segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Contestação do preconceito contra anarquistas.‎

Como respondi a questões sobre quem tenha preconceito contra comunistas e ateus, resolvi abordar o preconceito contra anarquistas. Da mesma forma, tudo se deve a uma incompreensão do que venha a ser a anarquia e, portanto, um anarquista. Antes é preciso distinguir anarquismo de anarquia. O primeiro é a ideia e o movimento, o segundo é a situação de fato. Que situação? Anarquia é a situação em que a sociedade seja estabelecida sem estrutura estatutária e nem governo político. Política é a ciência e a arte de gerir a sociedade como um todo, por meio de alguma instituição. Normalmente são duas: o estado e o governo. O estado é a instituição que sedia e promove o controle do funcionamento social na mais ampla escala. O governo é o aparato funcional que faz com que o estado controle a sociedade. Na anarquia ambos são dispensados, ou seja, não existe nem uma instituição que configure a sociedade e nem um aparato administrativo que a governe. Anarquismo é a ideia de que isso aconteça, bem como o movimento para promover tal fato. Anarquista, assim, é a pessoa que defende que a sociedade assim seja estabelecida e que age para que isso ocorra. Note que, de modo inteiramente diverso do que muitos consideram, em nenhum momento se cogita de que a anarquia seja uma situação desordenada ou caótica. Muito pelo contrário. No simbolo do Anarquismo, aquele "O", em torno do "A" significa, justamente, ordem. E uma ordem muito mais perfeita. Porque é uma ordem assumida espontaneamente, sem a menor coação. Na anarquia todos fazem o que seja preciso sem que ninguém mande. Só existem coordenações de esforços. Então, o primeiro equívoco que se tem com relação aos anarquistas é de que sejam pessoas que desejam, preguem e executem a desordem. Tal confusão, contudo, tem alguma razão, pois, em uma época do movimento anarquista, algumas facções optaram por agir no sentido de reverter a ordem para derrubar os governos. Isso, contudo, foi um grande equívoco do movimento, deplorado por muitos de seus defensores e líderes. Todavia, até hoje, muitos associam anarquia a desordem e, mesmo, muitos que se dizem anarquistas, pregam e promovem a desordem.
No início do movimento anarquista, vários de seus lideres, como Bakunin, por exemplo, pregavam a revolução para a derrubada dos governos e dos estados e o estabelecimento da anarquia. O que os opunha aos marxistas era que estes consideravam que, vencida a revolução, seria preciso uma fase intermediária de um governo ditatorial, para, depois, se abolir o estado, enquanto os anarquistas queriam a abolição imediata do estado. Isso, porém, é inviável na sequência de uma revolução. Nesta, os vencedores precisam conter os vencidos, para impedir um retorno ao estado anterior. E essa contenção só se pode fazer por meio do poder da força, que teria que ser exercida por algum governo. Assim a anarquia, em sua própria essência, não pode ser atingida por revolução nenhuma. Ela tem que ser atingida por uma evolução, especialmente do modo de pensar.

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