domingo, 22 de novembro de 2009

MANUAL DE CIVILIDADE



Na página 109 da edição 2137, de 4/11/09,
http://veja.abril.com.br/acervodigital/?cod=JMORLMDPE0 ,
a revista VEJA publicou um "MANUAL DE CIVILIDADE", muito apropriado para os dias atuais. Com comentários dos cientistas políticos Bolivar Lamounier, Rubens Figueiredo e Gaudêncio Torquato, dos filósofos Roberto Romano e Renato Janine Ribeiro, da psicóloga Lídia Arantagy e dos sociólogos Piero Forni e Demétrio Magnoli, o artigo elenca as atitudes básicas que precisam ser cultivadas para que a sociedade possa existir em um clima de paz e harmonia que promovam, afinal das contas, o bem estar e a felicidade de cada um, que são as razões para que vivamos em sociedade.

Tais atitudes são HONRADEZ, INTEGRIDADE, BOAS MANEIRAS, TOLERÂNCIA, AUTO-CONTROLE, CIVILIDADE, HONESTIDADE, CONTENÇÃO VERBAL, PEDIR DESCULPAS E DECORO. Não há dúvida de que, sem estas atitudes disseminadas por todo o corpo social, a vida seria uma guerra permanente de egos, cada qual querendo fazer prevalecer seus desejos egoístas sobre o bem estar comum. Tal comportamento não pode ser tolerado, simplesmente por inviabilizar qualquer projeto de construção de um mundo afável e prazeroso para todos.

Atualmente vemos que essas atitudes são, muitas vezes, tidas como anacronismos bisonhos, inapropriados para pessoas pragmáticas, objetivas e vencedoras, como se propala que seja o ideal a perseguir-se. Tratam-se de "fraquezas" ou, pelo menos, "frescuras" de gente servil e perdedora, que nunca obterá sucesso em nada que fizer. A juventude, especialmente, assimila esta concepção e considera que o importante é levar vantagem a qualquer custo, enriquecer, ficar "bem de vida", isto significando não que alcance paz e harmonia, mas que tenha sucesso e seja rico, mesmo que, para tal, passe por cima de todas as normas de ética, de todos os compromissos e de todas as pessoas que lhe opuserem algum obstáculo. Esquecem-se, contudo, que são apenas parte do organismo social e que só terão benefícios garantidos e perenes, se eles o foram para todos e não só para uns em detrimento de outros.

Eu, no entanto, vou além. Mais ainda do que tudo isto, que representa apenas a "conditio sine qua non", da civilidade, apregoo a prática de virtudes mais positivamente direcionadas para a construção de uma sociedade não só harmônica, mas excelente e plena de júbilo para as pessoas. Além da cortesia, a GENTILEZA, além da honestidade, a GENEROSIDADE, além da justiça, a BONDADE, além da tolerância, a DISPOSIÇÃO de lutar para que qualquer preconceito ou intolerância sejam abolidos. Além da honra, a BRAVURA em promover a aniquilação do mal e o prevalecimento do bem e além da própria bondade, o ALTRUÍSMO de levar prejuízo e até danos para garantir tais valores para todos. Exatamente a não omissão, a posição de sempre ter a ver com tudo de que se toma conhecimento e não "lavar as mãos", dizendo não ser da própria conta tomar qualquer atitude. Estar disposto a ter aborrecimento e levar prejuízo para combater toda injustiça, mesmo com quem não se conhece. Este é o galardão da pessoa verdadeiramente de bem. Este é o heroísmo que faz a vida valer a pena ser vivida. Não basta apenas ser bonzinho para não ir para o inferno. Fazer o bem é muito mais do que ser bom (mas não dispensa o ser). É claro que ser bom é mais valioso do que ser apenas justo e honesto, pois todo bom o é. Ser bom é ser solidário e compassivo. Mas fazer o bem é muito mais. É ser combativo pelo prevalecimento do bem e aniquilação de toda maldade, toda injustiça, toda desonestidade, toda mentira, toda safadeza, toda ganância, toda malqueirança, todo desamor.

A propósito quero recomendar a leitura do livro "Pequeno Tratado das Grandes Virtudes" do filósofo francês André Comte-Sponville (Martins Fontes) que se encontra integralmente disponível na internet no site:
http://www.pfilosofia.xpg.com.br/03_filosofia/03_03_ptgv/ptgv.htm .

Só que o mocinho não pode se valer dos métodos do bandido. O crime não pode ser combatido com os meios de que ele se vale. Todos os escrúpulos têm que ser tomados. Não é válido matar o assassino, pois isto também é um assassinato. Aí está a grande dificuldade do combate ao mal. E, principalmente, não se pode pensar em vantagens pessoais, mas sim no bem coletivo, a ser preservado mesmo ao custo de desvantagem pessoal.

São tais considerações que reputo essenciais a se transmitir à juventude pela escola, já que esses valores não são mais cultivados em muitas famílias e, mesmo quando o são, muitas não conseguem passá-los às novas gerações. É claro que isto não pode ser confundido com formalidades apenas exteriores e sem significado profundo, como chamar os mais velhos de "senhor" ou "pedir a bênção". Isto pode até ser cultivado, mas não é essencial e a sua falta não significa, absolutamente, falta de respeito e consideração, mesmo que possa o ser, em alguns casos. A escola tem que assumir esta missão em seu comportamento cotidiano, como um cosmovisão pedagógica, que perpasse toda a vida escolar, nas aulas de todas as matérias, por parte de todos os professores, bem como no dia a dia administrativo e em todas as atividades. Mas, sem dúvida, faz falta uma disciplina do tipo (mas não exatamente como) da antiga "Educação Moral e Cívica", que, ao invés de inculcar valores da antiga ditadura, transmita, sim, valores éticos, cívicos, humanos, culturais, estéticos, filosóficos e mesmo atitudes científicas (não confundir com conhecimentos e habilidades científicas) de deslumbramento pelo saber e pela natureza e de espírito inquiridor, crítico e reflexivo. Talvez a Filosofia e a Sociologia, agora obrigatórias, possam fazer este papel, mas ele tem que ser assumido como tema transversal de todas as matérias.

Transformar todo jovem não apenas em profissionais competentes e de sucesso, como muitos pensam resumir-se a função da escola, mas também em cidadãos e pessoas humanas integrais, isto é, em damas e cavalheiros cônscios de seu papel na humanidade e no contexto global da natureza, que sejam exemplos de civilidade e locomotivas da transformação deste mundo no lugar aprazível que cada um sonha que seja é, pois, uma responsabilidade irremovível da escola, do educador, da família e de toda pessoa cuja ação no mundo deva ser imitada pelas novas gerações. Abdicar disto é decretar a derrota da civilização frente à barbárie.

Um comentário:

Unknown disse...

Wolf,nossos ideais se comungam. O que mais, poderia acrescentar?
Que não podemos esquecer, a Instituição Escolar ainda é um instrumento de exclusão, da classe dominante. Antes a exclusão acontecia nos dois primeiros anos escolares, agora acontece após a conclusão do 9ºano.Como Pierre Bourdieu,em seu livro "A economia das trocas simbólicas", temos uma 'língua multidialetal' que é desconsiderada na escola e pela sociedade. O Brasil, é composto por várias partes,que podemos conferir a cada parte uma singu-laridade irredutível.Precisamos de bons Modelos.

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