segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

"[...] Sem as complicações cosmológicas e metafísicas que o teísmo, o deísmo, o panteísmo e o panenteísmo criam." Quais são essas complicações?

Para começar, Deus, sendo um ser, seria algo que existe, objetiva e substancialmente falando, mesmo que não seja feito dos constituintes naturais do Universo. Ou seja, não seria meramente uma abstração, isto é, um conceito, caso exista. Como o Universo é o conjunto do que existe, então Deus seria parte dele. Ou então é preciso se definir de outra forma o Universo, excluindo Deus. Consideremos doravante que seja assim. Não vou nem falar a respeito de anjos e demônios, se pertencem ou não ao Universo, bem como os espíritos e almas. Resta saber também se, havendo só Deus, o tempo passa e existe espaço. Entendo que não, pois tempo e espaço são constituintes do Universo (excluindo Deus). Deus, assim, sem ou com o Universo, estaria fora do tempo e do espaço. Logo não ocupa lugar e seria completamente imutável. Ora, criar o Universo é uma mudança em Deus. Como pode? De fato, a concepção de Deus como um ser interagente com o Universo requer sua intervenção em diferentes momentos, o que se configura em perda da imutabilidade. Então Deus existiria no tempo e, logo, estaria dentro do Universo, ou então o tempo seria extrínseco ao Universo. Se Deus fosse o próprio Universo, ele teria que ter uma mente e capacidade de controlar voluntariamente a si mesmo para fazer ocorrer qualquer coisa. Certamente esse Deus não seria bondoso nem perfeito, já que há muita imperfeição no Universo e coisas más ocorrem, todas, nesta concepção, determinadas por Deus. A existência de um "mente cósmica", com sensibilidade, inteligência e vontade, não me parece algo que se possa constatar a existência. Qualquer que seja a concepção de Deus que se tenha, aparecem dificuldades para conciliar o que ele seria com a realidade do mundo. De fato, espíritos de qualquer tipo, sendo entidades sobrenaturais, não teriam como interagir com a natureza e, assim, não seriam percebidos e nem se comunicariam de forma nenhuma com o mundo natural. Como poderia ver, se visão é uma captação de luz, uma fenômeno natural. Que sensores eles teriam para a luz? Também não poderia ouvir. Como transmitir pensamentos se pensamento é um fenômeno fisiológico do cérebro? A quantidade de problemas levantados com a suposição da existência de uma realidade sobrenatural é imensa e insuperável. Não há como se poder aceitar tal tipo de coisa.

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Um comentário:

Vasco Ribeiro disse...

Concordo plenamente. Gostei da ideia de Universo onde Deus se exclui espaço e temporalmente falando. Pergunto até, se ele é então o criador fora do criado, onde teria ele a matéria para criar tudo o que nos rodeia.
Um abraço,
Vasco

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