Sobre o comportamento dialético da natureza, considero que seja preciso extender a dialética além da tríade "tese-antítese-síntese". Explico. Podemos entender o Universo como um único e vasto "campo", primordialmente indiferenciado e extremamente denso, no caroço a partir do qual se iniciou a expansão no momento zero da sequência atual dos tempos, denominado, impropriamente, "Big Bang". Daí para cá, todas as ocorrências, desde a formação das partículas elementares até os problemas políticos atuais da humanidade, passando pela formação de átomos, moléculas, radiação, galáxias, estrelas, planetas, vida, inteligência, consciência, sociedade e tudo o mais, se deu pelo surgimento de assimetrias, flutuações de densidade, numa sequência de reptos e réplicas, que, dialéticamente, conduziram a novas assimetrias, que desencadearam novas réplicas e sínteses, e assim por diante, num emaranhado complexíssimo, como deve-se perceber que seja, por exemplo, um relacionamento amoroso descrito em termos de interções de partículas elementares (especialmente elétrons da camada de valência, isto é: química!). O holismo, então, entendido como o comportamento do todo que não se reduz à soma de suas partes, precisa ser compreendido de outra forma. Na verdade todo sistema é um subconjunto do Universo e nunca dele se desliga. Então cada parte de um todo é apenas um subconjunto menor. O comportamento do sistema maior depende das interações internas de suas partes e, também, das interações com o que está fora. No mecanismo dialético antes descrito, existem retro-alimentações e efeitos sobrepostos, que, matematicamente, incluem termos com quadrados, cubos e outras potências, além de termos produto de várias ordens, desconfigurando a noção de soma vetorial da geometria euclideana e da física newtoniana. A isto eu chamo um "reducionismo não linear". Em que isto muda a dialética?
O que se pode perceber é que, se bem que, elementarmente, toda ocorrência advenha de uma oposição (tese-antítese) que consiste na flutuação da densidade do campo cósmico, criando um local concentrado e um rarefeito (o que se dá, por exemplo, com o movimento, pois sair de um lugar para outro é deixar uma ausência na saída e criar uma presença na chegada), no caso de conglomerados de partículas, a não linearidade descrita, faz com que a ocorrência não seja necessariamente descrita como uma oposição mas como uma "variação", que pode ter nuances de diferença. Isto é o que eu considero um tipo de "dialética não dicotômica", similar à "lógica difusa, ou à lógica policotômica". E, mesmo, pode-se conceber esta variação de uma forma multidimensional, e não apenas ao longo de um eixo de opostos. Por exemplo, em política, as posições não se distribuem apenas ao longo do eixo esquerda-direita, mas também em direções perpendiculares a essa, como cima-baixo e frente-atrás (a serem devidamente interpretadas). Então existe um verdadeiro "cubo" de possibilidades. A evolução dos eventos se dará, pois, pela interação entre essas possibilidades, que conduzirá a uma nova "síntese", que poderá, inclusive, envolver não apenas dois fatos iniciais, mas vários, que provocarão resultados de uma forma não vetorial (linear ou soma), mas envolvendo os termos potência e produtos de potências já mencionados. Isto é o que eu chamo de "dialética não linear", que, no meu entendimento, é a forma com que a natureza funciona e, por extensão toda a realidade, mesmo a psíquica, social, política, cultural, econômica ou qualquer que seja, pois, pelo "reducionismo não linear", tudo se reduz à natureza. Só fica de fora a realidade sobrenatural, por não existir.
As explicações teleológicas para os fenômenos da natureza têm origem mitológica. Uma vez que temos inteligência, agimos proativamente, pois nossa mente concebe hipotéticas situações futuras, o que permite que planejemos nossas ações para a obtenção do cenário futuro concebido. Não é o que ocorre com os seres vivos meramente reativos e nem com os seres inanimados. Tal comportamento é decorrente da complexidade do cérebro humano (e alguns outros), bem como de todo o organismo a que pertence. Assim, por analogia, o homem primitivo considerava que toda ocorrência se dava com um propósito e, portanto, teria sido planejada por algum ser inteligente misterioso, que ele concebia análogo a um homem, só que invisível e todo-poderoso, isto é, Deus. Então, numa evolução contínua, tal concepção do modo como opera a natureza, inclusive, passou a ser aceita até por considerável porção da comunidade científica. Somente o advento da teoria da evolução e da mecânica quântica sepultaram de vez qualquer consideração teleológica nas explicações científicas dos fenômenos naturais. Mesmo a evolução, nos primórdios do lamarckismo, admitia que a finalidade dirigia o sentido da evolução. A aceitação da seleção natural como o mecanismo evolutivo, associado às mutações fortuitas, mostrou que a natureza não trabalha visando fim nenhum. O vulgo, contudo, ainda está preso a este tipo de concepção, cuja derrubada é feita em paralelo à perda da noção da existência de Deus. A mecânica quântica, ao derrubar tanto a causalidade quanto o determinismo, pôs a pá de cal sobre o teleologismo, com a concepção probabilística da relação entre o antecedente e o consequente.
Nas ciências humanas, como a sociologia, a economia, a política, a história, a coisa não é tão simples, pois ações são planejadas e executadas pelo homem com objetivos. Todavia, estudos de comportamentos de massas, mostram padrões mais próximos das ciências naturais do que se poderia supor. Tais estudos são aplicados, inclusive, em mercadologia e publicidade.
Finalmente comentar sobre a terminologia "Energicismo" para substituir o "Materialismo". Para mim, ainda não fica bem. Prefiro o termo "Fisicalismo". "Naturalismo" também poderia ser, mas já é um termo associado a outro conceito.
O que se pretende considerar é que o mundo, fundamentalmente, é inteiramente natural, não existindo nenhum tipo de realidade sobrenatural, como espíritos, almas, anjos, gênios, demônios ou deuses. Nem tampouco algum "mundo das idéias" platônico, ou o conceito hinduista de "Maya". Mas o mundo natural não é constituído apenas de matéria, daí a improcedência do termo "Materialismo".
Mas também não é constituído de "Energia". Energia não é uma entidade substancial de que algo seja feito. Energia é uma propriedade de sistemas físicos, como também massa, carga elétrica, spin (momento angular), momento linear, helicidade, e, macroscopicamente falando, volume, densidade, temperatura etc. A essas propriedades são atribuídas grandezas mensuráveis, geralmente com o mesmo nome da propriedade.
Mas nada é feito de energia. Algo "possui", ou não, energia.
Substancialmente o universo é composto de três tipos de entidades: matéria, radiação e campos. Além do espaço-tempo. Fundamentalmente a matéria e a radiação são conglomerados de quantizações de dois tipos de campos, o fermiônico e o bosônico, respectivamente, de modo que tudo se reduz a "campo", que, por sua vez, não é feito de coisa alguma. Ele é a coisa de tudo é feito, qualquer que seja a interpretação da estrutura do conteúdo do Universo, inclusive nas teorias de supercordas, branas e na Teoria "M".
Assim, considero mais apropriado se usar o termo "fisicalismo" para se referir a esta concepção da realidade que exclui tudo que não seja natural.
Certamente que existem realidades de outras categorias, como a das idéias, dos valores, das normas. Mas são abstrações sem conteúdo substancial, isto é, só existem se houver mentes que as concebam.
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