segunda-feira, 2 de abril de 2012

Conte algo sobre sua infância que você lembra com carinho:

Sair com o meu pai para comprar "O Pato Donald" e sentar com ele no banco da praça para ele ler para mim, quando eu tinha uns quatro anos. Eu adorava meu pai. Como diz a música "Pai herói", ele foi o meu herói, mas não meu bandido, foi muito mais que um amigo, foi meu guia, meu guru, meu exemplo de homem digno, honesto, bondoso, batalhador, inteligente, culto, educado, nobre, elegante, mas um anarquista que só andava de paletó e gravata, como um aristocrata. Era professor de História, Geografia e Contabilidade, além de funcionário público. Não ganhava mal, mas nunca foi rico, pois distribuía todo o dinheiro que ganhava, como eu também faço. E ele metia a mão na massa e trabalhava em obras de assistência social, com minha mãe. Eu me espelho nele e sigo seu exemplo. Tive sorte em ter o pai e a mãe que eu tive. Pessoas esclarecidas, liberais, mas íntegras ao extremo e super exigentes consigo mesmas em termos de decência e de virtude. Mas não eram moralistas hipócritas nem bajuladores de políticos ou de padres para conseguir recursos. Bancavam tudo por conta própria ou com a ajuda de pessoas anônimas. Nossa casa vivia cheia de crianças pobres que eles levavam para tratar quando doentes e as mães, solteiras e faveladas, não tinham como cuidar, pois precisavam trabalhar. Vários já dormiram em minha cama. Além de gatos e cachorros vira latas, iguais aos que tenho em casa. Eis um poema que fiz para ele, dias atrás:

Trinta anos são passados.
Não mais ouço tua voz
ditar-me sábios conselhos,
nem vejo teus olhos claros
tanta bondade irradiar.

Como sinto tua falta...
Saudades das noites frias
em que, em nossas poltronas,
o vinho da vida bebíamos
em longas conversas profundas.

Hoje já chego à idade
em que desta vida partiste.
E, mais do que nunca, preciso
ouvir tua palavra amorosa,
guiar-me na sina da vida.

É tanta minha solidão
que, mesmo sabendo-te ausente,
teu vulto, em brumas envolto,
parece acercar-se de mim
e, sem querer, digo: Pai!

Filosofia, Ciência, Arte, Cultura, Educação (formspring)

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