sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Físico e não-físico. Eis uma dicotomia fisicalista. No não-físico estão os conceitos (abstrações da mente) para explicar as coisas. Mas a "realidade concreta", que você comentou, é um playground teológico: mente nenhuma ou mente inteligente (Deus)?

A questão das categorias de realidades não é simples. Denomino "Realidade Concreta" à dos seres que têm existência independente de mentes que os concebam. Note que "concreto" não está significando material, mas independente de qualquer mente, ou seja, em si mesmo. Isto supõe que exista um mundo objetivo fora das mentes, o que não pode ser provado, mas pode ser aceito, pela grande plausibilidade. Nesta categoria encontram-se os seres: naturais ou físicos, tanto vivos quanto inanimados, e os sobrenaturais, se existirem, o que não considero. Mas não se incluem entidades puramente conceituais, cuja existência só se encontra nas mentes que as concebam, mesmo que haja um consenso entre mentes com relação a seu conceito, uma vez que elas não existiriam se não houver pelo menos uma mente a concebê-las.
A categoria das ideias é outra realidade. Tratam-se de entidades concebidas pelas mentes, podendo ou não ter existência objetiva na realidade concreta. Inclui também, além de entes, valores, ações, juízos, qualidades, modos, sentimentos, emoções, normas, leis e outras abstrações, como números, figuras geométricas, notas musicais, cores e assim por diante. Uma idéia só existe em um sujeito pensante.
Se uma ideia for compartilhada, com o mesmo significado, por uma coletividade de mentes, ela adquire uma objetividade não concreta, constituindo-se em outras categorias de realidades, como as deontológicas (dos valores, como bondade, beleza, preço etc.), as abstrações puras, como os números, figuras geométricas, notas musicais, elementos químicos e outras generalizações, como matéria, radiação, campo de força, sociedade, países, nações, leis, normas...
A noção mais genérica possível é a de "algo", que abrange tudo o que possa ser concebido. Já "ente" é algo que possa ter uma realidade substancial ou institucional, isto é, que seja feito de algum constituinte, material ou não, ou ainda alguma espécie de estrutura ou organização coletiva. Ser, no meu entendimento, é o ente que, de fato, existe concretamente no mundo físico ou sobrenatural. Valores, ações, juízos, qualidades, modos, sentimentos, emoções, normas não são entes. Coisa é um ente substancial desprovido de mente e objeto é um ser substancial com extensão espacial. Uma coisa pode não existir mas um objeto sempre existe.
Quanto à mente, trata-se de uma ocorrência advinda do funcionamento do sistema nervoso, especialmente do cérebro, mas também do sistema endócrino, dos órgãos dos sentidos, das vísceras e de todo o organismo. Dentre os atributos da mente podem-se citar a memória, a inteligência, a associação, o raciocínio, as emoções, os sentimentos, a imaginação, a volição, a consciência, o juizo e outros. O indivíduo vivo possuidor de uma mente também terá características idiossincráticas associadas à mente, como sensciência, percepção e temperamento, configurando-se em um sujeito. Se, além disto ele tiver consciência, personalidade e caráter, tratar-se-á de uma pessoa. Toda mente é propriedade exclusiva de um sujeito ou uma pessoa, que são indivíduos, mas nem todo indivíduo é um sujeito e nem todo sujeito é uma pessoa. Não existe mente coletiva trans-subjetiva, isto é, compartilhada por vários sujeitos ou pessoas. Tampouco nenhum tipo de “consciência cósmica”. Se houver Deus e se tratar de uma pessoa, terá uma mente que lhe será própria e exclusiva.
A concepção de que a realidade concreta seja uma projeção da realidade das ideias de alguma mente, ou da mente divina não procede. As ideias é que são geradas pelas impressões que os seres reais causam na mente. A partir delas pode a mente gestar novas concepções, por associação, não correspondentes a nada do mundo exterior. Assim a objetividade de alguma ideia é um produto da comunicação entre mentes, por meio de linguagens. Mas elas não têm existência por si mesmas.

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