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quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Ensino conceitual e experimental de ciências.
Sempre me batí, nesses 42 anos de magistério que tenho, pela primazia do aspecto conceitual e experimental da Física, Química, Biologia e Geociências no nível médio, em relação às aplicações matemáticas e tecnológicas, sem deixar de considerá-las. Na EPCAR, onde lecionei Física de 1968 a 1975, tinhamos duas horas de laboratório por semana, com equipos suficientes para grupos de dois alunos, em quinze bancadas, realizarem o mesmo experimento. Usavamos o PSSC completo, com livro, filmes e laboratório. Na Química era o CBAC, na Biologia o BSCS. Um ensino de primeira. Mas agora não é mais, por causa da pressão dos vestibulares. O colégio em que sou Vice-Diretor não tem laboratório, por questão de economia. Como não sou sócio nem lido o aspecto financeiro, não posso decidir, mas insisto em recomendar. Saber ciência é fundamental para poder-se inserir conscientemente no mundo . Deploro intelectuais puramente humanistas, que não conhecem ciências nem matemática. Como também deploro técnicos que não sabem história, geografia, filosofia, sociologia e seu próprio idioma, além de não saberem inglês. Como podem ser profissionais de nível superior?
Considero que o nível médio regular geral, etapa final do Ensino Básico, que se espera seja atingida pela totalidade da população, deva dar uma visão ampla, sem se aprofundar, de todos os aspectos dos conhecimentos, bem como habilitar a pessoa a comunicar-se e interagir em sociedade, prática, técnica, cientifica, cultural, economica e filosoficamente, dando condições para seguir estudos em nível superior ou a se profissionalizar em nível médio, em qualquer área. Assim, precisa abranger a universalidade dos conhecimentos e habilidades, não sendo específico para exatas, biológicas ou humanas. Precisa também propiciar a aquisição de múltiplas habilidades, como expressão oral e escrita, inclusive proficiência em uma língua estrangeira, execução artística musical e plástica, domínio de informática e conhecimentos e habilidades técnicas rudimentares de agricultura, primeiros socorros, mecânica, eletricidade, hidráulica, edificações, marcenaria, cozinha, costura, condução de veículos e educação esportiva, ecológica, moral, psíquica, intelectual, social, econômica e sexual. Tudo isto pode muito bem ser atingido em um regime de escola de tempo integral e mais equitativamente distribuído entre os assuntos, visando a educação para a vida e não para o vestibular, num processo inteiramente interdisciplinar e integrado por esses temas transversais.
Neste contexto, o ensino das ciências precisa fazer ver que elas são o código que decifra a natureza, o homem, sua cultura e a sociedade. Código este essencial para que a pessoa possa viver em plenitude e alcançar sua realização pessoal e social. Para compreender isto, profunda e vivenciadamente, é imprescindível que se trabalhem experimentalmente os conhecimentos científicos, bem como se façam aplicações concretas dos princípios em artefatos reais que se venham a produzir e em situações cotidianas da vida. Os assuntos têm que ser apresentados, primeiro experimentalmente, a seguir conceitualmente, depois teoricamente em termos matemáticos ou sistematizados e, por fim, praticamente, em aplicações concretas (não só simulações em papel). Assim o estudante introjeta as noções em suas vivências, aprendendo solidamente para o resto da vida.
Isto não exclui um treinamento para exames. Mas ele só pode ser feito após os conteúdos e habilidades terem sido apreendidos. Preferencialmente num contexto de autoavaliação sem consequência em termos de aprovação ou reprovação. Aliás, esta questão da avaliação da aprendizagem é outra que quero discutir em breve. De uma coisa estou inteiramente seguro, a partir de minha experiência de doze mil horas de aula no ensino médio e oito mil no superior: Quem passa nos vestibulares e vence o curso superior não é quem estuda para as provas e exames, mas quem quer "saber" o assunto e o aprende, inclusive muito além do que é exigido. Certamente que isto requer dedicação, entusiasmo, esforço e inteligência, mas estas também são coisas que se cultiva e adquire.
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Um comentário:
Ilustre Professor,
Inicialmente agradeço a honrosa visita, que me permitiu conhecer seu blog e os valiosos temas aqui tratados.
Vivencio como preceptor de cirurgia oftalmológica, as dificuldades laboratoriais enfrentadas por hospitais universitários.
Questiono igualmente, o modelo de ensino atrelado ao processo de aferição de conhecimentos no final da residência médica, onde a semelhança do vestibular, objetiva titular médicos de acordo com a medida de seu conhecimento teórico. Certamente as habilidades técnicas; forma como o futuro profissional corresponderá às necessidades do doente, e principalmente, sua capacidade humanista; não possuem ainda uma forma de ser valorada.
O grande desafio do professor é reconhecer as distorções provocadas por esse modelo a atuar para que esse não forme profissionais com objetivos imediatistas. O conhecimento técnico deve ser muito mais afetivo em sedimentar o conhecimento teórico.
Atenciosamente,
Luiz
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