segunda-feira, 29 de março de 2010

Ideal de simplicidade


Existe uma noção de que as coisas simples são preferíveis às complexas. Esta é uma falsa noção. O que se deve buscar, em primeiro lugar, é a perfeição, entendida como a melhor adequação de cada coisa a seu propósito, de forma a produzir um resultado que atenda ao máximo de requisitos satisfatórios. Uma vez que isto seja obtido, dentre as possibilidades que assim o fazem, é preferível se optar pela mais simples, que envolva a menor complexidade. Mas não é interessante sacrificar-se a perfeição em favor da simplicidade. De um modo geral, os procedimentos mais eficazes são mais complexos. Veja-se o organismo humano ou uma nave espacial. A complexidade é quase uma exigência para a perfeição. Esta é a mesma discussão da dicotomia entre a eficiência e a eficácia. A primeira diz respeito a que o processo seja executado de forma mais econômica em termos de trabalho, tempo e custos. A segunda a que o produto atenda às pretensões a que se propõe. Considero que a eficácia seja prioritária em comparação com a eficiência. É mais importante um bom resultado do que um procedimento econômico. É claro que isto é uma questão de ponto de vista. Geralmente, no mundo dos negócios, o empresário quer eficiência, enquanto o consumidor quer eficácia. Aumento de eficiência, em geral, promove redução de eficácia, e vice-versa, em curvas de crescimento e decaimento cujo produto tem uma forma de sino, com um máximo no ponto de intercessão das curvas. O atendimento simultâneo dos dois lados do mercado estaria neste ponto. Contudo eu considero que a atividade empresarial tem sua justificativa no atendimento às demandas da sociedade e não da classe empresarial. O empresário possui uma delegação tácita da sociedade para empreender em benefício dela, pelo que tem a contrapartida do lucro. Mas o foco é o atendimento social, expresso pelo interesse do consumidor. Daí minha consideração de que a decisão ter que ser tomada no sentido da maior eficácia do que maior eficiência, mesmo com maior custo financeiro, logístico, energético (inclusive de trabalho humano) e de tempo. A solução para que isto não reflita em alta de preços é a redução da margem de lucro. Numa sociedade mais uniforme, em termos de distribuição de renda, como deve ser uma sociedade justa, não se podem admitir as altas margens de lucro praticadas em economias capitalistas selvagens como a nossa. Tudo isto pode ser melhorado pela a pulverização do capital, com a transformação dos empregados em sócios. E um caminho inverso ao da estatização e que pode levar a um socialismo anárquico, muito melhor do que a ditadura do proletariado, pois promoverá exatamente a extinção do proletariado e a transformação de toda a população em burguesia. Aliás este é o desejo dos proletários: não converter os burgueses em proletários, mas sim os proletários em burgueses. Pelo menos, é o desejo individual de cada proletário.

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