmetro seriam 70 mil m². A diferença de temperatura entre a água e o manto logo abaixo (descontinuidade Moho) é de apenas 100°C, provocando um fluxo de calor de um milhão de calorias por segundo, mas isto é pouco e causaria um aquecimento de apenas 60°C na água, que logo se dispersaria pelo oceano. Se esta cratera fosse provocada pela queda de um meteorito, a dissipação de energia cinética do meteorito provocaria um aquecimento muito maior, Digamos que o meteorito tivesse uma tonelada e viesse a 100 km/s. Sua energia cinética seria de 4,5E11 J, ou seja dez trilhões de calorias, o que daria para ferver um milhão de toneladas de água, equivalente ao volume de um cubo de 100 m de aresta.
Porque você demora para responder umas perguntas e responde logo a outras?
Porque eu não tenho muito tempo e porque umas eu já sei o que dizer e outras eu tenho que estudar para responder. Outras ainda eu apago por julgar inconvenientes. Este é um direito meu. Minha intenção é responder a todas, mas o ritmo em que surgem é mais rápido do que o que eu consigo responder. Todavia não deixo de responder nenhuma por medo de enfrentar questionamentos, discordâncias ou por desagradar a uns ou a outros. Tenho minha visão de mundo bem construída e convicções firmes sobre o que acredito, sem temer nenhuma represália. Isto não significa que não possa mudar meu pensamento, caso convencido seja por argumentos bem consistentes. Mas não pelo temor de ir para a cadeia, levar uma surra ou ser morto, por exemplo.
Porque você demora para responder umas perguntas e responde logo a outras?
Porque eu não tenho muito tempo e porque umas eu já sei o que dizer e outras eu tenho que estudar para responder. Outras ainda eu apago por julgar inconvenientes. Este é um direito meu. Minha intenção é responder a todas, mas o ritmo em que surgem é mais rápido do que o que eu consigo responder.
Se aproveitamos a vida por causa da morte,caso fôssemos imortais,viveríamos um tédio sem fim?
Para mim, não, de jeito nenhum. O que eu gostaria de fazer na vida nem em algumas dezenas de milhares de anos eu conseguiria. Queria ler estudar a fundo todos os livros que já foram escritos, assistir a todos os filmes que já foram rodados, escutar todas as músicas que já foram compostas, ver todas as obras de arte que já foram produzidas, visitar todos os lugares deste planeta, cada metro quadrado e todos os níveis de profundidade dos oceanos, além de todos os planetas e astros de todas as galáxias. Estudar todos os cursos de todos os assuntos que existem para serem conhecidos, Conversar com todas as pessoas que existem. Namorar todas as mulheres. Escrever milhões de livros e de poemas, compor milhões de canções, pintar milhões de quadros. Enfim, não consigo vislumbrar o mínimo tédio numa vida eterna. Aliás, quando eu acreditava em Deus e na imortalidade da alma, meu sonho era, justamente, poder dispor da eternidade para fazer tudo isto, além de poder bater papos eternos com o criador para saber tudo a respeito de cada átomo do Universo e de todos os conjuntos de átomos do Universo, isto é, de todos os seres.
Como você explicaria o desastre chileno entre 1973 e 1989, quando tentou-se implantar um sistema totalmente descentralizado e libertário e que não alcançou as devidas expectativas?
O regime de Pinochet pretendia ser libertário e descentralizado mas, de fato, era autoritário e centralista. Além do mais, foi um regime imposto pela força. O verdadeiro regime libertário só existe se surgir de forma espontânea, como um desejo simultâneo do povo e do empresariado, implantado pela via democrática, isto é, pela eleição de um parlamento e um governo comprometidos com medidas descentralizadoras e libertárias e que as aplique de forma gradual mas firme e segura, até que se atinjam condições de se prescindir do dinheiro, da propriedade e do governo. Isto é um processo muito lento, muito lento mesmo, da ordem de centenas de anos. Principalmente porque só tem sentido se for adotado em todo o mundo. Não há como se ter um país anarquista. Anarquismo só existe como condição global. O caminho para o anarquismo não é o socialismo nem o comunismo, mesmo que o anarquismo seja comunitarista. O caminho é o liberalismo extremado, a descentralização total e o capitalismo tão pulverizado que toda pessoa se torne patrão e não haja mais empregado nenhum. Isto só pode ser gradual e tem que ser levado adiante paralelamente a um programa educativo que leve, também, a que todos os adultos tenham, pelo menos, o nível médio de educação formal, que sejam politicamente conscientes e cultos. Que se invista no aprimoramento da inteligência como meta da educação, além da transmissão de conhecimentos e da aquisição de habilidades. Sem falar da formação do caráter. Neste projeto também é preciso conscientizar o empresariado de que a meta da sociedade é comum tanto para o povo quanto para a elite detentora do dinheiro e do poder. Tal meta é um mundo justo, próspero, harmônico, fraterno e pacífico para todos e não só para alguns. Todos que eu digo, são todas as pessoas, de todos os países, de todas as raças, de todas as religiões. Todos irmanados, uns cooperando com os outros e abdicando de parte de sua riqueza para o bem comum. Construindo uma riqueza coletiva e não individualizada. Certamente, de forma sustentável, isto é, preservando a qualidade do meio ambiente. É perfeitamente possível se construir um mundo só de ricos. Isto mesmo, em que TODOS sejam ricos, pelo menos num nível de renda mensal de, digamos, cinco mil dólares per capita, bem uniformemente distribuída, em que a máxima renda não passe do quíntuplo e a mínima da quinta parte disto.
Olá professor. Parabéns atrasado pelo teu dia, rs. Mas enfim, o sr. já ouviu falar em ateus sobrenaturalistas?
Obrigado. Nunca ouvi falar de ateus sobrenaturalistas. Se estou entendendo são pessoas que acham que não existem deuses mas que exista uma realidade sobrenatural, isto é, espíritos. Normalmente o ateísmo é associado à descrença na existência de espíritos também, como é o meu caso. Gostaria de conhecer os argumentos que essas pessoas possuem para considerar a existência de espíritos. Tal é o caso dos budistas, penso eu. Mas eles não têm uma comprovação da existência de espíritos, apenas crêem, como crêem na metempsicose.
Mas em relação ao capítulo 8 de João, a real intençao de Jesus com adúltera é mostrar q nem oq sem pecado julgaria ela, mas que ela pela graça fosse a partir livre a fazer o correto,"vai e nao peques mais". Pois como bem falou Jesus, "o meu fardo é leve".
Sou um grande admirador de Jesus como pessoa humana e procuro seguir muitos de seus ensinamentos, como doar todos os meus bens aos outros, mesmo considerando seu grande equívoco em supor-se Deus, se é que ele supunha mesmo. Mas discordo de vários pontos. Não considero, como Nietzsche considerava, que sua proposta seja para a construção de um homem fraco, derrotado e servil. Pelo contrário, para sustentar as virtudes da honradez, da justiça, da honestidade, da solidariedade, da compaixão, da temperança, da prudência e todas aquelas que fazem um ser humano sábio e valoroso, há que se ter muita coragem, destemor, valentia, bravura para, justamente, contrapor-se aos egoístas, mesquinhos, prepotentes, cruéis, insensíveis, que querem impor sua vontade à revelia do bem estar geral. O verdadeiro santo é um guerreiro, não para dominar os outros e escravizá-los, mas para libertá-los do jugo dos senhores da injustiça. O próprio "jihad" muçulmano, em princípio, não é uma guerra contra os infiéis, mas contra o pecado. Todavia a noção de pecado como atitudes e comportamentos contrários à vontade divina não pode prevalecer, mesmo que haja Deus, pois não se sabe que vontade é esta. As ditas "escrituras sagradas" não são absolutamente sagradas, mas uma coletânea de textos de autores diversos que se diziam portadores da palavra de Deus, ou, até mesmo, criam nisto, o que não tem o mínimo fundamento. Pecado, para mim, é uma conduta anti-ética, isto é, que despreza o outro em função da satisfação própria. Muito do que algumas doutrinas religiosas dizem ser pecado, absolutamente não o é, como o caso do sexo fora do casamento ou a homossexualidade. Mas o que mais condeno no cristianismo é a crueldade de Deus em se sentir aplacado em sua ira pelo sacrifício atroz de seu próprio filho. É um completo disparate. Aliás acho esquisitíssimo esse negócio de Jesus ser Deus e ter sido crucificado como expiação a Deus Pai, isto é, a si mesmo, já que o Pai, o Filho e o Espirito Santo são o mesmo Deus. Mas... como dizem os cristãos, isto é um mistério, aliás dois: o da Santíssima Trindade e o da Redenção. Para mim, Deus, em sua revelação, deveria ter deixado isto tudo bem explicadinho.
Deixe uma mensagem para os nazistas:
Larguem disso! Não há razão nenhuma que justifique privilegiar qualquer grupamento humano em detrimento de outro. Tampouco para supor que uma pretensa superioridade seja motivo para dominar o mundo. A filosofia nazista é fruto de um exacerbado sentimento de soberba, prepotência, orgulho, egoísmo e mesquinhez, além de desdém pela sorte do outro. É o oposto das virtudes que caracterizam uma pessoa como nobre, valorosa, magnânima, sábia, justa, equânime, bondosa. É a valorização de comportamentos vís e abjetos. Não tem nada a ver com o übermensh de Nietzsche nem com sua "vontade de potência", concepções que foram assimiladas erroneamente pelos nazistas alemães.
Também concordo,que a moralidade de muitos que se proclamam cristãos é falsa.Mas a veracidade de uma posição é independente do caráter dos seus crentes.Fora disso é falácia de ad hominem.E como bom cristão que sou e não anarquista,sou contra a legalizacao
Concordo que má conduta de crentes e de sacerdotes não depõe contra o valor de uma doutrina religiosa, se ela condena aquela conduta. E como cristão que você é, está certo em não admitir a legalização da prostituição, porque a doutrina cristã considera pecaminoso o sexo fora do matrimônio e mesmo o sexo dentro do matrimônio se ele não for o sacramento cristão. Certamente você, como eu, jamais fez uso da prostituição. Mas, como não sou cristão, discordo desse aspecto de sua doutrina e acho que sexo pode ser feito fora do matrimônio sim, mesmo que nunca o tenha feito enquanto casado e nem agora em que, não sendo casado, vivo uma união estável e fiel com minha mulher. O que não admito, em hipótese nenhuma, é a traição, isto é, fazer sexo fora da união conjugal, sem o conhecimento e o consentimento do cônjuge. Não havendo união conjugal, o sexo pode ser feito livremente entre qualquer casal, até do mesmo sexo, desde que, também, com consideração pela outra pessoa, que não seja usada como objeto, mas num envolvimento que inclua afeto e carinho. Mesmo que seja com um prostituto ou uma prostituta, que não é uma situação que considero desejável, mas que admito pelos motivos que já explanei.
palavras são signos para representar objetos ou objetivos, ou uma classificação de fatos do ser humano?
As palavras são signos que representam idéias. As idéias, por sua vez, são imagens mentais, pictóricas, auditivas, cinestésicas, olfativas, gustativas e de todas as ordens passiveis de percepção, de seres da realidade, suas qualidades, ações no mundo, suas modalidades, bem como abstrações construídas pela própria mente a partir do que ela apreende do mundo pelos sentidos e sentimentos que são conscientizados a partir de emoções vivenciadas organicamente. As idéias não precisam de palavras para existir. É possível se articular o pensamento e o raciocínio a partir de imagens puras e isto é o que acontece na maior parte do tempo, mas a associação delas a palavras dá à mente um poder de funcionamento extremamente potencializado, especialmente na construção de abstrações, como os esquemas modelares representativos da realidade que são as teoria científicas e outros modelamentos das estruturas e da evolução e da dinâmica dos fatos de qualquer ordem, naturais, pessoais, sociais, econômicos ou mesmo puramente abstratos, como os matemáticos. A existência da linguagem possibiilta esse tipo de coisa que seria, de fato, impossível sem ela. Mas linguagem não é só aquela das línguas faladas e de sua escrita, mas todos os conjuntos de símbolos, como os matemáticos, os sinais de trânsito, munidos de sua gramática (morfologia e sintaxe), capazes de representar e transmitir as idéias e sua dinâmica de uma forma inteligível, isto é, provida de um dicionário de associação dos significantes aos significados, que seja aceito por uma comunidade de usuários daquela linguagem. Muitos consideram que a lógica seja apenas uma propriedade arbitrária das linguagens, isto é, das proposições. Considero, contudo, que a lógica já existe nos próprios juízos formulados pelas idéias, mesmo sem representação simbólica. A Matemática, por exemplo, é um espelho de uma ordem estrutural imanente na natureza. Por isso é que se pode, matematicamente, deduzir consequências de leis físicas que são, de fato, observadas na natureza.