Em minha atividade docente, envido todos os esforços para conscientizar a juventude sobre a improcedência da crença em Deus e em espíritos, bem como na total inutilidade das religiões estabelecidas. Posso até admitir que alguém creia em Deus no foro íntimo, mas instituir uma organização que dispute com outras similares a primazia de ser a detentora da verdade a respeito, além de promover uma sangria da economia pública para sustentar uma classe improdutiva e inútil, que são os sacerdotes e afins, isto eu considero um abuso. Para tal é preciso que todos os ateus se manifestem como tal às abertas e façam um trabalho de esclarecimento público, pela internet, escrevendo artigos em jornais, dando palestras, pugnando pela genuína laicidade do estado, participando de debates em aulas de religião nas escolas e tudo mais que for possível. Até mesmo candidatando-se a cargos eletivos, declarando-se abertamente ateus. Pode ser que a extinção total das religões leve bem mais que mil anos (uns cinco mil, eu penso). Mas muitas religiões do passado foram extintas, como a egípcia, o zoroastrismo, a greco-romana e outras. Acho mais difícil extinguir o judaísmo, o islamismo e o hinduísmo que o cristianismo, pois este é mais difundido no ocidente, onde o progresso tecnológico e a visão científico-racionalista tem mais chance de esclarecer as mentes, por sua maior difusão.
Talvez vocês se perguntem porque insisto em tentar convencê-los da inexistência de Deus, como aliás o faço com todo mundo. Considero esta a missão a que me propuz, ao lado de espalhar o máximo de conhecimento científico, filosófico, histórico e, mesmo, religioso, sob uma ótica abrangente e antropológica, isto é, sobre a gênese, doutrina e estrutura de todas as religiões. Sou ateu porque é mais honesto, mais verdadeiro, mais coerente, mais responsável, mais racional, mais evidente, mais justo, mais simples, mais honrado, mais lúcido, mais inteligente, mais consciente, mais caridoso, mais comprometido com o prevalecimento do bem e a erradicação do mal, sem outorgar isto a nenhum hipotético preposto. De fato, considero que as pessoas que acreditam em Deus cometem um grande equívoco e desviam seu tempo, sua energia e seus recursos para algo inócuo, enquanto poderiam dispendê-los no trabalho de tornar o mundo melhor, mais justo, equitativo, honesto, fraterno, pacífico e feliz para todos. Outra concepção que abraço e procuro divulgar é o anarquismo, mas isto é assunto para outro tópico.
A militância ateísta de Richard Dawkins, Daniel Dennett, Sam Harris, Michel Onfray, Bart Ehrman, Christopher Hitchens, e outros não me parece, da modo algum, agressiva e mesquinha. Pelo que já li desses autores (todos os livros do Dawkins, “Quebrando o Encanto” do Dennett, “Tratado de Ateololgia”, do Onfray, “A Morte da Fé” do Harris, "Deus não é Grande" do Hitchens, "O problema com Deus", do Ehrman) eles são muito mais educados e têm muito mais consideração pelos crentes do que reciprocamente os crentes em relação aos ateus. Outros autores ateístas que já lí, como Bertrand Russell e André Comte-Sponville, por exemplo, também são respeitosos em relação aos crentes. Certamente que mostram, sem meandros, como eles estão equivocados e condenam, mas mesmo assim com cortesia e elegância verbal, os aproveitadores da credulidade do povo. Esta é uma postura que precisa mesmo ser posta em prática, pois está mais do que cabalmente demonstrado como as crenças, e sua pior manifestação, as religiões organizadas, são nefastas à humanidade. É certo que muita coisa boa se fez em nome de crenças e religiões, mormente no quesito filantropia, mas nada que não pudesse ser feito sem o envolvimento das crenças e religiões. Veja-se, por exemplo, os “Médicos sem Fronteiras”. É preciso que políticos ateus, como o Fernando Henrique, assumam sua condição de peito aberto (não estou abonando e nem estigmatizando o Fernando Henrique em nada aqui, exceto nisto). Tenho orgulho em me proclamar ateu perante todo mundo, sempre que inquirido a respeito, e defendo com bons argumentos minha posição. Apesar disto sou um pessoa conceituada e respeitada em meu meio social por tudo que faço e por minha conduta pessoal e social, além de admirado em meu exercício profissional de professor e administrador escolar. Aproveito tudo isso em benefício da causa ateísta e vejo como missão de minha vida tornar o mundo melhor pelo esclarecimento do povo neste aspecto.
Sou ateísta (ateu) e procuro, de modo cortez e convincente, persuadir as pessoas da justeza de meu ponto de vista. Não considero que o agnosticismo seja a posição mais sensata e razoável. Justificarei.
Antes quero dizer que, a respeito da existência de Deus, há um espectro de posições que podem ser sumarizadas em cinco:
O crente convicto, que está certo de que Deus existe;
O que não tem certeza, mas acha que existe;
O que não sabe dizer se existe ou não (agnóstico);
O que acha que não existe, mas não garante (ateu cético);
O que está certo de que não existe (ateu dogmático).
Também preciso esclarecer que o Deus a que me refiro pode abranger conceitos variados, tendo em comum o fato de ser uma entidade com poder para agir sobre o Universo à revelia de suas leis naturais (um mágico, na acepção verdadeira), não precisando ser justo nem bom, nem único. Mas, além de onipotente, deve ser onisciente, autosuficiente (incausado) e eterno. Sem esses predicados não seria denominado “Deus”. Não precisa também ser uma “pessoa” (ou três).
Dito isto, declaro-me partidário da quarta opção (ateísmo cético). Isto significa que não posso provar que Deus não exista e nem que exista, mas considero que os indícios de sua não existência são mais fortes que os porventura favoráveis a ela.
De pronto quero descartar a fé como critério de veritação da existência de Deus, pois nenhuma crença em coisa alguma garante a sua existência. Além do mais, existem pessoas sinceras em sua fé em entidades divinas de variáveis características, conflitantes entre sí. Se a fé garantisse a verdade de suas assertivas, haveria verdades contradizentes, o que é uma impossibilidade. Como a existência de Deus não é uma evidência sensorial, só pode ser verificada por alguma comprovação racional ou empírica, com base em corolários de sua existência, passíveis de verificação. Além disto, a ausência de evidência de existência coloca o ônus da prova na comprovação da existência e não da inexistência, admitida, pois, por “default”.
O ateísmo cético não se configura, de forma alguma, em uma religião, e sim, em ausencia de qualquer religião, conforme o que normalmente se entende por religião, isto é, um complexo envolvendo uma crença, um corpo doutrinário, uma assembléia de seguidores, uma organização administrativa e hierárquica, um conjunto de edificações para sediar suas atividades, um ritual de procedimentos laudatórios e propiciatórios e mais outros aspectos de menor importância. Nem o ateísmo dogmatico e, certamente, o agnosticismo, são religiões, mesmo que se constate alguma atividade de proselitismo por parte de seus seguidores. Tampouco chamá-los-ia de "crenças", mas sim de "convicções", que são opiniões embasadas em fortes indícios de plausibilidade de suas veracidade.
Concordo em que não se possa zombar da sinceridade da fé de quem a possua e nem afirmar que tal fato seja sinal de ignorância ou burrice. Jamais me posicionei desta forma. No máximo posso dizer que seja por falta de esclarecimento, o que procuro levar, como o faço agora, na tentativa de convencer da impropriedade da fé e da insustentabilidade das propaladas provas da existência de Deus.
Antes de cogitar da implausibilidade de sua existência, vejamos estas:
O argumento ontológico de Anselmo de Cantuária garante Deus por ser este um conceito necessário, uma vez que seria o de um ser perfeitíssimo, cuja inexistência seria uma imperfeição. Primeiro que perfeição não é uma característica essencial do conceito de Deus, segundo que a existência não é atributo de ser nenhum, mas sim um estado de ocorrência, pelo qual o ente conceituado se dá, de fato, na realidade. Logo, o argumento é falacioso.
O argumento cosmológico do motor primo afirma que, como todo evento tem uma causa e o encadeamento de causas no Universo não pode ser infinito, por ser este contingente, há que haver uma causa primeira, extrínseca ao Universo, identificada com Deus.
A premissa maior, de que todo evento tenha uma causa, é falsa (ou pelo menos não garantida), uma vez que provém de um raciocínio indutivo, com base na constatação deste fato em eventos que se dão na escala de dimensões e tempos acessíveis diretamente à observação humana. Ora, toda conclusão induzida não é garantida e pode ser derrubada por um único contra-exemplo. Existem miríades de eventos que não são efeitos de causa alguma no domínio microscópico, como o decaimento radioativo e a emissão de fótons por átomos excitados (a excitação é condição e não causa). Logo, não sendo verdadeira a premissa maior, não é verdadeira a conclusão. A premissa menor também não é verdadeira, pois o fato de ser contingente (poder não existir), não impede o Universo de ser eterno para o passado, contrariando o argumento Kalam, que diz que isto seria impossível, pois não teria havido tempo para se vir do início da eternidade até hoje, e hoje está aquí. Ora, um tempo infinito para o passado não significa um início infinitamente afastado e sim a ausência de um início.
Mesmo respeitando as convicções alheias e jamais fazendo uso de sarcasmo, ironia ou deboche para com pessoas sinceras em sua crença, considero extremamente saudável que se procure esclarecer a impropriedade de muito do que se aceita como verdade, com base em crenças não justificadas, fundamentadas nas denominadas “escrituras sagradas” das diversas religiões. Estabelecer um debate de alto nível, calcado em argumentações comprovadas e evidências incontestes é a atitude mais respeitosa e caridosa que se pode ter para com o próximo, não carcterizando, absolutamente, nenhuma intolerância, desde que se disponha, também, a rever sua própria posição, caso convencido. Assim tenho eu agido em minha carreira docente de 40 anos em que já ministrei mais de 20 mil aulas de Física e Matemática para o Ensino Médio e o Superior, nas quais sempre abordo as implicações filosóficas e existenciais do conhecimento e procuro despertar o deslubramento pela maravilha da natureza e da vida, dissociada de qualquer ligação com alguma pretensa entidade supranatural, criadora e provedora do mundo.
Da mesma forma que os missionários religiosos sentem-se no direito de evangelizar os incréus e cooptá-los para seus rebanhos (direito, certamente, que lhes é inteiramente devido), os ateus podem e devem procurar convencer os crédulos da total impropriedade de suas crenças. Cada um que sopese os argumentos pró e contra e decida o caminho a seguir. Como disse, uma discussão serena e embasada é a melhor forma de dirimir qualquer questionamento, sobre o que quer que seja.
O importante é que se promova uma cruzada de educação científica, em que se exponha, principalmente as crianças e jovens estudantes, ao contato com as revelações da ciência sobre a natureza da realidade, a origem, estrutura e evolução do Universo e da vida. Que também se apresentem as concepções religiosas alternativas à visão bíblica, como as dos vedas, do zend-avesta e todas as demais. Que se cultive o pensamento filosófico crítico e um saudável ceticismo, como método seguro de abordagem da verdade, abstendo-se de todo e qualquer dogmatismo, inclusive ateísta.
Tenho feito isto em palestras em vários colégios, além de debates sobre a origem do Universo e a Teoria da Evolução, confrontando a visão científica com a criacionista. Além do que continuamente escrevo em meus blogs e discuto em fóruns, como no orkut.
Outra coisa por que luto (ingloriamente) é pelo ensino de Física Moderna no nível médio (relatividade, quântica, cosmologia).
Considero isto uma verdadeira missão de vida, recompensada pela quantidade de estudantes por mim orientados e estimulados a seguir carreira científica, especialmente como físicos (notadamente cosmologistas), mas também como biólogos (a química eu já acho por demais tecnológica para levantar esses questionamentos).
Considero que os ateus têm o mesmo direito que os missionários de qualquer crença de fazer seu proselitismo. Há pregadores evangélicos e islâmicos muito mais incisivos em condenar qualquer pensamento discordante do seu, inclusive em rádios e televisões, ininterruptamente transmitindo suas mensagens a todo mundo, sem que sejam por isto incomodados. Como eu, que já fui católico sincero e fiel, muitos outros ateus assim se tornaram justamente por estudarem a fundo as bases de suas próprias crenças. Poucos crentes mantêm-se sinceros em sua crença após tal tipo de reflexão. Alguns, especialmente os que levam vantagem com a crença, como padres, bispos, pastores, gurus, médiuns, aiatolás etc, continuam a externar sua crença e até elaboram argumentos em sua defesa, para não perderem adeptos. Claro que há os que permanecem convictos sinceramente naquilo em que crêem. Estes eu respeito, mas não os primeiros. Todavia estou inteiramente convencido de que incorrem em um grande engano, assim como todos que possuem fé em alguma realidade supranatural, de modo que considero como a missão da minha vida levar a esses a luz da razão e do conhecimento, bem como o valor do ceticismo, juntamente com a disposição para dedicar a vida ao prevalecimento do bem e à erradicação do mal.
O grupo da Gnose de Princeton e a New Age, bem como Amit Goswami, Fritjof Capra, David Bohm, Eugene Wigner, Deepak Chopra, Carl Jung, Rhonda Byrne, Elaine Pagels e mesmo Einstein, Penrose, Schopenhauer e Spinoza, em suas considerações panteístas sobre a existência de uma consciência cósmica, que se manifestaria diretamente a cada mente por gnose, que promoveria uma coordenação inteligente da evolução tanto cósmica quanto biológica e que possibilitaria o entendimento das perplexidades interpretativas da Mecânica Quântica, na verdade fazem uma proposta gratuita, com base em convicções pessoais não verificadas e nem verificáveis, mais ou menos como a cosmovisão espírita de Allan Kardec. Modernas pesquisas neurológicas indicam que o cérebro possui uma propensão para a crença, como artifício capaz de propiciar uma vantagem seletiva ao longo da evolução. Isto não significa, em absoluto, que o objeto das crenças seja realidade. O atual estágio cultural da humanidade não mais requer tal comportamento para a garantia da sobrevivência. É certo que crentes estatisticamente são mais felizes e longevos. Isto pode ser atribuído à sua maior integração na comunidade, em contraste com a rejeição que se tem aos céticos, ateus, homossexuais e minorias em geral. Todavia, mesmo esta vantagem não justifica viver iludido. É preciso que a sociedade encare essas minorias como pessoas de bem, pois, inclusive, a proporção de malfeitores entre eles é menor do que na média da população.
O fato de não se ter, por enquanto, uma explicação evolutiva cabal e pormenorizada para as complexidades biológicas e mesmo para outras ocorrências nem tão complexas, não significa, absolutamente, que esta explicação seja dada pela interveniência de uma inteligência supranatural planejadora e executora da evolução. A aceitação do acaso para dar conta de tais fatos não precisa ser comprovada, pois é a hipótese nula, isto é, a que se considera como verdadeira, a não ser que se prove que não seja, mostrando-se outra que o seja. É preciso entender que o acaso é capaz de qualquer coisa. Outro aspecto que tem que ser entendido em probabilidade é que, se um evento tiver uma probabilidade tal que se possa dizer que apenas após um certo número de ocorrências ele se dará, isto não significa que, ao fim dessas ocorrências ele de fato se dará, nem que não se dará antes que elas sejam atingidas. Isto é a essência dos eventos aleatórios, de que cuida a teoria das probabilidades. Se você jogar na Mega-Sena, terá uma probabilidade baixíssima de ganhar, mas poderá ganhar, e há quem ganhe, senão ninguém jogava. Da mesma forma, o fato do Universo ter atingido a forma como se apresenta por acaso, dentre as imensas possibilidades de sua evolução (muitíssimo maiores do que a de acertar na Mega-Sena), não significa que seja impossível que tenha ocorrido, por acaso. Como poderia não ter ocorrido, ou mesmo nem ter surgido Universo algum. Se surgiu e se é como é, é porque esta foi a sequência de coincidências que se deu, e não outra. Do mesmo modo que quem ganhou na Mega-Sena não o fez porque o sorteio foi planejado para que ele ganhasse, mas calhou de ser ele, e não outro. Acho isto tão claro, que não entendo porque muita gente, ao contemplar tudo como é, conclui que teria sido necessário um plano e um executor para que ocorresse. Por que? Inclusive, se assim o fora, tal projetista seria bem incompetente, pois o Universo é lotado de defeitos e horrores.
Não nego que as religiões trouxeram contribuições positivas para a humanidade em vários aspectos, como no espírito de solidariedade (bom-samaritanismo), não só cristão mas muçulmano, budista, hinduísta, judaico, espírita, xintoísta etc. Outra coisa é o estabelecimento de um padrão de ética (os dez mandamentos). No entanto, tudo de bom que se pode imputar às religiões, não depende de suas doutrinas éticas, metafísicas e cosmológicas e poderia igualmente ser feito sem que elas existissem. O que não se pode fazer sem elas (ou, pelo menos, sem suas crenças) é colocar na mente a esperança na existência de uma vida eterna, na qual o prêmio ou o castigo pela conduta seria concedido e nem a esperança no socorro mágico de uma entidade onipotente, para a solução das vicissitudes que a vida apresenta.
É preciso que se entenda, contudo, que a esperança, assim como a fé, não são virtudes, como a caridade. Pelo contrário, são vícios. Ter fé é crer que certas proposições sejam verdadeiras sem nada que suporte tal crença, sequer indícios altamente plausíveis. Nada poderia ser mais desproposital. Crença é algo que se pode ter e, até, não há como se evitar de ter. Mas que se creia em algo que apresente, mesmo sem garantia, fortes indícios de veracidade. Tal é o caso da crença na realidade objetiva do mundo, independente de uma mente perceptiva.
E esperança é a convicção de que, de alguma forma, por um passe de mágica, sem que se tome a iniciativa de envidar esforços para tal, os problemas serão solucionados. Tão incoerente quanto a fé. Confiar, sem garantia, de que esforços envidados sejam capazes de solucionar problemas é até uma atitude salutar, no sentido de levantar os ânimos para redobrar os esforços. Mas esperança é outra coisa. É uma atitude passiva de uma pessoa pusilânime. Não tenho fé e nem esperança em coisa alguma. Mas creio e confio em que, por iniciativa de cada um e da sociedade em conjunto, seja possível transformar este mundo em um lugar aprazível, justo, pacífico, harmônico e feliz.
Sou declaradamente ateu e procuro, por todos os meios, convencer as pessoas a se tornarem ateístas também, inclusive em minha atividade docente. É claro que respeito as outras convicções, desde que sinceras e acompanhadas do exemplo da própria vida. Mas desprezo a religiosidade de conveniência e faço questão de declarar tal fato a quem assim vejo que procede. No entanto, talvez por minha postura extremamente ética (até mesmo em prejuízo pessoal) e minhas atividades comunitárias solidárias, tenho podido levantar a pecha de imoralidade que pesa sobre o ateísmo e mostrado que ser ateu pode ser, até mesmo, muito mais ético e solidário que ser religioso. Assim posso perceber que sou uma pessoa admirada por muitos religiosos que são meus amigos e me respeitam, como eu a eles (é claro que, se não fossem respeitáveis, não seriam meus amigos). Por isso não percebo ódio de ninguém em relação ao meu ateísmo, apenas desaprovação e, mesmo, piedade, por considerarem que estou apartado da graça divina.
Não me confundam com um pregador que procura convencer as pessoas de sua crença sem argumentos. Em toda a minha atividade docente primei pela posição de um livre pensador, isto é, dou total abertura a todas as manifestações de todos os pontos de vista, suscito o debate e apresento meus argumentos a favor de meu ponto de vista ateísta. Sou um professor de Física que procura ver o lado mais filosófico da Física, além do técnico-científico. E, neste aspecto, o fisicalismo (antes denominado materialismo) é a visão primordial da Física, isto é, considerar que tudo na natureza é inteiramente natural, ou seja, sobrenatural não existe. Isto eu passo aos alunos sim e acho que é meu dever fazê-lo, justamente para abrir suas cabeças para a obliteração que as crenças religiosas fazem a seu pensamento, com a ilusão da existência de Deus. Não especificamente o cristianismo, nem o judaísmo, nem o islamismo, nem o hinduísmo, nem o espiritismo. Todas! Da mesma forma que acho que os religiosos têm todo o direito de expor seu ponto de vista de forma argumentativa, como o faço. Que os alunos decidam. Isto faz parte da saudável posição laica da educação, tanto pública quanto privada. Educação laica não significa não expor os alunos às propostas das religiões, tanto quanto às propostas das ideologias políticas, mas sim não se alinhar institucionalmente com nenhuma. Tenho muitos colegas teístas, até entre professores de biologia que não aceitam a teoria da evolução, que defendem o “projeto inteligente” e dizem isto a seus alunos. Está certo. O que não se pode é fechar questão. Discordo de quem diga que religião (ou sua falta) é questão de foro íntimo e que não se deve tentar convencer os outros de seu ponto de vista. Deve sim! Se não a pessoa não é realmente convicta de seu pensamento. É como filiação partidária em política. É claro que devo convencer todo mundo que conheço a votar no meu partido. Só não posso obrigar. Se eu não tentar mostrar o quanto as pessoas se enganam em acreditar em Deus não me sinto em paz de consciência. Do mesmo modo que quem acredita em Deus tem que fazê-lo no sentido oposto. Caso contrário é incoerente. O erro está na intolerância e no fanatismo, não no proselitismo. Se você considera que cada um tenha o direito de ter a fé e praticar a religião que quizer, ou nenhuma, isto é, se não quer obrigar ninguém a ter a sua fé, não tem problema em proclamá-la a todos, inclusive se esta fé for, exatamente, a falta de fé.