sábado, 9 de janeiro de 2010

FÍSICA PARA FILÓSOFOS


Estou começando a escrever um livro que intitulei “Física para Filósofos”. Tenho percebido que a falta de conhecimentos científicos, especialmente de Física e Biologia, entre os filósofos, leva a uma importante lacuna na compreensão da realidade, que compromete o trabalho filosófico. Vou abordar a física do ponto de vista fenomenológico, ontológico e epistemológico: os paradigmas da mecânica clássica, da termodinâmica clássica, do eletromagnetismo, da relatividade restrita e geral, da mecânica quântica, da mecânica estatística, da matéria condensada, do caos e das teorias quânticas de campo. Isto é que os filósofos precisam saber e tratarei de uma forma conceitual, sem deixar de introduzir o modelamento teórico-matemático em nível acessível, assim espero, para quem tenha o Ensino Médio. Qualquer conhecimento matemático de nível superior será suprido no texto, como cálculo infinitesimal e álgebra linear. Proporei também uma metodologia filosófico-científica de abordagem da temática da Filosofia e, ao fim, tecerei comentários sobre cosmologia e biologia, especialmente evolução.
Reproduzo, a seguir, as páginas iniciais da Introdução, que comecei a redigir hoje. Com a dedicação de umas vinte horas por semana, espero terminar o livro em dois meses. Mais do que isto não dou conta, pois trabalho nove horas por dia, alimento meus blogs, pinto quadros, produzo um programa de música clássica, estudo canto lírico e ainda estou escrevendo outro livro, “Primeiros Ensaios”, que é uma compilação, organizada por tópicos, das postagens deste e do meu outro blog.
“A Filosofia é erroneamente considerada por muitos como uma ciência humana. Ela não é uma ciência mas uma metaciência. Abarca tudo o que pode ser cogitado pelo intelecto, seja ou não conhecimento científico. Em se tratando de ciência, abrange todas: exatas, biológicas, geológicas, humanas, sociais e o que mais for, além de se dedicar à consideração de toda e qualquer atividade, cognitiva ou não, como o trabalho e os relacionamentos. Cuida também das linguagens, dentre elas a matemática, dos valores, do sentir, do agir e do fazer, como no caso das artes, a par do pensar e do falar. O filósofo, logo, tem que ser possuidor do mais vasto e eclético cabedal de saberes, não tão superficial assim, além de, é claro, dominar com maestria seu “metier” filosófico propriamente dito.
Filosofia é um complexo que engloba uma atitude, uma atividade, um corpo de conhecimentos e uma arte. É a atitude de ser sempre questionador, é a atividade de refletir sobre a realidade, é o conhecimento que esta atitude e esta atividade produzem e a arte de proceder a este afã e bem usar seu resultado. O conhecimento filosófico não é vulgar nem científico, porque vai além, uma vez que é crítico. A Filosofia não prescinde da ciência, mas a supera, pois, inclusive, discute sua própria validade e traça as diretrizes de como fazê-la. Filosofar, mais do que citar filósofos, cujo estudo, sem dúvida, é de alta relevância, é assimilar tudo o que disseram, para formular as próprias considerações e formar a visão pessoal de mundo, que, a todo o momento, vai sendo reconstruída.
Filosofar é debruçar-se sobre a realidade em todos os seus aspectos (lógico, matemático, geométrico, físico, astronômico, cosmológico, geológico, químico, biológico, psíquico, social, econômico, ético, político, cultural, artístico, linguístico, científico, tecnológico, metafísico, espiritual e qual outro seja); assimilar seu conteúdo, refletir sobre ele, informar-se o máximo possível sobre o que já disseram filósofos, cientistas, literatos, a humanidade enfim, e daí tirar suas próprias conclusões, contestando o que se considerar incorreto; formular conceitos que descrevam de forma adequada a realidade assimilada, delimitando sua esfera de aplicabilidade; fazer levantamentos e experimentos no que for pertinente e possível, para verificar as relações existentes entre aquilo que os conceitos representam nas várias categorias existentes; formular hipóteses que proponham explicações para as relações obtidas; deduzir consequências a partir dessas hipóteses; testar a validade e veracidade das conclusões achadas, reformulando as hipóteses, caso as conclusões não se adequem à realidade e articular argumentos que defendam o resultado concluído e sejam capazes de se opor às explicações alternativas existentes e verificadas errôneas. Procurar as palavras mais adequadas, analisar sua semântica, suas limitações de aplicabilidade e expressar as conclusões em um linguajar acessível não apenas ao especialista, mas à pessoa comum, com certo grau de cultura. Antes de qualquer afirmação, porém, é preciso dizer em que sentido cada palavra está sendo empregada, pois grande parte das discussões filosóficas é puramente semântica. Esta é a metodologia científica que proponho seja também aplicada à Filosofia, para que esta deixe o patamar de uma esfera de conhecimentos baseada em pontos de vista pessoais e se coloque como um corpo objetivo do saber, independente de escolas de pensamento. O capítulo XXX deste livro será dedicado a esta proposta de abordagem metodologia do fazer filosófico.
Nisso tudo, é mister ter desenvolvido as habilidades e competências filosóficas que o estudo formal propicia. Mas é preciso ir além do costume de se fazer apenas o estudo crítico da produção filosófica de algum autor ou escola e ter a ousadia de propor sua contribuição pessoal, ou mesmo, quem sabe, criar uma escola. O ideal é que a Filosofia dispa-se de qualquer rótulo, escola ou adjetivação, isto é, que se apresente em toda beleza de sua nudez, pois assim é que poderá ser admirada na sua verdade e esplendor.
Deleuze está certo, em parte. Filosofar não é apenas construir conceitos. Certamente que isto é um dos mais importantes aspectos da Filosofia, mas não é o mais importante. Os conceitos são arbitrários. Um conceito é uma atribuição de significado a um significante, limitando-o de forma a se saber a que se aplica e a que não se aplica. Isto é necessário para se fazer uma imagem representativa da realidade, em todos os seus aspectos, para que se possa discorrer sobre ela com o uso da linguagem, que é a única maneira racional de se poder fazer compreender o modo como se apreende esta mesma realidade. Mas o fundamental é investigar as relações que aquilo que esses conceitos significam guarda com todo o resto, no mundo real. O cerne da Filosofia é justamente refletir e especular sobre essas relações e propor modelos mentais que as representem em termos dos conceitos formulados. Mas é preciso se proceder a uma verificação fatual ou a uma comprovação lógica, que, em última instância se baseia em evidências fatuais, que valide as hipóteses formuladas na realidade objetiva do mundo. Não me refiro apenas ao mundo natural, mas também ao mundo das abstrações, das normas, dos valores. Quando Kant postula a existência de juízos sintéticos a priori, é preciso entender o que ele quer dizer com “juízo”, “sintético” e “a priori”, para compreender o significado disto. Mas não só. É preciso investigar se, de fato, existe tal tipo de coisa. Isto é construir a Filosofia, que precisa adotar critérios científicos de validação de suas proposições. Assim ela se libertará da existência de escolas de pensamento e se tornará uma disciplina que descreve as razões primeiras e necessárias de tudo o que existe, qualquer que seja a ordem considerada. Nisto se inclui lógica, ética, estética, epistemologia e, inclusive, metafísica, que não é nada famigerada, até mesmo em seu capítulo principal, a ontologia.
Ao filosofar, o importante não é citar quem disse isto ou aquilo, mas debater o que é dito, não importa por quem. Ler muito textos de vários filósofos, concentrando-se no conteúdo. Então fazer uma apreciação das diferentes abordagens e explicações de dado fato e tirar a conclusão pessoal, procurando refutá-la para ver se é suficientemente bem estabelecida. Depois, buscar argumentos que a possam defender. Neste processo, certamente que se usa bastante a intuição, mas é preciso munir-se de argumentos lógicos. O que não é importante é saber se a conclusão segue tal ou qual corrente de pensamento. A Filosofia precisa se despir de adjetivos e procurar chegar a um consenso, como o fazem muitas ciências, inclusive quanto às definições dos termos empregados. Por isto, antes de se iniciar qualquer discussão, os debatedores precisam fazer um acordo sobre o que estão entendendo por cada palavra. Se não houver consenso, que sempre se mencione em que acepção o termo está sendo usado.
Uma das questões mais delicadas no empreendimento de filosofar refere-se à intercessão que ele possui com a construção da ciência. A ciência é um corpo de conhecimentos a respeito da realidade natural, social ou cultural, obtido de forma controlada e garantida e sistematizado em uma linguagem adrede configurada. Para efeito de melhor compreensão, a ciência é compartimentalizada em ciências particulares, em função de seu objeto de estudo, ficando claro que há inúmeras intercessões entre elas. A simples existência desta divisão já provoca problemas na conceituação usada por cada uma para descrever seu objeto de estudo, que podem demandar infindáveis discussões, uma vez que correntes distintas costumam não transigir em seu ponto de vista. Isto não se refere apenas a conceitos mas à própria caracterização ontológica do objeto de estudo, sem falar nas abordagens metodológicas.
Na antiguidade Greco-romana, as ciências constituíam parte do corpo da Filosofia, o que perdurou até início da Idade Moderna, quando as ciências particulares começaram a se tornar independentes e, no século XIX firmaram-se de direito próprio, fato que também permitiu à Filosofia definir os seus contornos. Passaram a serem considerados temas filosóficos aqueles que não pudessem ser abordados cientificamente por um método experimental, mesmo considerando que a experimentação (ou a observação) fosse apenas o modo de se verificar a validade ou não de hipóteses formuladas na forma de modelos teóricos explicativos dos fatos, naturais ou não. Nas concepções mais recentes da metodologia científica, não se faz menção sobre os procedimentos para que sejam formuladas as hipóteses a serem testadas. Se o assunto não puder ser submetido a tal tipo de abordagem, trata-se de um conhecimento empírico ou filosófico. O conhecimento empírico é extraído da observação cotidiana, sem que se busque explicação, o que não signifique que não possua extrema utilidade, especialmente na vida prática. Já o filosófico procura razões, propósitos e relações, a se estabelecer para e entre os elementos envolvidos de diversas categorias, que também se busca delimitar e conceituar. Mas esta busca se dá de uma forma diferente da científica. Não é pelo teste experimental de hipóteses e sim pela análise, reflexão, raciocínio e síntese, que levem a formular juízos sobre a realidade em seus aspectos filosóficos. Esses procedimentos são fortemente influenciados pela concepção de mundo particular do filósofo e pelo esquema pessoal que ele elabora para modelar mentalmente a realidade. Tal característica leva à formulação sistemas de juízos distintos sobre um mesmo tema, o que provoca a existência de “Escolas de Pensamento” que propõe explicações diferentes para as mesmas ocorrências. Há grandes dificuldades em se decidir por qual explicação, de fato, reflete a verdade, pois não há critérios suprafilosóficos para dirimir os antagonismos. Neste ponto a Filosofia se distancia das ciências, pois estas buscam um consenso e ele é achado pela verificação experimental das consequências testáveis que cada tipo de explicação científica pode fornecer.
São considerados temas filosóficos os que concernem à categorização dos elementos da realidade e o estudo de suas estruturas e relações, que é a Metafísica; ao estudo das ocorrências mentais, que é a Psicologia Filosófica; ao estudo do processo da busca do conhecimento e de sua validação, que é a Epistemologia; à metodologia do raciocínio e da argumentação, que é a Lógica; ao estudo dos valores aplicáveis às ações humanas, que é a Ética; ao estudo dos valores aplicáveis ao fazer humano, que é a Estética e ao estudo da organização da sociedade, que é a Filosofia Política.
Aliás, é pela capacidade de permitir sua validação, submetendo-se a testes que procurem invalidá-la, que uma hipótese explicativa é considerada científica, critério denominado “falseamento”. As explicações filosóficas, não sendo falseáveis, assemelham-se às mitológicas e religiosas, com a diferença que estas não são provenientes de nenhum processo de reflexão e raciocínio, sendo, inclusive, refratárias a qualquer tipo de contestação, dentro do arcabouço de sua validade. As filosóficas sempre são passíveis de revisão e, aliás, é isto que tem provocado a linha histórica de evolução do pensamento filosófico, uma vez que cada escola e os filósofos que as fundam ou seguem, contesta as explicações até então disponíveis e propõe a sua, que considera definitiva. Todavia parte da comunidade filosófica continua seguindo outras explicações, não havendo o fenômeno do “corte epistemológico” que há na ciência, pelo qual, cada nova explicação derruba a anterior, que deixa de ser válida, pelo menos de forma ampla, podendo ainda ser aplicada a casos particulares. Algumas ciências também exibem tal fenômeno e, por isto, ainda não se situam no estado de credibilidade da Física, da Química, da Biologia, da Geologia ou da Astronomia, por exemplo, como é o que acontece com a Psicologia, a Sociologia, a Economia e algumas outras.
Além do conhecimento mitológico, religioso, empírico, científico e filosófico, tem-se o conhecimento técnico, que, com base em conhecimentos científicos e, mesmo, empíricos, constrói um corpo de saberes práticos, todavia fundamentados e sempre revistos, que permitem atuar sobre a realidade de forma a modificá-la de modo utilitário, como é o caso da Medicina, das Engenharias, da Agronomia e outros assemelhados. Para completude é importante mencionar a existência de “Pseudociências”, que, apresentando um aspecto científico, todavia não são falseáveis, como é o caso da Astrologia, Homeopatia, Parapsicologia, Numerologia, Criacionismo e, para muitos, a própria Psicanálise, além de outras. A maioria delas oferece explicações patentemente errôneas, mas, muitas vezes, podem propor abordagens verificadas válidas na prática, em certos casos, mesmo sem poderem ser falseadas, como a Acupuntura, a Psicanálise e a Homeopatia.
A compartimentalização dos conhecimentos levou as pessoas a se especializarem exageradamente, a um nível tão alto que engenheiros e médicos, por exemplo, se desculpam por não saber História e Geografia ou por escreverem mal, porque esta não é sua área, da mesma forma que advogados consideram que não precisam conhecer Química ou Biologia, pois não mexem com isto. Não estou falando de conhecimentos num nível profissional, mas no nível que é exigido no vestibular para os cursos de qualquer área de conhecimento. Isto é absurdo! O conhecimento universal no nível do Ensino Médio tem que ser obrigatório para quem quer que tenha um nível superior, não importa a área.
O Ensino Médio peca até por ser insuficientemente abrangente, pois muita cultura geral não é abordada, como literatura internacional, música, artes plásticas, cinema. Não se aprende retórica e dialética, teatro e canto, pintura e escultura, tocar instrumentos musicais, como não se aprende noções de Geologia, Astronomia, Meteorologia. A Filosofia e a Sociologia agora fazem parte do currículo, mas, e a Psicologia? Outra falha é a de não serem passadas habilidades e técnicas de extrema utilidade, como dirigir automóveis, noções de eletrotécnica, mecânica, hidráulica, construção civil, marcenaria, eletrônica, culinária, corte e costura, digitação, informática com certo aprofundamento e, principalmente, inglês e outra língua, num nível de proficiência impecável. Tudo isto são assuntos que podem muito bem dar conta de se ver entre o sexto ano do Ensino Fundamental e a terceira série do Ensino Médio, desde que toda escola o seja em tempo integral, como deve ser, e que se abandone a fixação pela obtenção de notas e por saber só o que cai no vestibular.
A consequência é a formação de pessoas com graves déficits culturais que atuam em várias áreas sem uma noção ampla e razoável do mundo em que se encontram inseridas. Mesmo quem se considera uma pessoa culta pode padecer desse tipo de problema.
Costuma-se entender por cultura (não na acepção antropológica) um cabedal de erudição linguística, literária, poética, histórica, filosófica, psicológica, sociológica, econômica, política, administrativa, empresarial, jurídica, religiosa, musical, teatral, cinematográfica, artística ou de outras áreas das ditas “humanidades”. A pessoa culta, ou “intelectual” é considerada ser alguém versado, fluente, articulado e capaz de bem argumentar sobre esses temas em qualquer discussão. Todavia não lhe é exigido e nem lhe é imputado como demérito, na qualidade de intelectual, não entender de ciências como Matemática, Estatística, Física, Química, Cosmologia, Astronomia, Geologia, Meteorologia, Geografia, Biologia, Genética, Evolução, Medicina, Neurociências, Agronomia, Zootecnia, Mecânica, Eletrônica, Engenharias e tecnologias em geral.
Esta é uma terrível inversão de valores, que leva a sociedade a ter uma visão incompleta e, até mesmo, distorcida, da realidade do mundo em que se encontra inserida. Pelo menos no nível do Ensino Médio, é preciso que advogados, negociantes e todos que lidam com as humanidades tenham sólidos conhecimentos de ciências exatas e biológicas, que médicos, dentistas e quem mexa com ciências biológicas o tenham em exatas e humanidades da mesma forma que engenheiros, físicos e técnicos da área de ciências exatas transitem facilmente nas humanas e biológica (repetindo, no nível do Ensino Médio, que é simplesmente o básico para todo mundo). Sem mencionar que a fluência retórica, dialética e textual precisa ser um domínio comum a todo cidadão.
Não sendo assim, como poderá alguém emitir uma opinião embasada sobre qualquer tema candente que envolva conhecimento fora de sua área específica? Como saber se o desvio do Rio São Francisco é bom ou mal? E o uso de células tronco embrionárias? E a responsabilidade humana pelo aquecimento global? Quem não entenda o básico desses assuntos ficará à mercê das opiniões de especialistas ou oportunistas, que defendem, muitas vezes eristicamente, sua posições numa babel desconcertante de possibilidades.
O fato de não ser da sua área não é desculpa para não entender análise sintática, logaritmos, progressões geométricas, termodinâmica, eletrônica, bioquímica, genética, oriente médio, “El niño”, mais valia, silogismo ou o que for. E quanto ao Inglês, não se pode admitir que alguém que possua nível superior, pelo menos, não seja capaz de ler sem problemas um texto em Inglês, senão não vai conseguir fazer nenhuma busca relevante de conteúdo pela internet.
Para isto é que o ingresso nas universidades pede um e-xame geral do todos os conteúdos. Aliás, é o que bastaria, sendo inteiramente dispensável uma avaliação por área de estudo. O ingresso ao Nível Superior precisa apenas avaliar a saída do Nível Básico. Mas não pode se ater à exigência mínima de apenas 30%. Este mínimo teria que chegar, pelo menos, a 60%, sendo ideal uns 80% para capacitar alguém a fazer curso superior.
A Educação Básica, por sua vez, tanto no Nível Funda-mental quanto no Médio, nas escolas públicas e privadas, precisa cumprir a sua parte e colocar na praça uma meninada com aproveitamento mínimo de 80% em todos os conteúdos, aferido de forma inteligente e honesta. Como fazer isto? Esquecendo o que cai nos vestibulares e praticando um processo de ensino-aprendizagem voltado para o que verdadeiramente seja necessário para a vida. Fazer o menino e a menina pegarem gosto pelo conhecimento de forma que eles queiram, de fato, aprender conteúdos e habilidades, para formar competências fortemente vinculadas às necessidades da vida, expurgando os conteúdos inúteis e fazendo da atividade discente uma coisa lúdica, excitante, tão prazerosa como um videogame ou tão gostosa quanto namorar.
Para despertar o interesse dos alunos, em primeiro lugar o professor tem que dominar a fundo e de modo abrangente sua matéria. Depois, além de boa apresentação, tem que ter o dom da oratória, da dialética (argumentação), excelente dicção e um “mise-en-scène” em que sua aula seja uma representação teatral. E, o mais importante: tem que ser super entusiasta e vibrador com o assunto e com a atividade educacional. Tem que por a turma para participar ativamente e não passivamente, Levantar discussões polêmicas. Esquecer o que cai no vestibular. Isto não é importante: passa no vestibular quem sabe a matéria. Estimular os alunos a estudar coisas extras, que não caem na prova. Não “mastigar” tudo. Não passar “dicas” e “macetes”. Por os alunos para deduzir fórmulas por conta própria. Levá-los a descobrir as, coisas, os fatos e as leis por si mesmos. Transformá-los em detetives e cientistas. Ser amigo deles (mas não um “amiguinho” de bebedeiras), ser um exemplo de pessoa que eles admirem e queiram imitar. Ser um farol para a vida deles, um pai (ou mãe). E abordar especialmente os mais arredios, dando-lhes responsabilidades e incumbências. Assim se conseguirá formar uma geração de jovens instruídos, hábeis, cultos, competentes, lúcidos e conscientes, capazes de conduzir as rédeas da humanidade nos próximos tempos.
No caso da formação do filósofo, o curso se foca quase exclusivamente no conteúdo humanista da Filosofia. Eis um imperdoável equívoco! Por tudo o que foi dito até agora, não resta dúvida de que o trabalho filosófico requer uma extensa cultura geral e um razoável conhecimento científico. Isto é inevitável. O filósofo é o mais generalista dos profissionais acadêmicos. É quem “entende de tudo” e não há como escapar de assim o ser. É preciso que ele tenha uma curiosidade insaciável por tudo que represente conhecimento, não só em sua área específica. Tem que conhecer todas as artes e todas as ciências. É o intelectual por excelência, o pensador, o crítico de tudo o que existe, o contestador, o criador de propostas inusitadas e radicais, o porta-bandeira do progresso cultural e do crescimento da consciência da humanidade. E, sem dúvida, tem que ser o exemplo de pessoa de vida virtuosa, a candeia a ser colocada no alto do velador, para espargir a luz esclarecedora do conhecimento, que espanca as trevas da ignorância e leva à realização plena da pessoa. O filósofo é um sacerdote sem religião, a serviço da verdade.
Mais do que todas as ciências é a Física que possui a maior intercessão com a Filosofia. A razão é que a Física é a ciência fundamental da natureza e a natureza é a base de tudo o que existe. Não existiria sociedade nem cultura se não houvesse pessoas que delas participassem. E pessoas são entidades naturais, cuja existência, constituição, estrutura e funcionamento são fatos físicos, desde que se entenda que a Biologia seja um capítulo da Física. Mas não é só isto. De fato, grande parte dos temas considerados filosóficos, ao longo da história da ciência, foram, pouco a pouco, passando a objetos de estudo da Física. Tal se deu com os modelos cosmológicos, com as noções de matéria, movimento, espaço, tempo, bem como sutilezas como o princípio da causalidade e o determinismo, a noção de simultaneidade, os conceitos de nada, vazio, vácuo, infinito, eternidade e muito mais.
A própria estrutura das explicações é fortemente influenciada pela Física. A opção por explicações holísticas ou reducionistas não é uma questão de opinião, mas, em primeiro lugar, de um perfeito entendimento do que se está entendendo por cada uma delas e, depois, por uma tomada de decisão com base em dados observacionais. Aliás, esta é uma das questões cruciais que a Física levou à Filosofia: a possibilidade de aplicar os métodos de falseabilidade às explicações filosóficas e se poder tirar uma conclusão independente de opiniões.
Todos esses assuntos serão discutidos neste livro, a começar pelo estabelecimento de uma “Ontologia Física”, em que se categorizará os fatos físicos e se definirá e conceituará de forma clara todas as entidades, atributos e ocorrências de natureza física que possam haver. Apreciar-se á a metodologia científica usada pela Física. Então se fará uma apreciação dos modelamentos da realidade que as teorias físicas propuseram, como a Mecânica Clássica, a Termodinâmica Clássica e o Eletromagnetismo Clássico, que inclui a Ótica Clássica, a Física Estatística Clássica e a Teoria Clássica de Campos, especialmente a Dinâmica dos Fluidos. As Teorias Relativísticas, Restrita e Generalizada serão apresentadas, bem como a Mecânica Quântica, a Física Estatística Quântica, a Física da Matéria Condensada, A Física Nuclear, as Teorias Quânticas de Campo, que descrevem os modelos de Partículas Elementares, incluindo as teorias das Supercordas, Branas, a Teoria M e do “Loop” Gravitacional. A abordagem será essencialmente conceitual, mas se fará a introdução das principais equações. Um apêndice matemático possibilitará seu entendimento. Especial destaque será dado às interpretações físicas e às implicações filosóficas de todos os modelos teóricos.
Capítulos finais serão dedicados especialmente à Cosmologia e à Biologia, como ciência física. A obra será encerrada com uma proposta de metodologia filosófica análoga à científica. Uma extensa bibliografia, inclusive com links da internet, permitirá ao leitor aprofundar-se nos temas em que tiver maior interesse.
Este livro não é uma tese de doutoramento nem uma obra estritamente acadêmica, assim não se verá notas de rodapé a cada inserção de alguma idéia de outro pensador. Tudo que está sendo dito é produto do que eu mesmo absorvi pela leitura da bibliografia citada, refleti, interpretei e exarei no meu modo de ver, acrescido de minha contribuição pessoal. Quando faço qualquer afirmativa, isto deve ser sempre entendido como tendo antes a observação “Considero que…” Assim ele é, de certa forma, uma obra de opinião, apesar de procurar, sempre, expressar aquela que passou pelo crivo da mais exigente bateria de testes, que é sempre a que adoto, até que novas evidências me obriguem a mudar. Grande parte do seu conteúdo já foi publicada nos últimos cinco anos nos blogs que possuo na Internet e nos fóruns de discussão de que participo, citados na bibliografia.
Quero agradecer a todos que debateram comigo nos tópicos, sem citar especialmente ninguém, pois foram muitos, uma vez que suas ponderações me fizeram refletir ou para reforçar meu ponto de vista com melhores argumentos, ou para mudá-lo, convencido que fui de meu erro. Agradeço especialmente à minha família e a minha esposa Fátima, pela subtração de nosso tempo de convivência em troca de horas e horas de leituras, estudos, consultas e participações em debates pela internet.”
À medida em que for escrevendo o resto da introdução, postarei neste blog, mas não o livro todo. Isto vocês terão que aguardar para comprar. A editora da edição preliminar será a “Clube de Autores”, na qual também editarei os “Primeiros Ensaios”.

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