domingo, 24 de outubro de 2010

Quando católico, pretendia chegar a ser papa?

Não. Nem sequer padre. Sempre quis ser pai e formar uma família. Quando criança, disse a um padre, amigo do meu pai que eu queria ser santo. Ele me disse para ser padre. Então eu lhe perguntei: mas não posso ser um santo sendo um pai? Meu pai sempre foi um modelo de homem íntegro e bondoso para mim e eu o adorava e imitava em tudo, até na caligrafia. Até hoje sinto a perda dele, há 29 anos. Queria ser um filósofo, além de um cientista e achava que a doutrina católica continha a verdade. Fui seduzido pela TFP e me filiei a ela aos 15 anos. Mas, como sempre mergulhei fundo no que fazia, estudei muito a doutrina católica, enquanto estudava física, cosmologia, história, biologia. Eu era um super-nerd (antigamente chamado de CDF ou caxias) que, no ensino fundamental (antigo ginasial) , já estudava em livros de nível superior e nunca me contentava só com o que o professor ensinava. Na aula, enquanto ele estava explicando algo que eu já entendera logo, ia avançando no livro e, em casa, estudava nos que meu pai tinha na biblioteca dele, especialmente história e geografia, de que ele era professor. E sempre adorei ficar pensando. Pensava muito mesmo e ainda penso o tempo todo meus pensamentos filosóficos. Meus estudos e minhas reflexões é que me levaram a concluir pelo total despropósito da fé, qualquer que seja, especialmente na história da redenção de Jesus Cristo e na da criação de Adão e Eva. Note-se que a primeira perde todo o significado se não se admitir a segunda. Aos 19 anos, rompi com a TFP e com o catolicismo, mas ainda era deísta. Mais tarde me tornei agnóstico e, finalmente, ateu, da modalidade cética. Esta é uma evolução coerente. Outro aspecto que jamais me faria desejar ser Papa são minhas convicções anarquistas. Estas eu aprendi de meu pai desde criança. Ele era um homem extremamente igualitário, sem o mínimo autoritarismo mas, mesmo assim, eu e minhas irmãs lhe atendiam as determinações, sempre feitas com firmeza, mas carinho, de modo assertivo. Nunca nos bateu nem elevou a voz. Ele nos ensinou que pessoa alguma é superior ou inferior a qualquer outra e, portanto, ninguém merece ser chamado de senhor, só "você" ou "tu", como ele dizia, pois sua mãe era portuguesa e o pai austríaco, mas falava português de Portugal. Apesar do meu pensamento anarquista, herdei de meu pai (e de minha mãe), um modo de ser sofisticado e até aristocrático, não só de falar, mas de me comportar com refinamento. Parece incoerência, mas eu sou assim. De meus tempos de católico, preservo meu gosto pela música sacra (devo dizer que fui um católico do tempo da missa em latim, que eu entendia, pois seguia pelo missal bilíngue), especialmente o canto gregoriano, Bach, Haendel, Haydn e Mozart. Também admiro e sigo as lições morais de Jesus, mesmo achando que ele não é Deus nenhum. Comparo-as com as de Epicteto e Sêneca. Mas não aprecio muito as Epístolas Paulinas, exceto alguns capítulos, nem o Apocalipse, que, para mim, é o cúmulo da ficção fantástica. Quanto ao Velho Testamento, fora a poesia dos Salmos e do erotismo do Cântico dos Cânticos, sobra pouco aproveitável na Bíblia, que, de fato, é um livro terrível, sangrento e perigoso, especialmente para as mentes dos jovens em formação.

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