quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Ernesto, poderia falar-me alguma coisa sobre o materialismo filosófico, principalmente sobre o que você não concorda?

Materialismo é uma concepção ultrapassada. Prefiro o Fisicalismo, que é a concepção de que a realidade substancial objetiva, isto é, independente das mentes e possuindo conteúdo, é puramente natural ou física. Em outras palavras, tudo é feito de matéria, radiação e campos, que são os constituintes substanciais do Universo (mas não de energia, que não é um constituinte e sim um atributo deles), e se estrutura e evolve no espaço e no tempo, que são seus constituintes geométricos (entendendo como a geometria física do espaço-tempo e não puramente matemática). Isto significa que não existem entidades sobrenaturais, como alma, espíritos, deuses, anjos, demônios, gênios e assim por diante. O fisicalismo implica no ateísmo, mas o ateísmo não implica no fisicalismo, pois pode admitir espíritos, mas não deuses. Isto não exclui as abstrações, os conceitos, as idéias, os valores, as normas e as entidades institucionais, como pessoas jurídicas. Só que entende que estas não existem por si mesmas, mas apenas como concepções de mentes, que podem lhe dar objetividade por meio de um consenso entre mentes, mas que não existiriam se não houvesse mente alguma. Assim as próprias mentes não possuem um caráter dualista (corpo e alma), mas são uma ocorrência, advinda da estrutura e do funcionamento do organismo, especialmente do cérebro. É importante frisar que a abolição do sobrenatural não acarreta no niilismo moral, que é a concepção de que, sem nenhum deus, não há como se estabelecer parâmetros éticos e tudo seria permitido. A ética advém da convivência social das pessoas e estabelece padrões de comportamento que visam propiciar uma vida social vantajosa para todos, em termos da realização pessoal, sem prejuízo do outro.
O materialismo seria a concepção de que a realidade é puramente material, mas existe conteúdo substancial natural não material no Universo, que são os campos e a radiação.
O que eu não concordo é com a extensão marxista da concepção fisicalista aos domínios lógico e histórico. Considerar que a única força motora da sociedade seja a produção é um erro do marxismo. A superestrutura da sociedade possui uma dinâmica própria capaz de gerar concepções não advindas da economia. Reduzir todos os conflitos a relações econômicas não é verdadeiro.
Quanto à dialética materialista, significando que as relações lógicas provem da realidade física, em parte é verdade, pois a lógica é uma formulação psicológica e o funcionamento da mente é natural. Mas, uma vez estabelecidas as idéias e conceitos a mente pode formular relações não correspondentes à realidade natural, como é o caso de algumas geometrias. Além do mais, a tríade tese-antítese-síntese, não é o único modo de funcionamento nem da natureza, nem da sociedade, nem do pensamento.

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