Em parte sim, mas há características brasileiras diferenciais. Mesmo no tempo da repressão sexual religiosa o brasileiro era mais moleque, além de indolente. Outro fator é que, historicamente, no Brasil, sempre houve um grande desnível cultural entre a elite minoritária e a grande massa proletária. Com o relaxamento da censura religiosa, em uma atitude ateísta prática, eu diria, atrelada à relativa ascensão social das massas, houve um destrambelhamento da produção cultural popular para uma vulgaridade chula e boçal. Porque o sexo passou a ser cultivado não como uma atividade que associa prazer carnal a uma satisfação de sentimentos, mas só como um ato orgíaco puramente fisiológico, no nível de uma bebedeira ou de uma consumação de drogas, em geral associado a elas mesmo. Isso faz dele uma atividade até violenta, cruel e insensível, completamente diferente do que preconiza o "Kama Sutra", por exemplo, em que o sexo é desfrutado com requintes de sensualidade, unindo delicadeza a vigor, mas sempre de modo amoroso e nunca egoísta. De certa forma, espiritual mesmo. Uma música que cante esse tipo de sexualidade será sempre uma música maviosamente enlevada, mesmo que extremamente sensual e excitante. Da mesma forma que a pintura e a escultura que celebrarem o sexo como ato de amor. Erotismo, definitivamente, não é pornografia. A diferença está na arte. Eu diria que o erotismo é, de certa forma, religioso, mesmo não fazendo nenhuma referência a Deus.
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