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Tenho muito interesse no tema “superdotação”, uma vez que posso me considerar superdotado, pelo que percebo de meu comportamento desde a infância, pelos testes de QI que já fiz (cujos escores variam em torno de 142) e pelo testemunho de meus amigos. Mas nunca tive tratamento especial na escola pública em que estudei (aliás, muito boa, à época). Em casa, contudo, meus pais me municiavam de leituras e conversas estimulantes, já que eram intelectuais, como é o caso de toda a minha família, tanto materna quanto paterna. No ensino fundamental eu já estudava em livros de História e Geografia de nível superior, pois meu pai era professor dessas matérias. E nunca me contentava em saber só o que os professores ensinavam, qualquer que fosse a matéria. Comecei a estudar Filosofia com 11 anos, juntamente com Física Atômica e Nuclear, Eletrônica, Mecânica, Química e Biologia. Além disso tocava piano e pintava quadros. Só nunca gostei de esportes nem de negócios. Chamava Matemática de Boatemática. Hoje penso o quanto o mundo perde em não apoiar adequadamente os superdotados.
Procurei conhecer a Mensa Internacional para me juntar a uma comunidade de pessoas mais inteligentes, que colocassem este dom a serviço da humanidade, mas decepcionei-me com a vaidade, a presunção e a mesquinhez de muitos membros. Inteligência é algo importante, mas caráter é mais ainda.
A questão do caráter é fundamental, pois uma grande inteligência voltada para o mal é o maior desastre. Todavia vejo uma grande correlação (com exceções, é claro) entre uma maior inteligência e um comportamento ético positivo e, mesmo, um espírito de desprendimento e altruísmo. O que costuma faltar é só a modéstia. Por isso a educação tem que ser integral: inteligência, conhecimentos, habilidades e caráter. Reconhecer-se inteligente não é esnobismo, se isto é feito de forma modesta e sem presunção, uma vez que tal característica, em grande parte, não é fruto de esforço próprio, não conferindo, assim, mérito pessoal a quem a possua. É como se reconhecer feio ou bonito, gordo ou magro, alto ou baixo, isto é, trata-se meramente de uma constatação e não um auto-elogio.
Outro aspecto de minha pessoa que até atrapalha é o polimatismo. Tenho um leque muito grande de interesses e não consigo me fixar em apenas um deles, pois então lamentaria não estar abordando os outros. Por formação profissional sou um professor de Física e Matemática, com mestrado em Cosmologia. Na área educacional tenho atuado como administrador acadêmico (sem envolvimento com a área financeira e de pessoal, apenas a pedagógica). Todavia sempre estudei de forma ampla e profunda, por diletantismo, Filosofia, História, Geografia, Biologia e Psicologia (não clínica). Também externo meus pendores artístico pintando, desenhando, compondo, cantando e escrevendo crônicas, ensaios e poemas. Monto computadores, escrevo programas, conserto qualquer coisa mecânica ou elétrica, faço móveis. Além disso, profiro palestras e navego na internet, participando de fóruns de debates.
Só não sei é ganhar dinheiro com isso tudo, pois, geralmente, trabalho de graça, colaborando, por exemplo, na diretoria de entidades artísticas, científicas e de classe, especialmente nos conselhos deliberativos. Mas sempre acabo me responsabilizando pela elaboração de projetos de captação de recursos, estatutos, regimentos e todo esse tipo de coisa. Como não sou econômico e gasto muito com livros, discos, revistas, partituras, gravuras, vídeos e outros bens culturais, mesmo ganhando razoavelmente, acabo não fechando meu orçamento e vivo enterrado em dívidas. Como não possuo propriedade alguma, não tenho nada que possa vender para saldá-las, já que minha biblioteca, em que apliquei mais de meio milhão de reais em cinquenta anos, não me renderia nem um décimo disto, se a vendesse. Mas pretendo doá-la ao povo, talvez fundando uma ONG.
Uma consequência dessas característica é que também promovem em mim uma aguda sensibilidade e consciência da situação, o que leva à frustração de ver a ignorância, a incapacidade, a incompetência e a improbidade serem valorizadas em detrimento do esclarecimento, da cultura, da competência, da lisura e da probidade, na maior parte dos campos de atuação das pessoas. Isto é motivo de tristeza e poderia até levar à depressão, não fora o idealismo, o entusiasmo e a confiança com que me empenho em levar ao maior número de pessoas a luz da ciência, do conhecimento, da razão e da verdade, tentando por todos os meios a meu alcance (e este blog é um deles) consertar este mundo para torná-lo um lugar justo, benevolente, harmônico, próspero, aprazível e fraterno para todos os seus habitantes (não só humanos).
Um comentário:
Grande colega, o tratamento diferenciado para superdotados é uma proposta defendida por uma professora da UFMG, Carmen Flores-Mendoza. Pelo que lembro do seu discurso, muitos superdotados acabam não tendo oportunidade de utilizar adequadamente seus recursos cognitivos, recursos estes que poderiam gerir avanços em ciência, artes e tecnologia, bem como na qualidade de vida de quem os possui. Um dos seus trabalhos, qual seja, rastrear a população superdotada em Belo Horizonte (sobretudo crianças), pode ser um primeiro passo para a implantação dessa política de ensino diferenciada.
O problema do polimatismo costuma me dar dor de cabeça também. Embora esteja longe de ser superdotado, não gosto de compreender os fatos por apenas uma ou duas tangentes. E um dos possíveis problemas disso é ser um pato, um bicho que voa, nada e caminha mas que voa mal, caminha mal e nada mal (embora não pareça ser esse o seu caso). Um dos meus professores, ao me orientar sobre o dilema duckiano, me fez crer que a especialização costuma ser, no mais das vezes, uma estratégia mais interessante (o que não anula uma saudável e desejável abertura ao conhecimento complementar oriundo de outras áreas).
No mais, agradou-me sua maturidade e naturalidade em tratar esses temas tão interessantes sob uma perspectiva tão íntima e particular.
E que o conhecimento seja utilizado para o bem!
Um abraço!
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