segunda-feira, 24 de novembro de 2014

CANTO AO AMOR‎

Canto o amor que me acontece neste peito,
com o jeito e o dulçor que ele merece.
Se me aquece sem direito, num torpor,
com o valor que me apetece ser bem feito.
E aproveito, no sabor que me enternece,
numa prece, sem defeito, um canto por.
Pois, à mente, ele conduz, com galhardia,
a alegria, docemente então produz.
E seduz, à revelia, não somente,
certamente se deduz, minh’alma fria.
Como iria, finalmente se induz,
tanta luz e caloria ser presente.
De meu bem quero obter a recompensa,
que se pensa ter também por merecer,
todo ser, por tão extensa entrega ao bem.
Mas porém, tem que saber todo o que pensa,
que compensa, muito além do agradecer,
só viver a glória intensa e amar alguém.
Pois o amor, se verdadeiro e bem profundo,
neste mundo, com ardor bem altaneiro,
vai maneiro, bem fecundo e abrasador,
a compor, bem cavalheiro e indo a fundo,
no imundo e aterrador chão do terreiro,
um faceiro e vagabundo esplendor.
Ernesto von Rückert

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