quarta-feira, 7 de julho de 2010

"A poesia é obra da insanidade". Qual é a lógica que você vê na poesia?

Claro que não! Poesia não tem lógica, mas nem por isto é insana. Apesar de aparentemente serem sinônimos, poesia e poema possuem nuances de significância distintas. Enquanto poema é a forma literária em que o texto é composto em versos, implicando um ritmo, poesia é a qualidade do texto que provoca uma impressão estética com maior apelo à emoção, geralmente ligada à sua beleza e sensibilidade. Assim pode-se ter poesia em um texto em prosa e um poema pode não ter poesia nenhuma.

O ofício do poeta é levar ao leitor a magia da palavra em provocar emoção, tanto sensorial, quanto intelectual. Não pretende ele convencer de nenhuma tese nem fazer proselitismo ou moralizar. O único compromisso da poesia é com ela mesma, com sua beleza íntrínseca, que emana não só do tema mas, principalmente, da forma com que é colocado, da melodia do som das palavras, do ritmo de sua silabação, da estrutura gráfica, das conotações semânticas, do duplo sentido, das alegorias e tudo o mais que se faça uso. Nisso o poeta se vale de sua sensibilidade e seu talento mas, principalmente de seu esforço e trabalho, calcado em seu cabedal de conhecimeto da língua, de seu rico vocabulário, de sua memória (de tudo o que já leu de poesia) e de seu agudo senso de análise psicológica do ser humano, de sua fina percepção das nuances capazes de fazer o leitor rir, sorrir, chorar, enfurecer, enfim, de provocar o estado de comoção e prazer estético na leitura do poema.
Para conseguir tal proeza não basta que tenha (mas é preciso também) traquejo linguístico e fluência em escrever. Há que se ter uma centelha mágica de gênio, uma sensibilidade entranhada no ser, uma inspiração profunda e, principalmente, um ardor nunca arrefecido de proclamar ao mundo tudo o que de dentro de sí transborda, num furor insano de labor poético.

Se o homem vivesse apenas para produzir o que seja útil não haveria civilização. É claro que o engenho humano se volta, com proveito, para desenvolver inúmeras utilidades e nisto consiste o progresso. Mas, em verdade, o homem persegue o progresso para conseguir tempo livre para se dedicar àquilo que lhe dá simplesmente prazer. Assim, a arte, a ciência e a filosofia desenvolveram-se porque o homem aprecia o belo, tem uma curiosidade incansável e deseja doar de si mesmo sem recompensa. Que utilidade tem uma poesia? Ou uma sinfonia, ou uma escultura? Ou saber a orígem do Universo, ou a prova do Teorema de Fermat? Para que saborear um vinho Bourgogne se só a água é necessária para matar a sede? Sim, são os supérfluos, as inutilidades que fazem a vida ter sabor e é para isso que se batalha. A visão que se tem do Paraíso é a de um lugar em que se vive em êxtase contemplativo, fruindo-se a máxima felicidade sem esforço para sobreviver. É o sonho do homem. Assim quando se luta por um ideal, e por ele dá-se até a vida, este ideal, como o próprio nome diz, não é nada de útil ou prático. É um valor transcedental, como a liberdade, a justiça, a felicidade. A vida só vale a pena ser vivida se, ao encerrá-la, tivermos a certeza de que, por causa dela, o mundo ficou melhor, mais fraterno, mais justo, mais harmonioso, mais igual para todos. O que vale na vida é a doação de si, fazer o bem pelo bem e não por nehuma recompensa, nem mesmo a salvação eterna. A super-valorização do que é útil e do que é prático, em relação ao que é certo e verdadeiro, é uma inversão sem cabimento.

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