domingo, 14 de fevereiro de 2010

O prestígio do Magistério



Na página 87 da edição 2151, de 10 de fevereiro de 2010 (http://veja.abril.com.br/100210/prestigio-zero-p-087.shtml), a revista VEJA aborda a questão do desprestígio que a profissão do magistério goza entre os alunos do Ensino Médio que se preparam para um vestibular. Apenas 2% querem ser professores e, mesmo assim, pertencentes ao grupo dos 30% com as piores notas no ENEM. Os melhores alunos aspiram seguir carreira em Medicina, Direito ou Engenharia. Só faz licenciatura e pedagogia quem não tem "cacha" para enfrentar vestibulares mais concorridos. Assim o magistério fica com a borra do fundo da panela, os professores e professoras quase no mesmo nível cultural de trabalhadores sem qualificação.
No tempo em que eu estudava no antigo "Científico" (terminei em 1967), os melhores alunos eram incentivados e desejavam mesmo ser professores, como eu. Não pelo salário, mas pelo serviço que seriam capazes de prestar à humanidade. O que mudou?
Neste interim o ensino democratizou-se exigindo um contingente muitíssimo maior de professores, levando o estado, nos seus três níveis, a reduzir drasticamente o salário do professor público, que hoje, em poder aquisitivo, no início de carreira, é apenas, no meu juízo, uns 20% do que era então. No fim da carreira um professor catedrático do Ensino Médio em escola estadual, poderia receber o equivalente atual de uns dez mil reais. Além disto, eram pessoas de alto prestígio social, como médicos, advogados ou empresários, membros do Rotary Club e similares, possuidores dos poucos automóveis particulares, ainda importados e donos das boas casas da cidade. Isto não faz de ninguém um rico, mas, sem dúvida é atraente para os mais bem dotados academicamente.
Não há dúvida de que o fator primordial para o progresso de uma nação é a educação ampla e de qualidade. Isto precede saúde, habitação, transporte, agricultura, indústria, comércio, emprego e tudo o mais, pois, pela educação, tudo isto será obtido. E uma boa educação se propicia, antes de mais nada, com bons professores. Isto também precede as instalações escolares, os livros didáticos, a merenda escolar, os equipamentos educacionais (carteiras, computadores, laboratórios etc.). É preciso, pois, que a carreira do magistério volte a ser, não apenas dignamente remunerada, mas atrativamente remunerada, o que, no meu entendimento, significa um salário inicial de cinco mil reais, com dedicação exclusiva e 16 horas de sala de aula, restando 24 para preparação, correção de avaliações e reciclagem, que, no magistério, tem que ser contínua (isto é, diária). Assim ocorrendo, em uma geração, teremos substituídos os atuais professores e professoras incompetentes, por um grupo de gabarito, capaz de ser aprovado em concursos exigentes. É claro que, paralelamente, há que se erradicar inteiramente toda e qualquer manobra politiqueira de contratação sem concurso de apaniguados. Isto é possível?
Claro, desde que se tenha a vontade política para tal. E isto acontecerá se os eleitores, ao invés de votarem nos candidatos que prometem a solução de seus problemas pessoais, votem naqueles que tenham compromisso já demonstrado com a educação e com a erradicação da corrupção, a custo até de prejuízo pessoal. Isto não depende de qual partido seja o candidato, pois um politico honesto não vota no que o partido manda, mas no que sua consciência indica, mesmo que contrarie a determinação partidária, se esta for nociva ao interesse público. E um político comprometido com o bem público apresenta projetos construtuivos e luta por sua aprovação, trabalhando duramente para que tudo seja feito no interesse do povo.
As eleições estão aí. Precisamos pensar nisto: Educação é a solução!

3 comentários:

Eduardo Medeiros disse...

Olá professor, tudo bem?

Olha, é um prazer alguém com a sua bagagem acadêmica visitar e comentar lá na minha modesta sala do pensamento.

A maioria dos meus amigos que dividem comigo os pensamentos e questões da vida e da exsitência são, não diria religiosos, mas sim, espiritualizados.

Alguns são formados em teologia (como eu) mas ninguém é fundamentalista, bem pelo contrário; estamos sempre desconstruindo as nossas teologias e pensando a espiritualidade de forma mais holista possível dentro das nossas limitações acadêmicas mas sem deixar de ter a vida, que é ilimitada, como chão e base.

Daqui a alguns dias pretendo abordar exatamente temas sobre a consciência, a matéria e como isso pode estar relacionado com a espiritualidade.

Espero tê-lo por lá, pois você enriqueceria sobremodo a minha discussão.

Um abraço e vou na medida do possível, ler os seus textos

Clave de Pi disse...

Olá Wolf Edler! Parabéns, muito interessante seu blog! Bom descobrir mais um homem da ciência e um filósofo!

Os melhores devem estar nas salas de aula ensinando.

Bem, espero que tenha gostado do nosso blog. Sinta-se a vontade para nos enviar dicas e sugestões. Pode também levantar questões a serem refletidas no blog de acordo com os artigos.

Um grande abraço!

Lina disse...

Amado,

Eu ja preferi o contrário: tranquei um curso elitizado,por um curso que não me dará lucros ou bens e/ou carros importados.
Mas,me fará um ser humano mais culto,integralmente mais humano,com um grande saber.
Espero que assim como voçê possa passar tudo o que saiba para meus alunos;não me vejo em outra profissão.Há bem da verdade, se existe um engenheiro, advogado, médico :eles passaram na mão de um professor, enfim.

Beijos!!

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