sábado, 18 de outubro de 2008

Irrelevância da Teologia

Tenho para mim que a Teologia é uma disciplina inteiramente desprovida de significado e relevância e explico. O objeto da Teologia é a análise e interpretação do conteúdo das escrituras consideradas pelas diversas religiões como uma “revelação” da divindade ao homem, como a Bíblia, o Corão, os Vedas, ou, até mesmo, os escritos de Allan Kardec. A questão, desde o princípio, se revela problemática, pois a única garantia que se tem de que, de fato, tais escrituras sejam ditadas pela divindade é a fé daqueles que crêem em tal fato. Ora, a fé, absolutamente, não pode ser critério de veracidade de coisa alguma, pois, se assim o fosse, haveriam inúmeras verdades que mutuamente se contradiriam, já que há pessoa que possuem fé sincera e verdadeira em coisas completamente distintas, que são os seguidores fiéis das diferentes crenças religiosas. Como a verdade, por definição, tem que ser única, surge a questão de decidir por qual das revelações se fazer a escolha como sendo a verdadeira. Mas o critério, nesta escolha, certamente que há de ser externo às próprias crenças que validam cada uma delas. E este critério só pode ser o critério filosófico de veritação que se baseia nas evidências dos sentidos ou nas comprovações racionalmente válidas que se fazem, em última instância, com o apoio de premissas validadas por evidências.

Ao que me consta, nenhuma evidência ou comprovação existe da vercidade de nenhuma dessas “sagradas escrituras”, logo concluo que todas são meramente relatos compilados de mitos ancestrais, passados oralmente de geração a geração, cuja origem deve ter se dado nas explicações fantasiosas que os primitivos elaboravam para enteder aquilo de que não possuiam noção da razão de ser. E se a Teologia se fundamenta em escritos inteiramente desprovidos de razão, que valor pode ter qualquer conclusão que deles se tire?

No meu entendimento perdem o seu tempo aqueles que se debruçam, por exemplo, sobre a Bílblia para extrair algum conhecimento a respeito da realidade. Melhor fariam se a estudassem de um ponto antropológico, como uma manifestação cultural dos povos e deixassem a realidade para ser estudada pela filosofia e pelas ciências.

De fato, coloco a Teologia no mesmo nível de conhecimento da Astrologia e de outros conhecimentos esotéricos desprovidos de qualquer fundamentação.

Que se apresentem os teólogos para justificar porque consideram a Teologia algo de valor, pois estou disposto a mudar meu ponto de vista, caso convencido.

Admitindo-se que deus não exista, como o faço, fica patente que a Teologia é um assunto totalmente desprovido de propósito, pois estuda algo que, simplesmente, não existe. Todavia, mesmo que se considere que deus exista, seu estudo deveria ser feito por meio de uma disciplina racional e científica que é a Teodicéia. A Teologia, por basear-se nas pretensas “revelações”, que, mesmo, reafirmo, considerando a existência de deus, não têm garantia alguma de que sejam, de fato, revelações divinas, peca por completa falta de embasamento. Além disto, mesmo, ainda, que se considerem as ditas “sagradas escrituras” como revelações, haveria um tremendo problema de conciliar as contradições que elas guardam entre si. Só para começar, como conciliar a Bíblia com o Corão? Aquela considera que deus tem personalidade tripla e este simples. E os Vedas, então, que admitem a existência de múltiplos deuses? Alguém diria: ora, todas essas pseudo-escrituras são falsas, só a da minha religião é verdadeira, como o garante a minha fé. Bom… de quem eu estou falando? Como saber quem está com a verdade? Que se pronunciem os Teólogos.

Muitos religiosos congratulam-se com a fé exibida pelas pessoas, considerando ser uma grande virtude a aceitação como verdades inquestionáveis de fatos completamente impossíveis de serem verificados diretamente. Jesus, no evangelho, bendisse os que crêem sem ver, dirigido-se a seu apóstolo Tomé. Bom… eu sou mais cético do que Tomé, pois, mesmo vendo, ainda duvido, achando que possa estar tendo ilusão de ótica. Considero que a fé é um total e completo disparate. Não consigo entender como se pode achar valor em se crer em alguma coisa sem fundamento algum. Por que? Porque está escrito na Bíblia? E daí? Outros livros dizem outras coisas. Devo acreditar em tudo o que está escrito em qualquer lugar? Por que a Bíblia seria diferente de outros livros? Como saber que ela relata verdades e não opiniões? Isto a Teologia é capaz de garantir? Quero saber com que argumentos. Pelo que sei a Teologia judaico-cristã, baseia-se na propria Bíblia. Logo não pode ser capaz de validar a Bíblia. Isto só poderia ser feito por argumentos externos a ela. Quais são eles? A Fé? Isto não faz sentido. A fé não é capaz de servir de critério de verdade e esta assertiva é óbvia. Eu não posso garantir que algo seja verdadeiro porque acho que assim o seja. Daí a Teologia ser um estudo inteiramente desprovido de significado. Todas as extensas elucubrações teológicas dos Padres e Doutores da Igreja, Gregório, Ário, Agostinho, Abelardo, João Crisóstomo, Jerônimo, Macário, Teodoro, João Damasceno, Tomás de Aquino, Anselmo, Boaventura, Bernardo de Claraval, Alberto Magno, João da Cruz, Roberto Belarmino, Tereza de Ávila, Catarina de Siena, Lutero, Calvino, Zwinglio, Spener, John Knox, Lewis, Boff e outros mais, que ocupam milhões de páginas escritas são tão inúteis quanto a literatura sobre Astrologia, Alquimia, Numerologia, Ufologia, Cientologia e outra “gias” que são Pseudo-ciências inteiramente desprovidas de fundamento.

4 comentários:

Cesar Dutra disse...

Se alguém me disser que a nossa mente é limitada, devo concordar apenas se não souberem me explicar racionalmente algo que não há como entender. Se alguém quiser me vender alguma teoria, apenas vou ler e tirar minhas próprias conclusões.Mas se alguém quiser me vender uma idéia de fé, devo dizer que ela não é uma idéia, tampouco emoção, mas atitude que independe no que se acredita.Como a interpretação é livre. Sem fé ou com fé. Impossível é viver sem o paradoxo da descoberta pessoal do que ela representa pra quem decide alguma coisa fazer e no que acreditar.

Herta disse...

O seu blog é super legal. Tem mais a ver comigo, pois trata de pensamentos. E eu vivo no mundo das idéias. Talvez por isso seja tão misturado esse meu modo de ser: um temperamento colérico, mesclado com o melancólico, dando um passeio pela esfera do sanguíneo (dentro da visão antroposófica).
César, não entendi muito bem o finalzinho do que vc disse. Se "calhar", dê uma conferida e explique-me melhor.
Abs ao dois,
Herta Scarascia

Anônimo disse...

A abordagem sobre a "Irrelevância da Teologia" é superlativamente pertinente. O autor verbaliza o que penso e expresso em minhas aulas, quando falo sobre teologia. O texto é sugestivo para quem pretende refletir sobre a atividade teológica. Embora o argumento do autor volte-se contra ele próprio quando diz: "eu sou mais cético do que Tomé, pois, mesmo vendo, ainda duvido, achando que possa estar tendo ilusão de ótica". Ou seja, é ilusão de ótica se sua visão não "bate" com seus pressupostos. Ora, quem garante que a visão da "irrelevância da teologia" não é uma ilusão de ótica? Preocupante isso.
Outro problema é apresentado pela própria questão de ser ou não relevante. Até que ponto esta questão não é subjetiva? Sendo subjetiva, que alcance teria uma definição nesse sentido?
Portanto, o texto precisa de revisão em seus argumentos, embora eu "tenha fé" que a teologia é irrelevante para a minha existência.

Resposta de DE Oração disse...

(Peca por completa falta de embasamento. Além disto, mesmo, ainda, que se considerem as ditas “sagradas escrituras” como revelações, haveria um tremendo problema de conciliar as contradições que elas guardam entre si. Só para começar, como conciliar a Bíblia com o Corão?)

De forma simplória, da mesma forma que lidamos com filosofia. Tese, anti-tese, e síntese, não é desta forma que agimos na Filosofia quando abordamos conhecimentos que parecem ser "antagônicos"? POR EXEMPLO: Os ensinos de Hegel e Marx.
O que vejo, é que os seus pressupostos (crenças pessoais) estão interferindo na sua síntese, não se deve fazer filosofia a partir de pressupostos pessoais. A Teologia em sua análise se vale da Arqueologia, História, Física (design inteligente) Metafisica ( Teodicéia,ontologia, Lógica, Epistemologia), Mas claro que como CRENÇA pessoal, você pode partir dos seus próprios "pressuposto"

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