segunda-feira, 21 de julho de 2008

Espécie Mulherana

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Em toda espécie animal superior o sexo que melhor a tipifica é o feminino. Ele é essencial para a sua preservação e, por partenogênese, sozinho, é capaz de garantir-lhe a perpetuação. O masculino entra como acessório, útil para garantir a variabilidade genética, sem dúvida fator importantíssimo para o sucesso evolutivo, mas não essencial para a existência da espécie. Nos vegetais este fato é ainda mais notável, já que o hermafroditismo das angiospermas permite caracterizar o indivíduo vegetal como feminino, sendo os órgãos masculinos da flor (estames) meros apêndices.
Uma das conseqüências disto é que os machos, entre eles o homem, vivem em função das fêmeas, que existem por si próprias. Assim eles precisam sempre fazerem-se aceitos por elas, para que seus gens possam perpetuar-se na prole. A natureza é toda regida pela tirania do gen que, de modo egoísta, pretende espalhar-se na população de uma espécie. À fêmea cabe a função de avaliar a qualidade do pretendente e aquiescer no sexo com ele, se julgá-lo suficientemente bom. Assim as fêmeas são as guardiãs da qualidade genética da espécie, não deixando que os exemplares menos aptos espalhem seus gens fracos. A espécie humana, de modo inconsciente, também participa desse jogo da natureza, mesmo quando possa parecer que é o sexo masculino o dominante. Em verdade até nas culturas mais machistas e patriarcais os homens vivem para suas mulheres, trabalham para suas famílias e fazem a guerra para defender sua companheira e sua prole ou para conquistar outras mulheres, evitando a endogenia. Mas tudo gira sempre em torno da mulher. Assim o nome da espécie, que na língua portuguesa coincide com o nome de seu exemplar masculino, devia ser “mulherana” e não, "humana".
Observa-se que, na história, a maior parte das grandes obras foi, e ainda é, realização de indivíduos do sexo masculino. Isso vale para a literatura, a música, a poesia, a pintura, a escultura, as obras arquitetônicas, as conquistas militares, as descobertas científicas, as grandes invenções e quase tudo de criativo já produzido por seres “mulheranos” (do sexo masculino, no caso). O motivo é simples: os homens precisam impressionar as mulheres com seus feitos para provar a elas que possuem bons genes. E nisso empenham o máximo de suas energias e capacidades. Todo feito glorioso, artístico, político, militar, científico, esportivo, qualquer um que um homem realize, ele o faz com o pensamento voltado para alguma mulher. Mesmo o arrebatamento místico e religioso possui um componente erótico sublimado, às vezes até, na devoção à Virgem Maria. As mulheres não precisam impressionar os homens para ter aquele que desejam. Basta serem seletivas e escolherem o mais conveniente.
A lição a tirar destas considerações é que, tomando consciência deste fato fundamental, homens e mulheres possam ter um melhor entendimento recíproco e consigam viver mais harmonicamente e não como seres de planetas diferentes. E que a aceitação desta verdade coloque o homem em seu devido lugar, deixando que as mulheres realizem-se completamente como pessoas de pleno direito e não como sombras de seus homens que em verdade são, eles sim, as sombras de suas mulheres. Assim poderão as mulheres desenvolverem em plenitude suas capacidades, que nada têm a dever às dos homens, pelo contrário, pois elas podem tudo o que o homem pode, mas o homem não pode gestar, parir e aleitar.
Não há, na espécie mulherana, impedimento biológico para que homens e mulheres exerçam as mesmas atividades, como acontece com outras espécies em que existe uma especialização sexual das atividades. Nesses casos é impossível o indivíduo do sexo oposto realizar uma tarefa específica do outro sexo. Isto não acontece com mulheres e homens, exceto nos aspectos estritamente ginecológicos. Portanto, a divisão sexual de tarefas é um contingenciamento puramente cultural e não biológico, podendo perfeitamente ser revertido.
Infelizmente, no decorrer da evolução antropológica de nossa espécie, em decorrência da maior força física e agressividade em média demonstrada pelo sexo masculino, a mulher foi constrangida em sua expressividade e relegada a funções de menor expressão social. Mas o advento da civilização e da tecnologia cada vez mais relega para um plano inferior a manifestação da força, privilegiando a inteligência e a sensibilidade, aspectos nos quais não há diferença na média exibida pelos dois sexos.
Numa sociedade em que se reconheça esta verdade não haverá distinção legal alguma entre os gêneros, não mencionando a lei, em nenhum de seus artigos, a que gênero pertença a pessoa objeto de algum direito ou dever. Todo direito do homem o será da mulher, bem como todo dever, do mesmo modo que todo direito da mulher o será do homem, assim como todo dever. Não existirá "serviço de homem" e nem "serviço de mulher", nem "coisa de homem", nem "coisa de mulher". As mulheres e os homens se orgulharão de suas características pessoais, quer sejam elas tidas atualmente como "femininas" ou "masculinas", pois tais distinções deixarão de existir. Qualquer atividade será igualmente distribuida entre homens e mulheres, bastando a diferença estritamente ginecológica, que, já sendo imensa, será, certamente, motivo de prazer e felicidade no convívio harmonioso dos dois gêneros.

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