domingo, 22 de novembro de 2009

Falácia do Princípio Antrópico


O Princípio Antrópico é a assertiva cosmológica de que nosso Universo é tal qual é, com as leis da natureza que existem e os valores das constantes físicas (velocidade da luz, constante de Planck, constante da gravitação universal, carga elementar, permissividade do vácuo) estabelecidos como são, para que a vida humana surgisse. Se as leis fossem outras ou as constantes tivessem valores diferentes, poderiam não terem surgidos partículas elementares ou átomos, ou galáxias, ou estrelas, ou planetas, ou a vida, ou a inteligência. Tais coisas surgiram porque as leis da física e os valores das constantes o permitem.
Que os valores que as constantes físicas atômicas e cosmológicas apresentam são exatamente aqueles que permitiram o surgimento de átomos estáveis, de reações nucleares, de galáxias, estrelas e planetas, da vida e, principalmente, da espécie humana com sua inteligência e consciência é mais que óbvio. Inferir disto que esses valores foram propositalmente estabelecidos para que tal fato se desse é outra história. Nada há que permita tirar esta conclusão, que é inteiramente gratuita. Os valores poderiam ser quaisquer outros e, assim, nada disso teria acontecido. Aliás a probabilidade de serem outros é muito maior do que serem o que são. Mais uma vez afirmo: é como ganhar na loteria. Se estamos aqui é porque, por acaso, calhou dos valores coincidirem com os necessários para tal. Isto é muito simples de se ver. Não consigo atinar com a razão pela qual se diz, no Princípio Antrópico, que isto tenha sido por obra de um planejamento inteligente. Isto sim, é que é completamente surreal e uma crença inteiramente infundada, assentada em uma opinião de que coincidências não existem e o acaso não pode ser responsável por tal complexidade. Aceitar o acaso não é uma crença e sim a constatação do óbvio. Se não há razão verificada, é por acaso!
Mesmo que descartemos a associação entre o princípio antrópico e o projeto inteligente, pode-se ver que as condições que nosso Universo preenche e que possibilitam (e não determinam) a existência de vida inteligente são fortuitas. Uma coisa que não existe em ciência são explicações teleológicas. Nada se dá “para que” tal ou qual consequência ocorra. Tudo na natureza se dá sem propósito. As consequências são o que, por acaso, venha a surgir. O que pode ocorrer, como se dá na evolução, é que uma imbricação sequencial de eventos faça restrições a uma ou outra possibilidade (como é o caso da seleção natural). É totalmente impossível, a não ser que haja uma entidade extrínseca ao Universo que o tenha criado e dirigido sua evolução (algo extremamente improvável), que a natureza, por sí, aja de forma a objetivar algo, especialmente tão longíquo quanto é o surgimento do homem em relação ao Big Bang. O Universo é tal qual é porque assim, por acaso, foi formado. Poderia não ter sido assim e poderia não se ter formado nenhum, em absoluto, isto é, não existiria coisa alguma. A existência de algo ao invés de nada não tem razão de ser nenhuma, da mesma forma que o fato do que existe ser como é e não de outro modo. Uma coisa, contudo, é certa. O acaso é capaz de qualquer coisa, mas tudo é como é porque a sequência de acasos calhou de dar nisto e não em outra coisa. É como ganhar na loteria: antes do resultado, todos os concorrentes têm a mesma probabilidade, muito pequena, de ganhar. Mas algum ganha e, para este, depois do resultado, a probabilidade se torna 1. É o colapso da função de densidade de probabilidade em uma delta de Dirac, para quem entende de matemática.

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