sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Quanto a "Verdade e Mentira No Sentido Extra Moral" de Nietzsche. O senhor concorda que qualquer verdade absoluta é inalcançável e inexistente, sendo apenas um conceito muito útil?

Não. Verdade é a adequação entre a realidade e o que se diz a respeito dela. Não é uma propriedade ontológica, mas lógica. Um ser não é verdadeiro nem falso e sim um juízo, expresso por uma proposição, que se faça a respeito dele ou de alguma ação ou ocorrência por ele vivenciada. Em tese, poder-se-ia haver uma proposição absolutamente verdadeira. Todavia, a verificação de veritabilidade de uma proposição é sujeita a falhas, já que são nossos sentidos que levam informações a nossa mente para que nosso raciocínio formule os juízos. E os sentidos podem falhar, ou serem enganados por efeitos físicos, tipo miragem, no caso da visão, mas há outros efeitos enganadores nos veículos transmissores de informações aos outros sentidos. O próprio cérebro, ao interpretar as sensações para formar a percepção, também pode se enganar. Tudo isso pode levar a mente a formular juízos que ela tem como verdadeiros, mas que não o são. E, finalmente, pode haver a intensão deliberada de se dizer algo em discordância com o que a própria mente tem como a verdade, isto é: mentir é uma possibilidade psicológica do homem (e de outros animais também). Nem sempre, contudo, quem não mente fala a verdade, pois pode estar convencido de estar sendo verdadeiro e não estar, pelas falhas mencionadas. Até aí não se falou de ética. A ética considera que mentira é imoral. Em tese é sim, mas pode não ser, nos casos em que ela seja usada para salvar um inocente, por exemplo. Cada caso tem que ser analisado isoladamente. É claro que a mentira pode ser útil a algum propósito do mentiroso e, normalmente, é por isso que se mente. Se a moral vigente no contexto da ocorrência em tela (época, local e extrato social) for uma moral ética, o que nem sempre ocorre, a mentira é imoral, pois, normalmente, não propicia a maximização da felicidade do maior número de seres, não pode ser erigida como máxima universal a ser prescrita como norma e nem costuma ser o que se desejaria que se fosse feito a si mesmo. Se a verdade prejudicar uma pessoa, esse prejuízo é merecido e deve ser assumido.

Filosofia, Ciência, Arte, Cultura, Educação (formspring)

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