sábado, 28 de novembro de 2009

Problemas da crença cristã

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Queria saber porque fora necessário um sacrifício expiatório para Deus perdoar o homem pelo pecado original, isto é, porque ele não poderia simplesmente ter perdoado, como pregou Jesus? Não respondam com citações de versículos bíblicos, mas com argumentos.
Se a união da divindade com a humanidade de Jesus fosse indissolúvel, ele, como Deus, não morreria. Se morreu é porque sua parte humana dissociou-se da divina. Outra coisa: tendo ressussitado e ascendido aos céus de corpo e alma, como seu corpo sobreviveria sem alimentos? E onde fica o céu? Se for no espaço sideral, sem apoio, então Jesus está em órbita? Mas o céu é só dos terráqueos? E os outros possíveis seres conscientes de outros planetas, que podem haver? Também foram redimidos por Jesus? Ou não cometeram pecado original? Ou houve outro Jesus lá? Ou o cristianismo não admite sua existência? Não estou fazendo brincadeira. Estou falando sério. Como se pode extender o cristianismo aos extra-terrestres (que suponho que possam haver, mas não que possam comunicar-se conosco e nem nos visitarem)?
Toda pessoa inteligente, pode, deve e tem que questionar as informações constantes da Bíblia, senão estará abdicando de sua humanidade e se transformando em zumbi. É muito esquisito isso de Deus ter querido sacrificar-se a si mesmo para expiar nossos pecados. Acho uma parvoiçe de Deus, caso exista.
Não contesto a possibilidade de poder haver um Deus incriado. O que contesto é que exista de fato. Como saber que existe? Porque, se não houver prova de que exista, há que se considerar que não exista. Isto não requer prova.
Não creio que a natureza tenha o poder de criar-se a si mesma. O que considero (mas isto não é crença) é que nada foi criado e sim surgiu expontaneamente, sem causa e nem propósito. Não do nada, mas sem ter algo de que proviesse.
A ciência tem um crédito superior às crenças, exatamente porque não pretende ser detentora da verdade, mas sim estar empenhada em buscá-la, a despeito de se derrubar todas as convicções. Porque a ciência é honesta e verdadeira, enquanto as crenças insistem na validade de suas proposições sem comprovação. E como existem multiplas crenças, com proposições contraditórias a respeito de vários fatos, não há como saber qual delas é verdadeira. A suposição mais sensata é de que nenhuma o seja. A fé, realmente, não tem credencial alguma para servir de critério de verdade.
“Sentir” a existência de Deus é uma experiência subjetiva que não garante, em absoluto, sua veracidade. Podemos “sentir” inúmeras coisas, inteiramente falsas.
De certa forma, mesmo que existam pessoas altamente inteligentes, informadas e cultas, que crêem em várias modalidades de Deuses, nas diferentes religiões, considero que sua crença é um tipo de ignorância, a respeito dos fatos concernentes à existência de Deuses. Na verdade sua consideração de que Deus exista não procede de uma verificação racional e fatual mas de uma adesão a uma crença infundada, justificada por razões afetivas e emocionais, e não empíricas ou racionais. Não digo que os aspectos afetivos e emocionais sejam menos importantes do que os racionais na condução da vida, pelo contrário, tanto é que respeito a crença em Deus das pessoas. Só considero que, quanto a esse respeito, os afetos não garantem a veracidade e, então, lamento o fato de viverem uma ilusão, mesmo que ela possa ser consoladora e gratificante.
Não tenho medo de morrer e de castigo eterno nenhum, pois sei que isto não existe.
Pergunta-se “quem?” apertou o botão para dar origem ao Universo ou criou as forças que o produziram. Esta noção de que seja necessário “alguém” (isto é, uma pessoa dotada de inteligência, vontade e poder) para produzir os eventos da natureza é inteiramente falsa. Trata-se de uma concepção humana, advinda da observação, desde tempos pré-históricos (ou mesmo de nossos predecessores pré-humanos) de que as ocorrências se davam por ação de alguém. Então, por extensão, os primitivos humanóides, consideravam que tudo requereria a interveniência de “alguém”, que, quando não identificado, foi inventado, na figura de um “gênio”, “espírito” ou “deus”, como causador do fenômeno (chuvas, trovões, raios, enchentes, vulcões, eclipses, nascer e por do Sol, fases da Lua e todas os fenômenos naturais). Com a evolução da humanidade e o surgimento das civilizações, tais coisas se transformaram em mitos, que, numa etapa posterior, passaram a doutrinas religiosas, consignadas nas diverentes “escrituras sagradas”, muitas vezes, umas espelhadas em outras, como as judaicas se basearam nas babilônicas, que o foram nas hinduístas e assim por diante. Tal encadeamento de considerações chegou até a algo tão sofisticado como o “Direito Canônico” da Igreja Católica, por exemplo. A ciência, contudo, pouco a pouco foi achando explicações naturais para tudo, de forma que o que provém dos conhecimentos mitológicos nada mais é do que “ficção lendária”, como a Bíblia, sem valor epistemológico algum.
Em resumo, não é preciso haver “ninguém” para apertar botão nenhum e fazer surgir o Universo. Ele pode surgir por acaso, de forma expontânea, sem criador.
Ao discutir religião e fé, peço argumentos racionais e fatuais pois não vejo porque a Bíblia seria depositária da verdade e não as outras escrituras, como os Vedas, o Corão, ou mesmo os escritos de Allan Kardec. Todos esses textos foram redigidos por pessoas que estavam convencidas de serem portavozes de Deus e, no entanto, escreveram coisas que se contradizem umas às outras. Há crentes sinceros, fiés, pios e santos em todas as religiões, como há os aproveitadores desonestos da fé do povo. Então o critério para decidir em qual delas se encontra a verdade tem que ser extrínseco a elas. Até hoje não ví, em nenhuma, provas de serem as donas da verdade. O único e legítimo critério de verdade é a prova por evidências ou raciocínios válidos, em última análise, calcados em evidências. A existência do Deus abrahaãmico, bem como do pecado original, da redenção de Jesus, do juízo final e dos demais pontos fundamentais da doutrina cristã, são tão desprovidos de fundamento como a existência de Rá, Amon, Hórus, ìsis, Brahman, Brahma, Shiva, Vixnu, Krishna, Maya, Yin, Yang, Aúra-Masda, Arimã, Allah (não tripessoal), Zeus, Apolo, Athena, reencarnação, metempsicose e outras divindades e conceitos das demais religiões. Todos eles, contudo, são objeto de citações nas escrituras sagradas de suas religiões.
A exigência de justiça por parte de Deus, em relação ao pecado de Adão e Eva, não tem nada a ver com sacrifícios expiatórios. Justiça se traduz em prêmio ou punição ao autor da ação objeto de apreciação. Sacrifícios ou oferendas são caprichos exigidos pelo Juiz em completo desacordo com o próprio espírito imparcial e desinteressado da justiça. A satisfação propiciatória de Deus apenas com o sacrifício de seu próprio filho Jesus revela um caráter mesquinho e egoísta de Deus, muito longe do padrão de bondade e santidade que se atribui a Ele.
Além do mais tudo isto só tem significado se se admitir a criação do homem diretamente por Deus nas pessoas de Adão e Eva, o que é inteiramente desprovido de confirmação, além de ser extremamente ingênuo.
A questão fundamental do ateísmo não se prende a possíveis deslises morais dos personagens bíblicos e nem, realmente, ao que a Bíblia ou qualquer outra escritura sagrada diga ou não. Todas elas são códices redigidos por pessoas, mesmo que convictas de sua inspiração divina, mas que, na verdade, expressam o modo de pensar de sua época, sua localização, sua etnia, seu extrato social e demais circunstâncias, além da opinião pessoal do próprio autor do texto. O fundamento do ateísmo, ao afirmar que não existem divindades de espécie alguma, nem tampouco semideuses, almas, anjos, demônios, gênios, djins, duendes, elfos, gnomos ou qualquer tipo de espíritos ou elementais de qualquer natureza, é que não há comprovação nem evidência da existência de tais entidades e, portanto, tudo o que existe é natural, as únicas substâncias de que qualquer coisa seja feita são os constituintes naturais do Universo, isto é, matéria, radiação e campos (mas não energia, pois não é uma entidade e sim um atributo de entidades).
É claro que o ateísmo considera a existência de abstrações, mas elas são apenas concepções mentais, não tendo existência sem mentes que as concebam. E as mentes são apenas ocorrências advindas da composição, estrutura e funcionamento do organismo, especialmente do cérebro.
Deuses são, pois, conceitos, ideías concebidas por mentes, sem existência no mundo real. Nada há que comprove sua existência e, como não são evidentes, a hipótese zero, isto é, “por default” é de que não existam, sendo requerida comprovação para considerar que existam. E isto ainda não se deu, pois as pretensas “revelações” não comprovam coisa alguma, nem tampouco as falaciosas "provas" da existência de Deus.
A existência de personagens históricas, incluindo Jesus, Maria, Moisés, Abraão e outros da Bíblia, é aceita face os testemunhos orais e escritos dos contemporâneos, transmitidos até os dias atuais. A existência de Deus não pode se basear no mesmo critério, senão seria preciso admitir a existência de todos os deuses da mitologia pagã, hinduísta e assim por diante. Se nós concordamos que os deuses mitológicos da Grécia e de Roma são invenções consignadas em textos, como a Ilíada e a Odisséia, porque não colocamos o Deus judaico-cristão-muçulmano na mesma categoria, mesmo que constem da Biblia e do Corão? Porque seria a Bíblia uma revelação e o Corão não? Porque os cristão têm fé? Mas os muçulmanos também têm! E, para eles, Jesus foi só um grande profeta, logo abaixo de Maomé, mas não o Deus encarnado. E nem existe nada de Santíssima Trindade. E quanto ao zoroastrismo, que considera o demônio uma divindade? E o panteão hinduísta? E o espiritismo, que nega divindade a Jesus?
Deuses não são evidências sensorias diretas, como pessoas. Eu acredito que Jesus existiu, e, inclusive, o admiro e procuro imitar, mas não acho que seja Deus.
É claro que os argumentos racionais não abalam a fé, pois a fé é irracional. O que proclamo é que se precisa abandonar a fé, pois ela não tem cabimento. Pode-se crer sem prova, provisoriamente, em algo não comprovado, desde que hajam fortes indícios, mas com a disposição de abandonar a crença quando evidências a derrubarem. Tal não se dá com a fé, que é proposta ser aceita sem discussão. Isto é inteiramente inadmissível. Concito a todos que possuem fé, que a deixem em suspenso e façam uma análise crítica de seus fundamentos, como eu, que fui católico, o fiz e a abandonei.
É claro que existem cientistas que crêem em Deus. Isto não prova que Deus existe, como o fato de haver outros que não acreditam não prova que não exista. Ou, ainda, alguns que, mesmo não sendo crentes, não aceitam a “Teoria da Evolução”. A questão é que a Teoria da Evolução (como atualmente entendida e não como originalmente formulada) é consensual na comunidade biológica, sendo seus detratores uma corrente marginal. E, note-se que, a Teoria da Evolução não faz nenhuma afirmação sobre a inexistência de Deus, apenas que as espécies evoluiram umas a partir das outras e não que foram criadas individualmente. Nem cogita do surgimento da vida, que é objeto de outras teorias, de biogênese, mas que mostram ser perfeitamente possível o surgimento da vida a partir da matéria inanimada, sem criação. Mas não diz que foi assim que ocorreu. No entanto, a inserção de um ente extranatural interveniente é perfeitamente dispensável, por não ser necessária.
Quanto ao Universo ser finito ou infinito, ter surgido ou sempre existido, são possibilidades inteiramente admissíveis na cosmologia, a serem decididas, não por informações mitologicas, mas pela análise de dados observacionais, que, no momento, ainda não são conclusivos a respeito. O que não significa que não venham a ser. Há que se aguardar. O fato de não se ter ainda uma certeza não significa que não se possa alcançá-la. Acontece que a humanidade é jovem no planeta (menos de meio milhão de anos) e a ciência menos ainda (só uns 500 anos). Dá para esperar algumas dezenas de milhares de anos, ou mesmo milhões.

2 comentários:

Anônimo disse...

Na falta de inspiraçao digo.
"Há mais misterios entre o ceu e a terra do que possa supor nossa vã filosofia."

Fabio Lucio Barbosa.

Cético e quase ateu.

Miller A. Matine disse...

Amei as quetoes...de certa forma fortificam as minhas. Deus era a si que precisava perdoar antes de morrer!

Abrac!

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