sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A maior parte de tudo quanto vale a pena nesta vida é completamente inútil

.

Se o homem vivesse apenas para produzir o que seja útil não haveria civilização. É claro que o engenho humano se volta, com proveito, para desenvolver inúmeras utilidades e nisto consiste o progresso. Mas, em verdade, o homem persegue o progresso para conseguir tempo livre para se dedicar àquilo que lhe dá simplesmente prazer. Assim, a arte, a ciência e a filosofia desenvolveram-se porque o homem aprecia o belo, tem uma curiosidade incansável e deseja doar de si mesmo sem recompensa. Que utilidade tem uma poesia? Ou uma sinfonia, ou uma escultura? Ou saber a origem do Universo, ou a prova do Teorema de Fermat? Para que saborear um vinho Bourgogne se só a água é necessária para matar a sede? Sim, são os supérfluos, as inutilidades que fazem a vida ter sabor e é para isso que se batalha. A visão que se tem do Paraíso é a de um lugar em que se vive em êxtase contemplativo, fruindo-se a máxima felicidade sem esforço para sobreviver. É o sonho do homem. Assim quando se luta por um ideal, e por ele dá-se até a vida, este ideal, como o próprio nome diz, não é nada de útil ou prático. É um valor transcedental, como a liberdade, a justiça, a felicidade. A vida só vale a pena ser vivida se, ao encerrá-la, tivermos a certeza de que, por causa dela, o mundo ficou melhor, mais fraterno, mais justo, mais harmonioso, mais igual para todos. O que vale na vida é a doação de si, fazer o bem pelo bem e não por nenhuma recompensa, nem mesmo a salvação eterna. A super-valorização do que é útil e do que é prático, em relação ao que é certo e verdadeiro, é uma inversão sem cabimento.

.

2 comentários:

Jairo Grossi disse...

Diante de seu vasto currículo, inicialmente quero reverenciá-lo por tantos serviços prestados na busca de uma divulgação maior do livre pensamento filosófico e científico. Cheguei até este blog, através da palavra “física” digitada na lista de seus interesses, no painel do blogger. Fiquei impressionado já de cara, ao ler este post. É incrível como ele sintetiza exatamente o pensamento que passa pela minha cabeça constantemente, e acredito também pela mente de muitas outras pessoas. Sou professor de Física de uma Escola Pública do Estado de São Paulo, mas às vezes fico frustrado e desanimado, apesar de todo o meu esforço, em não conseguir convencer os meus alunos da importância de estudarem Física. Pela sua enorme experiência na área, acredito que já deva ter passado por uma situação parecida, em que, durante uma aula, por exemplo, ao final de um interessante cálculo sobre o tempo que a luz do Sol leva pra chegar até a Terra, ou sobre a explicação de como Eratóstenes, há mais de 2000 anos atrás já sabia que a Terra era redonda, calculando seu raio, com pequeníssimo erro, algum aluno faça a seguinte pergunta: Mas onde eu vou usar isso, professor? Eu sei que o motivo de aprendermos alguns assuntos enquanto estamos estudando nas nossas escolas, provavelmente não façam mesmo inicialmente muito sentido para nós, a não ser, por exemplo, para passarmos nos exames vestibulares. Mas a pergunta é: O que então faria sentido aprender, ou, o que seria útil, e por quais motivos?
Talvez não soubesse explicar bem por que, mas tenho uma suspeita de que alguns jovens estão banalizando, mesmo que involuntariamente, o ideal do “Carpe Diem”, tentando aproveitar ao máximo, algo que lhes dê prazer imediato, independente até mesmo das conseqüências. Seria o caso de pensarmos: Já basta o que foi produzido em termos de tecnologia! Vamos cuidar agora da busca de uma melhoria nas relações humanas. Teoricamente, o avanço tecnológico não deveria estar separado das melhorias dessas relações. Mas pelo estudo da História, percebo que em muitos casos ela tem feito o papel inverso, e às vezes fico pensando se esse desprezo da maior parte dos alunos pelas ciências exatas, não seria uma espécie de “protesto branco involuntário”(o termo inventei agora). Acredito que é fácil entender que eles tenham alguma percepção de que com todo o avanço da humanidade na área tecnológica, não estejamos conseguindo tratar igualmente da diminuição dessas vergonhosas desigualdades sociais. De minha parte, continuarei tentando convencê-los de que ainda podemos reverter esse quadro. Ou não? Por favor, Professor. Peço uma “luz”, já que depois de ler este belíssimo post, me considero seu “a lumni”.
Parabéns !

Vera disse...

Sou professora de uma escola em Porto Alegre RS e realmente me deparei com estye tipo de comentário sobre os currículos e programas.O interesse imediatista dos jovens não prevê futuro a longo prazo,por isso penso que deveremos tornar interessantes nossas aulas a partir do o aluno quer estudar envolvendo-o primeiramente com aquilo que lhe desperta interesse e depois aos poucos ir introduzindo a matéria que julgamos importante e que é de fato interessante mas que os jovens aínda não decobriram...Querido professor Jairo,não desanime é preciso de professores assim como o sr e o prof Wolf para dar continuidade ao ensino.O Prof Wof na sua afirmação"a maior parte de tudo quanto vale a pena nesta vida é completamente inutil"Nos mostra que o inútil é justamente do que precisamos para sermos felizes,deste modo nenhum conhecimento é inutil.Parabéns Wolf Edler, que belo currículo e quão interessante são os seus assuntos...

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails