segunda-feira, 10 de setembro de 2012

"Você colhe o que você planta". Por que esse ditado não parece dar certo? Pessoas más continuam seu reinado e pessoas boas só "se fodem"...

Porque não se baseia em dados experimentais verificados. Trata-se de mera especulação, não testada e nem comprovada. É falso. Você pode plantar e não colher, bem como colher o que não tenha plantado. Claro que é mais provável que você colha o que planta, mas nem sempre. Isso só significa que a teia de ocorrências de vida das pessoas, que é feita do entrelaçamento das linhas de vida de cada uma, cujos nós são os encontros e cujas falhas são os desencontros, é feita, grande parte, de modo aleatório, completamente por acaso, por coincidências, mesmo que haja intenção de se seguir certa direção. E esse conjunto de fatos fortuitos não tem nenhuma lógica e nenhuma ética. Não é justo nem injusto, não é bondoso nem maldoso. É completamente indiferente aos sentimentos, aos desejos, à vontade e às decisões, atitudes e ações. Acontece sem que se queira e sem controle nenhum. E é o que mais orienta a sequência de ocorrências que vai constituindo a vida da pessoa.

Você concorda que "ninguém é melhor do que ninguém"?

Depende do aspecto. Mas há diferenças sim, algumas natas, outras adquiridas. Resta saber que modo é considerado "melhor" em cada aspecto. Há pessoas mais belas e mais feias, mais ou menos inteligentes, mais ou menos fortes, mais ou menos saudáveis, mais ou menos trabalhadoras, mais ou menos ricas, mais ou menos influentes e poderosas, mais ou menos bondosas (até maldosas) e assim por diante. Mas uma pessoa pode ter aspectos em que seja melhor e outros em que seja pior. Ninguém é totalmente bom em tudo nem totalmente ruim em tudo. Mas pode ser que um seja melhor em muita coisa e outro pior em muita coisa. Então pode-se dizer que o primeiro seja melhor do que o segundo.

O livre arbítrio do deus cristão realmente existe?

Sim, mas não totalmente. Qualquer ser vivo dotado de sistema nervoso tem um mecanismo de análise das percepções e tomada de decisão a respeito. Até uma formiga. Essa tomada de decisão é influenciada pelas pressões instintivas de conservação do próprio indivíduo e da espécie, bem como pela experiência pregressa registrada na memória (que até formigas possuem). Mas ainda há uma margem de escolha livre, que aumenta à medida que a espécie seja mais complexa, neurologicamente falando, como é a humana. Tal margem advém, em última análise, em um mecanismo de regressão ontológica e fenomenológica, do indeterminismo quântico. Se ele não existisse seriamos todos zumbis. O que se consignou como "livre arbítrio" nas escrituras das religiões abrahãmicas é só a constatação desse fato, inteiramente natural.

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