O que se tem observado ao longo do tempo, em uma perspectiva de vários séculos desde o fim da Idade Média, é que a racionalidade tem ampliado sua abrangência em relação ao obscurantismo, apesar das idas e vindas sazonais. Em geral, são as lideranças de índole ditatorial que disseminam o obscurantismo, para justificar perante as massas, a legitimidade de seu poder. Movimentos como o que varreu o leste europeu na queda dos regimes totalitários comunistas e, agora, países muçulmanos ditatoriais, mostram que, por baixo da resignação à tirania da força, arde uma brasa de liberdade. O perigo é que esta brasa seja soprada pelos defensores da teocracia ou da plutocracia, que, de novo colocariam o povo sob o tacão do obscurantismo. Isto aconteceu na substituição do jugo czarista pelo da burocracia do partido comunista.
Outro grande perigo é o emburrecimento generalizado a que as facilidades modernas está levando a população, especialmente o lazer televisivo embotante, que desliga os cérebros e deita a perder muitas conquistas duramente alcançadas pelos esforços iluministas e racionalistas. A quem isto aproveita? Aos detentores do poder econômico ou religioso, que querem consumidores ávidos, trabalhadores dóceis e fiéis não contestadores. Isto é uma espécie de escravidão consentida a que as massas, prazerosamente, se entregam.
O pior é que, quem poderia reverter esse processo, os educadores, também acabam a ele se rendendo. Estou falando é da fobia generalizada a tudo que signifique esforço mental. Pensar... nem pensar! Vivo isto no dia a dia da escola em que trabalho, pois, não só os alunos, mas muitos professores, são refratários à introdução de qualquer coisa que significa mais estudo, mais aprofundamento, mais trabalho, mais esforço, mais dificuldade, mais reflexão, mas que redundem em maior saber, espírito mais crítico e contestativo, maior poder de escolha, maior capacidade de enfrentamento, mais alicerce conceitual para argumentações, enfim, maior cultura, maior conhecimento científico e humanista, mais habilidades intelectuais. Isto é tido como um elitismo a ser defenestrado em favor de um conhecimento e de habilidades práticas, voltadas exclusivamente para o desempenho da profissão que se vai exercer, com vistas apenas a aferir mais rendimentos e maiores lucros.
Sem que a elite intelectualizada aja como locomotiva social para puxar as massas para fora do charco do obscurantismo e das crendices, dificilmente se conseguirá respirar o ar puro da liberdade e se expor à claridade do discernimento, sem o que continuarão a ser eleitos políticos venais e os inescrupulosos de toda índole, em todas as atividades, permanecerão agindo impunemente, locupletando-se às custas do gado dócil, ignorante e imbecil que lhes provê o sustento, a riqueza e o poder.
Contudo, ainda confio em que a crescente abrangência e poderio esclarecedor da ciência, como a candeia sobre o velador, espanque as trevas da ignorância pela própria beleza de seu brilho, que venha a conquistar cada vez mais defensores idealistas, dispostos a darem muito murro em ponta de faca e a caçar muita sarna para se coçar, a fim de levar o mundo a um futuro de harmonia, paz, fraternidade, prosperidade, justiça e felicidade, o que só se alcançará com a tolerância, o amor à verdade e a repulsa a todo tipo de malevolência, atitudes que só serão alcançadas com a disseminação do conhecimento, que leva, fatalmente, ao incremento da virtude e da sabedoria.
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sexta-feira, 18 de março de 2011
Professor, você acha que o mundo está caminhando pra se tornar mais racional a partir desse século, ou o obscurantismo vai acabar prevalecendo como no passado?
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