Isso não é verdade. Para começar, ateus creem em algo, mas não na existência de deuses e espíritos. Creem na existência do mundo exterior, fora das mentes, por exemplo. É claro que a crença em Deus, na imortalidade da alma, no prêmio e no castigo eternos e na providência divina são grandes consolações que, eu mesmo, gostaria que fossem verdadeiras. Mas são engodos. E é melhor encarar a realidade crua do que viver de ilusões. Todavia, aceitar essa verdade não tira o significado da vida. Só não o coloca no louvor a Deus, no atendimento de suas pretensas determinações, na busca da bemaventurança celestial nem na fuga da danação eterna. Mas o coloca na busca do bem, da verdade, da justiça, do amor, da paz, da fraternidade, da harmonia, da felicidade para todos no mundo, inclusive não humanos. O propósito da vida é, simplesmente, viver e viver para ser feliz, o que se conquista com a prática do bem. Não há propósito e nem razão extrínsecos para a vida. Toda pessoa, ateia ou não, pode dar um grande sentido à sua vida se a pautar pela virtude que é o mesmo que a santidade não religiosa. Isso faz a vida valer a pena (mesmo que não seja uma pena) e permite que a pessoa, ao morrer, sinta-se realizada por ter deixado o mundo melhor porque existiu. Estamos aqui por acaso, sim. Mas isso é algo tão raro e precioso que não podemos desperdiçar essa suprema ventura de existir com picuinhas, desamores, malqueiranças, disputas, guerras, competições. Temos que ser solidários, amigos, generosos, compassivos, batalhadores pelo bem, cooperativos, enfim, vivermos uns pelos outros em harmonia, porque não teremos outra chance e não haverá outro lugar para gozarmos essa dádiva maravilhosa que o acaso nos propiciou, que é ter nascido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário