sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Prof. Ernesto, uma pergunta que não quer calar: como é possível eventos sem causa, considerando que o espaço-tempo é todo interligado, o micro está no macro e vice-versa, de modo pleno?

Não é verdade que o espaço-tempo esteja todo interligado. Considerando um ponto do espaço-tempo (um evento: aqui e agora), há um "cone de luz" com vértice nele, com duas folhas, a do passado e a do futuro. O que estiver dentro do cone do passado poderia ter sido causa do evento considerado, que pode ser causa de algo no cone do futuro. Mas o que estiver externo ao cone não pode ser nem causa nem efeito do evento considerado. Está "alhures". E não precisa estar longe. Basta que a luz não consiga ir de um evento ao outro. Pode estar a uma distância menor do que o tamanho de um elétron. É possível calcular a fração de espaço-tempo fora dos cones de luz de um evento e eu mesmo já fiz este exercício e me parece que dá cerca de quatro quintos. É meio trabalhoso, pois tem colocar em coordenadas esféricas quadridimensionais e fazer uma integral tripla para achar a 3-superfície (imersa no 4-espaço) e dividir pelo cubo do raio. Sabe-se que o ângulo sólido 4-dimensional de uma 3-esfera completa vale o dobro de pi ao quadrado. É só achar a razão. Mesmo os eventos internos ao cone de luz não precisam ter relação causal uns com os outros. Terão apenas se o evento causa for fonte de alguma interação da qual o evento efeito seja sensível e que ela se propague em sua direção, o que nem sempre ocorre. Além disso nada impede a ocorrência de algum evento sem que seja provocado por outro. Estou falando de eventos elementares, atração, repulsão, decaimento, excitação, inversão de spin ou outros assim, experimentados pelos componentes básicos da natureza, as partículas elementares. Qualquer evento, por mais complexo que seja, como um pensamento ou uma emoção, se dão porque partículas elementares em alguma estrutura experimentaram algum evento elementar. Esses eventos elementares podem ser provocados por alguma causa ou podem se dar de modo fortuito, isto é, sem provocação, ou sem causa. O que se sabe são as probabilidades de ocorrência de cada um, que se expressam na chamada "função de onda" que descreve quanticamente o estado do sistema em questão. Os eventos macroscópicos, uma vez que envolvem números grandes de eventos elementares (da ordem do número de Avogadro ou mais), em função dos teoremas de composição de probabilidades, possuem probabilidades de ocorrências muito centradas em certos valores e quase nula para outros, com densidade do tipo de uma função delta de Dirac, de forma que tudo ocorre como se houvesse um determinismo causal. Tal determinismo, como concebido por Laplace, porém, não poderia prevalecer no Universo, pois impediria totalmente qualquer possibilidade de escolha por sistemas dotados de mente volitiva e sabe-se que isto ocorre.

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