domingo, 23 de janeiro de 2011

http://quebrandooencantodoneoateismo.wordpress.com/2010/11/05/desenganando-varias-pegadinhas-do-neo-ateismo/ Ver o item 2-

O Snowball tem razão em criticar certos argumentos ateístas sem fundamento. Mas, nem ele nem o Craig, têm razão no geral. Para começar, não é verdade que não exista e nem possa existir infinito. Só que infinito não é um número nem uma quantidade. Infinito, em matemática é um limite ou uma cardinalidade. O que vem a ser isto? Limite infinito significa que o valor numérico em questão é maior do que qualquer número que se possa conceber, inteiro ou real. Mas não é um número. Todavia é algo existente, como um limite, mas não uma localização em uma reta, por exemplo. Como cardinal, infinito é a noção advinda da propriedade comum a todos os conjuntos que possam ser colocados em correspondência biunívoca, quando a quantidade de elementos do conjunto tiver um limite infinito. Neste caso podem-se distinguir vários infinitos, que são elencados por seu valor, denominado por Cantor de "alef". Alef-0 é a cardinalidade dos números naturais, inteiros, pares, ímpares e racionais. Todos podem ser colocados em correspondência biunívoca e logo para cada elemento de qualquer um, existe um e somente um elemento de qualquer outro. Alef-1 é a segunda cardinalidade, correspondente ao conjunto dos subconjuntos de um conjunto de cardinalidade alef-0. Pela hipótese de Cantor, ainda não provada, ela é a cardinalidade do contínuo, isto é, dos números reais, dos irracionais, dos complexos, dos quatérnions, dos vetores, tensores, matrizes e de qualquer intervalo de números reais. O conjunto das funções de variáveis reais, complexas ou de qualquer desses conjuntos listados, contudo, tem uma cardinalidade superior, que seria alef-2. Os funcionais, isto é, as aplicações sobre o conjunto das funções, objeto do cálculo variacional, já teria cardinalidade alef-3. Isto é uma abstração, mas todos os números também são abstrações. O conjunto dos alefs, chamados "cardinais transfinitos", tem cardinalidade alef-0.
A questão é saber se, no Universo, é possível haver algo real e não apenas uma abstração, que seja infinito, de qualquer cardinalidade. A resposta é sim! Consideremos o tempo. Mesmo que ele tenha tido um início, não há nada que impeça que ele continue a passar indefinidamente. Inclusive a noção religiosa de eternidade é a de uma situação em que o tempo continuará a passar, sem nunca acabar. Todavia o tempo, de modo diverso do que diz o argumento Kalam, também pode nunca ter iniciado. Mostrarei mais adiante. E quanto ao espaço? Também não há impedimento para que o espaço se estenda indefinidamente. Qual seria este? Como o espaço e o tempo, até que se verifique em contrário, não são quantizados, mas contínuos, sua cardinalidade é alef-1. E o conteúdo do Universo, isto é, o número de quarks, leptons, fótons e outras partículas? Se a extensão do Universo for infinita, ele também o será, mas de cardinalidade alef-0, pois são enumeráveis. Realmente, isto é algo difícil de se admitir, mas há muita coisa na natureza que não atende ao senso comum, como os comportamentos quânticos e relativísticos e que, no entanto, ocorrem. Nada impede que assim o seja. A questão é verificar se, de fato, é assim.
Já comentei sobre o argumento Kalam, mas vou repetir. Ele diz que o tempo não poderia ter tido um começo infinitamente afastado para o passado, pois assim, não teria havido tempo para que se chegasse até agora, e, como estamos aqui... De fato, está certo. Todavia, quando se diz que o tempo é infinito para o passado, está se dizendo que ele não teve começo nenhum e não que seu começo está há um tempo infinito. Isto é completamente diferente. O tempo não ter começo é considerar que cada momento teve um que o precedeu, sem limite para o passado. Por que não? Isto não impede que o presente exista, pois não se tem que considerar um decurso infinito de tempo desde o início, já que não houve início. Do ponto de vista religioso, é o que acontece com Deus, que seria um ser que sempre existiu. Porque o Universo não poderia sempre ter existido? O que impede?
A afirmação de que o Universo teve um início não se deve a este argumento e sim à constatação de que, como o Universo está se expandindo, raciocinando-se no sentido inverso, houve um momento em que tudo estava infinitamente próximo, numa densidade infinita (ou quase). Já havia Universo antes disso? Havia "antes"? Conjecturas inverificáveis, pelo menos, por enquanto. Mas nada impede que se considere o início da expansão como o início do tempo, do espaço e da existência do Universo. Antes disso? Nada! Nem antes, nem espaço vazio, nem tempo passando sem nada haver. O surgimento se deu, então, a partir de nada (mas não "do nada"), sem causa, sem plano, sem propósigo, sem origem. Completamente fortuito. Por que não? Por que supor a necessidade de causa, plano ou propósito? Se não há motivo para tal, o mais correto é supor que não haja.

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