Não: é um mal completamente desnecessário. Esta analogia do grilo não serve. Tudo o que uma religião faz de bom, e faz, pode ser feito sem ela, ou pelo engajamento em programas de assistência social, pelas consolações da filosofia, pela educação e pela sociedade, que tem que impedir todo comportamento anti-ético, e não apenas criminoso. Em compensação a religião faz um grande mal, que é iludir as pessoas com a fé em entidades e numa vida eterna inexistentes, em uma justiça divina que não se dará, na esperança em milagres e no atendimento de orações que nunca ocorrerão. Com isto as pessoas transferem para a divindade uma responsabilidade que é delas mesmas: promover a erradicação do mal e socorrer os aflitos com os recursos da ciência, da generosidade e da compaixão. Outro engodo é a suposição de que se pode pecar que, depois, arrependendo-se, ganha-se a salvação. Ou, pior ainda: que Deus tenha seus escolhidos, ou que a fé seja suficiente para a salvação. Salvação de que? Sabendo que a morte é o fim de tudo e que a vida é uma preciosidade ímpar, todos agirão para que esta vida seja plena de significado e satisfação pessoal, o que não se dá com o hedonismo desenfreado, mas com a síntese dialética do epicurismo com o estoicismo, que coloca em fazer o bem a razão da felicidade.
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