Como conhecer a verdade
Ninguém pode pretender ser o conhecedor da verdade em relação a qualquer coisa. Não que a verdade seja inatingível. A verdade é a adequação entre a realidade em si mesma e o que se afirma a respeito dela. É pois uma propriedade lógica e não ontológica. Assim não existe uma coisa denominada "verdade" mas apenas um atributo das proposições (e dos juízos a que elas se referem) que lhes atribui a qualidade de estarem de acordo com a realidade em si. Surgem dois problemas: O que é a realidade em sí? Como saber se algum juízo sobre a realidade está de acordo com ela? A segunda questão se reporta aos critérios de verdade. Como estes são proposições por sua vez, há que se conferir se são verdadeiras, o que só pode ser aferido por outro critério. Isto leva a uma regressão infinita de critérios, que é o fundamento do ceticismo pirrônico, ao afirmar ser impossível ter-se o conhecimento da verdade sobre o que quer que seja. Como isto também é uma proposição, não se pode, pelo ceticismo, dizer que é verdadeira. Assim o ceticismo filosófico contém uma contradição intrínseca que, de pronto, lhe descarta como posição epistemologica válida. Há, pois, que se admitir, axiomaticamente, algum ponto de partida como critério de verdade e fazer uso dele na forma de uma crença, isto é, de uma proposição aceita sem comprovação como verdadeira. Este é o critério da evidência, constatada pelo órgãos sensoriais. Mas esta não é simplesmente uma evidência primária, pois os sentidos fornecem ilusões. A ciência possui muitos meios de testar cruzadamente o caráter de evidência. Algumas proposições, não evidentes por si mesmas, podem ter sua veracidade verificada por comprovação lógica com argumentos que, em última análise, se reportam a evidências sensoriais. Mas, de qualquer modo, é salutar se adotar um ceticismo metodológico, de forma que a certeza, dita absoluta, fica em suspenso indefinidamente, mas a veracidade é aceita provisoriamente até que alguma nova evidência venha a derrubá-la. Esta é a posição mais sensata.
A realidade
A primeira das questões levantadas diz respeito ao que venha a ser a realidade em sí. Existe uma realidade exterior à mente prescutante ou tudo não passa de uma imagem mental, sendo a única realidade a minha própria mente? Pode ser, e isto consiste no silopsismo. Todavia, a coincidência de descrições sobre o mundo exterior por várias mentes (se é que existem outras mentes) leva a uma tomada de atitude, sugerida pelo bom senso, de que o mundo exterior existe. Mas isto é uma crença. Não uma fé inabalável e irremovível, mas uma crença sensata, que a qualquer momento pode ser abandonada, caso argumentos poderosos venham derrubá-la. Esta questão da realidade merece um tópico à parte e só a estou levantando por sua ingerência na questão da verdade.
Assim, eu creio que existe uma realidade exterior independente de mim, que continua a existir mesmo que não haja mente nenhuma no Universo. Mas, como existem mentes, e eu tenho uma (quem é esse eu que é dono da minha mente é outra questão interessante para um tópico), ela procura compreender a realidade e emite juízos sobre ela, expresso por proposições, uma vez de que disponho de uma linguagem (ou juízos existem mesmo sem uma linguagem que os expresse). Então é válida a questão de saber se as proposições expressam a verdade ou não.
O critério de verdade que mencionei é o de valor objetivo, independente do particular sujeito que afirma o juízo. Mas há outra questão concernente à verdade que é o seu caráter subjetivo.
Assim, eu creio que existe uma realidade exterior independente de mim, que continua a existir mesmo que não haja mente nenhuma no Universo. Mas, como existem mentes, e eu tenho uma (quem é esse eu que é dono da minha mente é outra questão interessante para um tópico), ela procura compreender a realidade e emite juízos sobre ela, expresso por proposições, uma vez de que disponho de uma linguagem (ou juízos existem mesmo sem uma linguagem que os expresse). Então é válida a questão de saber se as proposições expressam a verdade ou não.
O critério de verdade que mencionei é o de valor objetivo, independente do particular sujeito que afirma o juízo. Mas há outra questão concernente à verdade que é o seu caráter subjetivo.
Verdade subjetiva
Como a percepção do mundo comunicada pelos sentidos não é necessariamente fiel, é possível que um sujeito afirme algo sobre a realidade exterior que, de acordo com sua percepção, é uma descrição fiel da realidade, mas que, segundo outros perceptores (que, inclusive, podem ser instrumentos inconscientes, como gravadores, câmaras ou filmadoras), não. Este sujeito tem para si mesmo que diz a verdade, mesmo que, objetivamente, não seja. Então ele não mente. Esta é uma questão jurídica primordial. Só se pode imputar culpa de faltar com a verdade se houver desacordo deliberado entre a percepção mental da realidade e o que o sujeito afirma sobre ela. Isto é mentira. Pode estar-se falando a verdade, de acordo com a própria percepção, sem que o que se afirme seja verdadeiro, objetivamente falando. A verdade, por isso, não pode ser aferida por testemunho verbal, não somente por este fato (da falha dos sentidos) mas porque o ser humano tem a capacidade de, deliberadamente, mentir. A única solução é o desenvolvimento de dispositivos confiáveis que analisem as funções mentais no momento em que se afirme algo, para verificar se se está mentindo ou não. Tais dispositivos não existem, por enquanto. Então há que se valer de provas objetivas para se apurar juricamente a verdade, sem o apelo a testemunhos. Para isto a ciênca forense, pelo menos nos países mais avançados, dispões de muitos instrumentos.
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