sexta-feira, 14 de maio de 2010

Caro Wolf, o que o senhor acha do governo/regime Cubano?

Sou um comunista que abomina as ditaduras. O governo cubano é ditatorial. Isto macula tudo quanto de bom ele possa ter feito.

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Religião e Crença

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É preciso se fazer distinção entre Religião e Crença Religiosa. A crença religiosa é a aceitação, como verdade, de proposições a respeito da existência de entes sobrenaturais, como deuses, espíritos, almas, anjos, demônios, gênios, bem como sobre o comportamento dessas entidades, sua relação com o mundo natural e todas as decorrências para a vida dos seres naturais (humanos, em especial) da veracidade de tais proposições. Por outro lado, religião é todo um aparato construído em torno dessas crenças. Ela envolve não só as crenças, mas uma doutrina que as corporifica e justifica, uma comunidade de fiéis, uma organização que administra tais crenças perante a comunidade, um corpo de funcionários (sacerdotes e agregados) um conjunto de práticas litúrgicas a respeito das crenças, livros sagrados sobre elas, uma legislação a respeito e um conjunto de instituições e edificações (templos, seminários, escolas, asilos, mosteiros, hospitais etc.). Tal aparato se caracteriza como uma “representação social”, nos termos de Durkheim, Piaget, Moscovici, Jodelet e Fischer.

Pode-se possuir crenças religiosas sem se ser filiado a religião alguma, da mesma forma que pode-se ser filiado a uma religião, por conveniências sociais, sem se possuir a crença correspondente.
Minha percepção é de que, antropologicamente, as crenças surgiram num estágio bem anterior que as religiões. Sua origem se prende à busca de explicações para as ocorrências inexplicáveis a uma primeira abordagem. Como, normalmente, toda ocorrência podia ser imputada à ação de um sujeito (humano ou animal, em geral) considerou-se que as que não possuíam um sujeito identificável seriam devidas a sujeitos ocultos, invisíveis, porém capazes de produzir ações sobre a natureza. Tais sujeitos seriam os espíritos. No caso de serem detentores de poderes especiais, seriam deuses. Em todas as culturas, de modo independente, tais noções foram concebidas. Com o passar do tempo elas vieram a ser corporificadas em uma narrativa consistente, inventadas por anônimos e passada de geração a geração, com acréscimos e variações, consistindo nos “mitos”, dos quais surgiram as primeiras religiões.


As religiões, contudo, não são um produto espontâneo do povo, mas uma apropriação dessas noções por um grupo especial dos “feiticeiros”, “xamãs” ou outro nome que lhes seja dado, que, certamente diferenciado por sua maior inteligência e poder de manipulação das pessoas, passaram a gerir tais conhecimentos, não só em benefício do povo, mas, especialmente, do próprio grupo, que, nesta circunstância, passou a gozar de vários privilégios, vindo a se tornar os “sacerdotes”. Um fator, contudo, foi determinante no estabelecimento das religiões como força coerciva e controladora do comportamento social. Trata-se da associação dos sacerdotes com os detentores do poder político, em geral derivado da força militar. Como a manutenção da submissão do povo à vontade do potentado pela coação pela força é algo por demais custoso, pelo menos nos períodos de paz, e não se pode viver permanentemente em estado de guerra, a submissão pelo convencimento religioso, que se dá em função do medo de castigos sobrenaturais ou da danação na vida eterna, é sumamente conveniente e isto foi logo percebido pelos chefes das nações que se auto-proclamaram sumo-sacerdotes e descendentes diretos dos deuses. Por um sistema de troca de favores e coação física os sacerdotes foram cooptados pelos mandatários e os dois grupos dominaram e ainda dominam as massas populares. Alguns podem até estarem convencidos genuinamente da origem divina de seu poder, mas, certamente, a maioria sabia que isto era uma invenção para dominar o povo.


As complexas religiões hinduísta, judaica, zoroastrista, budista, taoísta, o paganismo greco-romano, a cristã e a islâmica foram uma evolução desses mecanismos sociais, em alguns casos, umas surgindo das outras, como o budismo do hinduísmo e o cristianismo e o islamismo do judaísmo. O espiritismo provém de uma racionalização do hinduísmo com o cristianismo.
Na atualidade, o crescimento do conhecimento científico em todas as áreas mostra que sempre é possível achar-se explicações naturais para tudo, minando as bases das crenças religiosas, pois a hipótese de deus e de espiritos não precisa ser invocada para coisa alguma. Mesmo assim, a rejeição de crenças religiosas e a adoção do ateísmo, ou, pelo menos, do agnosticismo, ainda não é tão disseminada. Em parte porque o analfabetismo científico ainda impera para as massas populares. Mas, mesmo entre a camada culta da sociedade, o ateísmo ainda não é a regra. Isto se dá, no meu entendimento, primeiro porque a cultura humanística ainda prepondera sobre os conhecimentos das ciências naturais, segundo porque assumir-se ateu ainda é, de certa forma, uma atitude anti-social em muitos meios, em alguns casos, como nos estados teocráticos muçulmanos, podendo levar, inclusive, à pena de morte.


No entanto, a tendência é no sentido de se ter uma rejeição cada vez maior das religiões. Isto é bom ou ruim? Há um lado ruim, uma vez que a perda das referências éticas da religião leva a um comportamento desprovido de balizamento moral que propicia o aumento da licenciosidade e da criminalidade. Ética, contudo, não tem nada a ver com religião. As religiões é que se apropriaram dela como parte de seu corpo doutrinário. Pode-se, com toda a certeza, desenvolver-se um comportamento ético na sociedade sem apelo nenhum para prêmios e castigos na vida eterna. O lado bom é, justamente, o afastamento de ilusões, que, mesmo caras a quem as adota, são enganosas. É preferível encarar-se a realidade da inexistência de deus e de seu socorro nas aflições, uma vez que orações são inteiramente inócuas. Há que se confiar na própria sociedade e nos outros para o socorro de cada um e para a disseminação do bem e erradicação do mal.

terça-feira, 11 de maio de 2010

você considera que a matemática existe no mundo ou ela esta apenas na mente humana? e a propósito, como você se coloca em relação a mente humana? você é eliminativista?

Os fatos matemáticos existem no mundo, mas a construção de um arcabouço teórico que os correlacionem e expliquem é um construto mental, que, inclusive, pode transcender aos fatos existentes no mundo e conceber sistemas puramente abstratos, sem relação nenhuma com a realidade. Todavia a matemática que se presta a descrever os fenômenos naturais é calcada em um modelamento da própria realidade natural. Em outras palavras, a própria lógica, que é decorrente do modo operacional da mente, é tal qual é porque a natureza opera segundo as leis que existem para descrever seu comportamento. Se o Universo tivesse surgido funcionando de outra forma, com outras leis descritivas, a lógica não seria como é. Isto inclui qualquer concepção de lógica e não apenas a dicotômica tradicional. Quanto à mente, não compartilho da concepção eliminativista de que não existam estados e processos "mentais", mesmo que conceba a mente como um ocorrência do organismo, sem participação de nenhuma entidade de ordem não física, como algum tipo de "alma". O que se dá é uma categoria de fenômenos complexos ocorridos, especialmente no sistema nervoso, mas não apenas, que se configuram nos estados e processos ditos "mentais", como percepções, pensamentos, raciocínios, emoções, sentimentos, desejos, volições e tudo o mais em que consite a "vida psíquica", de acordo com a psicologia popular, tão defenestrada pelos eliminacionistas. No entanto, o eliminacionismo dá grande contribuição à psicologia e às neurociências ao procurar encontrar que ocorrências neurais correspondem a tais estados e processos psíquicos.

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http://www.youtube.com/watch?v=VqgcrJs5cPE O que tu achas dos argumentos em prol da existência de deus apresentados nesse vídeo?

Há certos valores que se distribuem positivamente a partir do zero, como é o caso da luminosidade e da temperatura, isto é, escuridão é apenas baixa luminosidade e frio é apenas baixa temperatura. Outros, contudo, estendem-se a partir do zero no sentido positivo e no negativo, como a carga elétrica. Tal é o caso da beleza e da feiúra, como do bem e do mal. Mal não é apenas a ausência do bem. É algo deliberadamente urdido para causar dor, prejuízo, sofrimento, tristeza, infelicidade. Ausência do bem e do mal é a indiferença, uma situação neutra. Além do mais o mal não é apenas o produto de uma ação consciente. Pode ser resultante de ocorrências da própria natureza, como catástrofes, doenças etc. Se Einstein disse o que este vídeo mostra, ele se equivocou em sua analogia. De fato, em desacordo com esta idéia, proposta por Agostinho de Hipona, o mal é uma realidade em sí e, portanto, se tudo o que existe é obra de Deus, também o é o mal e, se Deus o permite, ou não é bom ou não é onipotente. Isto, contudo, não comprova que ele não exista, pois pode ser que, existindo, de fato não seja bom.

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Caro von Rückert, qual é a sua opinião sobre Leonardo Boff e a teoria da libertação? Peter

A doutrina de Boff é a "Teologia da Libertação" que, em resumo, considera Jesus Cristo (e, em decorrência, sua Igreja) como agente libertador da opressão dos pobres pelos ricos. Que os pobres sejam oprimidos pelos ricos e precisem ser libertados (tornando-se ricos), não resta dúvida. Que isto tenha sido o projeto de Jesus Cristo é que não confere, pois sua pregação foi no plano espiritual. Pretender associar o cristianismo ao marxismo é um equívoco, pois o marxismo, dentre outras propostas, pretende exatamente libertar o homem do jugo das religiões, consideradas "o ópio do povo". Sou um ateu anarco-comunista, mas não um marxista, pois repudio a luta de classes e a ditadura do proletariado. Minha linha se aproxima mais de Bakunin, Kropotkin e Malatesta, mas sou pacifista. Considero que o anarquismo é um caminho natural da humanidade, fatalmente a ser atingido, cujo alcance, contudo, pode ser abreviado por um processo educativo e por medidas políticas democráticas. Mas é um longo processo, da ordem de séculos.

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segunda-feira, 10 de maio de 2010

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"Nada não é coisa alguma e não pode gerar nada." O nada-jocaxiano não é considerado por você?

O nada jocaxiano é simplesmente o nada, isto é, a ausência de tudo, inclusive de regras. Logo não é capaz de gerar coisa alguma. Mas as coisas podem surgir sem ter sido geradas. Quando se diz "surgir do nada", quer se dizer que surge sem ter do que provir.

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vc considera a posição agnóstica viavel ou é apenas um engano na compreensão do significado desta palavra quando algumas pessoas se classificam unicamente como agnósticas?

Não aceito o agnosticismo porque considero que a existência ou não de Deus é algo passível de verificação, mesmo que ainda não se tenha uma resposta definitiva. Posiciono-me pelo ateísmo cético (não dogmático) pois vejo que os maiores indícios são no sentido de sua não existência.

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Em que você baseia sua moral? e pq?

Acho que a moral tem que seguir três princípios éticos: que toda ação promova a maximização da felicidade para o maior número de seres, que possa ser erigida como norma universal e que seja tal que a desejemos para nós mesmos. Atendendo a tais critérios as ações serão sempre benéficas à coletividade e à própria pessoa, no cômputo final. O bem e o mal são noções válidas por si mesmas, sem necessidade de referências extrínsecas à ética, como uma possível vontade divina.

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e como você se porta em relação ao vegetarianismo?

Não sou vegetariano mas considero salutar o consumo moderado de carne, preferivelmente branca. O que observo é que, na natureza, animais comem outros animais e o ser humano é capaz de digerir carne, portanto não é herbívoro. Acho, contudo, que o abate de animais deve ser feito do modo mais indolor possível.

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domingo, 9 de maio de 2010

Religião e crença

É preciso se fazer distinção entre Religião e Crença Religiosa. A crença religiosa é a aceitação, como verdade, de proposições a respeito da existência de entes sobrenaturais, como deuses, espíritos, almas, anjos, demônios, gênios, bem como sobre o comportamento dessas entidades, sua relação com o mundo natural e todas as decorrências para a vida dos seres naturais (humanos, em especial) da veracidade de tais proposições. Por outro lado, religião é todo um aparato construído em torno dessas crenças. Ela envolve não só as crenças, mas uma doutrina que as corporifica e justifica, uma comunidade de fiéis, uma organização que administra tais crenças perante a comunidade, um corpo de funcionários (sacerdotes e agregados) um conjunto de práticas litúrgicas a respeito das crenças, livros sagrados sobre elas, uma legislação a respeito e um conjunto de instituições e edificações (templos, seminários, escolas, asilos, mosteiros, hospitais etc.). Tal aparato se caracteriza como uma "representação social", nos termos de Durkheim, Piaget, Moscovici, Jodelet e Fischer.
Pode-se possuir crenças religiosas sem se ser filiado a religião alguma, da mesma forma que pode-se ser filiado a uma religião, por conveniências sociais, sem se possuir a crença correspondente.
Minha percepção é de que, antropologicamente, as crenças surgiram num estágio bem anterior que as religiões. Sua origem se prende à busca de explicações para as ocorrências inexplicáveis a uma primeira abordagem. Como, normalmente, toda ocorrência podia ser imputada à ação de um sujeito (humano ou animal, em geral) considerou-se que as que não possuíam um sujeito identificável seriam devida a sujeitos ocultos, invisíveis, porém capazes de produzir ações sobre a natureza. Tais sujeitos seriam os espíritos. No caso de serem detentores de poderes especiais, seriam deuses. Em todas as culturas, de modo independente, tais noções foram concebidas. Com o passar do tempo elas vieram a ser corporificadas em uma narrativa consistente, inventadas por anônimos e passada de geração a geração, com acréscimos e variações, consistindo nos "mitos", dos quais surgiram as primeiras religiões.
As religiões, contudo, não são um produto espontâneo do povo, mas uma apropriação dessas noções por um grupo especial dos "feiticeiros", "xamãs" ou outro nome que lhes seja dado, que, certamente diferenciado por sua maior inteligência e poder de manipulação das pessoas, passaram a gerir tais conhecimentos, não só em benefício do povo, mas, especialmente, do próprio grupo, que, nesta circunstância, passou a gozar de vários privilégios, vindo a se tornar os "sacerdotes". Um fator, contudo, foi determinante no estabelecimento das religiões como força coerciva e controladora do comportamento social. Trata-se da associação dos sacerdotes com os detentores do poder político, em geral derivado da força militar. Como a manutenção da submissão do povo à vontade do potentado pela coação pela força é algo por demais custoso, pelo menos nos períodos de paz, e não se pode viver permanentemente em estado de guerra, a submissão pelo convencimento religioso, que se dá em função do medo de castigos sobrenaturais ou da danação na vida eterna, é sumamente conveniente e isto foi logo percebido pelos chefes das nações que se auto-proclamaram sumo-sacerdotes e descendentes diretos dos deuses. Por um sistema de troca de favores e coação física os sacerdotes foram cooptados pelos mandatários e os dois grupos dominaram e ainda dominam as massas populares. Alguns podem até estarem convencidos genuinamente da origem divina de seu poder, mas, certamente, a maioria sabia que isto era uma invenção para dominar o povo.
As complexas religiões hinduísta, judaica, zoroastrista, budista, taoísta, o paganismo greco-romano, a cristã e a islâmica foram uma evolução desses mecanismos sociais, em alguns casos, umas surgindo das outras, como o budismo do hinduísmo e o cristianismo e o islamismo do judaísmo. O espiritismo provém de uma racionalização do hinduísmo com o cristianismo.
Na atualidade, o crescimento do conhecimento científico em todas as áreas mostra que sempre é possível achar-se explicações naturais para tudo, minando as bases das crenças religiosas, pois a hipótese de deus e de espiritos não precisa ser invocada para coisa alguma. Mesmo assim, a rejeição de crenças religiosas e a adoção do ateísmo, ou, pelo menos, do agnosticismo, ainda não é tão disseminada. Em parte porque o analfabetismo científico ainda impera para as massas populares. Mas, mesmo entre a camada culta da sociedade, o ateísmo ainda não é a regra. Isto se dá, no meu entendimento, primeiro porque a cultura humanística ainda prepondera sobre os conhecimentos das ciências naturais, segundo porque assumir-se ateu ainda é, de certa forma, uma atitude anti-social em muitos meios, em alguns casos, como nos estados teocráticos muçulmanos, podendo levar, inclusive, à pena de morte.
No entanto, a tendência é no sentido de se ter uma rejeição cada vez maior das religiões. Isto é bom ou ruim? Há um lado ruim, uma vez que a perda das referências éticas da religião leva a um comportamento desprovido de balizamento moral que propicia o aumento da licenciosidade e da criminalidade. Ética, contudo, não tem nada a ver com religião. As religiões é que se apropriaram dela como parte de seu corpo doutrinário. Pode-se, com toda a certeza, desenvolver-se um comportamento ético na sociedade sem apelo nenhum para prêmios e castigos na vida eterna. O lado bom é, justamente, o afastamento de ilusões, que, mesmo caras a quem as adota, são enganosas. É preferível encarar-se a realidade da inexistência de deus e de seu socorro nas aflições, uma vez que orações são inteiramente inócuas. Há que se confiar na própria sociedade e nos outros para o socorro de cada um e para a disseminação do bem e erradicação do mal.

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