quinta-feira, 19 de julho de 2012

Olá Ernesto! Algumas semanas atrás eu li uma resposta sua sobre casamento.. Sobre você não querer casar-se, pelo fato do papel não prender ninguém. Algo assim. Poderia desenvolver a resposta novamente? Não estou conseguindo achá-la. Muito obrigada!

Estou recolocando aqui o que já postei a respeito:

No meu entendimento o casamento é uma união entre pessoas para constituir uma célula social a fim de enfrentarem, em conjunto, os desafios da vida, apoiando-se mutuamente pelo afeto, pela colaboração econômica (no sentido amplo de obtenção de bens que seriam compartilhados) e pelo apoio nas vicissitudes. Isso também inclui, não obrigatoriamente, a procriação e a educação da prole. Nessa concepção o casamento não precisa ser nem monogâmico nem heterossexual e, certamente, nem oficialmente legalizado. Mas precisa envolver um compromisso de que tudo isso será objeto de empenho por parte de cada um dos participantes.

Em minha opinião, nem casamento deveria haver. O casamento só existe, como instrumento legal, para regulamentar a questão econômica do compartilhamento de bens e de heranças. Ora, se todo adulto prover-se a si mesmo, as uniões conjugais não precisam de chancela legal nenhuma. É claro que os filhos sempre o serão tanto do pai quanto da mãe, que, conjuntamente, são responsáveis por seu cuidado enquanto crianças e adolescentes. De qualquer modo, como existe o matrimônio civil, que ele possa ser desfeito quando não houver mais desejo dos envolvidos é algo de cristalino entendimento, não importa o que digam quaisquer doutrinas religiosas ou morais. Para mim isso deve mesmo ser o mais facilitado possível, sendo um procedimento puramente cartorial, não necessitando de decisão judicial e nem do concurso de advogados, a não ser em casos litigiosos. Por consenso, basta que ambos compareçam perante o notário (ou o Juiz de Paz, no máximo), e assinem um termo de encerramento do compromisso conjugal.

O Casamento Aberto é uma condição em que o casal se permite que cada um tenha outros relacionamentos, considerados secundários, prevalecendo o casamento monogâmico como o principal. O Poliamorismo considera que as pessoas possam ter mais de uma relação, todas em pé de igualdade, mas apenas as estabelecidas, com exclusividade. O Relacionamento Livre é mais aberto. Considera que possam se ter relações estáveis únicas ou múltiplas e também admite as efêmeras. Só não admite que sejam ocultas. No meu entendimento isso seria o Poliamorismo, mas alguns adeptos do Poliamorismo não admitem as efêmeras. Assim consideradas, sou partidário da possibilidade de Relacionamento Livre. Mas não admito a traição, considerada como uma deslealdade, pois que feita de forma escondida. Só consigo entender que um relacionamento amoroso-sexual seja livre, o que não exclui a possibilidade de ser apenas bi-unívoco, não deixando de lado a possibilidade da plurivocidade, quer estável, quer efêmera. Apesar dos relacionamentos livres admitirem que a relação possa se basear apenas em atração sexual, sem componente afetiva, eu, pessoalmente, não concebo um relacionamento sem envolvimento afetivo, sem respeito, sem consideração, sem dedicação, sem compromisso de apoio, mesmo que não permanente. E, sempre, completamente aberto, conhecido por todos, consentido por todos os envolvidos, aceito socialmente sem reservas como uma possibilidade inteiramente normal. Para tal é necessário que todos os envolvidos tenham plena independência, tanto financeira quanto de qualquer outra ordem. Não é possível se ter um relacionamento que se diga "amoroso" se houver qualquer dependência entre os participantes. E não pode haver o menor resquício de ciúme e de posse.

Eu não me casaria em igreja nenhuma e nem me casaria no cartório civil. Acho que o casamento é uma instituição totalmente desnecessária e, mesmo, prejudicial ao convívio harmonioso de um casal que queira se unir em uma família.Não considero que um relacionamento amoroso envolva obrigação nenhuma. Portanto não requer pacto. É claro que, havendo filhos, há a obrigação de se cuidar deles. E esse cuidado não é só a manutenção econômica. É tudo: levar ao médico, fazer dormir, brincar, ajudar nos estudos, educar, compartilhar o tempo. Isso tanto o pai quanto a mãe têm que fazer, independentemente de qualquer contrato, quer sejam casados ou não, vivam juntos ou não. Para isso, pai e mãe têm que ser amigos para o resto da vida, pois não existe ex-filho, ex-pai e nem ex-mãe. Mas o relacionamento amoroso não se vincula a nenhuma obrigação. Não se tem a obrigação de amar, de sustentar, de nada. Aliás, a dependência econômica é o principal fator que atrapalha qualquer relacionamento amoroso. Todo adulto tem que prover-se a si mesmo, sem precisar de relacionamento nenhum para isso. Isso é fundamental e inescapável. Mulher não pode arranjar marido como meio de vida e nem vice-versa. No entanto, uma vez que se tem um relacionamento, nada impede que os gastos sejam compartilhados, para maior economia. Mas isso é algo que pode acontecer entre quaisquer pessoas que resolvam se unir e morar juntas para dividir despesas, como estudantes em uma república. Não precisam ter relacionamento amoroso e podem ser mais de um casal. Sendo um casal, esse aspecto é independente do relacionamento. Tanto que pode haver o rompimento da relação amorosa sem o rompimento do compartilhamento econômico, como o contrário. Um casal pode ter uma relação amorosa e ser completamente separado em termos econômicos, até morando em casas diferentes. Isso é um ponto essencial na compreensão das relações amorosas: sua total desvinculação do aspecto econômico. Mas há outros compromissos e esses fazem parte da relação amorosa. Trata-se do compromisso de dedicação, de cuidado, de amparo, de consolo, de carinho, de amizade, de respeito, de cumplicidade, de compartilhamento de interesses, de tempo, de gostos e, principalmente, de doação mútua de amor e sexo. Isso sim, faz parte da relação amorosa. Mas o que não faz parte é o compromisso de exclusividade e nem de perenidade. Ama-se enquanto o amor existir. E ele pode acabar, mesmo que nenhum dos envolvidos faça nada de mal para o outro. Simplesmente acabar. Então não se precisa continuar a relação por obrigação nenhuma. O que se tem é que se ser feliz. Mas o fim da relação amorosa não significa o fim da amizade nem do respeito. E também é possível, e mais comum do que se pensa, amar-se a mais de uma pessoa simultaneamente, com um amor sincero, honesto, profundo, terno, pleno de desejo, de carinho. E não há razão nenhuma para que se tenha que fazer uma escolha entre eles. Nada impede que todos os amores sejam vivenciados de modo franco e aberto, com o conhecimento e a aquiescência de todos os envolvidos. De todas as partes. E de forma socialmente aberta e conhecida, isto é, com o convívio social simultâneo do marido e suas mulheres ou da mulher e seus maridos. O impedimento disso ou a sua realização de modo oculto e vergonhoso é fonte de grande infelicidade, especialmente porque, quando ocorre escondido, se configura em uma traição, que é a mentira de se esconder de uma das partes a existência da outra. Isso é abominável, não a pluralidade amorosa. Esse preconceito em não se aceitar a poligamia é um dos que ainda falta ser abolido, pois não é nada anti-ético, mesmo que se possa dizer que seja imoral, só porque moral é o que a sociedade acata como lícito. Mas a moral pode e deve mudar a esse respeito, da mesma forma que mudou a respeito da manutenção da virgindade até o casamento e das relações homossexuais. Algo parecido acontece em relação a pessoas que não possuem religião nenhuma, que, para muitos, são tidas como imorais. Outro preconceito a ser abolido. Acho que a Globo deveria apresentar uma novela em que a poligamia acontecesse de modo digno e honesto, bem como em que algum ateu seja uma pessoa honesta, justa e bondosa.

Se isso não for suficiente, volte a me inquirir sobre o que, especificamente, você quer que eu diga.

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